O Sangue escrita por Vivian Isabele


Capítulo 8
Finalmente um "presente"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587205/chapter/8

Lorena pisava confiante nos degraus de cimento que davam acesso ao porão, tremia com a ideia de não ter nada ali embaixo, e que a porta se fechasse antes que pudesse subir e provar a si mesma o quanto era corajosa. Segurou ainda mais firme o celular, e procurou na lateral do mesmo, o botão de bloqueio, a tela se acendeu. O único som que escutava, era o de sua respiração e o seu coração que martelava sua costela, preparando-se para o pior. Porque você não fica na frente da televisão ou fala de garotos como uma adolescente normal? Seu coração resmungava baixinho conforme se acelerava.

Fim, os degraus acabaram e pouca luz entrava pela portinhola, o que não ajudava, a visão de Lorena demorou a se ajustar, o cheiro de mofo estava forte, madeira corroída pelos cupins, e uma lâmpada queimada, tudo colaborava em deixar o ar tenso, ela podia escutar os passos acima de sua cabeça, teve de se abaixar um pouco, ao de desviar de uma pilastra que descia debaixo da cozinha. O porão se estendia debaixo de toda a casa, desconfiava que o tal do presente estivesse em qualquer lugar, aé mesmo atrás si.

– Me disseram que você seria curiosa, mas não a ponto de descer em um porão para saber quem seria o seu presente. – uma risada doce e máscula ecoou pelo porão, ela iluminou o seu caminho e então tudo se escureceu, com um baque a portinhola se fechou.

– Quem está ai? – ela tremeu, um frio subiu-lhe a espinha. Sentiu dedos abeis encostando-se em sua nuca e depois alisando seu pescoço, perdeu a conta de quantas vezes havia olhado para trás, e não tinha encontrado a tal pessoa que tinha se aproveitado de sua burrice. Incrível! Estou me sentindo a vítima em um filme de terror onde o monstro é quem ela menos espera. Ela estava nervosa, sim, nervosa a ponto de se deixar sentar no chão e ficar lá, até a bateria do celular se esvair e ela ter que pedir para fazerem um buraco acima de sua cabeça só para colocarem o cabo do carregador.

– Sabe, você mudou muito desde a ultima vez que te vi, ainda era tão pequena, um bebê. Seus cabelos eram tão finos, sua pele tão alva, que eu conseguia ver suas veias e até seu coração pulsando, ou talvez minha visão me enganasse. – ele se corrigiu, finalmente depois de um tempo, ela conseguiu escutar os passos de seu presente. – Não sei com consegue ser tão apaixonante. – ele suspirou como um apaixonado. – Eu adoro os humanos, e principalmente as mulheres. Quando atingem certa idade emanam... Qual é o nome? – ele tentou encontrar a palavra certa. O que deixava Lorena ainda mais angustiada, ela se atreveu a andar mais um pouco em busca a alguma lanterna, tinha certeza que deveria ter um armário em algum lugar, mas onde era o tal lugar? A tela de seu celular voltou a acender, notou que a bateria não duraria o tanto que esperava e então se apressou.

– Será que dá para calar a boca por um instante! Estou meio ocupada tentando procurar um armário com alguma lanterna velha que funcione! Não que eu não goste de escuro, mas ficar sem saber com quem eu estou dividindo o porão é desconfortável! – ela explodiu e se deixou agitar o corpo, saiu tropeçando nas coisas que não conseguia enxergar e quase escorregou em alguma gosma que deveria ser óleo de cozinha, ou pelo menos torcia para ser, pois o cheiro lembrava gordura velha com alguma outra coisa podre.

– Sério? Está tão agradável assim. – ele riu, ela se arrepiou outra vez, baixinho e rouco ele sussurrou. – Que tal ficarmos juntos para que você não caia e se machuque? – ela arfou e revirou os olhos, sentiu a mão um pouco fria encostar em seu braço e a puxar com uma força estranha para si, seus corpos colaram e logo percebeu que estavam sentados na escada. – Será que é tão difícil assim pedir ajuda? – ele movimentou os braços e uma luz se acendeu, deixando os olhos de Lorena doloridos. Acostumou-se um pouco com a luz e gemeu baixinho ao notar que seu pé estava grudento.

– Acho que você pode me soltar. – ela disse, tomando impulso para se levantar, sentiu ainda uma das mãos de seu presente em seu braço.

– Deveria ser mais educada com seu protetor! – desta vez foi ele quem revirou os olhos, deixou de lado seu estilo sedutor e a encarou, esperando por sua reação ao levantar os olhos. O celular de Lorena caiu no chão, por um instante perdeu a fala, o rapaz loiro de olhos invejáveis, sorria torto. Os ombros largos sob a camisa impecavelmente branca, a calça jeans de cós baixo, e botas pretas e pesadas. Ela o conhecia, mas faltava algo.

– Protetor? – escutou Cassie abrir a portinhola. – Ah meu Deus! – ela deu um gritinho, ao ver o rapaz ainda com uma das mãos na amiga, os cabelos loiros despenteados e os olhos, a sim, os olhos. Ela estava deslumbrada, parecia em transe, diferente de Lorena que agora tentava soltar a mão dele e pegar o celular no chão, enquanto sacudia um pé com gordura velha.

– Prazer em vê-la Cassie. – ele disse o nome dela de maneira sedutora, dando uma piscadela que a fez bambear as pernas, Lorena revirou os olhos e o rapaz riu baixo.

– Victor, será que dá próxima vez em que resolver me visitar, não faça tanto mistério? Porque não entra pela porta e me traz um presente como um garoto normal? – Lorena subia as escadas depois de ter sido solta pelo amigo e limpava o celular com cuidado, já que como tinha caído no chão, estava com ferimentos, nas laterais. Ele sorriu revirando os olhos e subindo logo trás dela.

– Você sabe que comigo, nunca é assim. – a voz dele pareceu ecoar em sua mente, ela estava nervosa demais para prestar atenção, deixou Cassie e Victor sozinhos.

Foi pulando com apenas um pé até no banheiro, depositando o celular na mesa no corredor, e lavou seus pés no chuveiro, sua face estava avermelhada, tinha pensado que seria alguma pessoa diferente, esperava que fosse Ronald, pedindo-lhe desculpas pelo susto e que não queria fazer aquilo, esperava que tudo tivesse sido uma brincadeira combinada com Junior.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.