Bruce devolveu-me a caixa se preparando para uma briga, como de costume adorava fazer confusão. Ao lado de Set que também já se preparava. O líder dos vermelhos não estava em lugar nenhum, certamente estaria com medo. Como da última vez.

Ri baixinho lembrando-me de sua covardia.

Os dois sem esperar partiram naquela brincadeira. Realmente eles não planejavam nada antes de atacar. Duas cabeças ocas. Suspirei vendo os olhos irem em direção dos dois, eu ficaria quieta para pensar que fosse um alvo fácil. Não estava com vontade de estragar minhas unhas.

Apenas ficaria observando aquelas cenas.

Como era típico de meu irmão ele odiava lutar na neve, porém estava saindo-se bem. Olhei para os pequenos flocos de neve que começavam a cair... Era igual... Era igual aquele dia...

Não era?

Aos poucos os flocos se ocultavam em minha cabeleira branca, e aquelas imagens apareciam em minha cabeça.

Os olhos de Set ao me encontrar, os olhos daquele lobo que queria me matar e alimentar o clã e a ele mesmo... Lembra-me das mãos quentes de Set mesmo naquela nevasca pegando-me em seus braços e me acolhendo. Seu corpo era tão quente e sua determinação por me proteger era tão grande... Por que ele se sacrificou tanto por mim? Por que?

Segui o olhar até Set que mantinha sua espada levantada e lutando com rapidez. Aquela garotinha perdida era apenas alguém que ele não conhecia... Por que me salvar e fazer sua aldeia o olhar torto? Eu sempre signifiquei algo para ele... Mesmo não sendo a princesa dos divinos, apenas uma garotinha comum. Ele me salvou e me criou.

Eu preciso fazer algo em troca!

Segurei a caixa contra meu peito, mesmo que tivéssemos em número bem menor, não éramos qualquer lobo...

— Bruce. — chamei fazendo o mesmo não entender, porém foi para meu lado. — Hora de mostrarmos do que os divinos são feitos. — sorria friamente.

Bruce sorriu voltando a fitar aqueles lobos.

A neve começou a se mexer e o vento soprou mais forte, os lobos olhavam-se enquanto quase eram arrastados pelo vento, mesmo não tendo sol as nuvens ficavam negras fazendo até mesmo Set olhar para o alto confuso. O poder de meu irmão, controlava o vento e a água.

Eu por outro lado, controlava elementos diferentes. A neve era meu refúgio, o vento meu escudo, o fogo meu aliado.

— Sua vez maninha.

Sorri enquanto via os lobos dando alguns passos para trás. Comecei a controlar o vento e a neve ao mesmo tempo, um furacão de neve se formou diante dos olhos dele, ele não atingia nenhum de nós três mesmo estando perto, apenas nossos inimigos. Aquela neve engoliu os lobos e jogando para todos os labos logo em seguida. Muitos tentavam sair correndo em sua forma de lobo, mas precisava de muita força para fugir de mim.

Ri fazendo o furacão se tornar uma onda e arrastar todos os lobos para longe, não importando se estavam na forma humano ou não. Inimigos eram levados, aliados eram deixados. Bruce fez uma piadinha enquanto dava tchau para os lobos sendo levados.

Balancei a cabeça. Fazíamos uma bela dupla, espero que isso ficasse intacto quando eu voltar a ser uma criança. Sem perceber Set se aproximou de mim, deu um passo para trás automaticamente ficando envergonhada.

— Você esta bem?

Abri a boca para falar, mas nada saia... Então apenas assenti.

Isso não pareceu convencê-lo pelo fato de ter ficando alguns segundos ainda me fitando.

— Como vamos abrir a caixa? — disse mudando de assunto.

Bruce deu de ombros.

— Quebrando? — Sugeriu ele rindo.

Até que não era má ideia sendo que não parecia ter nada de quebrar dentro da caixa, talvez estivesse até vazia. Joguei para meu irmão que piscou não entendendo.

— Eu que não foi quebrar isso.

Bruce me fitava sorridente. Sabia que ele queria quebrar...

O mesmo colocou no chão e pediu a espada de Set emprestada. Cortaria a caixa no meio? Ele era realmente idiota? Protestei, todavia ele não me ouviu e levou a lamina em direção a caixa que não se partiu. A espada foi repelida jogando os dois para trás.

— Ótimo, uma caixa magia. — resmunguei.

Set se aproximou da caixa com cuidado, conseguindo toca-la ele a analisou por alguns breves instantes. O que ele procura? Sabemos que precisaria de uma chave e mesmo a caixa sendo muito bonita e esculpida o que ela poderia dizer?

— Onde esta aquela chave sua? — ele olhou em direção a Bruce que estava sentado na neve.

— Chave... Chave... — pensava. — Deve estar no meu quarto, no reino dos vampiros.

— Pegue-a.

Dando de ombros Bruce sumiu em um estralo de dedos reaparecendo depois de vinte minutos com a chave dourada nas mãos. Não conhecia aquela chave, teria sido dada por papai? Set pegou a chave vendo que adentrava na fechadura e abrindo a caixa.

— Funcionou... — sussurrei surpresa.

Aproximei-me para ver o que tinha na caixa. Um monte de papeis... Set pegava cada folha ali olhando, parecia ser folhas rasgadas de algum livro de magia.

— O que é isso? Receita de bolo de cenoura? — Bruce se debruçou nas costas de Set para ver as folhas.

Protestando o lobo mandava ele sair de suas costas enquanto a expressão de meu irmão mudava. Parecia ser de surpresa.

— Essa magia... — Bruce arrancou as folhas da mão de Set vendo cada uma. — As folhas que estava faltando no livro de magia de papai...

Pisquei.

— É a magia que te transformou em criança... É uma magia forte pelo visto...

Set se levantou tirando a neve de seu corpo.

— Consegue conjura-la? — perguntou Set.

Bruce negou com a cabeça fazendo-me baixar o olhar. Não podia fazer nada para Set ficar feliz agora.

— Não sem um mago. — falou por fim. — Conhece algum?

Set assentiu.

— Mas não sei se ele vai ajudar.

Bruce guardou as folhas mostrando suas garras logo em seguida.

— Ou por bem ou por mau. — sorria friamente.

Set suspirou dizendo para irmos embora. Olhei em direção ao buraco que havia entrado, tinha sumido... O que meu pai estava pensando? Se sacrificando tanto para salvar seus filhos. O sol começava a raiar novamente, parece que agora a floresta poderia descansar longe daquela neve. A medida que caminhávamos conseguia ver o olhar de Set sobre mim, ele tinha uma expressão preocupada...

Por que?

— Agora estamos mais perto, maninha. — Bruce sorriu.

Assenti.

Agora bastava o mago que Set conhecia me ajudar.