Cheguei perto de Bruce e o chacoalhei para acordar. O mesmo resmungou passando os dedos nos olhos piscando varias vezes. Como ele conseguia dormir tão rápido? Ignorando isso cruzei os braços diante dele.

— O que aconteceu? — perguntou para depois olhar para a janela.

Ele sabia que não tinha dormindo tanto tempo para já ser outro dia. Voltou a me fitar de cima a baixo não entendo minha expressão. Na verdade até eu não entendia. Suspirei e comecei a falar o que queria.

— Como consegui voltar... Como antes... — gaguejava.

Vi Bruce arregalar os olhos. Isso era uma surpresa até mesmo para mim.

— Quero voltar como antes... Pelo visto as pessoas gostavam de mim assim...

Bruce deu um sorriso fraco enquanto se levantava.

— As pessoas te adoram, apenas você não deixa esses sentimentos entrarem. — O mesmo tocou em meu rosto.

Ele tinha razão, nunca tinha deixado me afetar por sentimento nenhum... Mas aquele lobo negro tinha feito isso comigo... Bruce deu um passo para trás antes de se pronunciar.

— Vou ver o que descubro, além do mais foi papai que fez isso da ultima vez. — Bruce não sabia o que papai tinha feito para me transformar em criança novamente.

Porém sabia que Bruce iria conseguir. Como nosso pai Bruce mexia com magia bem diferente que nossa linhagem mexia. Ele piscou e voltou a se sentar na poltrona.

— Agora me deixe dormir. É bom você dormir também, sabia? — ele se virou se ajeitando na poltrona.

Balancei a cabeça.

Esse era meu irmão.

Na manhã seguinte acordei com o sol batendo em meu rosto, levantando devagar vi que estava sozinha no quarto. Bruce teria saído cedo? Que horas seriam agora? Levantei-me espreguiçando. Faria como Bruce tinha dito, começaria a dar valor aos meus sentimentos e das pessoas em minha volta. Peguei um vestido que estava sob a poltrona.

Ele teria colocado ali? Aquele parecia caber perfeitamente no meu corpo agora. Era azul marinho bem puxado para o negro. De renda na parte de cima tapando apenas meu colo. Ele era sem manga e da cintura para baixo era em camadas. Não me importei em usa-lo mesmo não fazendo meu estilo.

Segui pelo corredor vendo poucos guardas. Alguns estavam em duplas e trocavam algumas palavras parando apenas quando eu passava diante deles. Apenas um me fez parar e fita-lo.

— Desculpe o incomodo, mas se procura vossa majestade e seu irmão estão na sala de jantar.

Assenti agradecendo, porém não sabia se eu queria ir até lá. Era difícil tentar ser outra pessoa... Ter mais sentimentos...

Suspirei seguindo em frente. Não iria ficar parada no meio do coredor mesmo não querendo ir para a sala de jantar que nem me lembrava de onde era. Apenas segui reto apenas sendo obrigada a dobrar bem adiante.

Parei em um corredor que de um lado levaria para um jardim amplo que não reconhecia e do outro me levaria para outro lugar que não estava lembrada. Tinham mudado tanto o castelo nesse tempo que estive "pequena"?

Pelo que me lembro do castelo sofreu danos naquela batalha, mas foram tantos assim?

Levantei a cabeça quando passei diante de duas portas duplas abertas. Os sons dos talheres fizeram-me levantar a cabeça e ver os olhos verdes de Set me fitando. Outras pessoas estavam junto com ele à mesa e com sempre meu irmão estava mais brincando com a comida do que comendo. Na ponta estava aquele velho que tinha visto com Set, se não me engano era Victor o nome dele. Ao lado de Set estava uma mulher que me encarava de cima a baixo e em sua expressão revelava muita surpresa. A frente de Set estava meu irmão que acenou para me aproximar.

Suspirei seguindo em frente. Esse não era meu plano...

Fui seguida por dois pares de olhos. Quem era aquela mulher que tanto me observava? Odiava isso... Mas o outro par de olhos sabia decifrar.

— Vejo que esta se acostumando ao "novo" castelo. — foi a voz de Victor que soou primeiro.

Olhei em sua direção assentindo.

Apenas eles sabiam que a deusa dos lobos brancos tinham voltado. Bruce me observou de soslaio enquanto brincava com os talheres. Ele nunca mudava!

— Não quis te acordar, dormia igual um bebê. — dizia Bruce.

Senti vontade de acerta-lo em cheio, mas me controlei apenas lançando um olhar que o fez tremer um pouco. Ele conhecia muito bem aquele olhar...

— Falando nisso... Por que você esta de cabelos negros? — Tinha percebido isso em Bruce desde que voltara, mas nunca perguntei.

Bruce apenas lançou um sorriso para mim.

— Segredos. Não se preocupe te ensino a esconder seu cabelo. — disse olhando para meus cabelos brancos soltos.

O que tinha de errado neles? Era a marca de um Divino, a marca de um lunar era negros, a marca dos vermelhos era castanho e dos marrons era loiro. Era assim que definia o DNA de um raça de lobos.

Bruce sorriu vendo que não tinha o entendido.

— Quando papai nos escondeu mandou eu esconder minha existência de divino. — Vi que a garota ao lado de Set arregalou os olhos. — Então mudei a cor do meu cabelo para a cor dos lunares, já que eram nossos aliados não precisava fugir nem nada. Apenas que papai pediu para um amigo dele vampiro me criar.

Bruce me contava toda a historia, mas por que eu fui a única a ficar pequena? Por que ele não transformou Bruce também?

— Mas quando perco o controle meus cabelos voltam a ser brancos ou quando quero também. — Ele deu de ombros mordendo seu pão que demorou em fazer.

Semicerrei os olhos.

Papai não queria que nossos inimigos descobrissem sobre nós. Queria manter alguns lobos divinos para crescer ao passar do tempo. Mas nossa raça estava extinta. Voltei a fitar Set que tinha desvencilhado os olhos se preocupando com o que ia comer.

Sorri de leve vendo aquilo, ele não se decidia se comia um café saudável ou algo que sustentaria seu estomago de lobo. Por fim decidiu misturar os dois e por ultimo comer panquecas grossas sem recheio.

— Você então é a Katy? A garotinha...

Levantei os olhos assentindo.

Ela ainda me fitava incrédula...

— Você então todo esse tempo era a loba branca, a deusa dos lunares...

— Sim, a maior guerreira dos divinos. — Set olhava-me um pouco e depois para a garota ao lado. — Por quê?

Não sabia quem era ela, todavia via que ela tentava chegar mais perto de Set e tentar puxar a assunto e aos poucos me ignorava não respondendo minha pergunta. Deu de ombros olhando para meu irmão que tinha terminado seu café enquanto lambia os dedos.

Ele apenas piscou e deu de ombros.

— Aquela é Linxey. Você certamente não se lembra dela. — disse Victor.

Voltei a fitar a mulher que também me olhava. Já tinha ouvido aquele nome... Algo em minha cabeça tentava se lembrar da onde a conhecia, da onde ouvira esse nome... Quem era ela...

Linxey... Lin...

A garota que tinha que casar com Set! Linxey a que estava sempre ao lado do meu lobo.

Rosnei automaticamente...

Cada vez que tentava me lembrar mais cenas se passavam em minha cabeça. A floresta... O local que estava... Set... Seus olhos me fitando na primeira vez que me viu... O... Buraco? Que buraco era aquele que saiu?

Lin virou a cara tentando novamente voltar a conversar com Set que apenas tinha a expressão de tédio.

— Bruce. — chamei chamando a atenção de todos. — Aquele buraco que papai me colocou, era fundo de mais...

Bruce piscou não entendendo. Era obvio. Ele não sabia onde papai tinha me deixado. Set levantou o olhar interessado nessa conversado. Olhei para ele rapidamente.

— Tem algo lá. Sei que tem!

— Não sei do que você ta falando...

— Eu sei. — Set se pronunciou. — Eu te encontrei de baixo da neve, mas a neve não estava tão alta para você estar tomado por ela...

Set tinha a expressão pensativa no rosto.

— Poderia sim que você tivesse saído de um buraco.

Pisquei voltando a fitar Bruce que ainda não sabia do que falávamos.

— Podemos ir até lá?

— A floresta ainda não parou de nevar, é diferente de tudo que já vi. A floresta verde agora é a floresta branca.

Não parava de nevar? Isso significa que ficou mais de 15 anos nevando lá...

— Não sei se conseguiremos achar o locar, Katy.

Mas eu sabia que conseguiria...

Levantei-me.

— Talvez eu saiba como chegar lá. — disse. — vem comigo? — sussurrei meio sem jeito.

O mesmo sorriu assentindo.

Bruce não perdeu esse se levantando e gritando que também iria. Até que isso eu sabia.

Seguimos em frente nós preparando para o clima frio. Mesmo que fossemos em nossas formas de lobo que Set concordava em ir. Era melhor se agasalhar. Ou melhor... Ele...

Os divinos nasceram da neve. Por isso tínhamos pelagem branca. Protegia-nos e aquecia. Observei Set trocando algumas palavras com Bruce antes de partirmos, não sabia o que tinham falado, todavia não quis perguntar.

Minhas patas tocaram a neve assim que chegamos à floresta. Set ia à frente nos guindo até o acampamento que ficávamos, era perto de lá que ele tinha me achado... Olhei para Bruce que tinha a expressão atenta mesmo em sua forma de lobo seus sentidos melhoravam nunca deixava a guarda baixa.

Set parou diante de uma pequena pedra e nos esperou para logo apontar para uma zona ampla cheia de neve, era ali que ficava o antigo acampamento. Olhei em volta, mesmo sendo todas iguais as árvores que sobreviviam com a neve, parecia tão família... Set foi o primeiro a sair de sua forma de lobo observando em volta analisando cada detalhe.

Bruce foi o segundo se aproximando do outro e trocando breves palavras. Eu permaneci em minha forma de lobo para tentar achar o local que meu pai tinha me deixado. Passei por algumas árvores enquanto os dois me seguiam. Precisa descobrir se realmente era um buraco e o que tinha lá. Já estávamos distante do local do acampamento quando decidi voltar à forma humana.

Não tinha encontrado nada e debaixo daquela neve era impossível achar um buraco. Set me olhou não entendendo o que eu fazia. Nem eu mesmo estava entendendo.

— Consegue encontrar algo?

Balancei minha cabeça em negativa.

— Não consigo nem sentir...

Bruce começou a olhar em volta tocando nas árvores. Não sabia o que estava fazendo, porém me preocupem com o lobo que se aproximava de mim e tirava o casaco para colocar logo em seguida em meus ombros.

Não estava com frio, entretanto estava agarrada em meu corpo que para ele parecia que sentia frio, estava preocupada... Queria descobrir mais... Queria tentar mudar... Minha forma de criança saberia o que fazer. Suspirei agradecendo mesmo preocupada com ele passar frio.

Set olhou apenas sorriu e assentiu voltando olhar em volta tintando ver algo familiar. Comecei a caminha do lado contrario olhando aquela neve branca e patas...

Patas? Patas frescas...

Não era nossa... Estávamos andando em círculos? Impossível...

Pisquei tentando procurar mais patas quando cai em algo. Meu grito chamou atenção dos dois que foram em direção a mim, todavia caindo em um lugar pequeno e fechado. Ouvi a voz de Set querendo saber se estava bem, todavia estava era mais tentando tirar a neve que estava em minha cabeça e ver onde eu tinha caído.

Tentei me levantar mais bati a cabeça fazendo-me sentar novamente. Era um lugar muito apertado. olhei em volta vendo apenas uma caixinha media praticamente enterrada na neve. Ela provavelmente estava enterrada. A peguei vendo que precisava de uma chave para abri-la.

— Vou descer ai. — anunciou Set.

— Se você descer nenhum de nós dois vamos sair. — ri ao falar.

Vi que Set fez silêncio e tratei de tentar subir a superfície. O pequeno túnel era tão pequeno que não sabia como tinha passado ali. Joguei a caixa primeiro e tratei de me espremer como uma minhoca para subir. Era péssimo, mas não queria ficar ali embaixo.

Finalmente quando conseguia sair foi ajudava por Set enquanto Bruce analisava a caixa com péssimo cuidado! Suspirei balançando a cabeça.

— Que caixa é essa! Essa coisa não abre. — resmungava ele.

Arqueou uma sobrancelha. Como ele queria que uma caixa trancada abrisse assim?

Olhei em volta assim que Bruce parou de reclamar, seu silencio não era pelo fato de que não abrira a caixa e sim por que tínhamos vizitas.

E muita.

Clã dos lobos vermelhos.