O Sangue escrita por Vivian Isabele


Capítulo 9
Caçadores x Caçada




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Começava a escurecer, Trevor se preparava pra sair na calada da noite e se encontrar com os caçadores na BR-040, calçou suas melhores botinas, e guardou seu armamento dentro de uma bolsa grande e velha, subiu em sua bicicleta e começou a pedalar para poder morro acima, antes de chegar na frente do deposito quando a rua ficava totalmente reta, ele parou diante a encruzilhada, e olhou para os quatro lados, para trás, para os lados e para frente, abriu a bolsa e pegou uma lanterna, a colocando sob seus dedos enquanto manuseava a bicicleta.

Não estava tão tarde, Lorena parecia estranha e ele sabia que isso era normal, já estava numa idade, em que começaria suspeitar de tudo, mas com ele fora mais cedo, fechou os olhos por um instante, respirou fundo e então voltou a pedalar, desta vez a rua ficou íngreme por causa dos cascalhos e porque um senhor de idade sempre molhava aquela área para não entrar poeira em sua casa. Velhinho esperto. Pensou Trevor, já estava perto da BR, quando foi atingido e sua bicicleta perdeu o freio, enquanto caía de mal jeito sobre os cascalhos, ele sentiu os olhos castanhos em cima de si.

– Sinto muito, você é péssimo com ataques surpresa. – os olhos se reviraram e então a risada feminina começou, era Deanna, a mais nova caçadora da região, era ótima com golpes precisos com as lâminas e sempre aparecia do nada.

– Se você puder me ajudar ao invés de rir da minha pessoa, eu agradeceria. – ela estendeu a mão e o ajudou a se levantar. Entreolharam-se e Trevor corou ao notar a roupa que a mesma usava, Deanna tinha vinte e cinco anos, servia de policial em outra cidade, mas nunca foi valorizada na profissão, a pouco tempo perdera o marido para um lobisomem e um sangue suga quase a matou, se Trevor não a tivesse salvado, quase todos os caçadores possuíam histórias tristes e melancólicas. Ela trajava uma jaqueta de couro, uma calça elástica para se movimentar melhor ao chutar as cabeças dos monstros, uma blusa embaixo da jaqueta colada ao seu corpo, e os cabelos longos e lisos presos em um rabo de cavalo justo e resistente.

– Vamos logo, estou ansiosa por esta caçada. – apesar de ser mais velha, parecia uma criança quando se tratava de caçadas, uma criança muito mal criada que matava todos os seres sobrenaturais que encontrava não os dando chance de nenhuma defesa. Trevor deixou a bicicleta na garagem de Deanna, que morava perto, e caminharam até a BR. Vez ou outra se perguntavam se era certo matarem tantos monstros, mas isso acabava virando passado em suas mentes caindo em um potinho de perguntas sem respostas, pois sentiam de uma maneira estranhamente boa que matar os malignos era uma forma de salvar as pessoas amadas, indiretamente.

– O caso é de uma mulher encontrada no Horto, com as partes do corpo espalhadas pelo quarto, não houve sinal de arrombamento no quarto principal onde o corpo foi encontrado, mas no quarto onde parece ser o que o filho utilizava, estava completamente destruído, não há nenhuma digital, na mobilha ou nenhum resquício de pelos de cachorro. – Deanna espirrou ao falar dos caninos, tinha alergia a cães, principalmente lobos. Sentia o cheiro repugnante deles de longe.

– Isso não é algo tão natural dos vampiros, eles sempre deixam rastros, e geralmente o corpo fica inteiro após saírem, e não tão picotado. – Trevor sentia seu sangue ferver, quando adentrou o quarto e viu o corpo, queria vomitar, mas se fez de forte. – Isso se parece com ataque de lobos Deanna? – ela passou os olhos pelo cômodo, e negou, não espirrou nenhuma vez.

– Aqueles malditos, o que eles querem tentando apagar o rastro desta maneira? – mais um caçador passou pela fita isolante colocada pela policia e tampou o nariz ao sentir a podridão. – Trevor acho que vai gostar de saber com quem aquela sua amiguinha estava andando. – retirando uma fotografia amassada do bolso, entregando a Trevor, ele viu o rosto alegre de Lorena ao receber um beijo do namorado. Então era com ele que ela saia. Revirou os olhos e tentou não rir do péssimo gosto que Lorena possuía. O primeiro ex-namorado de Lorena fora encontrado morto, sem gostas de sangue, mas também não completamente morto, estava no esgoto principal, onde geralmente os vampiros deixavam suas proles, as deixavam com sede e depois as largavam antes de completarem a transição, queriam caçadores fortes que pudessem identificar o sangue fresco a distancia, matavam um ente querido deles e deixava o sangue escorrer pela água os acordando a para nova vida.

E por fim, matavam de maneira violenta o dono do sangue, podendo até ser o primeiro amor que encontrara na vida, ou até mesmo seu único familiar vivo. Quando se para pra pensar, de certa forma, é terrível, cruel e com toda certeza medonho. Os vampiros do século XXI precisavam ser fortes, e quase nunca sobreviviam após uma semana em sua nova vida. Faziam de tudo para receberem sangues ancestrais ou serem “contratados” como lacaios de um ser superior.

***

Cassie dormia lado de Lorena, enquanto ela mesma observava o teto, e vez ou outra se remexia tentando não acordar a amiga, Marconi e seu pai haviam voltado tarde, trazendo alguns peixes, Quer dizer que tinham ido pescar? Poderiam ter me falado, ora. Queria tanto ir ao riacho, aqueles velhos. Revirando os olhos, Lorena pegou seu celular no criado mudo, olhou as horas e reparou com um aperto no peito, a foto de bloqueio, uma em que beijava seu ex-namorado/monstro/compulsivo/tudo de ruim. Fechou os olhos com força e sentiu um nó em sua garganta, levantou-se silenciosamente e abriu a porta de vagar, fazendo o possível para que não rangesse demais, duvidava que isso acordaria Cassie, já que a mesma dormia feito uma pedra.

Passou pelo corredor, levando o celular, passou pela porta do quarto de seu irmão, onde Victor dormia no chão em um colchão de solteiro mal cuidado, mas que parecia tão confortável que por um momento Lorena queria estar no lugar de seu amigo, e não ali em pé, com um turbilhão de coisas em sua cabeça. Foi até a cozinha em passos tão suaves que ela desconfiou serem mesmo os seus, e se sentou no sofá, encarando a televisão desligada e vendo seu reflexo escuro, os cabelos bagunçados, em um cabo de cavalo mal feito, o pijama curto demais para o seu tamanho, e como estava se sentindo pequena.

Ligou o visor do celular mais uma vez, e pensou em ligar para Ronald, depois de tudo o que ela tinha feito ela precisava! Necessitava daquilo, precisava ouvir dele que era uma brincadeira e não acreditar em sua mente mirabolante que insistia nesta ideia. Foi na lista de contatos e encontrou um número escrito “Ronald”, a foto que tinha colocado ali para todas as vezes que ele ligasse ela sorrir e sentir um frio na barriga, tinha também um toque especial só dele, Love me Like you do. Uma musica que combinava perfeitamente com ambos, pena que agora ela não a ouviria tocar novamente. Mas desejava secretamente que o celular começasse a vibrar e depois a musica com a voz da Ellie Golding ela se sentisse como antes, feliz e esperançosa em relação a Ronald.

O celular vibrou e a tela escureceu, Lorena o soltou no susto e o mesmo quase se espatifou no chão se ela não tivesse o segurado a tempo, com o coração palpitando e a respiração entrecortada soando ruidosa, ela estremeceu enquanto ligava o visor novamente e iluminava a sala mais uma vez. Havia recebido uma mensagem, ela suspirou mais aliviada, e sorriu para si mesma, abriu a mensagem e a mesma dizia que seus créditos estavam acabando, passou a mão na testa e olhou para a janela, a luz da varanda estava ligada, caminhou até a janela com as cortinas escuras e pesadas a fechando, com somente uma brecha pela qual ela conseguia enxergar, viu uma sombra passar rapidamente. Parou a um passo da janela e olhou para trás, teve a sensação de estar sendo vigiada. Seu corpo estava inteiramente arrepiado, não havia nenhum fio de cabelo de seu corpo que não estivessem eriçados até a nuca.

Escutou passos, mas pareciam mais zumbidos, ela tocou na cortina, imaginado que talvez as sombras fossem algum besouro tentando se aproximar da lâmpada e fazê-la de sol provisório.

– Não abra esta janela! – Victor apareceu a assustando, fazendo a mesma cambalear para trás e cair sobre a cortina, à mesma foi escancarada e ela pode ver de onde estava uma sombra deformada no chão, ela arregalou os olhos e prendeu o grito na garganta, Victor estava abaixado atrás na cômoda da televisão, não muito longe de Lorena, ele pediu a ela que ficasse em silencio, ela tremia. Muito mais do que antes, porque agora se ela fosse atacada por seu ex-namorado psicopata sua família também seria e ela não queria. Dizia a si mesma Vai ficar tudo bem, em uma tentativa falha de se enganar mais uma vez.

– Desculpa. – ela sussurrou o mais baixo que conseguiu, mas sua voz se perdeu no meio da fala, quando escutou um grunhido do outro lado da casa, a sombra se moveu ainda mais rápido do que pode notar, e ela se encolheu ainda mais junto à parede. A cortina estava embaixo de si, havia quebrado, a outra parte pendia sobre a estante.

– Shii. – ele colocou um dedo sobre seus lábios, e estendeu uma mão para Lorena, com a intenção de trazê-la para perto, ele era seu protetor não podia vê-la com medo, isso o partia. Meu dever será cumprido. Ele pensou consigo mesmo se aproximando o máximo que pode tentando evitar a luz que vinha da varanda. Ela olhou para o chão mais uma vez, antes que aceitar a ajuda do amigo, e se ajeitou tentando não fazer barulho, e segurou firme a mão de Victor que a puxou de uma só vez, fazendo com que a mesma caísse sobre ele na parte escura da sala. Eles se entre olharam e por um instante, uma chama se acendeu ali, em meio ao medo e a adrenalina. Victor rolou de lado e ficou sobre Lorena, olhou para trás, suspirou quase sorrindo.

Ela reparou que seus cabelos estavam bagunçados, o rosto dele marcado por alguns fios, mas os olhos pareciam de um felino prestes a atacar, o coração de ambos estavam acelerados, ele se levantou e a ajudou, estavam mais afastados da claridade, mas não quer dizer que não poderiam ser vistos. Victor a direcionou, pelos cantos menos propícios a serem observados, ele pegou o forro do sofá e jogou sobre eles, um forro preto que estava jogado no armário da cozinha e eles foram caminhando lentamente até passar pelo corredor e sentarem quase em cima da portinhola do portão.

– Estou com medo. – Lorena sussurrou meio rouca, seus cabelos estavam um pouco grudados na testa, sua respiração estava ainda mais sonora do que antes. Ela olhou para o amigo e ele assentiu com a cabeça tentando se recuperar. Havia luz entrando pela porta dos fundos, eles olharam para ela e Victor tampou a boca de Lorena quando Ronald finalmente apareceu, com os lábios deformados e olhar sofrido, estava sangrando pelo nariz, como se tivesse apanhado, Lorena gritou de maneira abafada. O rapaz do lado de fora da porta precisava de ajuda, Lorena sentia isso através dos olhar, mas talvez não devesse se mexer. Juntou seu corpo ao de Victor, para sentir um pouco o seu calor, e tentar evitar qualquer atitude futura que a fizesse abrir a porta.

– Lorena, me deixe entrar. Por favor! Eles me querem morto. – ele disse desesperado girando a maçaneta, várias e várias vezes, ele estava descontrolado, Lorena olhou parta trás de si e viu o rosto sem emoção de Victor, ela tentou se debater contra ele, sabia que tinha que fazer alguma coisa! E rápido. Ela tentou se aproximar da porta, e os olhos de Ronald brilharam com seu movimento. Mas ela foi puxada com força bruta.

– É isso que eles querem, eles vão ter, não deve acreditar nunca em um vampiro. –a voz de Victor foi clara e baixa, rude o suficiente para Lorena parasse de se mexer, mas não que tentasse parar de falar, seus olhos se encheram de lagrimas, e elas molharam a mão de Victor como gotas de gelo derretido, e salgaram seus dedos, ela chorava enquanto seus soluços eram abafados pela mão de Victor, uma luz se ascendeu no corredor, Junior cambaleou e bocejou para fora do quarto, e olhou para Victor e a irmã, juntos e tão grudados, que o fez arregalar os olhos.


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