Another Selection escrita por Enthralling Books


Capítulo 4
A bela na jaula


Notas iniciais do capítulo

Como o prometido, voltei bem rápido. O que eu tinha pra dizer disse no capítulo anterior, então não vou ficar enrolando por aqui.

Enjoy.



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Começamos com a parte mais relaxante: um banho hidratante e aromatizado na banheira. É óbvio que era apenas uma preparação para a sessão tortura, ou seja, depilação. Tentei pular essa parte, mas elas não deixaram. Fazer o que?

Em seguida, começou uma discussão para saber o que fazer com o meu cabelo. Anne nos lembrou de que nenhuma selecionada é ruiva, então não deveríamos mudar a cor. Suspirei aliviada por isso.

No fim das contas eu ainda tive que pintar o cabelo, mas não tirei o ruivo. Mary pintou as pontas de um vermelho berrante e disse que as mulheres de antigamente faziam muito isso de pintar apenas as pontas. Era chamado de mechas californianas. Como elas sabiam disso eu não fazia ideia.

Anne cuidou das minhas unhas enquanto Lucy mudava um dos meus vestidos. Felizmente, esse era um dos que Lord Joseph queria que eu usasse, mas que eu nunca usei, não um dos poucos que eu realmente gostava de usar. Eu não sabia o que Lucy estava fazendo, só sei que eu via bastante tecido no chão, vítima de sua tesoura afiada.

Pedi que Mary trouxesse algo para nós quatro comermos no meu quarto mesmo. O tempo passou depressa e quando percebemos já estava perto da hora do jantar. Nem preciso dizer que Anne me lançou um “Isso não é adequado”, mas simplesmente ignorei.

Depois de jantarmos, eu fiquei um tempo tocando uma música divertida no piano, enquanto elas cantavam e dançavam, mas não antes de outro “Isso não é adequado” de Anne. Dessa vez, Lucy e Mary lhe lançaram olhares repreendedores enquanto eu ria.

Mas foi somente depois que minhas mais novas amigas deixaram o quarto que finalmente percebi a enrascada na qual eu mesma me pusera. Agora eu teria trinta e cinco garotas me odiando por roubar seus holofotes, teria que explicar minha repaginada para o desconfiado do meu amigo, aturar o príncipe enquanto ficava sob os olhares questionadores do rei – e pelas poucas vezes em que isso acontecera, eu podia afirmar com toda a certeza que não era nada agradável.

Fiquei pensando sobre como seria essa semana pelo que julguei ser bastante tempo e, como se conviver com trinta e cinco selecionadas não fosse assustador o suficiente, ainda tinha uma espécie de... uma espécie de... nem sei qual é a palavra, mas era uma sensação bem estranha sequer pensar em interagir com o príncipe de Illéa.

Sentindo-me bastante claustrofóbica num quarto que, de repente, ficara bastante pequeno e sufocador, pulei da cama e fui até a sacada do quarto, onde fiquei observando a lua e relembrando as palavras doces de Lord Joseph antes de me trazer para essa jaula: “America, eu sinto muitíssimo se durante todo esse tempo você se viu como uma criada. Eu gostaria muito que você se visse como realmente é para nós, filha”.

Inevitavelmente me pus a lembrar sobre o dia da morte de Lady Anne e então a sacada já não era mais o suficiente para mim. Olhei em volta decidindo para onde ir e – querendo desesperadamente ir para o quarto de Ahren como sempre fazia quando estava aflita, mas sabendo que não poderia fazer isso aqui no palácio – decidi ir ao jardim em frente à minha sacada.

Corri pelos corredores, atraindo olhares confusos de alguns guardas que faziam rondas noturnas, e desci as escadas com os olhos cheios d’água e com a respiração descompassada. Quase tropecei em meus próprios pés umas três vezes antes de me deparar com dois guardas obstruindo meu caminho para o jardim.

Corri até a porta, mas um deles se postou imediatamente em minha frente e eu me senti uma estúpida achando que ele iria me deixar passar. Em minha própria defesa, eu não estava raciocinando direito por causa do início de uma falta de ar.

– Perdoe-me, mas a senhorita deve voltar para o quarto — ordenou.

Não... não... Eu preciso... sair. – Sofregamente, eu tentava puxar o ar de volta para os meus pulmões e dizer algo inteligível ao mesmo tempo.

Senhorita, vá para seu quarto agora.

O segundo guarda vinha em minha direção provavelmente para me empurrar escada acima.

Por favor — Implorei, sentindo uma tontura forte. Estava prestes a desmaiar e não podia me encontrar em uma situação mais constrangedora.

Sinto muito, mas a senhorita deve voltar para o quarto.

– Eu... não consigo respirar — meus joelhos cederam e o guarda que vinha me empurrar teve que soltar o bastão para impedir minha queda.

– Deixem-na sair!

Com mais facilidade do que minha sanidade seria capaz de suportar, reconheci a voz de imediato e pendi minha cabeça para o lado para que pudesse vê-lo e confirmar minhas suspeitas. Ali estava o príncipe Maxon, com seu habitual jeito travado, ou, como eu dizia para Ahren, seu modo robô ativado.

– Ela desmaiou, Alteza. Queria sair.

O guarda que me segurava de repente pareceu menos autoritário e mais nervoso, provavelmente pensando que eu era uma selecionada e que estaria com graves problemas por tocar na suposta propriedade de Illéa. Quase ri com o pensamento.

– Abram as portas.

– Mas... Alteza...

– Abram as portas e deixem-na sair. Agora!

– Imediatamente, Alteza.

Assim que o segundo guarda abriu a porta e eu senti uma lufada de ar puro, me ergui e corri para fora, sem me importar em parecer graciosa. Eu não estava aqui para conquistar o príncipe mesmo.

Chegando ao jardim foi que percebi o tamanho da burrada que eu cometera. Se eu queria espantar os pensamentos sobre a morte de Lady Anne, não seria no jardim que eu o faria.

Foi em um jardim como esse que ela morreu.

Lady Anne não era minha mãe, mesmo que ela se sentisse assim. Mesmo que ela fizesse eu me sentir amada como filha. Ainda assim, eu senti a morte dela ainda mais do que Ahren. Lord Joseph me fez até ver um psicólogo uma vez, que disse que minha reação era normal porque eu presenciei tudo. Depois de um tempo tendo pesadelos constantes, ele disse o que eu já sabia. Um trauma.

Fiquei remoendo seus últimos momentos no jardim da mansão em Carolina e chorando baixinho, sentada no chão e debruçada sobre um banquinho qualquer. Estava tão perdida em meus pensamentos que não percebi a aproximação do príncipe Maxon, até que ele falasse.

Está tudo bem, querida? — ele perguntou e eu bufei irritada. Sei que não era atitude de uma dama, mas eu não estava ligando para isso.

Eu não sou sua querida. – Respondi insolente e ele pareceu surpreso. Provavelmente não estava acostumado em ser contrariado. Por que estaria?

O que eu fiz para ofender a senhorita? Por acaso não lhe dei exatamente o que queria?

Eu levantei minha cabeça fitando-o, mas não pude ver sua expressão por causa da escuridão em que estávamos. Se eu pudesse supor, diria que ele está chateado por eu não estar neste exato momento beijando o chão onde ele pisa.

Com licença, querida, mas você vai continuar chorando? — perguntou, parecendo bastante incomodado com minhas lágrimas.

– E o que você tem a ver com isso? Não finja que se importa. Eu sei que não é verdade. – Disse sem me preocupar que ele fosse o meu soberano. A presença dele me incomodava e isso era tudo o que eu era capaz de processar.

– E por que diz isso? Acha que não me importo com meu povo? Com minhas jovens senhoritas? – Olhei para ele confusa antes de perceber, num estalo, que ele não sabia quem eu era. Deveria pensar que eu era uma selecionada. Bem, isso explicava sua não indiferença.

– Não sei. Mas certamente não se importa com a causa que me trouxe aqui. – Disse sem conseguir me conter. Me estapeei mentalmente por isso. Se ele não soubesse quem eu era, seria ainda mais divertido quando me visse pela manhã.

Ele não parecia furioso ou nada do tipo, apenas pensativo, de forma que começou a dar voltas ao redor de mim e aquilo estranhamente me intimidou um pouco. Depois de um tempo ele se sentou no banco onde minutos atrás, eu estava debruçada. Em parte facilitou minha vida, porque eu não precisava me contorcer para olhar para ele, em parte dificultou minha vida, porque apenas prolongou a conversa.

Sua afirmação é falsa. Se a causa que lhe trouxe aqui é também a responsável por suas lágrimas, ela definitivamente me importa, querida.

Revirei os olhos. Eu não daria a ele a vantagem de saber que eu já o conhecia. Se eu dissesse quem era e ele me reconhecesse, talvez desconfiasse do motivo do meu choro. Eu não estava disposta a dividir essa informação.

Ridículo. – Resmunguei.

– O que é ridículo, senhorita? – Ele perguntou, com um pequeno sorriso divertido no rosto. Tive que conter a real resposta. No lugar, disse o que faria com que ele acreditasse que eu realmente era uma selecionada.

O concurso! Tudo! Você nunca amou ninguém na vida? É assim que quer escolher sua mulher? Você é baixo a esse ponto? – Embora fosse uma mudança brusca no assunto que ocupava minha mente, eu realmente queria saber essa resposta. A Seleção me irritava a níveis estratosféricos.

Entendo que possa dar essa impressão, que tudo possa ser visto como entretenimento barato. Mas meu mundo é muito fechado. Não conheço tantas mulheres. As poucas que conheço são filhas de diplomatas, e geralmente temos pouquíssimos assuntos em comum. Isso quando falamos a mesma língua. Sendo essas as circunstâncias, nunca tive a oportunidade de me apaixonar.

Sua voz transparecia uma sinceridade que me assustou, mas logo me recompus. Quero dizer, tão recomposta quanto uma garota sentada no chão vestida apenas com uma camisola curta pudesse estar. Enfim, a mim pareceu que ele estava um tanto chateado com o fato de nunca ter se apaixonado, como se esperasse por isso naquele evento que não se tornou menos ridículo aos meus olhos. Infelizmente, para ele, esse evento era sua única chance de encontrar alguém com quem pudesse estar até que a morte os separe. Eu definitivamente não queria estar no lugar dele.

– Imagino que deve ser difícil saber que entre suas selecionadas existem as que querem o cara, e as que querem a coroa. Já sabe como vai diferenciá-las? – Perguntei, estranhamente tentando entendê-lo. Mas ao que me parece, minhas dúvidas quanto à Seleção eram iguais às dele.

– Não. Mas espero poder conhecê-las durante os próximos meses que virão. – Sua voz tinha um tom de desespero, mas também tinha um tom de esperança.

Boa sorte com isso.

– E você, pelo que luta? – E ali estava a confirmação de que ele pensava que eu fosse uma de suas selecionadas, uma de suas propriedades.

– Na verdade, estou aqui por engano. – Comentei simplesmente, me negando a esclarecer a situação apenas para ver sua expressão depois.

– Engano? – Ele pareceu confuso. Não era para menos, afinal as moças se inscreviam para participar. Teoricamente, eu deveria estar ali por vontade própria, se fosse uma selecionada, é claro.

– É, mais ou menos. Bem, é uma longa história... Estou aqui. E não estou lutando. Meu plano é aproveitar a comida até ter que ir embora.

Maxon riu com vontade, antes de perguntar qual era minha casta. Eu respondi que era uma Cinco. Bem, eu não era uma morta de fome, fui criada como uma Dois, mas isso não muda o fato de que a comida do palácio é divina. Eu poderia ser uma Um ou uma Oito, nada mudaria o fato de que estar no palácio é igual a aproveitar a comida.

Sinto muito, não consigo ler seu broche no escuro.

Ele não estava enxergando nada mesmo. Eu não tinha um broche, mas aquele comentário era claramente uma deixa para que eu dissesse meu nome.

– Tecnicamente, vossa alteza não deveria me conhecer até amanhã. Se eu não te disser meu nome, isso continua valendo. – Brinquei, ainda sem querer me identificar.

– Tecnicamente. – Ele pareceu refletir e chegar à mesma conclusão. Não era como se isso tivesse sido um encontro romântico entre um príncipe e uma selecionada.

– Tecnicamente. – Confirmei – Boa noite, alteza. – Me levantei e já ia fazer meu caminho de volta para o meu quarto, quando Maxon segurou meu pulso levemente, me impedindo.

– Boa noite. – E plantou um suave beijo em minha mão.

Encarei minha mão, um tanto chocada e depois observei Maxon sair com uma expressão divertida no rosto, deixando-me à mercê dos meus próprios pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Como vocês devem ter percebido, as falas em negrito foram tiradas do livro sem alteração. E é a partir daqui que as coisas começam a ficar diferentes de verdade. Antes só temos que dar uma passadinha pelo café da manhã e pelo chute nas jóias reais do príncipe, que é óbvio que eu não vou evitar. kkkkk

Então... O que acharam? Mereço comentários?
Beijos e até a próxima.