Fita de Seda escrita por moonrian


Capítulo 20
Capítulo 20 - A Descoberta de Um Inimigo pt. 1


Notas iniciais do capítulo

Hellooouu xenteee
Cheguei nas quebradas e trouxe esse capítulo aqui pra vocês hehe Tão sentindo o cheiro da tensão no ar? Pois é, babys, vem desse capítulo!!
Spoilerzinho básico: Hime vai lembrar de umas coisitas, entendem? E isso vai abalar as estruturas do mundo e é o início para as coisas realmente acontecerem o/
Quero agradecer a Luna, essa linda, Wina a pessoinha que nunca me abandona, e um super "bem-vinda" junto com um abraço de urso para a Saky hihihihi
Agora chega, né?
*Boa Leitura*



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Havia sangue por toda a parte, em todas as casas daquela rua como um lembrete feito pelas vis criaturas da noite. Gritos chegavam até mim, mas tudo que eu conseguia fazer naquele instante era correr pelas vias de terra que estavam escuras pela noite sem lua, não conseguindo olhar para trás e temendo que aquelas coisas me alcançassem. Minhas pernas protestavam com o esforço, os pulmões ardendo em uma necessidade intensa por mais ar e o coração martelando dolorosamente em minhas costelas, mas eu não podia parar, independente do quão desgastante fosse.

Uma figura se fez ver em meu caminho, olhos vermelhos intensos na escuridão da noite me fitando com um brilho maligno. Tentei fazer com que meus pés me parassem, mas meus calcanhares derraparam na terra e eu caí sentada, tremendo. Observei com pavor a criatura se aproximar com passos lentos e senti-o sorrir maliciosamente em apreciação do meu medo. Um aviso ressoava em minha mente, dizendo que eu estava perdida.

– Veja só quem resolveu aparecer... – falou a figura com evidente satisfação, parando a poucos metros de mim; sua voz era masculina e melódica – Eu estava te procurando, docinho.

Minha respiração ficou presa na garganta e eu sinto o horror me rasgar os nervos.

Olhei ao redor, para toda a destruição e o desespero do que um dia havia sido uma vila feliz, procurando por alguém que pudesse me salvar ou alguma saída que me levasse para longe dali.

– Não importa para onde você for, garota, – disse cada palavra de maneira lenta e distinta – eu sempre vou achar você.

Eu sabia que ele não estava lendo minha mente, estava insinuando sobre todas as outras vezes que eu conseguira escapar da morte por suas mãos. Nessas, eu conseguira achar uma saída, mas desta vez eu estava perdida.

Minhas pernas estavam moles, eu estava cansada, amedrontada e tinha certeza que não ganharia uma corrida contra ele.

Uma das casas próximas explodiu em chamas, e meu carrasco se virou para ver o resultado de seu ataque, parecendo muito fascinado.

As chamas iluminaram fortemente à noite por alguns segundos, lançando seu brilho sobre o homem a minha frente. Notei que ele usava uma camisa preta que se agarrava amorosamente aos músculos definidos de seu corpo; com um colete vermelho sangue por cima, calça de alfaiataria preta e sapatos perfeitamente engraxados. Seus cabelos castanhos acobreados que quase alcançavam os ombros tinham graciosas ondas, mas escondiam boa parte de seu rosto naquele ângulo. Tudo que vi foi um pequeno pedaço do seu perfil, como o nariz aristocrático e os lábios rosados e rechonchudos– ele parecia ser tão bonito quanto os rumores disseram, mesmo que não tivesse conseguido ver muito.

As chamas baixaram e a escuridão voltou a abraçar aquela rua de terra, embora não tão intensamente quanto antes.

– Há uma beleza viciante no caos – falou muito casualmente, como se fossemos amigos de longa data e não inimigos – É uma pena que você não perceba isso.

Quando o homem começou a se virar em minha direção eu sabia que seria meu fim...

Outra figura masculina caiu do céu, colocando-se entre mim e meu carrasco. A luz alaranjada do fogo fez a lâmina da espada de meu salvador cintilar levemente como uma promessa de que nada estava perdido ainda.

Ela, a espada, parecia terrivelmente afiada e tinha algum elaborado detalhe no cabo, que eu não consegui ver – apenas a representação da cabeça de um leão feroz na ponta.

Senti um surto de alívio instantâneo com a presença do novo homem, a esperança de que nada estaria a salvo enquanto ele estivesse por perto.

– Fuja daqui, Hime. – ele falou por cima do ombro – Agora!

Não pensei duas vezes em fazer o que ele me pediu. Imediatamente coloquei-me de pé e corri...

Arregalei os olhos para o mundo real, momentaneamente confusa e com a visão completamente embaçada pelas lágrimas. Meu corpo está ensopado de um suor frio, nadando em uma preocupação que fora esquecida havia tempo. Estava muito ciente dos sentimentos que me atravessavam o corpo naquele instante, o pulso martelando tão forte que podia senti-lo no fundo de minha garganta.

Fechei os olhos com força e apertei minhas mãos trêmulas em meus lábios, para que sufocar os sons estrangulados do pranto.

O terror corria em minhas veias, espalhando-o por todo o meu sistema. A silhueta daquele homem parecia estar tatuada por trás das minhas pálpebras com uma nitidez que enviou uma onda de tremor por todo o meu corpo.

Não tinha ideia se assustara minha colega de quarto com os meus sonhos. Às vezes, eu gritava bem alto.

Abri os olhos rapidamente, e espiei a cama ao lado, vendo Sakura encolhida em uma bola e respirando. Experimentei uma dose muito pequenina de alívio, comparado ao meu estômago apertado; cada músculo de cada tendão de meu corpo contraído e amarrado em nós que me comprimiam a espinha.

Eu não me lembrava do nome daquele homem que sempre interrompia minha corrida, ou de outras situações em que tivéssemos nos encontrado... Mas havia algo na sua presença que me amedrontava tanto que fazia os vampiros Nível-E parecerem apenas chihuahuas mal-humorados por trás de um portão.

E este sonho foi tão real...

Piquei rapidamente para me livrar das lágrimas que embaçavam minha visão e me foquei no teto.

Eu preciso ver Kaien e Zero.

Levantei-me da cama em um salto e calcei o tênis sem me importar com coisas triviais como meias ou trocar a calça de pijama e a regata por uma outra peça de roupa.

Corri para fora do dormitório com o máximo de velocidade que consegui impor minhas pernas a alcançarem – que não foi muita, já que meus joelhos estavam fracos.

O campus parecia incrivelmente longo e eu me sentia em um daqueles pesadelos que você tenta correr para se afastar do perigo, mas suas pernas não são rápidas o bastante.

Sentia os flashes da continuação de minhas recordações se agitando, impacientes, ansiosas por tocarem minha mente, mas eu sacudia e me recusava à aceita-las. Eu tinha certeza que não gostaria de ver nada daquele horror, não estava emocionalmente preparada ainda para rever aquele homem.

Tropecei nos meus próprios pés e desabei no chão com um gemido débil, chiando nos tijolos de pedra da área ao redor da casa do diretor, e ralando meus cotovelos e joelhos.

Lutei para não sucumbir no redemoinho de emoções, atormentada com o medo de um mundo que eu esquecera e estava lentamente retornando a mim, que agora eu não tinha tanta certeza se queria lembrar.

Abracei minhas pernas para impedir os tremores de me racharem e chorei de soluçar, a garganta queimando, apertada. Sentia meu sangue gelado nas veias, o estômago agitado.

O frio rachou minha pele e coagulou meu sangue.

Eu não conseguia levantar para me afastar do que estava por vir.

Encostei a testa em meus joelhos sentindo as recordações rastejarem de volta para mim...

Minhas pernas estavam moles, ameaçando desabar em meio à estrada, ainda tão próxima do perigo que aquela criatura representava para mim. Ele me tirara coisas que eu amava e estava ansiando para dar fim a minha vida por tempo demais, e eu não era forte o bastante para combatê-lo.

– Corra, gatinha, corra – ouvi-o gritar para mim com um humor maligno – Você só está adiando o final inevitável.

Eu estremeci, em dúvida sobre acreditar se meu fim era mesmo inevitável ou se eu poderia fazer algo para reverter meu destino.

O som da batalha entre meu Salvador e o Carrasco foi se tornando distante à medida que eu avançava pelas ruas de Lunier, buscando algum lugar que eu pudesse me esconder.

O chiar de lâminas colidindo fora substituído por rosnados animalescos e próximos demais para meu próprio bem.

Eu precisava sair da rua, e rápido.

Virei na outra esquina, e meus joelhos falharam. Caí ajoelhada no chão, sentindo a garganta seca e meus pulmões ardendo por oxigênio.

Eu não podia ficar parada, era perigoso demais estar nas ruas naquele instante, não quando o motivo de toda aquela carnificina era eu – e meu algoz faria todo o possível para ter minha cabeça em uma bandeja.

Apoiei minha mão na parede da casa ao lado e forcei meu corpo a se erguer. Eu não podia cair, não quando aquelas pessoas generosas de Lunier estavam morrendo por minha causa.

Tomei fôlegos curtos e dei mais um momento para que meu coração se acalmasse.

Um rosnar a minha esquerda cortou toda a minha determinação, algo se movia nas sombras de um beco...

Meu corpo todo petrificou de medo, a respiração ficando presa na garganta.

Virei meu rosto lentamente na direção do som, e vi uma figura humana caminhar de maneira instável sobre seus pés para fora da escuridão.

Ele rosnou mais uma vez e se pôs de quatro, posicionado como um animal prestes a atacar. Seus olhos brilhavam com um vermelho intenso cruel e desumano...

Senti dedos tocarem meus braços com muita gentileza, trazendo-me de volta a realidade.

Ergui meu rosto lentamente e vi através das lágrimas belos olhos lilases, preocupados e compreensivos – vê-los daquela maneira quase me desconcentrou do meu medo. Quase.

O semblante de Zero estava muito sério, sem qualquer inclinação a provocações ou perda de paciência, como se ele soubesse que eu não estava sendo dramática.

Ele me puxou para seu peito e eu estilhacei. Seus braços eram mais fortes que todos os ossos de meu corpo, e eles me envolveram de maneira tão acolhedora que espantou as persistentes imagens do homem misterioso que me queria morta. O calor de seu corpo derreteu o gelo no meu interior, e minhas pálpebras tremularam rápido até caírem fechadas. Afundei o rosto em seu peito e chorei copiosamente, ensopando sua camisa branca de uniforme.

Não importava que fosse Zero, a última pessoa que em dias normais eu gostaria que me reconfortasse; os seus braços foram o suficiente para espantar o medo, a força de suas mãos unindo todos os meus cacos.

Ele cheirava tão bem... Cheirava a sabonete, especiarias e algo mais, algo inteiramente dele.

Abracei seu pescoço e pressionei o rosto contra a garganta dele, fechando os olhos e bloqueando a sensação de vertigem e náusea.

Segurei-me nele como se Zero fosse o bote salva-vidas que me impediria de afogar no meu próprio pavor, e me concentrei em coisas triviais nele para manter aquelas lembranças teimosas afastadas.

O som de seu coração martelando firmemente era um som divino e reconfortante.

Tum-tum...

Tum-tum...

Tum-tum...

Não sei por quanto tempo ficamos daquela maneira... Tempo o bastante para meus dutos lacrimais secarem e meus olhos parecerem cheios de areia.

Zero me ergueu do chão e me carregou para dentro da casa – e eu era um saco de penas em seus braços.

Ele sentou no sofá da sala comigo grudada em seu pescoço, e eu podia sentir que ele estava perdido sobre como consolar alguém. Eu não me importava que ele estivesse rígido como uma pedra, que eu deveria estar mais hesitante em abraça-lo daquela forma devido ao nosso histórico... Ele ainda era o mesmo rapaz que me salvou, e isso trazia muito conforto.

– Hime, olhe para mim – pediu.

Arrastei-me para trás lentamente, hesitante, me preparando para seu costumeiro olhar frio e negligente. Mas seus olhos lilases estavam sem toda a solidez habitual; tinham um brilho líquido, preenchido com partes iguais de curiosidade e preocupação; o tipo de sentimento que eu nunca associaria a Zero, principalmente direcionado a mim.

– O que aconteceu? – perguntou, sondando meu rosto minuciosamente.

Sentia meus lábios dormentes; o inferior tremia incontrolavelmente.

Controle-se! Foi só uma lembrança.

Esfreguei as lágrimas para longe de meu rosto, beirando a irritação comigo mesma. Eu não entendia porque eu tinha um medo irracional daquele homem ou porque minha boca parecia ter virado pó.

Sentia-me um trapo.

– Eu estou lembrando, Zero – choraminguei, a voz esganiçada – E-eu me lembrei da noite em que Lunier foi atacada e, por Deus, foi horrível.

Um soluço me escapou, e eu senti os flashes me morderem e me agarrarem com suas mãos, tentando me puxar para as profundezas da minha memória. Eu relutei, atordoada e amedrontada, tentando socar para o fundo do meu subconsciente aqueles pedaços da destruída ponte que me ligava ao meu “eu” do passado.

Eu não quero lembrar... Eu não quero lembrar... Quero continuar sendo Hime Sem Sobrenome, não há problema nenhum em sê-la para sempre.

– O que você viu? – Zero insistiu, sua voz me libertando da batalha que eu travava em meu cérebro.

Mesmo que eu estivesse perturbada com tudo aquilo e irritada comigo mesma por não ter controle nenhum sobre meus sentimentos, sabia que contar tudo que havia sonhado para Zero era importante.

Limpei qualquer pensamento que pudesse me atrapalhar para o fundo, concentrando-me em seus olhos firmes perfurando os meus, tentando me encorajar a desabafar com ele.

Pigarreei para me liberar minha garganta e contei tudo minuciosamente, sem deixar de fora qualquer detalhe. Eu não era alguém idiota, mas Zero era mais informado que eu sobre o mundo sobrenatural e o ponto de vista também seria bom.

Quando terminei, seu rosto tinha uma neutralidade cuidadosamente construída. Algo em mim dizia que ele estava mortalmente surpreso, e eu mais uma vez fiquei surpresa por estar virando uma expert em entendê-lo.

– E por que esse homem quer te matar? – Zero perguntou assim que eu terminei, sua voz imparcial.

Avaliei seu rosto, esperando alguma pista sobre ele ter acreditado em mim ou estar pensando que eu era doida, mas não encontrei nenhum vestígio que pudesse responder as minhas perguntas internas.

Não sou tão expert assim...

– Eu não sei... Eu não sei o que posso ter feito para aquele homem estar tão disposto a me matar, para destruir uma vila a minha procura.

Ele apontou um dedo pálido para mim.

– Esse é outro detalhe confuso. Foram os vampiros Nível-E que massacraram Lunier, e no entanto, aqui está você dizendo que esse homem fez isso com o lugar.

Meu medo se desmanchou em algo entre a revolta e a decepção.

– Você não acredita em mim...

Seu suspiro de você-entendeu-errado soou mais como um bufar.

– Não disse isso. Estou dizendo que, ou esse homem fez alguma coisa para atrair aquelas aberrações para o lugar ou conseguiu encontrar alguma maneira de controla-los.

Eu não havia notado aquele ponto extremamente óbvio, e eu me apavorei. Aquele homem não era um cidadão a favor do bem, e quando gente do tipo dele tem poderes, nada de bom vem disso. Agora some isso ao pequeno detalhe de que ele me quer morta...

– E a última opção é possível?

Deu de ombros.

– Não que eu saiba. Nunca vi um vampiro fazer algo assim.

Fiz uma careta desgostosa.

– Você acha que o homem é um vampiro?

Zero sacudiu a cabeça positivamente, pensativo.

– Isso explicaria os olhos vermelhos – disse mais para si mesmo – Mas não explica o que ele quer com você.

Fechei os olhos e esfreguei minha testa por debaixo da franja.

– Eu não sei o que ele poderia querer comigo. – minha cabeça estava começando a latejar – Eu não quero lembrar... Eu sinto muito medo, e elas são reais demais.

Ele ficou em silêncio por tanto tempo que eu fiquei em dúvida se ele ainda estava ali. Abri os olhos e o encontrei me encarando de uma maneira que fez meu coração estremecer – e isso aconteceria se qualquer um me olhasse daquela maneira!

Levei minha atenção para qualquer outro detalhe da sala, sentindo-me incomodada e ansiando para que ele parasse.

– Você vai ter que enfrentar seu medo. – ele disse finalmente – Nenhum vampiro com o provável poder que ele tem persegue uma garota por mera diversão. Ele disse que você não pode fugir dele, que sempre vai te achar; e eu tenho alguns palpites do por que.

Voltei a olha-lo, curiosa.

– E qual seria?

– a) Você não é uma garota comum. Tem mais em você do que aparenta; b) Você fez algo bem grave para irritar esse vampiro a ponto de ele querer te perseguir.

Ponderei sobre todos os palpites de Zero, e decidindo que era provavelmente a segunda. Era só olhar pra mim para saber que eu não tinha nada de especial, então...

– Quer saber minha opinião? – Zero me perguntou inesperadamente, mas antes que eu pudesse responder, ele já estava falando – Eu acredito que seja a primeira, que você tem algo anormal.

Fiz uma careta bem cética. Após uma longa e boa olhada no seu rosto pude ter certeza que ele não dissera aquilo para me provocar.

– E como você pode estar tão convicto de que eu sou uma anormal? – minha voz soou mais azeda do que eu pretendia.

Ele pareceu estar segurando uma vontade de revirar os olhos.

– Para constar, eu disse que você tinha algo anormal e não que você era anormal, então pare com esse drama. E eu estou convicto porque coisas estranhas têm acontecido comigo desde que te mordi.


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Notas finais do capítulo

Eai, menha geenteeee??? O que vocês acham que Zero começou a sentir de estranho? Será que Hime tem mesmo algo "anormal"?? Oh, céus, quantas questões levantadas!! E esse homem que quer a cabeça de Hime na bandeja? Ele parece pegável hehehe parei... Ele parece PERIGOSO, certo? E a questão: COMO é que ele fez os Nível-E atacar Lunier, menha gente? E aquela mini parada cardíaca da Hime? Será que ela teria mesmo com qualquer um que a encarasse, ou foi tudo porque, vocês sabem, É O ZERO hehe Deem suas opiniões, críticas!
E até a próxima o/