Anti Sociedade - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 16
Na Sala de Espera


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo! Queria me desculpar por não ter postado nada até agora. Não dei sinal de vida por que viajei para um sítio, onde não tem internet. Podem confiar, tentei de tudo para enviar capítulo até por sinal de fumaça, mas a lei de Murphy fez tudo o que eu tentasse falhar. Mas, então, sem mais enrolações, podem ler o capítulo:



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–Então, nós todos estávamos conversando durante a hora do almoço, e decidimos que queremos ir para o lado de vocês. – Um rapaz moreno explica a situação para um dos guardas, conforme o plano.

Nós estamos bem atrás do pessoal. Até tentei ser aquele que falaria com eles sobre a mudança de lado, mas negaram que fosse qualquer um de nós, por causa do que fizemos antes. Na minha opinião, esses caras são uns manés.

Ninguém além do escolhido fala nada. Somente quando ele acaba de passar conversa no guarda, nos movimentam para nos levar para o lugar especial. Devemos ser todos por volta de 20 pessoas. Nem muitas, nem poucas, mas deve ser o número de que precisamos para completar o plano. Depois de uns 3 minutos, novos guardas são chamados para nos levar para a cela especial. Mas, quando chega minha vez, o que comanda os outros olha para mim, de cara feia, e diz:

–Até vocês!? O que comeram no almoço? Chá de bom senso? – Algumas pessoas atrás dele riem. Não achei a mínima graça.

–Não se come chá. Se bebe. – Eu o corrijo, achando que estou pagando de inteligente.

O rapaz fecha a cara, se aproxima mais da porta e fala alto:

–Louisa, esse aqui é perfeito para você levar.

Ah, não! De todas as pessoas desse lugar, logo a Cruella! Ela se aproxima de nós, e me puxa pelo braço, chego até a tropeçar em meu próprio pé antes de andar normalmente. Olho por cima do ombro, e vejo o cara sorrindo maldosamente, enquanto designa outra pessoa para levar os outros à nossa nova sala de espera. Mas será mesmo que meu grupo é um dos únicos de pessoas legais aqui!?

–Deixa de ser molenga, garoto! Quer entrar para os Anti Governantes como assim? – Lola pergunta-me, ainda com a cabeça voltada para frente.

–Você faz parte deles? – Pergunto baixinho, bem surpreso. Realmente não esperava por isso. – Não fala isso alto, para eles não ouvirem. – Peço.

–Eu falo o que eu quiser, na altura que eu quiser, quando eu quiser, e se eu quiser! E você, fazendo parte de qual grupo que for, não irá me dar ordens! Nunca! – Ao terminar suas ameaças, abre uma porta reforçada, bem ao lado de uma cela. – Chegamos! – Ela me empurra para dentro, e ralo meu joelho no chão. – Agora, vou caçar javalis com minha irmã. Te chamaria para ir com a gente, mas precisa trabalhar os músculos, fracote. – Lola fecha a porta após o último insulto.

Olho a sala ao meu redor. É bem maior do que as celas, com toda a certeza. Apesar, de ser visivelmente de algum material forte, como aço, provavelmente para dificultar uma fuga, é extremamente confortável. Há um grande sofá de veludo no centro, posicionado a frente de uma televisão de 150 polegadas, como está escrito em sua lateral. Encostado nas paredes se encontra fliperamas, máquinas de comida e de bebidas. Também vejo espalhado, totó, hóquei de mesa, futebol de botão, e diversos outros jogos. Nas laterais do teto, há caixas de som, tocando músicas diversas.

Ninguém tirou os olhos de suas atividades. Já devem ter se acostumado com os outros serem jogados. Ando um pouco, até chegar no sofá e me jogo, com os pés para cima, e agarro uma almofada. Fico olhando para cima, até perceber que tem um tapete felpudo entre o sofá e a televisão, e me deixo cair sobre ele. Solto um ar de aprovação. Depois do dia de hoje, parece que estou no céu. E, principalmente agora que está tocando uma música mais calma, começo a pegar no sono, mas sou interrompido.

–Bu! – Alguém muito conhecido coloca as mãos sobre meus olhos. – Adivinha quem é.

–Parker. – Digo sorrindo, e ele retira as mãos da minha cara, e o vejo fazendo o mesmo que eu.

Ele se senta em um canto do sofá, e troco minha posição para que possamos conversar melhor.

–Legal a sala, não é? – Comento.

–É sim. Mas, sabe, tem uma coisa que está me deixando confuso desde hoje de manhã. – Ele me conta.

–Uma coisa? Eu tenho várias... – Começo avoado, mas depois parto para a brincadeira. – Por exemplo, por quê até agora você não me beijou? - Pergunto fazendo biquinho e fechando os olhos. Por um momento, acho que não serei correspondido, mas então sinto os lábios dele. Só deve ter ficado envergonhado de alguém olhar. É diferente de ontem, que foi a primeira vez que nos vimos há muito tempo. Abro os olhos, e ele passa o braço pelo meu ombro.

–Falando sério agora, como nenhum de vocês parece ligar tanto para o fato de estarem enjaulados? Por dentro, de tão nervoso que estou já deveria estar careca.

–É uma pena. A sua cabeça raspada iria virar um belo holofote para mim. – Rio, e ele me dá um pequeno empurrão, mostrando os dentes também. Me acalmo, e começo a falar, neutro: - Respondendo seriamente sua pergunta agora: Não sei. Acho que desde que chegamos a base se esforça tanto para parecer que estamos seguros, que mesmo na situação de agora, parece que ainda estamos. O mais importante, é que para sairmos daqui, precisamos permanecer tranquilos. Por exemplo, a Helen tentou fazer algo mais na raiva e pavor no calor do momento e deu ruim. – Ao citar Helen como exemplo, fico repentinamente mais triste. Faz tanto pouco tempo que ela morreu, e estou normal. É como o que Parker falou sobre ficar preso. Parece que não aconteceu nada. Não importa o que digam, com toda a certeza sou uma criancinha que não olha para nada que está um pouco mais de um palmo de distância do rosto.

Por isso, não conseguiria viver sem meus amigos, por mais bobos que sejam, sem eles para me mostrar o caminho, eu não seria nada. Mas, como sempre digo, não se pode deixar os pensamentos tristes te dominarem, para que não se afunde neles. Esse deve ser outro motivo para não ficar pensando o tempo todo na morte da Helen, ou de nossa recente posição aqui na base. Recosto minha cabeça no ombro de Parker, quando a porta se abre de novo. Não estou a fim de tirar minha cabeça do ombro confortável do Parker, então em vez de ver qual de nós entrou agora, espero que a pessoa venha para nosso lado. Péssima escolha.

–Mas o que está acontecendo aqui!? – Nádia anda até nossa frente, de queixo caído.

–Ah, Nádia, maninha. Desculpa não ter te contado antes. Michael e eu somos namorados. – Meus olhos se contraem de vergonha. A guria gosta de mim, e o cara joga na lata a real. Nem para me dar tempo de planejar uma forma de contar. Abro os olhos lentamente, e me surpreendo com o quanto o queixo dela pode cair.

–O quê? Mas... Isso é impossível. – Nádia chega para trás e se apoia no canto da televisão. Torço para não quebra-la, ainda nem pude assistir nada nela. Seria um desperdício. – Não pode ser verdade! Não pode ser por quê... – Ela fica sem palavras, de tão embasbacada. – Eu... Gosto do Michael desde os meus 14 anos!

Agora é a vez de Parker ficar surpreso.

–Oi!? Desde os 14 anos!? – Ele me larga e se senta melhor no sofá. – O que vocês fizeram e o que há entre vocês!?

–Nada! A Nádia só está exagerando! Está tudo bem agora! – Tento acalmar os dois.

–Eu beijei ele um ano depois de me apaixonar. – Nádia conta tristemente. – Quando o reparei pela primeira vez na escola, tive certeza que nunca vi e nunca veria de novo ninguém mais lindo e bem humorado em toda minha vida. Me passava uma aura de bem estar indescritível. Foi amor à primeira vista, nunca gostei de outra pessoa. Pensei que quando correu depois de ter te beijado, foi por causa da emoção. E uns sete meses depois, quando disseram que morreu, fiquei desolada. E agora, que te acho novamente, e penso que vai conseguir nos livrar desse fim de mundo, descubro que namora meu irmão. – Ela fica cada vez mais aflita. – Meu próprio irmão! Se fosse outra garota, ou qualquer coisa do tipo, o choque seria menor. Mas, estou me sentindo completamente traída! – Vejo uma lágrima sair de seu rosto, que ela parecia tentar segurar desde que começou esse discurso.

Me levanto do sofá e levanto meu braço para apoiá-lo no ombro dela e consolá-la.

–Desculpa. Não fazia a menor ideia de que era tão forte assim. Mas, acontece que não tem uma forma mais suave de dizer isso: Eu não gosto de você como gosta de mim. – Ela afasta a minha mão de seu ombro, e chora mais ainda.

Nádia tampa o rosto com as mãos.

–Só me deixa em paz. – Ela pede e vai em direção à uma porta da qual não havia reparado antes, pois está logo atrás da televisão. Nela tem os símbolos de um homem e uma mulher, divididos ao meio por uma linha, simbolizando que era o banheiro.

O irmão tenta ir atrás dela, mas a menina o repele:

–Você também, Parker. – E entra no banheiro, trancando a porta na cara de Parker. Quase que amassa o nariz dele todo.

Ele me lança um olhar de decepção, que me encaram em toda a sua trajetória até o sofá. Não sei se isso quer dizer que terminamos, se quer um tempo, ou seja lá o que for, mas tenho certeza que quer dizer para eu não ficar grudado nele por um tempo. De cabeça baixa, me sento do outro lado do sofá. O clima entre nós dois e o choro de Nádia é devastador e os cinco minutos que levaram para que o próximo de nós entrasse pareceram horas.

–E aí, gente! – Spartan nos cumprimenta, depois de o guarda que o trouxe fechar a porta. – O que está acontecendo aqui? Isso tudo é saudade da minha presença, por acaso? – Ele pergunta todo convencido. Esse cara não tem jeito mesmo.

Espero que Parker responda-o, mas ele não faz isso. Então, fico calado também.

–Não, sério. O que tá pegando? Estou atrapalhando alguma coisa na relação de vocês, ou é só TPM masculina mesmo? – Ele passa o olhar entre nós dois.

Só não explodo de rir com essa porque seria desrespeitoso e aumentaria ainda mais meus problemas.

–Nada não, Spartan. Só a Nádia que resolveu se confessar para mim quando Parker e eu estávamos juntos. – Explico a situação, desenhando com os dedos no braço do sofá.

–Nada!? O fato de minha irmã se expor ao ridículo por sua causa não significa nada para você!? – Parker sai da maré de silêncio e logo vem dar bronca em mim.

–Não é isso, Parker. É só forma de falar. – Digo, quase sem paciência com isso de Parker-Nádia. Por que as pessoas tem que ser tão complicadas? Ora ele me põe no raciocínio correto, ora me tira do sério. Nunca tive essa relação com outra pessoa. Desde que nos conhecemos é assim.

–Parem, por favor! Parecem um casal de 80 anos brigando porque um perdeu a dentadura do outro. E eu sei do que estou falando. Quando meus avós eram vivos, presenciei essa briga em casa. Não foi nada bonito, até porque um deles falava sem os dentes.

Tanto momento livre para o Spartan fazer graça, e ele vem fazer isso justo agora. Com certeza devo ser a pessoa mais sortuda do universo. Nesse momento, a porta se abre e um guarda empurra Clare para dentro, e ela é fechada de novo. Depois de olhar um segundo para trás, a menina segue em nossa direção.

–Que baixo astral é esse exalando do sofá? – Ela pergunta para a gente. – Finalmente entenderam a gravidade da situação, ou voltaram a ficar de luto pela Helen, ou algo do tipo?

–É que a Nádia tá afogando as lágrimas na tampa da privada. – Spartan fala apontando para o banheiro.

–Spartan! – Parker e eu resmungamos ao mesmo tempo.

–Ah, sim. Eu posso ir lá ver como ela está, então. – Clare se oferece para ajudar Nádia, com a maior cara de inocência que já vi. Ela sempre tenta ajudar as pessoas, não importa se a criatura está triste porque não sabe a resposta do dever, ou porque acha que a lua está perseguindo ele. Muito fofa.

Ela vai até a porta do banheiro, mas ao tocar na maçaneta, percebe que Spartan a seguiu.

–É melhor que só eu vá. E seria melhor ainda se não sentisse que estamos sendo ouvidas por alguém. – Clare enfatiza que a presença dele lá a incomoda e entra no banheiro.

Spartan revira os olhos e balança os ombros ao voltar e sentar entre Parker e eu. Estou usando muito “Parker e eu”, não é? Esse cara me tira do sério mesmo.

–Só ia avisar a ela que tinha óleo no cabelo dela.

–Tinha óleo no cabelo dela? – Vira-se para Spartan, confuso. - Nem reparei.

–É porque não tinha. Só queria ver como ela reagiria. –Ele dobra as pernas e estende os braços por cima do sofá.

Passam-se mais 2 minutos, quando a porta é mais uma vez destrancada, e Ren, ao contrário dos outros, ao invés de se deixar ser empurrado pelo guarda, bate voado na arma do sujeito e entra normalmente. O rapaz olha desconfiado para Ren, mas apenas fecha a porta.

–Perdi o que até agora? – Ele para do meu lado do sofá ao perguntar isso. Ele parece estar bem relaxado.

–Só o que restou de uma vida mais normal virar um tormento. – Respondo ironicamente e vejo Spartan revirar os olhos.

–Como assim? – Ren fica confuso.

–Minha irmã gosta dele, e ele deu o maior fora nela. – Parker explica para ele. – E agora a Clare está tentando consolá-la no banheiro, e não fazemos a mínima ideia do que está acontecendo.

–Claro que sabemos o que está acontecendo: Clare está conversando com Nádia. Só não sabemos o que estão falando. – Spartan comenta. Pelo tempo de convivência que tenho com o meu melhor amigo, sei que está brincando, mas Parker não percebe isso e fecha o cenho para ele.

–Isso não é problema. – Ren estufa o peito, todo orgulhoso. – Posso observá-las com minha visão de raios x, e deduzir o que está havendo exatamente. – Ele de oferece.

–Mas que maneiro! Faz isso, então! – Spartan chega para frente, claramente interessado.

O menino anda até o outro lado do sofá e se inclina devagar para o banheiro, mas ainda assim afastado da porta, e seus olhos mudam de forma bruscamente. Ele franze as sobrancelhas.

–Parece que as duas estão conversando.

–Nossa, mas que dedução brilhante. Nunca esperaria por isso. – Realmente achava que ele falaria algo de útil. Spartan e Parker fazem sinal para que eu fique quieto.

–A Nádia ficou mais agressiva. A Clare parece estar gritando com ela. Espera, o que é aquilo na mão dela? Parece uma faca. – Ao dizer isso, eu levanto um pouco minha cabeça para ouvir melhor. – Melhor: Não parece uma faca. É uma faca. Ela enviou no coração da Clare, e cuspiu na cara dela. Essa não, ela já morreu.

–O quê? E você não fez nada!? – Parker diz desesperado.

Spartan e eu nos levantamos correndo e vamos em direção a porta, mas tropeçamos um no outro e caímos naquele tapete felpudo, que aliás, está bem macio.

–Calma. É só brincadeira. Acham mesmo que aquilo poderia acontecer? – Ele nos olha meio rindo, meio preocupado. - Falando sério agora, elas não estão fazendo nada de demais. Parece normal.

–Nunca mais faça isso, está ouvindo? – Parker reclama com Ren. – Isso é muito sério, eu realmente achei que fosse verdade.

Já nós dois aqui do chão não falamos nada, prefiro só sentar normalmente e esquecer a brincadeira dele. Sinto que se falar alguma coisa o Parker vai reclamar comigo também. Ren só deve estar abalado. Ele não faria isso normalmente. Deve ser só esse aprisionamento todo confuso aqui.

Ele se senta do outro lado do sofá, e com isso chega a Angel. A pessoa que a traz cutuca o cano da arma em suas costas, mas ela ignora e simplesmente avança para dentro da sala, como se o rapaz não tivesse apontado algo que poderia tirar-lhe a vida. A porta se fecha, e ela para na frente do sofá e nos encara.

–Mas que desânimo é esse, gente? – Angel coloca as mãos na cintura.

–Desânimo nada. Estou assistindo a novela mais dramática de todos os tempos! – Spartan sorri.

Angel desvia o olhar para Ren, que aponta para o Parker e para mim. A menina revira os olhos.

–Ah, claro. – Não entendo o que ela quis dizer com esse “ah, claro”, mas deixo de lado. – Bom, pelo menos o Spartan fica entredito e não fica fazendo piada de mim.

–Não seja por isso. Tenho um enorme repertório sobre a Antiga Itália, e agora posso usar também sobre politicantes. – Spartan chega para frente. - Por onde começo?

–Que tal pela vergonha na cara? – Angel sugere ironicamente. Sério, sou só eu que shippo muito esse casal? – Mas, voltando ao assunto, qual é o problema?

Ren e Parker explicaram o que aconteceu, com uma intromissão minha e do Spartan uma vez ou outra. Angel parecia estar prestando atenção.

–Bem, eu poderia ir lá chamar elas. – Angel propôs.

–Seria de imensa ajuda. – Parker confirma.

Angel se vira e caminha até o banheiro e entra. Nesse meio tempo, quem chega dessa vez não está sozinho. Wave e Jou passam pela porta. O guarda deixa Wave

entrar, mas impede a passagem de Jou. Ele se abaixa para ficar do mesmo tamanho da criança.

–Tem certeza que esse cara é um bom responsável para você? Eu posso arranjar um lugar bem melhor. – O guarda faz carinho na cabeça de Jou. Grande erro.

O menino pega a mão dele e torce um dos dedos antes mesmo que o homem perceba o que o sudanês está tramando. Ele dá um grito de dor abafado e rapidamente se afasta de Jou.

–Quantas vezes preciso repetir? Não. Preciso. De. Ninguém! – Ele diz nervoso.

O guarda se levanta com cara fechada e bate a porta na cara do garoto. O menino vai se sentar em um dos cantos escuros da sala, o qual durante o caminho as pessoas afastam dele, formando uma espécie de mar vermelho. Acabo soltando um sorriso, acompanhado pelo Spartan e Ren, enquanto Parker continua emburrado. Wave continua ao nosso lado.

–É comovente como estão tristes pela morte de Helen. – Ele comenta sarcasticamente - Sua amiga morre hoje mesmo e vocês já estão sorrindo como se nada tivesse acontecido.

Encaro-o com uma sobrancelha baixa e a outra levantada, querendo passar que não estou entendo o que ele quer dizer.

–Que nada a ver. A gente já chorou pela morte dela, e ainda sentimos muita saudade, mas não podemos ficar lamentando uma morte o dia todo.

–Principalmente quando se está em guerra. Você mais que ninguém deveria saber disso. – Spartan defende meu lado.

Spartan e eu batemos as mãos uma na outra, e essa foi a deixa para Wave se juntar ao Jou, e também para a porta abrir para Joseph entrar. Preciso mesmo descrever como a guarda deixou-o entrar? Aconteceu exatamente como nos outros, a mulher o manda ir para dentro com a arma e ele obedece.

–Demorou, ein? – Ren tem razão. Ele foi o último a chegar.

–Aconteceu alguma coisa? – Parker sai do silêncio mortal dele.

–Nada não. Só pedi para falar com minha família. Contei o plano para eles. – Joseph se senta no sofá, entre o Spartan e eu.

Depois de contarmos a nossa situação com a Nádia, e rirmos um pouco, recebendo um olhar venenoso de Parker, um silêncio reinou sobre nós. Algum tempo depois, resolvo puxar assunto:

–Então, como vai você e a Raja, Joseph?

–É difícil dizer, mas acho que estamos bem. – Ele responde coçando a cabeça.

–Com saudade de beijar ela, né? – Tento provoca-lo.

Joseph olha para mim como se pensasse que sou um mané e responde:

–Nós nunca nos beijamos.

Nós quatro viramos assustados para ele.

–Nunca? Nenhuma vez mesmo? – Parker pergunta descrente.

–Nunca. Por que o espanto?

–É que isso não é uma coisa muito comum. Na verdade, é bem raro de se encontrar. – Ren explica.

–Bem, é uma coisa de nossas famílias e de nós mesmos. Beijo e outras coisas só depois do casamento.

–Então o que é que vocês fazem esse tempo todo? – Estou realmente curioso quanto a isso.

–Andamos de mãos dadas. Nos paqueramos. Passamos o tempo juntos. – As bochechas de Joseph ficam vermelhas ao contar isso. – Olha, esse não é um assunto em que somos abertos a falar.

Nesse momento sai do banheiro as três mulheres. Sério, por que é necessário três criaturas para resolver problemas assim? Não dava para fazer isso sozinha, ou com uma amiga no máximo?

–Desculpa Michael e Parker. Eu vou ser menos escandalosa, prometo. – Nádia fala baixinho e vai na direção de um grupo de meninas lá no fundo da sala, sendo seguida pelo Parker. Clare e Angel se sentam no lugar em que ele estava.

–Michael, você não deveria ir lá ver eles? – Clare me questiona zangada.

–Não. Isso é problema de família. Melhor não me intrometer. - Dou uma desculpa, pois não estou a fim de me envolver em mais problemas.

Um minuto depois um menininho chega do lado do sofá. Ele deve ter por volta de 7 anos, e é claramente de origem asiática.

–Oi. – Ele começa tímido. – Meu nome é Sask.

–Oi, Sask. – Nós todos os saudamos.

–Que fofinho! – As meninas falam ao mesmo tempo.

–Vem cá, deixa eu te apertar! – Clare chama o garoto, e em vez de deixar ele ir, o puxa pelo braço e as duas ficam abraçando ele ao mesmo tempo. Sério, qual é o problema delas? O garoto vai sair vermelho dali.

–Cadê seus pais? – Joseph pergunta.

–Minha mãe está lá. – Sask fala um pouco estranho entre tantos apertos.

–Precisam de alguma coisa? – Ren se oferece para ajudar.

–Não é isso. Eu só vim dizer que apesar de tudo, ainda acreditamos em vocês. A maioria perdeu a fé que vocês conseguem nos representar, principalmente depois de o boato de que a Angela é filha de governantes se espalhar. Mas, eu e minha mãe achamos que vocês ainda são nossa melhor chance. E sinto muito pela Helen. Ela era legal. Chorei muito quando vi ela lá.

Fico emocionado com o que a criança fala. Apesar de toda a confusão que fazemos aqui na base, ainda há pessoas que acreditam em nós.

–Que bonitinho! – As meninas exclamam e fazem cafuné na cabeça dele.

–Tenho que ir, minha mãe já deve estar ficando preocupada. – Ele praticamente implora para se desgarrado. Quando sai de perto das meninas, ele está todo cheio de marca de dedo. Quero só ver se a mãe vai continuar confiando na gente depois dessa.

A porta se abre, mas dessa vez, ao invés de entrar algum outro candidato a espião dos governantes, entra a Kelly, acompanhada pela Raja e por outro cara armado. Ela se posiciona na frente do sofá, para que todo mundo veja-a. As pessoas percebem a presença dela e param o que estavam fazendo para chegarem ao nosso lado e ouvir o que ela vai falar. Até eu chego um pouco mais para frente.

–Muito bem, pessoal. Antes de leva-los para o teste, contarei como burlá-lo. Prestem atenção, pois só vou falar uma vez. Quem não ouvir as dicas depois pergunta a alguém. Se tiverem alguma dúvida, a façam somente depois de eu terminar de falar.

“A primeira coisa que devem fazer para passar pelo detector de mentiras é ficarem calmos. Se entrarem lá já suando e gaguejando eles vão desconfiar logo de cara.”

“Segundo: Tentem ao máximo sentirem dor. O detector de mentiras funciona ao testar o ritmo de sua respiração e de sua pressão cardíaca, além do suor na palma de suas mãos. Então, se morderem a língua, ou colocarem algo com a ponta afiada dentro de seus sapatos, o ritmo da respiração e dos batimentos estarão mais altos desde o momento que tocarem no aparelho, e acharão que este é o normal de vocês.”

“Terceiro: Não alonguem a resposta. Sempre o mínimo possível. Quando mais detalhes contarem, mais difícil vai ser sustentar tudo e irão encontrar alguma brecha na história.”

“Quarto: Evitem cruzar os braços e as pernas, chegar para trás na cadeira ou desviar o olhar. As câmeras podem reparar nesses movimentos e mostrar como sinais de mentira.”

–E, lembrem-se dessas duas coisas: O pior mentiroso é aquele que acredita na própria mentira. Vocês não vão se aliar 100% aos governantes. Serão nós, continuarão rebeldes, e seguirão devendo lealdade a causa. E também que há uma penalidade para aquele que pegarem mentindo: Esse alguém será colocado em uma cela solitária até o dia em que matarão metade da base para manter a ordem.

“E ele perderá a vida em praça pública de alguma cidade com alto índice de rebeldes, para que os coitados sigam o exemplo e morram infelizes como ele.”


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Notas finais do capítulo

No próximo terá explicações sobre o passado verdadeiro da Terra e tudo o mais. Tentarei adiantar a história, pois acho que ele já está demorando demais. Matarei, contarei segredos, revelações, planejarei com mais detalhes o final, coisas do tipo.
Até a próxima, :)!



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