Metamorfose Mortal escrita por Pégasus


Capítulo 5
Capitulo 5




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Kyle observava as árvores que pareciam correr na direção contraria, olhando de dentro do carro, ele permanecia calado, por fora sua expressão era indecifrável. Seu avô respeitava o silencio que se instalou na volta para casa dentro do carro, mas como se Kyle fosse transparente ele podia ver o tormento se formando dentro do neto.

– Não é sua culpa ela ter se esquecido. – tentou ele.

O silencio permaneceu após proferir essas palavras, mas Kyle pensava consigo mesmo, você está errado, se ela não se lembrou é porque eu não fui suficiente. Finalmente chegaram em casa.

– Como esta Gaia? – Perguntou a Sra. Wood quando viu o filho entrar emburrado pela porta da frente, porem Kyle subiu as escadas correndo sem dizer uma palavra, Jullian e Davi observavam a cena sentados no sofá.

Kyle subiu correndo ignorando sua mãe completamente, foi diretamente para o quarto aonde finalmente se sentia livre para chorar. E ele chorou como se fosse um bebê, já nem sequer sentia vergonha, pois um sentimento ainda mais forte o ofuscava, esquecimento, talvez? Ele se deitou de bruços em sua cama chorando, de repente as lembranças dos dois juntos começaram a passar em sua cabeça como uma piada do destino. Kyle se levantou e deixou a frustração falar mais alto.

Na sala de estar à família estava reunida na sala assistindo TV, quando foi possível ouvir com clareza as coisas sendo quebradas no andar de cima, também podia se ouvir gritos consecutivos atrás dos estilhaços de vidro no chão. Sem duvidas era Kyle.

– Acha que devemos fazer algo, mãe? – Perguntou Jullian preocupado.

– Acho melhor darmos um tempo para ele.

***

Após mais algumas semanas no hospital, Gaia finalmente havia recebido alta, e poderia ir para casa, não ficou surpresa quando seu pai a buscou de carro no hospital, mas ele ficou. Eles não conversavam há meses, mas para Gaia esses meses nunca tinham acontecido.

– Por que você e a Clarisse não me visitaram no hospital? – Perguntou Gaia.

John ficou desconfortável.

– Ah...acho que não me sentiria bem... – disse gaguejando

– Que estranho, eu também não me senti bem quando fui atropelada, mas ver uma pessoa que foi atropelada deve ser pior já que você se sente assim... – Disse Gaia rindo.

John ficou serio por um tempo achando que aquilo era uma ofensa, mas acabou rindo também.

– Da próxima vez que você for atropelada eu prometo que irei

Gaia gargalhou.

– Isso foi insensível.

John se perguntava se os erros do passado que o privava desses momentos mereciam ser realmente lembrados.

Enfim chegaram em casa, Rosa e Clarisse faziam strogonoff, prato favorito de Gaia. Ao sentir o cheiro Gaia se sentiu mais feliz, correu para a cozinha e perguntou a sua irmã:

– É de frango né?

Clarisse ficou sem reação.

– É...

– Porque vocês estão tão estranhos? Serio, além de não terem me visitado no hospital, estão agindo como se não me conhecessem. Achei que receberia pelo menos um abraço.

Então Clarisse abraçou a irmã mais nova repentinamente, deixando ate a própria Gaia assustada. Apesar de Gaia não saber aquele era o primeiro abraço que recebia de sua irmã em anos, graças a convivência que as afastaram com o tempo.

– Ok, já pode me soltar, você sabe que não gosto de abraço. – reclamou Gaia naturalmente.

– Você não mudou nada – Disse Clarisse

Rosa sorria profundamente vendo a família reunida outra vez, os dias escuros em que cada um almoçava em um cômodo da casa haviam acabado, ela pôs a mesa e todos se juntaram para comerem juntos, a inocência de Gaia era tanta que o clima não podia mais ficar estranho, pois para ela tudo estava normal, e logo também ficou para John, Clarisse e Rosa. Eles voltaram a ser uma família. Conversaram e riram, ate a noite cair. Gaia se sentia tonta mesmo assim queria ver um velho amigo então se dirigiu a sala, olhou seu antigo repertorio de musicas e tocou cada uma em seu piano, apesar de não se lembrar de tê-las aprendido. Era estranho. Todas aquelas musicas tinha algo perturbador em comum. Era uma melancolia repetitiva, um repertorio feito de musicas tristes, não era assim que ela se lembrava de ser. Então parou de tocar por um instante e apenas observou as teclas, com o canto do olho via seu braço e notou alguns machucados nos braços. A menina que eu era antes do acidente se cortava? Levantou a blusa, seu braço estava preenchido com marcas recentes e outras antigas, logo seu estômago embrulhou, levantou uma perna da calça e se sentiu aliviada por não ter cortes, por outro lado na outra perna podia ver as primeiras marcas daquela perna. Não aprovava esse tipo de coisas, eu era idiota? Por que eu me machucava? Minha mãe sabe? Alguem além de mim sabe? Não... ela teria comentado...Que vergonha. Sua cabeça começou a girar, aquelas perguntas sobre seu passado não a fazia bem, foi para o quarto e se deitou na cama fechou os olhos e procurou não pensar em nada. Quando abriu denovo seus olhos percebeu uma diferença significativa no seu quarto. Onde estavam os pôsteres de seus cantores e bandas favoritas? Seu quarto parecia ter sido assaltado, mas ladroes não deixariam o computador que era a única coisa além de sua cama que tinha no quarto. Estou passando a odiar a pessoa que eu era antes. Pensava Gaia, o quarto foi pintado com uma cor escura que parecia cinza, não possuía nenhum tipo de decoração e a cortina era escura e tampava o sol da manhã. Gaia abriu as cortinas e sentiu o sol batendo em seu rosto, se sentia livre por algum motivo, mas não sabia qual era exatamente. Ligou o computador, inicialmente não sabia bem o que procurar, então decidiu entrar no site da escola e ver como andavam suas notas, já que no dia seguinte retornaria a escola, quase caiu da cadeira quando a tela foi carregada, vou tomar bomba! Não podia acreditar, aquela escola era seu sonho, mas repetir de ano nunca fez parte dos seus planos, pegou o celular e ligou para o número de uma amiga com quem costumava conversar sobre essas coisas, o telefonema foi atendido.

– Julia?

A menina do outro lado da linha ficou incrédula.

– G-Gaia?

– Julia, acabei de sair do hospital, me disseram que perdi parte da memoria, minhas notas estão afundando e todos em casa estão estranhos comigo, não sei o que fazer – Gaia começou a chorar, provavelmente não se lembrava que Julia e ela não eram mais amigas.

– Olha, estou muito surpresa de você ter me ligado, será que nós podemos conversar melhor amanhã? Eu vou na sua casa se precisar.

– Não precisa, eu vou para a escola amanhã, nós podemos conversar lá, certo?

– tudo bem, ate, então.


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