A Batalha da Cidade escrita por Lucas C, Kevin


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a todos que leram o primeiro capítulo e especialmente aos que comentaram.

Vamos ao episódio.



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O período de aulas do Colégio Preparatório estava terminado e vários alunos saíam de suas salas preocupados com a quantidade absurda de dever de casa e pesquisas. Não era diferente comigo, que estava repassando mentalmente a lista de exercícios de química e física para realizar.

O Colégio Preparatório é uma instituição particular sem nenhum comprometimento com o mundo pokémon. O seu principal objetivo é que seus alunos ingressem nas melhores universidades da região através do vestibular. Por isso, além de estudar o conteúdo característico do terceiro ano, ainda revisamos assuntos do primeiro e do segundo ano durante as aulas vespertinas.

Eu teria alguns minutos para ir a minha casa, almoçar e retornar para mais uma bateria de estudos. Olhei na saída um grupo de alunos com uniforme parecidos com o do meu colégio: camisa social, gravata xadrez vermelha; calça social cinza e blazer vermelho para garotos, saia plissada xadrez vermelha para garotas. A diferença entre os uniformes eram as cores: vermelho e cinza para os alunos do Preparatório e dourado e branco para os alunos do Realeza.

— É ele? – um do grupo dos garotos perguntou.

— Não é possível! – comentou uma garota apontando para mim.

Achei estranho aquela reunião de pessoas atrás de um mulato de cabelos cacheados de outra escola. Não sou tão importante assim. Tudo bem... Estou entre os dez melhores da Batalha da Cidade, mas ainda assim...

— Vamos batalhar, aqui e agora – falou um segundo garoto com uma pokébola estendida.

— Como? – eu sou um treinador júnior, mas eu costumo batalhar nos intervalos e fins de semanas.

Um Stantler surgiu do feixe de luz. Um caribu marrom com barriga cor de creme e algumas pintas claras nas costas, chifres dourados curvos com orbes negras, um nariz grande e um rabo curto e redondo.

— Ande, Ilusionista! – ele me chamou pela minha alcunha.

Percebi que haviam garotos demais para fugir, então peguei minha pokébola embora não ache o meio da rua um local muito apropriado para batalhas.

Nós estávamos na rua da lateral do colégio, não tinha muito movimento de carros como na rua do portão. O sol do meio-dia estava muito quente e o asfalto parecia ferver os meus pés. Ao ver que uma batalha se iniciaria todos se afastaram deixando apenas a mim e ao treinador e nossos pokémons.

Olhei para o céu que me fazia suar como um porco e vi que aquilo atrapalharia os ataques de gelo do meu pokémon

— Swinub, Granizo!

Swinub é um pokémon que se assemelha a um porquinho peludo. Possui uma pelagem marrom, espessa e felpuda capaz de cobrir suas pequeninas pernas e até mesmo um pouco dos pequenos olhos. Possui um focinho rosado capaz de um poderoso olfato.

Ele concentrou energia em uma pequena bola azul e lançou-a ao céu. Nuvens cinzentas foram aproximando e diminuindo a luminosidade do local. Aos poucos, pedras de gelo começaram a cair. Os observadores correram para se abrigar em algum canto e eu desviava da maneira que eu podia. A saraiva derretia no chão levantando um vapor no local.

— Swinub, Neblina, Time Duplo, Cavar e Time Duplo!

— Stantler, Hipnose!

Ele achava que meu pokémon dormiria com o seu ataque, mas Swinub era mais rápido. O caribu ficou ocupado lançando ondas soníferas a esmo no meio da neblina criada pelo meu pokémon, além de desviar das pedras de gelo. Assim que a neblina abaixasse, eu ainda teria minhas réplicas enquanto o verdadeiro Swinub atacaria pelo cavar a meu comando. Se o granizo não destruísse minhas cópias.

— Atacar!

Swinub subiu de vez e tentou atacar o Stantler que por impulso empinou e acertou mais um réplica. O verdadeiro pokémon o atacou pelas costas. Agora havia um buraco no asfalto.

— Raio de Confusão

— Agilidade, Time Duplo e Tela de Luz

Stantler foi mais rápido e deixou Swinub tonto que não realizou o meu comando.

— Hipnose e Devorador de Sonhos, Stantler!

Swinub que já estava grogue, dormiu de uma vez e logo teria sua energia drenada. Eu sabia que não adiantaria nada se chamasse meu pokémon pelo nome. Quando ele dorme, só tem uma coisa que o acorda: comida.

Rapidamente, tirei minha mochila das costas e peguei um pacote de amendoins e abri liberando o aroma.

— Swinub, hora do lanche! – gritei e o porquinho se levantou rapidamente vindo até a mim devorar os petiscos. Swinub era preguiçoso, mas se o assunto fosse comida ele pareceria uma criança hiperativa — Se você batalhar bem, eu te dou mais um monte de amendoins e talvez até um daqueles cogumelos que você adora – ele arregalou os olhos que pareciam brilhar.

— Pisotear! – mandou o garoto desafiante.

— Esquiva, Agilidade, Neblina e Investida– abaixei-me e falei no ouvido do Swinub.

O objetivo do garoto era inutilizar Swinub deixando o tonto ou adormecido, mas a batalha seria fácil já que ele não era muito experiente e constantemente consultava informações em sua pokéagenda. Eu só teria que aumentar o ritmo.

Swinub desviou do caribu e ele correu criando uma neblina por toda a área de combate.

— Extra-sensorial!

Confesso que fiquei surpreso ao ver um turbilhão amarelo de energia psíquica quase acertando meu pokémon. O porquinho não atacaria sentindo-se ameaçado de tal maneira.

— Cavar, Neblina, Time Duplo e Bomba de Lama nos olhos dele

— Mente Calma e Raio de Confusão

Swinub cavou outro buraco no asfalto e sumiu, enquanto o adversário aumentava seu ataque. Voltando à superfície, o Swinub transformou-se em vários e começou a lançar lama contra os olhos do oponente, que desviava como podia e lançava de volta raios de confusão. O granizo havia parado.

—Swinub, Vento Gélido, Investida e Reflexo

Pela baixa estatura do meu pokémon, o vento saiu congelando o chão, embora levasse embora a neblina e o Stantler vacilou facilmente na primeira e fraca investida já que seus cascos estavam escorregando no gelo.

— Mega Chifre – ordenou o treinador nervoso.

Contudo, o porquinho realizara o último movimento pedido protegendo-se

— Agilidade e Reflexo

— Extra-sensorial

O porquinho avançou velozmente pelo campo criando telas que mais pareciam espelhos. Os reflexos confundiam o Stantler que hesitava em alguns momentos com um certo medo de atacar a si próprio. Não consegui evitar o sorriso no rosto. Notei que o céu se abriu.

— Stantler, Pisotear

— Esquiva e Investida

Swinub investiu pelo lado e conseguiu empurrar o oponente que escorregou no gelo restante e caiu no buraco. O pokémon desmaiou exausto. Swinub também estava acabado, afinal ele correu bastante para um pokémon um pouco sedentário.

“A batalha está encerrada. 3 pontos para Douglas Rios”

Agora, tenho 592 pontos. Recolhemos os pokémons e o garoto não lançou um olhar ameaçador para mim, ele parecia até satisfeito.

— Parabéns, não é à toa que é o primeiro colocado – surgiu uma garota de voz melosa batendo palmas.

— Ela chegou a tempo – comentou alguém do grupo. Então este era o plano, me atrasar para que ela chegasse.

— Oi?

— Eu sou Aline Sonnen e te desafio para uma batalha, Ilusionista.

Sonnen? Então ela é a herdeira da família mais influente da cidade. Era bem bonita – tenho que admitir – quinze anos, magra, seios médios, quadris largos, pele bronzeada, cabelos ondulados castanho-claros que iam até o meio das costas, lábios carnudos pintados de rosa-claro e olhos da cor do mel adornados com maquiagem dourada e marcante. Usava o uniforme do colégio Realeza, mas carregava uma enorme bolsa rosa de grife e usava saltos altíssimos. Ela mexeu nas madeixas, encarou meus olhos castanho-esverdeados e deu um sorriso imensamente confiante.

— Chikorita, hora de brilhar!

A Chikorita exalava um aroma doce no local pela grande folha verde existente no topo de sua cabeça. Ela possuía um corpo verde bem claro, um "colar" de brotos verde-escuros no pescoço, uma cabeça um pouco desproporcional ao corpo, patas curtas e firmes com um pequeno casco e um rabo pequeno. O pokémon dela usava um laço cor-de-rosa imenso na cabeça e os pequenos cascos estavam pintados de rosa.

— Não perca seu tempo, patricinha!

Todos se viraram para uma garota baixa de cabelos pretos com mechas roxas nas pontas e grandes olhos azuis. O uniforme no estilo militar era inconfundível. Internato Imperador.

— O que você disse, queridinha?

— Ele não é o primeiro colocado, simples assim. Tinha que ser loira.

— Meu cabelo é castanho-claro! – a patricinha revidou de primeira e logo depois compreendeu o que aquela desconhecida tinha dito — Chikorita, retorne.

Aline se virou e saiu como se nada tivesse acontecido.

— Ei, o que aconteceu aqui? – perguntei. Nada mais justo que me explicassem a situação.

— Não acredito que perdi meu precioso tempo aqui. Poderia estar fazendo minhas unhas. Minha mãe diz que uma mulher tem que estar sempre deslumbrante – ela diz com desdém olhando para as próprias mãos.

— A Aline mandou este bando de escravos-colegas dela para te atrasarem para que desse tempo dela chegar e batalhar com o primeiro colocado. Assim ela subiria no ranking da batalha da cidade, mas alguém errou nos cálculos. – explicou-me a baixinha.

— Obrigado, baixinha. – eu disse.

Droga! Essa palhaçada toda me tomou vários minutos preciosíssimos, além de destruir o asfalto em frente ao colégio. Não dá tempo de eu ir até a minha casa, mas se eu pegar o troco do lanche do intervalo, mais algumas moedas perdidas na minha mochila, não tomar o refrigerante e pedir um desconto pro caixa, eu consiga almoçar num destes restaurantes aqui por perto...

— Ai, não! Eles de novo não! – ouvi alguém gritar.

Olhei assustado para o grupo e vi que todas estavam se dispersando, menos Aline que o salto enganchou numa rachadura do asfalto e a baixinha que ajudava ela.

— Ei, eu te conheço de algum lugar... – disse Aline estreitando os olhos para a menina de mechas roxas.

— Eu sou Tainá Lira. Nossos pais são sócios em algumas empresas. – explicou-se.

— Ah, claro! Como pude esquecer?

— Quem são eles? – mirei na mesma direção que as duas estavam olhando antes e vi um grupo de uns quinze garotos mais ou menos com uniforme azul.

— Alunos do Colégio Estadual. – disse Aline com o mesmo tom em que se fala de assassinos em série.

— Qual o problema? – parece que tinha muita coisa acontecendo enquanto eu estudava como um condenado.

— Explica pra ele, Tainá – pediu a loira

— São da gangue de Patrick Guerra, o quarto colocado da batalha da cidade. Eles estão perseguindo os últimos sete treinadores com quem ele ainda não lutou. E isso incluem vocês dois. – ela disse séria enquanto Aline se reestabelecia nos saltos.

— É tão grave assim? – perguntei. Elas pareciam estar fugindo do próprio demônio.

Elas começaram a correr e eu fiz o mesmo para ouvir o resto da explicação. Curvaram a direita, ou seja, um caminho totalmente contrário ao meu.

— Se ele vencer mais três treinadores, ele vai me passar e a outro treinador chegando à segunda posição e a Escola Estadual Oaks vai ficar em primeiro lugar. – disse Aline desespera enquanto elas faziam mais um desvio. — Isso não pode acontecer de maneira alguma! O Realeza vai ganhar pela décima vez consecutiva este ano e tudo isso graças a mim e eu vou virar a rainha daquele colégio.

— Você não deveria se preocupar em chegar ao primeiro lugar? – alfinetei.

— Calado! – Aline e Tainá falaram ao mesmo tempo, mas como intenções diferentes.

Tainá fez sinal de silêncio para nós colocando o indicador sobre os lábios e paramos bruscamente. Ela olhou para os lados e nos escondemos no beco mais próximo. Uma trupe de garotos de uniforme azul passou por nós trotando como uma manada.

Paramos para acalmar a respiração. Não é todo dia que corremos como maratonistas por aí. Aline parecia péssima já que não deve ser uma tarefa simples correr de salto. Já Tainá que usava sapatilhas negras simples parecia ótima. Talvez a rotina semimilitar do internato ajude.

— Tudo bem. Eu entendo o porquê de Aline não querer a vitória do Patrick, mas e você, Tainá, por que quer impedi-lo?

— É muito simples. Patrick é um brutamontes horrível. Seus capachos ficam perseguindo os treinadores e tanto ele, Patrick, como os seus seguidores batem nas pessoas sem necessidade só para ter certeza que vai ganhar. Na base da pressão, ninguém o desafia.

Será que esse cara é tão forte assim? Eu sou alto e forte, talvez consiga deter ele no mano-a-mano. O que estou pensando? Tenho outros focos - estudar, por exemplo - mais importantes do que bater num valentão.

— E tem mais...

— Mais? – questionei surpreso.

— Se Patrick ganhar a Batalha da Cidade, a competição vai ficar deturpada consistindo não só no mérito das escolas, mas também se tornaria um duelo de força física. A cidade ia parecer uma selva em que o mais forte vence.

— Ué! Então além de status, qual o outro objetivo da competição? – indagou Aline franzindo as sobrancelhas.

— O verdadeiro objetivo é treinarmos para virarmos treinadores de verdade e o mais importante é nos divertir. – ela falou como se aquilo fosse extremamente óbvio. E era.

— Nos divertir? Você também está concorrendo?

— Sim, Aline, mas não me dedico muito sabe... Estudo em um colégio interno, patricinha.

— Arrá! – Aline apontou para ela com um sorriso triunfante — Me chamou de patricinha, mas estuda no colégio só de filhos de milionários. Que por sinal foi o primeiro a ganhar a Batalha da Cidade há muito tempo atrás.

— Quantos anos você tem, Tainá? – perguntei interrompendo a mimada.

— Quinze, por quê?

— Não parece. – na verdade, ela parecia até um pouco sábia. Mas, isso não era algo possível já que de acordo com as minhas aulas de filosofia, sabedoria se consegue com experiência e tempo.

A loira ia começar sua discussão outra vez, mas Tainá cortou a fala dela. A boca formou um perfeito “o” com aquela falta de educação.

— Então, alguém tem que parar esse encrenqueiro maluco. – disse Tainá.

— Não está sugerindo que nós vamos fazer isso né? – perguntou Aline desconfiada – Nós não somos super-heróis ou algo assim, tá bom?

— Mas, nós podemos criar um pacto de proteger os setes treinadores restantes. Não é qualquer um que chega assim e cria novas regras não.

— Isso impediria os planos dele – concluí.

— E eu acharia novos desafiantes – a loira mostrou seu real interesse.

Eu não tinha muitas escolhas. Não tenho muito tempo e eu sou um dos alvos. A aliança é a única opção que eu tenho.

— Eu aceito.

Tainá estendeu a mão com a palma virada para baixo e olhou para nós. Aline e eu a contragosto colocamos nossas mãos por cima da dela “firmando o pacto”.

— Sabe, acho que eu ficaria bem de heroína... – comentou Aline se levantando e tirando a poeira da saia.

Nós rimos e deixamos o beco sujo e cada um seguiu o seu caminho. Mas, de uma coisa nós tínhamos certeza... A nossa intenção de proteger a Batalha da Cidade.

Meu estômago roncou e eu me lembrei que ainda teria que almoçar, fugir dos perseguidores, estudar pelo resto da tarde no colégio, revisar a matéria em casa, tentar galgar minha posição no ranking e ainda defender outros treinadores. Acho que o dia precisa ter trinta horas de hoje em diante.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam?



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