Mr. Hope escrita por Fany Rosered


Capítulo 2
O que mais falta acontecer?


Notas iniciais do capítulo

Os primeiros capítulos serão narrados pela Sam. Este capítulo é para vocês verem um pouco da personalidade da Samantha antes de ela ficar tetraplégica.
Espero que gostem deste capítulo.
Aproveitem bem!



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Já estava ficando cansada de toda aquela choradeira. A cada minuto alguém vinha me abraçar, chorar no meu ombro e dizer que sentiria saudades, tudo o que eu podia fazer era assentir balançando levemente a cabeça cada vez que isso acontecia. O diretor Frank, deixou a última aula de todos os alunos do último ano, como aula vaga, assim todos poderiam se despedir, ainda sim preferia ter tido aula normal do que estar aqui no meio de toda essa melação.

Eu não queria estar aqui, implorei para meu pai que eu não fosse para a escola hoje, cheguei até a dizer que eu não estava me sentindo bem, mas mesmo assim meu pai me obrigou a vir, alegando que eu tinha que me “despedir dos meus amigos”. Mas, eu odeio despedidas, são sempre cheias de melação, abraços e muito choro, não sou do tipo de pessoa que atura isso. E além do mais, eu sei que essas lágrimas são de crocodilo, que a maioria das pessoas está dando graças a Deus por finalmente sair daqui e que não estão se importando nem um pouco se nunca mais irão ver as pessoas com quem sempre estudaram. Particularmente, de todas essas pessoas, eu só me importo com duas, pois o resto só me adulava para tentar subir no “ranking” de popularidade, no qual o primeiro lugar sempre foi meu, não que eu me importe com isso.

Suspirei entediada, quando outra pessoa me abraçou, definitivamente estou cansada dessa despedida. Levantei do banco do refeitório, e comecei a andar fingindo que não vi que outra pessoa estava indo se despedir de mim, e então fui procurar uma das únicas pessoas que realmente eu me importo nessa escola: Dan, meu melhor amigo e namorado.

Sabia que ele não estava se despedindo das pessoas, pois assim como eu, ele odeia despedidas, provavelmente, também não estaria na biblioteca, livros é algo que não faz muito o estilo de Dan. Só tinha um lugar provável onde ele poderia estar, o jardim. Eu não queria me despedir de Dan, eu sei que manteríamos contato, queria apenas conversar com ele, beijar um pouco, e reclamar dos problemas como sempre fazemos.

Caminhei rapidamente pelos corredores abarrotados de alunos, queria chegar ao jardim o quanto antes e sair daquele ambiente melancólico. Ao chegar no jardim, ele parecia vazio, mas eu sabia que Dan estava lá, no nosso lugar, onde as árvores haviam crescido juntas e assim impedia que o olhar indesejado de alunos intrometidos chegasse até lá. Não pude deixar de sorrir ao me aproximar, com as lembranças de inúmeras escapadas das aulas, de como sempre íamos ali para pensar e relaxar, eu sentiria falta de nosso lugar. Quando estava prestes a abrir a entrada “secreta” ouvi vozes, será que alguém tinha descoberto o nosso lugar? Ou Dan estaria falando sozinho? Aproximei minha cabeça o máximo que pude da entrada e apurei meus ouvidos, eu sei que é feio ouvir conversas alheias, mas se esta conversa é no MEU lugar especial, eu tenho que ouvi-la.

–...por isso, ela é uma boba.

– Concordo com você. Ela pensa que somos amigos dela.

– Só uma idiota como ela pensaria que pode ter amigos, ela é insuportável, ninguém a aguenta!

Afastei um pouco a cabeça, eu conheço essas vozes, mas de quem eles estariam falando? Voltei a escutar a conversa, curiosa para descobrir do que estavam falando.

– Não aguento mais ouvir ela falar dos problemas, meu Deus, quem se importa se o pai dela quer que ela faça faculdade de medicina? E beijar ela me enoja!

– Calma, amor. Estamos quase conseguindo. Só teremos que atura-la, pelo menos por mais um mês, é o suficiente para conseguirmos arrancar mais dinheiro dessa imbecil, ai poderemos sair dessa cidadezinha.

Afastei-me atordoada. Problemas? Pai que quer obrigar a filha a cursar medicina? Será possível que sejam eles? Será que estão mesmo falando de... mim?

Sem pensar duas vezes, agachei-me e engatinhei por debaixo da entrada, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Assim que adentrei o lugar, me escondi rapidamente atrás de um arbusto, onde as duas pessoas não poderiam me ver, mas eu poderia vê-las.

Observei indignada as duas pessoas que estavam ali paradas, aos beijos. Eram eles, aqueles que eu realmente me importava, as duas pessoas que eu mais confiava, eram eles Dan, meu namorado e Helena, minha melhor amiga. Uma sensação de enjoo me consumiu, como eles podiam fazer aquilo comigo? Quanto tempo fazia que aquilo acontecia? Por quê?

Fui trazida de meus devaneios quando ouvi a voz de Helena novamente, e então percebi que os dois haviam finalmente largado um do outro.

– Vamos meu, amor. Vamos achar aquela tolinha. Precisamos de grana, e é Samantha que vai providenciar.

O que? Esse tempo todo eles só queriam tirar dinheiro de mim? Fingiram ser meus amigos, para me arrancar dinheiro? Como eu pude ser tão idiota? Como não percebi isso antes?

– Samantha, o que você está fazendo aqui? – disse uma voz próxima de mim.

Levantei minha cabeça e vi Dan e Helena parados ali, me observando. Que droga, eu me distrai, e não deu tempo de sair daquele lugar antes deles. Me pus de pé rapidamente, tentando fazer uma cara de vitoriosa, mas não deu muito certo, eu estava amedrontada, não que eu fosse covarde, mas e se Helena resolvesse me bater? Ela tem o dobro do meu tamanho, e eu já vi ela batendo em uma garota, e digamos que... o estado físico da menina não ficou muito bom.

– Você ouviu alguma coisa do que dissemos? –perguntou Helena com uma voz que exibia um misto de pavor e raiva.

– Eu ouvi tudo. Seus traidores! – disse ferozmente, não sei de onde tirei coragem, devia ser o ódio me ajudando.

– Sam, nós podemos expli... – começou Dan, mas o interrompi antes que pudesse terminar.

– Vocês não tem que me explicar nada, eu ouvi tudo. Sabe o que você são? Dois covardes, falsos e mentirosos, vocês se merecem são da mesma laia. Aproveitem o dinheiro que vocês ainda tem, que agora para te-lo terão que trabalhar.

Abaixei e sai dali antes que eles pudessem dizer algo. Eu sentia raiva, mas ao mesmo tempo me sentia bem, eu havia descobrido tudo e não teria que sofrer futuramente.

Olhei para o relógio, e percebi aliviada que faltava apenas um minuto para eu sair dali, e finalmente estar livre sem ter lição de casa, pessoas me adulando e professores para reclamar de tudo. Corri desesperadamente até a sala onde larguei minha bolsa, sem me importar se as pessoas falavam comigo ou se eu esbarrava em alguém, em poucos segundos eu estaria livre e nada mais importava!

– Srta. Prince, posso falar com você um minuto? –parei bruscamente quase esbarrando na minha professora.

– Claro, Sra. Miller.

Violet Miller, mas conhecida por Sra. Miller é minha professora de balé, ela é uma dos únicos professores que eu respeito de verdade, não só pelo fato de ela ensinar balé, teatro, e educação física, mas porque ela tem pulso firme, sabe controlar uma sala de aula e nem por isso deixa de ser um amor com seus alunos. Desde pequena ela sempre me ensinou a dançar balé, e apesar de eu achar que sou uma negação dançando ela insiste em dizer que sou sua melhor bailarina, e até me ofereceu o papel principal na apresentação que acontecerá.

– Nem sei como te dizer isso, Samantha –falou ela apreensiva.

– O que houve, Sra. Miller? –perguntei preocupada.

–É que... bem, eu te ofereci o papel a duas semanas, e você me disse que me daria uma resposta depois, quando achasse que estava pronta pra isso. Como você não me respondeu até agora, eu... ofereci o papel para Milene e ela aceitou.

– A senhora fez o que?

Olhei para ela, com esperanças que aquilo fosse uma brincadeira. Não podia ser possível, ela não podia ter feito aquilo, a Sra. Miller sabia que aquele era o meu grande sonho.

– Eu sinto muito, Sam. Mas eu não podia esperar –falou ela me fitando com pena em seu olhar. Um nó se formou em minha garganta, pude sentir as lágrimas se acumularem no canto dos meus olhos, e um aperto enorme no meu coração.

– T-tudo b-bem –gaguejei reprimindo as lágrimas.

Ela assentiu tristemente e foi embora. Assim que ela dobrou o corredor e sumiu, permiti que as lágrimas rolassem livremente pelo meu rosto. Como eu pude deixar aquilo acontecer? Era minha grande chance, e eu a estraguei com minhas bobeiras e paranoias, eu deixei minha chance escapar.

Um som estridente atinge meus ouvidos, é o sinal anunciando o fim das aulas, em questão de três segundos os corredores estarão mais do que lotados. Limpei as lágrimas que ainda escorriam pela minha face e adentrei a sala. Peguei a bolsa que estava jogada de qualquer jeito em cima de uma mesa e sai.

A animação que sentia antes já não existia, o dia que eu achei que seria fantástico e feliz estava sendo catastrófico.

Esperei por alguns minutos até a barulheira diminuir, o que significava que a maior parte dos alunos já havia saído. Caminhei pelos corredores quase desertos de minha escola, indo em direção ao estacionamento. Mas ao chegar perto do meu carro, ao invés do motorista duas pessoas estavam lá dentro, meu pai e minha mãe.

– O que vocês estão fazendo aqui? –perguntei com uma leve suspeita na voz.

– Viemos te buscar! –respondeu minha mãe com sua animação exagerada.

– Me buscar? Vocês nunca fizeram isso! –resmunguei.

– Nós resolvemos dar uma folga para o motorista , e viemos fazer uma surpresa –disse meu pai.

Apesar de já ter dezoito anos, ainda não tirei a carteira de motorista, tenho um certo medo de dirigir, por isso, em todos esses anos, o motorista me levava na escola e me trazia de volta para casa todos os dias.

Entrei no carro sem dizer mais nada, afivelei meu cinto de segurança e depositei minha bolsa aos meus pés. Tinha alguma coisa por trás disso, meus pais NUNCA mesmo foram me buscar na escola.

Meu pai é Robert Prince, um dos melhores e mais conhecidos médicos de Montreal. Já minha mãe é Jessie Prince, uma renomada estilista.

O carro havia andado poucos metros quando meu pai começou com aquele assunto.

– Filha, já que terminou a escola, sua mãe e eu resolvemos que já está na hora de tentar ingressar na faculdade de medicina e...

– Pai, já conversamos sobre isso, eu não vou ser médica, quero ser bailarina!

– Balé não é uma profissão.

– Isso não me importa, eu vou ser uma bailarina, pai. Aceite isso, por favor!

– Seu pai está certo, Sam. Dançar balé é um hobbie e não uma profissão, queremos que seja uma médica, como o seu pai –disse minha mãe.

– Mas vocês tem que enten... –comecei, mas meu pai interrompeu-me.

– Não, está decidido, você ingressará na faculdade de medicina!

– Chega! Vocês não vão decidir o meu futuro! EU VOU SER BAILARINA! –berrei- não importa o que façam, não importa o que digam! Nem que eu tenha que fugir com a Cia de Ballet.

Meus pais me olharam horrorizados, e pude ver descrença no olhar dos dois.

Mas então se meu pai e minha mãe estão olhando pra mim, quem está prestando atenção na estrada? Olhei pra frente a tempo de ver um caminhão vindo em nossa direção.

– PAI! O caminhão!

Antes que ele pudesse desviar, o carro se chocou contra o caminhão. Ocorreu tudo muito rápido, primeiro vieram os estilhaços de vidro, depois os gritos, as pancadas, a dor e então a inconsciência.


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Notas finais do capítulo

Não sou de pedir comentários e nem recomendações, mas peço que deem a opinião de vocês.
Até mais!



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