Anti Sociedade - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 17
O Mundo Como Ele Realmente Foi


Notas iniciais do capítulo

Terminei esse capítulo 00:45 para vocês, pois estava na animação. Esse capítulo foi feito especialmente para demonstrar como a base mentia para eles e escondia a verdade. Estilo o capítulo em que os Governantes se revelam.
Boa leitura, espero que gostem.



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Torço para que essas perguntas acabem logo. A ponta do lápis de Spartan machuca minha barriga, por baixo de minha blusa, mas pelo menos aumenta a pressão cardíaca, como a Kelly falou.

Estamos na sala de interrogatório. Ela não é lá a minha sala preferida, pelo fato de parecer que você é um criminoso, ainda mais com esse detector de mentiras. E também com os 5 líderes da base juntos na minha frente, e as câmeras apontadas para meu rosto.

Quando finalmente me liberam, sinto-me aliviado. Um segurança me retira da cadeira e me leva até a porta para a sala de monitoramento, onde os outros esperam, mesmo com menos de 5 metros de distância de uma ponta a outra.

Desse lado, não tem ninguém vigiando as câmeras do mundo, só a gente. Não para a minha surpresa, são o Jean e a Natasha. Por serem amigos do pai da Kelly, sempre os via por aí. Por isso não estou admirado que estejam do lado dele. Sou o último entre os meus amigos a passar pelo teste, então posso vê-los todos reunidos em uma das primeiras mesas. O Parker e a Nádia estão separados, assim como Wave e Jou. Acho melhor não incomodá-los, então vou diretamente para os outros.

—Aqui o seu lápis, Spartan. – Sussurro ao entregar a ele, enquanto esfrego a parte dolorida em minha barriga.

O garoto rapidamente pega a parte do lápis e junta a outros pedaços que estão em cima da mesa com fita adesiva. Spartan, depois de muita súplica nossa, cortou o lápis dele em vários pedaços para que todos nós passássemos no teste sem levantar suspeitas. Agora me arrependo disso, ao vê-lo tão empenhado em consertar o lápis, afinal é uma lembrança sentimental de extrema importância para ele.

—Então, como você acha que foi? – Clare pergunta.

—Se passei para cá, acho que os despistei.

—Não precisa se preocupar, Clare. Todos nós já estamos bem. – Angel põe a mão no ombro dela, mas também vejo que está inquieta.

—Já pensaram em como seria esse plano da Kelly? Quero dizer, estamos apostando tudo nela e nos Anti Governantes. Essa idéia pode falhar tanto quanto as nossas outras tentativas. – Ren expõe o que todos nós devemos estar questionando no fundo de nossas mentes.

—A Raja me contou algumas coisas pelo caminho. – Joseph diz. – Ela disse que...

Não deu para Joseph completar a frase, pois um alarme soou bem alto. Olhei ao redor, até reparar que no outro lado do espelho falso, o guarda segura aquele menininho, o Saski em cima da mesa, o revistando. Fala sério, até criança eles mandam passar pelo detector?

—O que está havendo? – Ren se aproxima de Jean e Natasha.

—Parece que pegaram o garotinho mentindo. –Natasha esclarece a situação.

Presto mais atenção a cena ao ouvir isso, torcendo para que ele passe. Mas, quando o cara retira o sapato da criança, cai de lá de dentro um parafuso, provavelmente retirado de um canto da sala de espera.

—Então foi assim que conseguiu passar pelo teste da pressão e respiração. – Senhor Khumalo coça o queixo. – É uma pena que tenha desviado o olhar e cruzado as pernas. Pelo menos para você.

—Parece que Casablanca terá um novo exemplo a seguir. – Senhor Tanaka estala os dedos e o guarda faz menção de retirada.

Fecho a mão e cubro minha boca de nervoso por não poder fazer nada. Vão mesmo matar o menino? Ele é só uma criancinha. Nesse momento, uma mulher muito parecida com ele, que reconheço como a mulher para quem ele apontou, dizendo ser a mãe grita ao meu lado.

—Não podem fazer isso! É o meu filhinho! – A moça começa a chorar desesperadamente.

Jean ao ouvir isso abre a porta:

—Na verdade, Casablanca agora tem dois exemplos a seguir.

A mulher fica mais desesperada e dá alguns passos para trás antes de Jean e Natasha a pegarem pelos braços e a levarem junto com Sask para fora. Não podemos fazer nada, pois nos descobririam se tentássemos algo.

Essa situação já é desesperadora por si só, com isso, minha raiva e aflição aumentam ainda mais. Com certeza temos que eliminar esses caras. O mundo estaria melhor sem eles.

...

—Até você eles deixam entrar?

—Tia Juanita! Que surpresa agradável! Sinto que agora vir pra cá vai ficar muito melhor! – Spartan sorri para a velha sem paciência.

Depois daquele incidente nos levaram para a Sala de Palco, onde tem um imenso palco com cortinas e uma tela de cinema com projetor. Nos disseram que como agora somos parte dos Governantes, devemos aprender mais sobre o passado e a nossa verdadeira missão. Quando nos sentamos, a Juanita apareceu para nos oferecer comida e bebida.

—Meu poema estava certo. Até agora você só serve marmita. – Spartan ri dela.

—Ainda vou ter minha vingança, Aleniul. – Por algum motivo, ela insiste em falar o nome verdadeiro dele. – Você vai se arrepender por ter me avacalhado tanto. – Ela puxa o tabuleiro antes que ele possa pegar alguma coisa, mas nos deixa escolher uma bebida, então apanho um suco de laranja antes dela ir embora para outra fileira.

—Você acha que ela falou sério sobre uma vingança? Sério, estou com medo do que a Tia Juanita pode fazer comigo. – Spartan sussurra ao meu lado.

—Ah, claro. Ela pode fazer muitas coisas terríveis com você. Aposto que vai tomar o leite direto da caixa e dar o resto para você. Ou então vai espirrar em seu almoço antes de entregar. – Falo com ironia para meu melhor amigo.

Ele começa a rir, mas um dos pertencentes aos Governantes faz sinal de silêncio pra gente.

—Fiquem quietos e permaneçam sentados. O documentário já irá rodar para vocês.

Depois de mais ou menos um minuto, a tela fica mais clara e passa escrito em inglês:

A Governments Production

Presents:

The world as it really was.

Ainda bem que o inglês é a minha língua, e entendi que lá estava escrito Uma Produção do Governo apresenta: O mundo como ele realmente foi. Mas, quem não sabe, teve que pegar os óculos de leitura antes de entrar.

Primeiro, mostra-se a imagem do horizonte de uma bela cachoeira em uma floresta, com pássaros cantando e peixes saltando da água. Depois, muda para uma praia selvagem, com várias rochas, vegetação e... aquilo era um cavalo galopando? Antes que se possa ver melhor, corta novamente, dessa vez para um imenso deserto sem nada além de areia.

Quando penso que iria cortar para outra paisagem aleatória, um homem loiro e peludo, aparentando ter seus 30 e poucos anos aparece na tela. Abaixo aparece escrito antes que ele fale:

David Moore – 34 Years

Ancient Chinese Territories

Historian at Princeton University

Engraçado. Ele tem o mesmo sobrenome que a líder do Antigo Estados Unidos, Geovanna Moore. – Faço uma pequena reflexão.

—Olá. Eu sou David Moore e sou historiador em Princeton. Posso fazer uma pergunta antes de começar a explicar? – O homem fala com a câmera, e não espera resposta alguma. – Vocês realmente acreditaram que o mundo parou por 700 anos?

Sim, ué. Não tem nenhuma outra explicação para o que teria acontecido. – Penso comigo mesmo.

—Pois se acham isso, estão muito enganados. - O homem joga na cara. – É impossível que o mundo pare de se comunicar, só por causa de crises, como devem lhes ter dito.

Enquanto ele fala, aparecem imagens relacionadas ao que diz, com os dizeres em baixo Simulation, ou seja, simulação.

Em 2020, quando contaram que a Terra parou, na realidade foi só o começo de uma série de cataclismas que pareciam não ter fim. Nesse mesmo ano, um grupo cujo nome ficou perdido na história, conquistou grande parte do Oriente Médio e algumas partes no norte e nordeste da África. Também tentaram em algumas partes da Europa e Ásia, mas não conseguiram. Eles transformaram as áreas conquistadas de províncias com o mesmo nome dos países em que faziam parte, e lá foi o primeiro local em que o governo se tornou mais... – O rapaz procura a palavra certa. – Meticuloso.

—Em 2023, descobriu-se uma maneira de produzir água. Na época, ela era um grande problema para se conseguir e um dos principais fatores de crises ao redor do mundo. Porém, a sua fabricação permaneceu exclusiva para empresas capitalistas, que cobravam um preço, digamos, não muito razoável por elas. Portando, a situação quanto a esse recurso não sofreu muitas alterações, mas é importante saber disso, pois é dessa forma que onde vocês estão não falta água. Também foi nesse ano que o Japão construiu suas primeiras estações de bombas nucleares, já que sua nova constituição permitia isso.

Depois, em 2025, a bolha chinesa finalmente estoura. Vejam bem, a China era uma das maiores economias mundiais. Os países do globo entraram em desespero. E também foi lá que começaram as tais revoluções. Desde 2018 eles faziam isso, mas o governo não dava atenção. Mas, com o estouro da bolha o mundo entra em guerra. A China, aliada a Rússia, puxa o Japão para dentro do conflito, interessada em seus recursos. O Japão era aliado dos Estados Unidos, e com a ajuda dele, mais as bombas que já tinha, lançou todas na China. Ela, por sua vez, fez exatamente o mesmo com o Japão, ao mesmo tempo. Por fim, as duas nações se destroem. Rússia e EUA não continuam a guerra, pois sabem que podem acabar com a raça humana se utilizarem seus arsenais. Apoiaram o conflito entre os dois países para que tivessem mais poder.

—E agora, meu caro telespectador deve estar se perguntando como foram destruídos o Japão e a China. É bem simples. – O homem se abaixa e pega um pouco de areia e a balança um pouco. – Tudo o que vocês estão vendo agora, já foi Pequim, capital da China.

A imagem muda para uma espécie de tribo no meio do deserto.

—Com a explosão da bomba atômica, as cidades se destruíram e as plantações ficaram encobertas de radiação, por isso nenhum país teve interesse em conquistar essas terras. As poucas pessoas que sobreviveram se juntaram em tribos autônomas espalhadas pelo país. Pelo que podemos observar de longe eles vivem em situação precária, com bastante dificuldade para sobreviver. Não vivem na beira, mas consideravelmente perto de oásis e caçam pássaros que passam por perto, além de se alimentarem da vegetação natural. Às vezes migram a procura de um lugar com mais recursos, como verdadeiros nômades pré-históricos. Mantemos distância e não falamos com eles, pois são muito primitivos e não vemos necessidade de contatá-los.

Agora deve estar querendo saber o que aconteceu com o Japão.

A imagem muda, e agora ao invés do deserto, vê-se o oceano.

—Essa é muito mais fácil de deduzir. O Japão é uma ilha, e as bombas lançadas provocaram um intenso terremoto, o que as fez afundarem. Aqui, nessa parte do oceano Pacífico é onde deveria estar Tóquio, a antiga capital do país. Essa guerra durou até 2028.

Um pouco mais tarde, em 2031 a União Européia cai de vez com o Euro, mas os países que não faziam parte se salvam e continuam firmes. A Grécia, há muito decadente e quase em anarquia, adere ao dracma, por exemplo.

Em 2037 os poços de petróleo e a água subterrânea da Área comandada pela tal associação no Oriente Médio secaram. Foi uma tristeza, praticamente o fim daquela região, como diziam muitos especialistas da época. Porém, os líderes de lá se mantiveram discretos e foram também os primeiros a se fechar para o mundo, para que tentasse se estabilizar. Mesmo assim, continuaram recebendo turistas, mesmo que poucos, e faziam comércio com diversos países. Apenas não demonstravam o luxo que tinham antes

Esses foram os principais eventos até a metade do século 21. Depois disso houve o de sempre na Terra. Guerras comuns, avanços tecnológicos, descobertas arqueológicas de valor inestimável, diversos fatos do gênero. Dando-lhes uma rápida volta do que aconteceu do ponto em que parei adiante de mais importante: Alguns países da União Européia, como a Alemanha, Dinamarca e o Reino Unido conseguiram voltar ao estado normal, e até mesmo algumas vezes, ultrapassar esse estado. Já outros como Grécia, Malta e o Chipre afundaram de vez. Raramente se era ouvido falar deles como se falava dos outros que listei. Os países que decaíram completamente com a derrubada da China e do Japão, como o Brasil, começaram a emergir novamente. O Oriente Médio se estabeleceu como um dos maiores parceiros comerciais e aliados da Rússia. Em troca de água, alimentos da cesta básica e produtos derivados do petróleo, como plástico, ela recebia produtos da mais alta tecnologia, feita normalmente com o plástico dado a eles, armas especiais para o arsenal dela e mais algumas outras questões que permanecem secretas

—Além, é claro dos acontecimentos menores que mencionei que não são tão importantes para a compreensão da história. Portando, o mundo nunca esteve completamente fechado. Isso é só uma invenção para manter os ingênuos rebeldes afastados do real. Logo saberão o porquê disso tudo.

Então, teve realmente tudo aquilo de recolhimento geral dos meios de comunicação, mas não é como é falado. Na realidade, foram só uns poucos que foram recolhidos para uma análise do que servia e do que não prestava mais, além do vício das pessoas nessas telas. Os feriados e finais de semana acabaram, é verdade, mas foi para o bem de todos. Quanto mais trabalhassem, mais dinheiro gerariam, e mais investimento o Estado iria conseguir. Logo, a vida da população iria melhorar muito. Os rebeldes, que influenciam rapidamente a cabeça dos demais, é quem não entendem isso. Só pensam por um lado, e não olham para além do próprio umbigo.

E o que aconteceu depois de 2775, o início da idade Revolucionária, já deve estar cansado de saber. A Rússia começou a enfraquecer economicamente por causa dos Estados Unidos, que estava literalmente pegando todo o seu espaço geopolítico mundial. Foi então, que secretamente, combinou com o Oriente Médio e os países que faziam parte da Antiga União Soviética um projeto para enfraquecer exponencialmente os EUA. Porém, o serviço secreto norte americano rapidamente descobriu isso. Para se dar uma sensação maior de proteção, despediu todos os funcionários que tinham alguma ligação com os países envolvidos. O hacker armênio, com raiva, espalhou a informação pelas emissoras de televisão, rádio e jornais. A notícia rapidamente se tornou a mais comentada em todos os lugares do mundo. A população mundial, cansada das guerras, começou a protestar arduamente, como nunca protestaram antes. Quase deram diversos golpes de Estado bem sucedidos no mundo. Claro, poderiam ser destruídos rapidamente com as bombas atômicas, a guerra aconteceria finalmente, e permaneceria o mais forte. Porém, as duas principais nações na guerra estavam receosas mais uma vez quanto a extinção da raça humana.

Para tentar acabar com as informações que os revoltosos recebiam, que era o que os motivavam a continuar, as cidades foram se fechando cada vez mais, restringindo o máximo o que chegava a população. A maioria das pessoas nessa época já não tinham mais objetos comuns antigamente, como televisão, para dificultar ainda mais a mente divagadora deles. A Dinamarca não seguiu esse padrão. Muito pelo contrário, foi o principal Estado que pensou que se o mundo continuasse seguindo como estava, não iria durar, e que tudo iria se desmantelar. Por isso, criou na Groelândia, que era um dos territórios pertencentes ao Reino da Dinamarca, a Instituição Jovens Gênios de Mentes Brilhantes, ou como era conhecida dentro do colégio, JGMB, ou fora dela, Escola Mentes Brilhantes, para reunir os descendentes de diversos sábios, cientistas, filósofos, governantes importantes da história, por exemplo, esperando que eles pudessem encontrar uma solução diplomática que pudesse ser proposta aos governantes. No ano seguinte, a situação já estava bem pior, então eles construíram a base perto da instituição, para se esconderem e ganharem tempo para reconquistar o mundo perdido novamente.

—Por isso que dominamos a base. Os rebeldes são uma praga. Desde o começo não pensam no futuro e querem o resultado imediatamente, como se investimento a longo prazo não existisse. Eles só atrasaram mais a evolução humana. Imagine, o que de bom se conquistaria depois da guerra. Até coisas como internet foram inventadas com ela.

Nesse momento, aparece uma mulher morena no vídeo, e se junta ao tal de David.

—Essa é Scarlett Moore, minha esposa. Juntos, nós somos dois dos líderes da base. – A câmera muda de posição e mostra agora a base atrás deles, com ambos olhando para o horizonte. – O mundo finalmente está em paz, como os rebeldes queriam. E para isso, foi necessário reprimi-los, mostrando como eles são o vírus aqui. Nós lutamos por um mundo melhor, e o recebemos alegremente.

A imagem deles some e os créditos sobem na tela.

Como posso descrever como estou me sentindo agora? Acho que pasmo é o que chega mais perto. Eu não consigo acreditar na infinidade de coisas que nos esconderam, e em como nos odeiam. Eu realmente, não sei nem o que falar com esse choque. Espero ter conseguido passar a sensação, porque está impossível até para mim não ver isso como uma pegadinha.

Nesse momento, os líderes sobem no palco, e a Geovanna diz:

—Espero que tenham gostado. O historiador que apresenta o documentário é meu parente. Nossa família é líder aqui a gerações. Daremos a vocês um tempo para se reconciliar do choque, e depois irão participar 100% de nossas tarefas. Agora, podem seguir para seus quartos.


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Notas finais do capítulo

E, então? O que acharam desse "novo mundo"? Se tiver alguma coisa realmente impossível de acontecer e completamente irreal, por favor, avisem. Eu não sou uma perita em geografia ou em política e posso muito bem errar.
Até a próxima, :)!



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