Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 2
Utopia




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– Foi construído há dois mil anos. – Leona falou para Brandon, se aproximando gentilmente. Ele olhava para o símbolo dos Solari durante horas, era o único que demonstrava alguma admiração pela cultura deles. Kristofer, Vayne e Riven não pareciam tão interessados em nada mais que suas causas pessoais.

– Você pode me ensinar sobre a sua cultura, se quiser. Eu sou bom com essas coisas, e pareço ter muito tempo. – Ele respondeu, conseguindo com certo sucesso deixar a tristeza fora de sua voz, mas não de suas palavras. Ela podia ver a amargura estampada em sua expressão.

– Ou… – A guerreira de armadura se sentou no gramado ao lado dele, segurando a sua mão. – Você pode me contar a sua história. Monte Targon não vai se envolver nessas disputas ou nada do tipo, mas eu gostaria de te entender um pouco melhor.

– Você não acha que fui sincero com seus líderes, acha? – Ele perguntou, os olhos castanhos dela entregavam esse tipo de informação.

– Acho que você mentiu. – Ela confirmou. – Em um, dois… ou sete tópicos.

Eles riram por um momento. Brandon gostava de Leona. Era uma das poucas pessoas no mundo que o faziam se sentir a vontade em ser… ele mesmo. Ainda mais naqueles tempos.

– Eu sei como isso é. Você acha que não sabe como virou o que é agora. Mas você sabe, e queria não saber. Precisa ser sincero consigo mesmo, Brandon. Não vai conseguir a sabedoria do Medalhão enquanto não o fizer. – Ela falou, compreensiva. Leona sabia o quanto tinha em comum com o cientista de Piltover

– Porque eu não sou puro. – Ele respondeu, com um suspiro. Aquilo o incomodava mais do que tudo. – Vamos lá, então, do começo.


Três dias antes
Instituto de Guerra

Tem coisas que surpreendem você à primeira vista. Quando as pessoas te dizem “você é o máximo”, por exemplo, e você começa a acreditar. Isso te coloca no topo do mundo, ainda que você não queira, ou precise.

Eu sei disso porque aconteceu comigo. Só que duzentas vezes, então você pega essa sensação e multiplica por duzentos. Eu não estava no topo do mundo, estava no topo do universo praticamente. Talvez por isso, a queda doeu tanto.

O que é até engraçado porque eu ascendi a partir de uma queda. Após a invasão do exército de Lissandra o Instituto estava meio destruído. Muito destruído, na verdade. Muitas ou todas as casas e estruturas tinham sido queimadas, explodidas ou pisoteadas por um monstro gigantesco de gosma verde mais conhecido como ZAC, ou Zaunita Amorfo de Combate. Não que o nome fosse algo tão importante assim.

O que você precisa saber é que derrotamos o ZAC, junto com a Lissandra, que costumava ser a minha mulher, mas, na verdade, era uma espécie de feiticeira gélida maligna. Isso é bastante complicado. E também prendemos o Kristofer, meu suposto amigo e mentor, que na verdade queria me usar como fonte de energia para um portal dimensional que eu mesmo construí e liberou um mal terrível no nosso mundo.

As coisas que eu construo são assim, normalmente elas vem com o potencial de ferrar a minha vida inteira, além das dos outros. Como a minha máquina do tempo, que me deu uma doença muito rara chamada cronodisplasia. Estou curado hoje em dia, se você quiser saber. Mas foi complicado. Eu morri, então renasci e estava curado. Não vou reclamar, foi um dos processos menos burocráticos da minha vida, embora, como eu disse, tenha sido complicado. Sim, tudo em minha vida é complicado.

A questão é que depois de tudo isso, o Instituto precisava de alguém para se apoiar. E lá estava eu. O gênio de Piltover, um verdadeiro herói sob os olhos de quase todos. Quase. Com o apoio de Vessaria Kolminye, nossa Alta-Conselheira que sucedeu o falecido Kiersta Mandrake, eu reconstruí a cidade do Instituto.

Não, reconstruir não é a palavra. Eu recriei a cidade do Instituto. Minha própria torre de marfim em forma de uma grande cidade. Uma metrópole do futuro. A referência para um mundo de paz. Pelo menos, essa era a minha intenção. Ainda é. Só que agora é mais… complicado.

– Brandon, precisamos conversar. – Ellie me falou, no tom sério dela. Eu gostaria de dizer que tinha percebido algo de errado naquele dia. Que algo como um sexto sentido ou más vibrações tinham me dito que o fim começava ali. Mas não, eu realmente achava que seria um dia feliz.

Ellie, por sinal, era uma das pessoas mais importantes da minha vida. Desde que eu me tornei importante de certa forma, ela estava lá para organizar a minha vida. Eu nunca admitiria, mas estaria totalmente perdido sem a minha secretária pessoal. Assim como ela nunca admitiria que se divertia com as loucuras que eu possivelmente fazia. Ou talvez eu estivesse enganado e ela odiasse tudo aquilo.

– É sobre a celebração de hoje? – Eu perguntei. Nossa nova cidade estava completando um ano naquele dia. A magia da nossa cidade nova era que, diferente da antiga, você não precisava ter alguma função no Instituto para poder morar lá. Isso atraiu pessoas e aumentou a nossa popularidade. Ideia minha, obrigado.

– Preciso ter certeza de que você não esqueceu o seu discurso. – Ela falou. E seria ótimo se só tivesse dito isso, mas eu tinha outras coisas para descobrir ainda. Descobrir, não entender. Aquele seria o tipo de coisa que nunca se entende.

Desde que eu me tornei importante o suficiente, meu tempo ficou escasso. Óbvio, eu tinha fugas constantes da rotina de trabalho onde geralmente bebia até esquecer como escrevia o meu nome ou como se quebra o núcleo de um átomo radioativo. Então, eu recorria à minha tecnologia. Basicamente, as notícias mais relevantes para mim eram selecionadas e exibidas. Do resto, eu geralmente não tomava consciência. Bom, você pode considerar relevante a notícia que eu recebi a seguir.

Basicamente, quando a Liga foi aceita por grande parte dos Representantes do Instituto, eles assinaram um tratado entre si que os impedia de ir na nação do outro e… Bum. Mas o termo chave é “grande parte”. Entre um e outro local insignificante, um gigante decidiu ficar contra a nossa ideia de pacificação mundial: Ionia.

E aquilo mudou tudo. Ionia agora era um território neutro sob os olhos da Liga, então nada pudemos fazer quando Noxus começou a tomar seus territórios. Na verdade, podíamos fazer mais. Podíamos tentar mais. Mas preferimos, eu preferi, fechar os olhos e torcer para que fosse rápido. Não foi, e Ionia voltou. Ou pelo menos, uma parte dissidente dela.

Uma projeção de tela holográfica interrompeu o que Ellie dizia. Não trazia exatamente uma notícia, era mais uma mensagem, um apelo enviado a todas as pessoas importantes de Runeterra. Óbvio que eu a receberia, sem saber o que isso significaria:

“Meu nome é Aung Suu Warlock.”, o homem dizia na mensagem por vídeo. Seus traços orientais e o bigode caído deixavam claro para mim que o homem era ioniano. “Durante seis meses, nossos campos foram queimados. Nossas casas destruídas. Nossos familiares…”, ele fez uma breve pausa. Enquanto ele falava, eu reunia as informações disponíveis sobre aquilo no meu banco de dados. Warlock era o líder de uma resistência ioniana conhecida como Os Dissidentes. Uma entre as muitas resistências. A dele não era a maior, nem a mais poderosa. Naquele momento. “…mortos. Ainda assim, vocês nada fazem por nós. Vocês nada fazem por Ionia. Eu clamo para que aqueles que não podem suportar a injustiça se ergam conosco. Enfrentem a tirania. Eu clamo pelos heróis da Liga das Lendas. Onde vocês estão quando mais precisamos? Onde estão os corajosos demacianos? Onde estão os justos que restaram no mundo? Onde está…”, então a mensagem acabou. Mas eu sei por quem ele ia perguntar.

– Você não deveria ajudá-los? – Ellie perguntou me olhando diretamente, mordendo o lábio inferior. Ela fazia aquilo com frequência, principalmente quando estava nervosa ou ansiosa.

– Eu tentei. A duquesa Karma não considera a possibilidade de entrar na Liga. – Respondi calmamente. Era fácil ficar calmo no topo de sua própria torre enquanto campos são queimados, casas são destruídas e essas coisas.

– E quanto ao Warlock? – Ela quis saber.

– Será preso ou morto por algum soldado de Noxus, como todos antes dele. E como muitos depois. – E acrescentei, após notar o olhar indignado dela. – Não digo que gosto disso, mas é como as coisas são.

Fomos interrompidos mais uma vez, o que me salvou de uma discussão moralista indesejada. Contudo, diferente da anterior, aquela certamente me deixava um pouco mais animado. Meu sistema de acesso à rede era mais sofisticado do que qualquer um, até mesmo que o de Piltover. Toda a cidade era a minha rede.

Dessa forma, não importava onde eu estivesse na cidade do Instituto, as pessoas que tinham permissão o suficiente podiam falar comigo. Os hologramas simplesmente apareciam sem nenhuma estrutura física que os suportasse, a rede estava no ar. Como deveria ser. Mais uma vez, uma projeção de tela irrompia na minha frente atraindo toda a minha atenção.

Uma coisa sobre ser querido e famoso, você sempre tem vários amigos exceto pelo fato de só ter, no máximo, um ou dois. Se alguém perguntasse, eu diria que Ofelia é a minha maior amiga. E isso seria metade verdade. Ofelia é a minha única amiga. E foi a mais sortuda entre as pessoas que eu pude chamar de amigo durante a minha vida. Um deles partiu para o território gélido me odiando e o outro sofreu uma grave lesão cerebral. Então, é, eu só tinha ela.

– Ei, eu estou aqui. Você sabe, alguns cem andares abaixo? – O rosto dela surgiu na projeção de tela. Alguns dados adjacentes apareciam ao lado somente para mim. Eu sabia onde ela estava e o software indicava que positivamente era ela e não algum tipo de impostor. Não que eu fosse paranoico, o último só destruíra a cidade. Pffft.

– Vamos ter que conversar outra hora, Ellie. – Falei, fingindo desapontamento enquanto deslizava o dedo pelo holograma que, embora não tivesse forma física, reconhecia o meu toque e desaparecia. Ela se limitou a apontar para o relógio de pulso, sabendo que falar comigo seria um pouco inútil. Ok, eu tinha o meu tempo sob controle. E fazia uma anotação mental para extinguir todos os relógios de pulso.

A descida nos elevadores era tranquila. Ter a sua própria grande torre garantia que não houvessem muitas paradas. Nenhuma, na verdade. Apenas eu tinha permissão de usar aquele elevador, portanto já o havia personalizado por completo. Vários monitores (antiquados) transmitiam em tempo real notícias de toda a Valoran. Naquele tempo, só Noxus e Ionia importavam. No meu caso, nem eles importavam tanto.

Uma taça de vinho deslizava por uma das bandejas retráteis que eu havia instalado no elevador. Tudo era controlado por simples toques, eu também poderia mudar o conteúdo das telas para a vista das diversas câmeras espalhadas pela cidade. Seria um desperdício. Estava para ser criada uma cidade mais pacata que a cidade do Instituto havia se tornado sob a minha supervisão.

Um fato engraçado sobre a minha torre. Ela tinha o seu nome oficial, a Torre de Doran, mas todos a conheciam melhor como Iceberg. Sim, ela quase desafiava os deuses no céu com a sua altura, mas era no subterrâneo que as coisas ficavam quentes. Longe dos olhos alheios, ela se expandia mais do que tudo. Horizontal e verticalmente. Além do meu laboratório, ela continha a prisão do Instituto e todo o sistema cibernético da Liga e seus servidores.

Pousei a taça vazia na bandeja sem dar sequer mais uma olhada enquanto ela desaparecia e os portões do meu elevador se abriam. Eu havia chegado no solo.

– Invocadora Ofelia. – Falei, ao vê-la, agradável como sempre. Ela sorriu ao entrar na cabine circular do elevador, que se ofereceu, com a sua voz gerada por computador, para retirar o seu casaco. A temperatura gerada naquele ambiente dependia de cada pessoa e de seus gostos pessoais. Mais uma das minhas invenções.

– Por que tanta formalidade? – Ela perguntou, e prosseguiu sem esperar qualquer resposta, olhando irritada para os monitores que nos cercavam. – Você realmente consegue assistir a todas essas coisas ao mesmo tempo?

– Não. – Admiti. – Mas elas me fazem parecer mais inteligente.

– Você não precisa parecer mais inteligente. Você é…

– O homem mais inteligente do mundo. – Repetimos em uníssono. Aquilo havia começado como uma brincadeira. Como eu poderia ser mais inteligente do que Jayce, Heimerdinger, Ziggs, Rumble, ou até mesmo Viktor? Mas onde eles haviam chegado? Certamente não tão longe quanto eu. Não eram tão ousados, nem brilhantes. Não era a época deles, mas sim a minha.

– Eu acredito em você, e acredito nisso. – Ofelia falou, segurando a minha mão. E então deslizando o meu dedo indicador pelos monitores para desligá-los. – Portanto, quero saber o que você tem de tão importante para me mostrar.

As portas do elevador se fecharam e continuamos a descer. Linhas de texto flutuaram brevemente diante de nós confirmando que tínhamos permissão para descer ali. Além de mim e da Alta-Conselheira Vessaria, poucos invocadores tinham. As paredes da estrutura do elevador que nos cercavam, outrora de madeira maciça, viravam vidro transparente para que pudéssemos ver a paisagem.

Era praticamente uma cidade subterrânea, uma parte mais sombria do Instituto, os bastidores. De longe, eu podia ver a prisão, pensando em quantas pessoas eu queria colocar ali e não podia. Mas não era a minha intenção naquele dia. Era um dia feliz.

“Bem-vindo, doutor Beck”, a voz artificial anunciou, quando chegamos ao fim do caminho, mais cem andares abaixo do solo: O meu laboratório.

“Bem-vinda, invocadora Heins”, eu pude ouvir atrás de mim, ao sair do elevador. Estalei os dedos para que as luzes se acendessem. Mesas com bugigangas espalhadas por todos os lados, dúzias de papéis com projetos inacabados e equipamentos de última geração. Isso resume o que você pode encontrar se for me visitar lá um dia.

– Ok, preste atenção nisso. – Juntei os polegares e os indicadores e então os separei, formando uma projeção de tela no ar à medida que eles se separavam. – Acessar: RG-3K. Projeto ZAC II.

Inicialmente, o projeto ZAC foi concebido como uma fonte de energia alternativa, consistia em converter biomassa em combustível. O portal para a dimensão do Vazio, que até hoje está aberto, é uma prova de que isso funciona bem até demais. Mas eu vi outro potencial nisso desde que Doran fundiu o sangue do Marc com essa coisa: Regeneração celular.

Era uma ideia meio radical, mas havia salvado uma integrante da Liga, Ashe, e a mim. Quantos mais eu poderia curar investindo nisso?

Todos os dados que eu havia reunido surgiram na frente dela, assustando-a brevemente. Ela não passava tanto tempo acessando a rede quanto eu. Ninguém passava tanto tempo acessando a rede quanto eu.

– Talvez, com um pouco mais de pesquisa, eu possa curar o Doran. – Muitas coisas me deixavam arrependido na vida, mas a lesão cerebral do Doran era só minha culpa. Única e exclusiva. Uma das poucas responsabilidades que eu me atrevia a assumir completamente. – Já comecei os testes em humanos.

– Em quem? – Ela perguntou, espantada, como eu sabia que faria.

– Em mim. – Falei, enquanto fazia um pequeno corte em meu braço com um pequeno bisturi que repousava em uma mesa próxima. Duas gotas de sangue escorreram antes do ferimento fechar.

Aquilo não era de graça. O Instituto podia me financiar, mas não bastava. Nunca bastava, não para as minhas ideias em constante evolução. Eu não a deixaria saber naquele momento, mas eu já havia vendido o projeto ZAC II. Só que eu nunca imaginaria que ele seria usado da maneira que foi, e esse foi o começo do meu fim…


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