Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 3
Insulto




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A subida foi silenciosa. Ofelia refletia consigo mesma sobre o que havia visto. Eu também achava estranho ter uma mistura de sangue bárbaro e gosma verde percorrendo o meu sangue, certamente levava um tempo para se acostumar com coisas desse tipo.

Quando finalmente alcançamos o solo, eu saí da minha torre pela primeira vez em dias. Não que eu fosse antissocial, pelo contrário, eu encontrava muitos invocadores lá dentro. Eu não tenho muita certeza do que eles faziam por lá. Não sei bem qual era a função da minha torre nos outros 198 andares que eu não usava. Seja lá o que fosse, tomara que fosse produtivo.

Do lado de fora, eu percebia quanto tempo tinha se passado desde que eu saíra. Por sorte, eu não estava atrasado ou (muito) ébrio. Ellie me mataria se eu estivesse. Uma multidão havia se aglomerado na entrada da Torre de Doran. Civis, Invocadores, fãs de muito longe, todos celebravam.

Após cinco segundos de caminhada entre a multidão, Ofelia já tinha desaparecido, no que eu suspeitava ser proposital. Ela não gostava tanto assim de holofotes. Eu apertava muitas mãos e sorria enquanto tentava avançar. Invocadores designados para cuidar da minha segurança queriam me isolar em uma espécia de cordão humano, mas eu preferia daquele jeito. Aqueles rostos felizes eram a consumação do meu trabalho.

No centro da cidade, eu via alguns rostos conhecidos me esperando em cima de um palco especialmente armado para o dia. Katarina Du Couteau, uma grande amiga e integrante da formação original da Liga, além de ser uma Invocadora Sênior, tal como eu. Ellie, sempre segurando uma pasta e mordendo o lábio inferior de ansiedade. E Vessaria Kolminye, a Alta-Conselheira do Instituto, que dizia algumas palavras enquanto o telão mostrava os melhores momentos que a Liga já havia testemunhado.

No lance que eu consegui ver, Annie enfrentava um yordle novato chamado Teemo, que apesar dos dardos de veneno, não teve chance contra a explosão de dano dela quando o urso Tibbers, a sua habilidade suprema, foi invocado.

Cumprimentei mais algumas pessoas antes de subir no palcão e ouvir o rugido ensurdecedor da multidão. Pisquei para Ellie, que fez uma expressão desesperada facilmente legível para mim “Não estrague tudo”. Apertei a mão de Vessaria, que me cedeu o palanque central. Dei uma breve olhada na multidão, na esperança de ver Ofelia, mas só pude encontrar alguns rostos conhecidos de invocadores e campeões da Liga.

– Er. – Pigarreei. Pouco mais de um ano atrás eu estava discursando para o Instituto, explicando claramente porque a estrutura do nosso mundo não suportaria mais guerras. Eu estava nervoso naquele dia, apresentando o projeto da minha vida. Mas eu não era mais aquela pessoa. Não estava mais assustado. – Esse mundo era perigoso. Ele me assustava. Quando eu vim aqui pela primeira vez, era também a minha primeira vez fora de Piltover. A última vez que eu vi os meus pais saindo, bem, eles nunca voltaram. – Alguns soluços na multidão agora silenciosa, absorvendo cada palavra como um homem sedento busca por água. – Mas esse mundo não me assusta mais, e eu espero que ele não os assuste também. E essa cidade, antes uma estranha para mim, hoje é o meu lar. E é o lar de quem quiser vir. Seja você de Noxus, Piltover, Demacia. – Alguém indistinguível gritou “Ionia”, e eu repeti. – Ionia. Qualquer lugar. Venha para cá. Chame esse lugar de lar, pois essa não é uma cidade do passado. Essa é uma cidade do futuro. E, no dia em que completamos um ano de tudo isso, eu quero apresentar o meu novo projeto para vocês.

O telão mostrou o que eu guardava em segredo da maioria das pessoas. Exceto, talvez, de uma centena de engenheiros, da Vessaria e da Ellie: Minha ilha voadora, a Ilha de Doran.

A multidão levou um tempo para absorver aquilo antes de romper em aplausos que pareciam intermináveis.

– Hoje à noite, eu estarei me mudando para a Ilha de Doran. Com isso, estou doando a Torre de Doran para o Instituto e para o povo. Façam bom uso dela. – Mais aplausos e gritos. – E todos vocês estão convidados para conhecer a minha nova casa. Tragam seu espírito inquebrável do Instituto. Isso é o que somos.

Recuei dois passos, me afastando do palanque para que Vessaria pudesse falar coisas que eu não ouviria. Estava em êxtase. Olhei para Ellie, que me indicou positivamente com o polegar. Suspirei aliviado, eles me amavam. Todos eles me amavam.

– Bom trabalho, garoto de Piltover. – Katarina colocou a mão em meu ombro, me dando alguns tapinhas. – Agora, vá procurar aquele doce de garota que você abandonou na multidão.

– Você vai ficar para a minha festa? – Perguntei.

– Não posso. Tenho que visitar o meu pai, teve um contratempo em uma das expedições da Elite Carmesin. – Ela falou, levemente preocupada. Eu não sabia ainda do que ela estava escondendo a respeito do “contratempo”, portanto, apenas assenti um tanto magoado. Um dos objetivos daquilo tudo era reunir a Liga original novamente. Bom, talvez com exceção de um ou dois membros. Com ela, já eram três.

Ellie veio para o meu lado enquanto eu descia pela parte do fundo do palco. Nada contra a multidão, mas eu preferia um pouco de paz de vez em quando. Nem sempre era possível.

– Ok, seja gentil. Seja gentil. – Ellie sussurrou, me deixando surpreso por dois segundos antes que eu notasse que Bob Nashahago se aproximava de mim. Desde que o Instituto se tornara uma cidade aberta, tínhamos um jornal independente. Liberdade de imprensa e essas coisas.

Nashahago não era apenas o líder do Jornal da Justiça, era conhecido por usar fatos distorcidos em boa parte de suas matérias. Diversas vezes ele tentava distorcer o que o Instituto ou a Liga faziam, ou apimentar um ou outro confronto entre nações. Eu não falava com ele, quando podia evitar. Bob não tinha permissão de entrar na Torre de Doran.

– Doutor Beck! – Respirei fundo antes de me virar para ele, esticando os meus lábios no que pretendia formar um sorriso. Ele fez menção de apertar a minha mão e retrocedeu pouco depois, ao ver que eu não retribuiria. – Foi uma bela cerimônia, um tanto ousada, alguns diriam…

– Ousadia é o que nós move, Bob. A paz não foi conquistada sem ousadia. – Respondi.

– A paz não foi conquistada. – Ele retrucou, pretensioso. Eu podia ver os aparelhos que ele usava para gravar a entrevista em sua mão. Eu inventara alguns deles. – Hoje, vimos um exemplo da ditadura que Ionia está prestes a sofrer.

– Eu vi um homem com um senso de moda de vinte anos atrás, estamos falando do mesmo vídeo? - “Brandon!”, Ellie me advertiu, de modo que só nós dois pudéssemos ouvir, mas eu não pretendia parar. Daria para Bob o que ele queria, uma matéria que fosse lembrada por séculos. – Quer dizer, eles não são menos clandestinos para Ionia do que são para nós. Duvido que falem pelo povo ioniano, ou pela duquesa Karma. – Estendi os braços. – Vocês querem proteção? Querem suas famílias seguras? A Torre de Doran tem muitos lugares vazios e fica no lugar mais seguro do mundo. Então, homem do bigodinho, Warlock, ou seja, lá como você se chama, saia de sua caverna, venha conhecer o mundo real e veja como ele é feliz. Isso está bom para você?

– Muitas pessoas dizem que vão mudar o mundo, o que te faz pensar que é mais capaz do que elas? – Bob gritou, quando eu já estava virando as costas.

– Primeiro, eu sou o homem mais inteligente do mundo. Tenho que ser capaz de tudo. Segundo, eu não digo que vou mudar o mundo. Olhe ao redor, Nashahago, eu já mudei.

E sob os olhares de desaprovação de Ellie, decidi ir cumprimentar a multidão. O povo do Instituto. Eles me amavam. E eu não poderia querer mais.

Ionia
Um pouco depois

Mal se podiam contar vinte pessoas na apertada e escura caverna. Warlock, isolado em um canto, estava sempre calado. A estalactite despejava gotas de água nele a cada dois segundos, mas nem isso o fazia reagir de alguma forma. Os Dissidentes estavam acabados, assim como Ionia. Talvez o seu silêncio desse alguma esperança para os outros, o que o fazia querer ficar calado para sempre.

A humilhação não era a pior parte. Ele conhecia a humilhação. A humilhação de ser arrancado da própria casa por soldados noxianos. A humilhação de ter uma escolha: “Sua mulher ou a sua filha?”, os soldados perguntaram quem deveriam matar. Ele deveria chorar ao relembrar daquilo, mas a estalactite no teto já lhe trazia água o suficiente e as lágrimas não eram armas contra Noxus.

Então, um aplauso cortou o silêncio que era apenas cutucado por breves sussurros entre alguns dissidentes. Todos se viraram para olhar. As palmas eram longas e exageradamente lentas. Uma mão metálica brilhava refletindo a luz das fracas velas que iluminavam a caverna.

– Então, vocês realmente vivem em uma caverna? – Ele falou, fazendo algumas esferas brilhantes de energia pulsarem no teto, iluminando o lugar por completo e espantando alguns morcegos. – Que embaraçoso.

Warlock levantou o rosto, antes coberto pelos braços, para ver o homem que adentrava o esconderijo deles. O homem sorriu quando seus olhares se encontraram.

– Quem é você? – Perguntou um dos dissidentes, erguendo uma lança gasta.

– Ah, que rude. É assim que você educa as pessoas, Aung? Eu posso te chamar de Aung, certo?

– Quem ser você? – Dessa vez, Warlock perguntou. Sem o tradutor universal de voz, era possível ver que ele não sabia falar direito o idioma comum de Runeterra, se limitando a misturá-lo com o ioniano.

– Eu me chamo Tesla. Quero fazer um acordo com você, isso soa bem? – Warlock apenas o observou, impassível, no que Tesla entendeu arbitrariamente como um sim. – Eu e o meu mestre não gostamos de Brandon Beck. Ele é mau. Eu acho que todos vocês viram o quanto ele é mau. – Ele abriu uma projeção de tela com um equipamento no pulso, mostrando dois segundos da entrevista de Brandon. – E depois de tudo o que ele disse, eu ficaria surpreso se alguém quisesse ajudá-los. Sabe, ele é como um pastor em um mundo de ovelhas. E vocês? Vocês são como a grama.

O homem da lança investiu em Tesla, que ficou imóvel, encostando-a no pescoço do cientista. Tesla sorriu para o homem.

– Sem ofensas. – Completou, ainda com a lança encostada no pescoço. – Mas eu sei de algo, algo que pode desacreditar Brandon Beck, Aung. – Dessa vez, sua projeção de tela mostrou o ataque biológico feito no templo ioniano e na elite carmesim até que a fumaça verde tomou toda a tela. – ZAC. Essa é uma gravação de dois dias atrás, o mundo ainda não sabe que o gênio pacifista Brandon Beck criou isso, a maior arma de destruição em massa. Ainda.

– Como você saber disso? – Perguntou Warlock, cada vez mais interessado.

– Porque Noxus pediu para o meu mestre aprimorá-la. – Ele respondeu, com simplicidade.

– Eu deveria te matar então.

– E ele recusou. – A projeção de tela mudou para três perfis de cientistas Zaunitas: Singed, Dr. Mundo e Warwick. – Mas esses homens, não. São eles quem você quer matar, é Brandon Beck quem você quer matar. É Noxus que você quer destruir. Eu? Eu sou o mais próximo que você tem de um amigo.

Tesla entregou o equipamento no seu pulso para o homem da lança, ignorando o instrumento afiado enquanto andava em direção a Warlock. Ninguém fazia um movimento para detê-los, todos estavam surpresos ou curiosos. O cientista pousou um objeto triangular diante de Warlock:

– Está na hora de decidir, Aung, você é um homem, ou um Deus?

– Eu ter meus Deuses.

– E alguma regra o impede de ser um deles? Porque, atualmente, o único homem que vive nos céus, é o seu inimigo mortal. Pense nisso. – Ele piscou e deixou o lugar, sem recolher as luzes, o equipamento ou o objeto. Seus presentes para os Dissidentes.

– O que vamos fazer? – Um dos membros do grupo perguntou, enquanto Warlock tocava o objeto deixado para trás. Um segundo ou um século, ele não fazia ideia, mas a compreensão tinha alcançado o líder dos Dissidentes.

– Vamos derrubar um falso Deus.


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