Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 11
Cap. 11 – Coção da Ponfusão, Reforço




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Thorin estava ficando impaciente com o passo lento da lua. Estava ansioso para ler os sinais ocultos no mapa e então pegar a estrada de novo, mas também havia uma sensação boa em ficar num lugar só, e ele se perguntava como seria se estabelecer em Erebor e constituir família, como sua irmã havia feito em Ered Luin. Mas então ele precisaria ter alguém ao seu lado para constituir uma família, não? Então, por que esperar? Fíli estava encontrando seu caminho no sentido de assentar com alguém, e era muito mais jovem, por que ele mesmo não poderia?

Ele poderia perguntar a ela. Lily não estava acostumada às tradições anãs, ela não sabia que era a mulher que escolhia o homem, ele poderia perguntar. O pior que poderia acontecer seria ela dizer ‘não’, e então o coração dele se partiria em pedaços, mas ele poderia tentar de novo até que ela dissesse ‘sim’. Uma das vantagens de ser um anão era que ninguém achava estranho que alguém insistisse num assunto até resolve-lo. Afinal, ele estava sendo o mais respeitoso e protetor que podia, deixando claro para ela que pensava nela com sua joia, e para os outros que aquela joia havia sido encontrada por ele e somente ele e que a manteria longe de qualquer olhar cobiçoso.

De qualquer forma, ele podia se aconselhar com Balin, que não era casado mas era seu melhor conselheiro. Thorin só não sabia como explicar o que estava pensando sem falar diretamente em quem estava interessado, uma vez que não havia nenhuma outra anã num raio de cem milhas ou mais. Talvez ele pudesse usar uma abordagem filosófica, mas então Balin provavelmente lhe perguntaria sobre o que ele estava tagarelando e exigiria que falasse diretamente.

Seu fluxo de pensamentos foi interrompido por Kíli, que se aproximava cautelosamente com seu sorriso mais acanhado no rosto. O que havia de errado com seus sobrinhos hoje?

“Tendo um dia agradável, Tio?”

O anão maduro olhou para seu sobrinho pensando o que em nome de Durin ele queria dizer com aquilo.

“Agora que você mencionou…”

“Tio, estou tão contente por você ter concordado com tudo que Fíli lhe disse hoje de manhã…” Thorin teve o pressentimento de que de alguma forma ele se arrependeria das coisas mais cedo do que imaginara. “Que eu tinha que vir e te agradecer por estar realmente movido a permitir que nossa família cresça daqui em diante.”

“Que conversa esquisita, rapaz, ponha para fora como seu irmão fez hoje de manhã, sim?”

Kíli murchou.

“Desculpe, Tio, é que às vezes você parece tão bravo com ela que eu pensei que realmente não aprovasse a presença dela na nossa Companhia.”

Thorin pensou se aquela sobre a qual ele estivera pensando agora há pouco entendia o significado real de sua braveza fingida para com ela. Ela não havia nascido anã, afinal. E agora seu sobrinho estava falando sobre o quê, mesmo?

“O que quer dizer com isso, filho?”

Kíli olhou para baixo, mas levantou os olhos conforme falava.

“Você a trata tão rudemente às vezes, que qualquer um pensaria que não gosta dela, Tio. Lamento dizer. Mas serei atrevido o suficiente para dizer que não me importo, e que estou apaixonado por ela assim mesmo!”

“Você o quê?”

Thorin estava fora de si, mas Kíli se manteve firme.

“Estou apaixonado por ela, não importa o que pense dela.” Kíli estava audacioso agora, havia se segurado por tempo demais. “Estamos passando um monte de tempo juntos, e consideramos valioso cada momento e cada dia que compartilhamos, Tio Thorin, você não pode imaginar como é estar com ela, ela é realmente especial, não é como qualquer outra garota que eu tenha conhecido, ela me aprova do jeito que sou, e eu não me importo se você a leva ao limite, ela é forte o suficiente para suportar isso sem reclamar, e eu também serei!”

Thorin sacudiu a cabeça, descrente. Estaria ele sendo mesmo tão rude com ela que ultrapassara os limites do que era cuidar para o que era abusar? E ela encontrou consolo em seu sobrinho e eles se apaixonaram? Então, ele mesmo havia posto Lily para treinar com Kíli, o que se podia esperar? Ela era jovem, mais jovem que Kíli, e ele era um velho anão rabugento que nunca satisfaria sua necessidade de companhia de pessoas da idade dela, para dizer o mínimo. Ele curvou a cabeça, coração pesado.

“Você está certo. Não vou interferir. Não importa o que eu sinto por ela, eu a tratei mal demais e mereço ser deixado sozinho. Você é jovem, você e seu irmão são o futuro de Erebor, eu sou apenas um anão velho com um fardo pesado sobre mim. Eu não deveria pensar em impôr esse fardo sobre as costas de alguém tão jovem. Pelo tanto que nós… conversamos um com o outro… eu sei que ela é a pessoa certa para tornar os seus dias mais claros e… aliviar o fardo de ser responsável por um povo.”

Kíli se perguntava como seu tio sabia tanto sobre Ellen, e o que ele queria dizer com ‘o que ele sentia por ela’, mas ficou quieto. Thorin continuou a divagar.

“Eu… não vou mais fingir que a treino…” Fingir? Ele quase a matava toda manhã! “Você pode ficar ao lado dela todas as tardes, quando eu costumava caminhar com ela pelos pátios e conversar sobre… tantas coisas…”

Caminhar com ela todas as tardes? Como, se eles passavam as tardes na forja?

“Tio… Thorin…”

O anão de coração partido olhou para seu sobrinho.

“Sim?”

“Sobre quem, em nome de Durin, você está falando?”

ooo000ooo

Thorin estava fora de si de alegria e também de ira. A alegria era que Kíli não estava nada interessado em Lily, e ainda lhe deu algumas dicas que nem Balin, sendo mais experiente, nem Glóin, sendo o único membro casado em toda a Companhia, teriam como lhe dar.

A ira era porque ele nunca, jamais, sequer consideraria a possibilidade de ter uma elfa como parte de sua família. Não importava o que havia dito a Fíli aquela manhã, nenhum elfo nunca, jamais, poria os pés nos altos salões de Erebor, nem mesmo sobre seu próprio cadáver.

Mas Kíli estava disposto a questionar seu tio e rei , e mencionou algumas palavras que Thorin havia dito anteriormente.

“Thorin Escudo-de-Carvalho, filho de Thráin, filho de Thrór, chefe anão da linhagem de Durin, primeiro no coração de Mahal, eu juro pela Pedra Arken que nunca vou me comprometer com alguém inadequada para os salões de Erebor, e que qualquer uma comprometida comigo será leal ao nosso povo, honrando nossas tradições e que nenhum filho de Mahal jamais será envergonhado por ela!”

“É isso que espero de um herdeiro da linhagem de Durin, e isso significa que nenhuma elfa jamais será essa pessoa!”

“Vamos lá, Tio, ela não é uma elfa comum, uma elfa normal, ela nem mesmo nasceu elfa por falar nisso, ela era humana até alguns dias atrás!”

“Isso é o que Gandalf diz, mas ele também acredita que essas três senhoritas se transformaram naquilo a que seus corações pertencem, portanto, veja você, em seu coração ela é uma elfa!

“Mas não em sua história!”

Thorin olhou-o de soslaio.

“O que quer dizer com isso?”

“Ela não nasceu no povo de Gondolin, nem no pessoal de Thranduil; ela não é aparentada com nenhum outro povo élfico da Terra-média nem de Valinor. Ellen não é uma deles, ninguém de sua família alguma vez fez alguma coisa errada para o nosso povo. Você não pode culpa-la pelos erros de outros povos, nem por ser o que ela é!”

“Não se pode nunca confiar num elfo.”

“Tio…”

“Basta!”

ooo000ooo

Ellen não tinha a menor idéia de que as coisas estavam tão complicadas entre os anões, apesar de saber que Thorin não era a pessoa mais simpática a ela. Havia ganho seu respeito por suas habilidades, mas, sendo uma elfa, sempre havia alguma coisa que ela fazia ou dizia que o desgostava, e eles discutiam toda manhã, antes, durante ou depois do treino. Na maioria dos dias, antes, durante e depois do treino matutino. Ela já tinha uma noção de que era por serem muito parecidos, ambos acostumados a liderar pessoas, e esquecidos do que era ser liderado. Ao menos ela estava acostumada a lidar com hierarquia formal, mesmo quando um diretor tinha sua posição apenas graças a política e não por meritocracia, tendo aprendido a engolir seu orgulho naquelas circunstâncias, mas Thorin era competitivo demais para ela lidar com isso. Ele não tinha que competir com ela, ele era rei sobre seu povo, de qualquer forma, mas ela tinha a impressão de que ele precisava se provar acima de qualquer outra pessoa, ou melhor, sobre qualquer elfo de sua companhia, e isso significava ela. Ellen não podia arriscar perder a chance de ir para Erebor e encontrar o Portal místico que poderia levar suas sobrinhas de volta para casa, assim, ela decidiu manter seus contatos imediatos com Kíli somente para si até se sentir segura.

ooo000ooo

A noite longamente esperada finalmente chegou, quando a lua era um arco crescente, e felizmente na mesma estação em que as runas lunares do mapa de Thrór foram escritas. Thorin havia sido chamado por Elrond logo após o cair da noite, e a Companhia estaria por conta própria por um bom tempo, junto com elfos que tinham o Solstício de Verão como uma festa muito esperada.

Apesar da desconfiança de longa data entre anões e elfos enquanto povos, quando alguns deles tinha a oportunidade de se conhecer como indivíduos comportavam-se como quaisquer outras pessoas, aproveitando a oportunidade para se conhecerem, compartilhar histórias, trocar informações, curiosidades, canções, hábitos, cultura. Assim, quando aquele que tinha motivos pessoais para desconfiar de elfos estava fora da vista e os outros anões, os hobbits e mais alguns dos elfos mais jovens de Valfenda se encontraram juntos num dos grandes salões a céu aberto da Última Casa Hospitaleira, eles naturalmente começaram a conversar, contar piadas, rir juntos, e assim por diante. Como era um dia de festa, foi fácil que de lugar nenhum aparecesse um barril de vinho e começasse a ser compartilhado entre eles. Logo alguns começaram a cantar, e alguns instrumentos musicais apareceram do que parecia ser geração espontânea.

Os anões começaram uma canção alegre, e alguns elfos começaram a dançar. Mas a música movia Lily estranhamente para dançar dum jeito diferente do que os elfos dançavam, e ela deixou seu corpo se mover de acordo com os sentimentos que experimentava, batendo os pés e as mãos, movendo-se em círculos. Os elfos saíram da arena de dança quando perceberam o estilo diferente dela dançar e que os outros anões a encorajavam. A flauta de Bofur cantava selvagem, cada última nota do compasso coincidindo com a batida mais forte de Bombur num tambor que um dos elfos lhe havia emprestado.

Iris e a meia dúzia de elfos foram rápidos em pegar a canção anã simples e repetitiva, apesar de alegre e animada, batendo palmas para ajudar o ritmo cada vez mais rápido, e os anões animados ajudavam Lily a girar cada vez mais rápido sobre seu próprio eixo e ao redor do círculo que eles formavam. Estava começando a ficar tonta de tanto girar, mas não podia parar. Sabia que se tentasse parar de repente certamente cairia, e mesmo ainda girando seu sorriso havia sumido e seus olhos estavam arregalados de pânico.

Então a canção parou abruptamente ao mesmo tempo em que sentiu braços fortes envolvendo-a e firmando-a, evitando a queda esperada. Lily sentia um peito forte por trás de suas costas e uma respiração pesada e profunda antes de ouvir sua voz retumbando ao lado de seu ouvido.

“O que pensam que estão fazendo?” Por um momento Lily pensou que Thorin estivesse bravo com ela, mas ele continuou. “Não surpreende que todos vocês, com a excessão de Glóin, que nem mesmo está aqui nessa bagunça, sejam um bando de solteiros. Esse não é um jeito cortês de tratar uma dama.”

Alguns dos homens tentaram disfarçar, envergonhados. Não era legal levar uma bronca de seu líder na frente de estranhos, mesmo que estranhos com os quais estivessem compartilhando vinho alguns minutos antes. Lily se sentiu melhor por ela mesma, mas culpada pelos rapazes; não era culpa somente deles. Mas ele continuou, não lhes dando tempo para se desculpar. Seu abraço ficou mais suave, suas mãos tocando as dela.

“Quando uma anã dança, vocês devem ser respeitosos. Seu lugar não é faze-la girar loucamente como um pião, mas guiar seus passos e assegurar seus movimentos.” Ele fez com que se voltasse para ele com apenas um movimento suave. “Lembrem-se que uma anã é uma Joia que Mahal nos deu para honrar e admirar e para cuidar. Faça isso com sabedoria, mesmo nas coisas que pensar ser menos importantes.”

Sua mão na dela fez uma pressão sutil quando sua perna se moveu para o lado dela, incitando o corpo dela a mover-se com o seu. O tambor de Bombur bateu uma vez. Outro passo. Duas vezes. Um passo para trás. Três vezes. Fíli pegou um violino que um elfo estivera tocando e se juntou assim que percebeu qual dança Thorin estava querendo, e sorriu para si mesmo com um ar conhecedor. Ele podia ser um enigma para a maioria dos outros, mas ele era seu tio, e ele o conhecia bem o suficiente. Aquilo era mais do que fingir ensinar a seus companheiros como se comportar com uma mulher, aquilo era deixar claro para eles que aquela não era uma mulher com quem devessem se meter, e, para os estranhos, que ele era majestoso o suficiente para calar a boca de todo mundo sem ser óbvio demais a respeito disso.

“Uma Joia nasce no escuro; você deve dar o melhor de si para traze-la para onde ela vai brilhar mais, a luz.”

Ele a fez girar em torno de si mesma e em volta dele, mas não de forma que a deixasse tonta. Seu aperto firme nas mãos dela a guiava e firmava, como antes, mostrando o rosto dela para todos na arena de dança, a flauta de Bofur juntando-se à música.

“Uma Joia não dever ser escondida, só para você. Uma Joia deve ser exibida orgulhosamente, porque é uma bênção que Mahal lhe deu.”

Dançaram lado a lado, as mãos dela para o alto e batendo como antes, conforme ele a guiava num movimento suave de suas mãos sobre os braços dela, suas mãos então tocando seus quadris e ajudando-a a se virar.

“Uma Joia pode ser áspera às vezes, e você deve ter a determinação de encontrar seu lado mais suave.”

Numa série de passos firmes, ele deu um jeito de coloca-la no meio do círculo e contorna-la enquanto ela mantinha o ritmo com os calcanhares. Iris achou um jeito de fazer sua voz acompanhar a flauta de Bofur.

“Uma Joia brilha por si só, você apenas tem o privilégio de ser iluminado por seu brilho. Seja grato por isso se quiser mantê-la a seu lado.”

E lado a lado eles dançaram, um de seus braços atrás das costas dela, sua mão livre alcançando a mão dela em frente deles. Lily estava abismada pela maneira com que ele guiava o corpo dela com toques imperceptíveis de suas mãos e pernas; ela nunca dançara tão levemente antes um dança que não conhecia de antemão.

“Uma Joia nunca deve ser quebrada por você, pois seus estilhaços perfurarão seu coração, e você ficará como que morto sem ela, mas com ela para sempre dentro do seu coração.”

Ela a virou para encara-lo e moveu o corpo dela com o seu enquanto falava, trazendo-a para mais perto de seu peito. Com sua última palavra a música parou, no mesmo momento em que a abraçou plenamente e sustentou os olhos dela em seu olhar. Lily podia ouvir seu próprio coração batendo no peito e sentir o aroma do hálito quente dele perto de seus lábios. Ele não estava sorrindo, mas seus olhos brilhavam perigosamente. Ela desejou que aquele momento pudesse durar para sempre.

A magia foi quebrada pelos apupos e aplausos em volta deles. Thorin piscou e Lily percebeu que ambos haviam estado sob o mesmo encantamento. Ele a soltou, relutante, e olharam em volta. Mais alguns elfos haviam se juntado ao grupo enquanto dançavam, aparentemente os filhos de Elrond e também Ellen. Ela estava aplaudindo também, com um sorriso zombeteiro no canto da boca. As sobrancelhas de Thorin franziram.

“Isso foi uma bela demonstração, Senhor Thorin.” Arwen, a caçula de Elrond, sorriu para ele. “Se eu fosse uma dama anã, com certeza me sentiria honrada em ser considerada como uma joia.”

Lily enrubresceu. O que aparentemente começou como uma bronca na tropa de anões se transformara numa dança de cortejo, e ela não sabia onde se esconder.

“Obrigado, Senhora Arwen, mas é a obrigação de um rei impôr respeito a seu povo e a de um tio ensinar seus sobrinhos a terem modos.”

O quê? Então era só isso para ele, uma aula para Fíli e Kíli? Lily olhou zangada para Thorin. Ela ainda sentia o calor das mãos dele sobre seu corpo, o aroma do hálito dele tão perto de seus lábios, e ele estava apenas dando uma aula, por obrigação?


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