O Sangue escrita por Vivian Isabele


Capítulo 7
Ronald não é culpado


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos... por finais de semana, um no sábado e outro no domingo, tentarei ser pontual , senão der certo será apenas um por final de semana.



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Ele escutava música nos fones de ouvido, havia deixado Lorena em casa, e ainda não entendia como ela o fizera mudar, como o amor que sentia por ela fazia com que ficasse louco, e se perdesse em devaneios sobre o futuro junto à amada. Sorria por horas pensando no sorriso, nos olhos, e nos cabelos sedosos de Lorena. A rua estava silenciosa, mesmo que para ele nem se quer aparentasse, estava ocupado demais requebrando de um lado para o outro, e girando os calcanhares no ápice da batida eletrônica. Mordeu o lábio, e voltou a caminhar normalmente, olhando para os lados se certificando que ninguém o vira pagar aquele mico, se bem que estava na rua de sua casa, ele realmente não se importava.

Entrou dentro da casa de tijolos sem reboco, e trancou a porta de madeira, para ele tudo que fosse de madeira atrairia sorte, mas naquela noite, poderia ter sido o contrário. Lavou-se e comeu uma fruta, enquanto entrava no cômodo pequeno que chamava de seu, ele se imaginava abraçado a Lorena naquele instante, seu coração palpitou e se sentiu outra vez um bobo apaixonado.

O que será que ela está fazendo neste momento? Será que está pensando em mim, ou brigando com Junior de novo? Ele se distraiu, por um instante, a televisão ligada no quarto escuro, e a janela de alumínio barato fechada rangeu. Por um instante ele voltou à realidade e resolveu colocar um cadeado na mesma, como era de costume, sua mãe ainda reclamava disso. Ronald teve uma infância difícil, sofreu com a perda do pai, apesar deste nem se lembrar que o filho existe, por já estar com outra família em Goiânia, isso o chateava, apesar de tudo o vazio que sentia em seu peito foi preenchido com o passar dos anos, por sua mãe e agora Lorena. Ainda não entendia o que ela possuía que o deixava tão tolo, e romântico, sentia raiva quando não conseguia demonstrar para ela a verdadeira importância que ela tinha.

Depois de ter namorado tantas mulheres, todas elas mais velhas que ele, encontrar aquela garota, que exalava inocência, a única coisa que ele gostaria de preservar nela. A pureza era a coisa mais bela que ele já vira, e queria voltar no tempo, quando tudo era mais simples, e as contas de casa se pagavam sozinhas, e o pai ainda era carpinteiro e trazia alegria para ele nos pequenos momentos de felicidade. Resmungou baixinho, enquanto cobria-se e se encolhia debaixo do edredom.

A noite havia esfriado, o vento assobiava e alguns galhos da planta seca, do lado de fora da casa se debatia contra a janela de Ronald, o mesmo praguejou quando um trovão reverberou pela casa, como se tivesse caído sobre ela. Preocupado com a mãe, ele se levantou apressado e foi para o cômodo ao lado do seu, e viu que a mãe ainda dormia. Respirou fundo e foi até a cozinha, bebendo em uma só golada um copo de água. Ele poderia até estar com medo, sim, ele tinha medo de relâmpagos e trovões, desde pequeno seu pai o reconfortava, ou pelo menos quando ainda estava junto a ele, desejou lá no fundo, nunca ter tido um pai, e voltou com passos mansos para o quarto.

Assim que entrou, a porta se fechou atrás do mesmo, lá do outro quarto, a mãe não pode gritar, quando viu um estranho de olhos carmesins se aproximar da cama, com um rosnado baixinho e dar o bote, estraçalhando o pescoço da mulher de cinqüenta e poucos anos, Ronald, se virou para a porta forçando o corpo, e hesitou em virar de costas, estava com medo do que poderia ver, temia ser algo que a noite trazia consigo, algum animal. Mas eu tranquei droga da janela! Virou-se trêmulo.

– Olá Romeu. – uma risada sinistra deixou o ar mais denso, a janela estava destruída, as cortinas velhas estavam no chão, e em posição felina, uma mulher estava sobre sua cama. – O que foi? Um gato comeu sua língua? – ela riu como uma criança que brinca com suas bonecas e uma delas se faz de levada, sentou-se corretamente sobre a cama e seu peso se desfez, a cama rangeu em protesto, como se reclamasse do peso, ela aparentava leveza, e suavidade, sua pele pálida, mas de uma beleza esplendorosa, aquilo fez o peito de Ronald se encolher quando a mesma mordeu o lábio. No que eu estou pensando? É outra mulher! E ela está na minha cama.

– Quem é você? – ele gaguejou, enquanto se mantinha de pé, com as pernas bambas. Ela emanava excitação e perigo, o tipo que mulher que em uma época atrás ele adoraria conhecer, mas agora, se sentia amuado, e pequeno diante dela, com toda certeza os olhos avermelhados serviam de alerta.

O resto da note se tornou um borrão na mente de Ronald, assim como seus sentimentos por Lorena, e se esquecera completamente de sua mãe, que estava apodrecendo no quarto ao lado do seu, só sabia que tinha que caçar e que sua presa seria Lorena. O motivo ele não sabia, poderia ser instinto ou apenas algo maior, um poder que o fez sucumbir a escravidão, mas como descobrir que uma pessoa está hipnotizada? E principalmente um vampiro? Como retirar este empecilho que não o deixava ter as reações de um recém criado? Ele tinha que continuar a obedecer, principalmente a mulher sexy de preto que estava em sua cama há alguns dias atrás, ela o havia dado o beijo da vida eterna.

Lembrava-se de fragmentos, pequenos pedaços da conversa que invadiam o vazio que se encontrava em seu peito. Ele tremia, ainda encostado a porta, sentia a bile na sua saliva e a fraqueza em seus joelhos o puxarem para baixo, a mulher o encarava firme, ainda pensava no que faria com o pequeno principezinho, pensou em matá-lo, separando a cabeça do resto do corpo, queria ver o sangue jorrar e beber dele como se fosse um chafariz, ou quem sabe ainda deixá-lo vivo por mais algum tempo, deixando-a ver se alimentar de seus membros, um a um, arrancando e mastigando, destroçando a carne bem em frente ao dono.

– Nem pense nisso, precisamos dele. – Ronald voltou a prestar atenção ao seu redor, ao invés de pensar em como poderia fugir, percebeu que seria inútil, uma tempestade caia feroz sobre a casa, sentia tanto medo quanto um garoto de oito anos brincando de esconde-esconde em casa abandonada. Sua face ficou úmida antes que notasse, o vento empurrava as gotas mais pesadas para dentro de casa, até a mulher de cabelos negros havia se molhado dando a ela um pouco mais de poder, ela estava medonha, a face distorcida, os dentes afiados, uma antiga, do século XVIII, tinha toxinas em seu sangue, possuía mais força do que muitos do século XVI e XV. Ela havia matado um soberano, o líder de um clã austríaco, e então herdou seus dons, agora servia de lacaio a um soberano maior, quase todos os vampiros da America do Sul o obedeciam fielmente.


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