Olhei mais uma vez para meu quarto. Ou para o que um dia eu chamei de meu quarto. Era tão estranho olhar agora para este pequeno espaço. Hoje ele está mais espaçoso do que em qualquer outro dia da minha vida. É um pouco triste ver estas paredes sem todos os meus pôsteres, é estranho ver as prateleiras vazias.

Olhei uma última vez em volta, e devagar, fechei a porta.

Peguei minha mochila que era a única coisa que eu levaria no carro do meu pai, já que o restante já estava na casa. Coloquei-a nos ombros e fui embora sem olhar para trás, deixando o único lugar que um dia eu chamei de casa.

Estava na recepção quando a vi, sentada no banco no jardim. Andei até ela, e me sentei ao seu lado. O sol era agradável naquela manhã de sábado de primavera. Não existia vento nem nuvem alguma no céu.

-Estava te esperando. –Ela falou, sem nenhuma surpresa, quando sentei ao seu lado. Seu dedos brincavam com uma flor que ela tinha arrancado do chão. O silêncio continuou entre nós, não me permiti falar qualquer coisa, com medo de estragar tudo.

Sabia que a ideia de que eu passaria a morar na mesma casa que Camila não animava Joanne nem um pouco. Apesar de que, já que Camila passou a ter sessões com Eduarda, as duas se aproximaram um pouco.

-Vou vir sempre te ver. –Disse por fim, ela virou seu rosto. Seus olhos me fitaram com uma intensidade anormal, enquanto algo como um sorriso contorcia seus lábios.

-Aham sei, você vai é me trocar pela ex loira oxigenada. –Joanne falou com sarcasmo. Revirou seus olhos. –Lucas, você não está indo para a guerra. Muito menos para o outro lado do mundo. Okay, você vai se mudar para outro bairro. Mas também não precisa fazer drama.

-Não preciso?

-Claro que não, está parte é minha. –Ela falou com mais ironia ainda.

-Lucas, vamos? –Meu pai gritou da recepção. Olhei para ele e depois me voltei para Anne.

-Tchau Lucas. –Ela disse, para então encostas de leve seus lábios nos meus. Antes mesmo que eu pudesse fazer qualquer outra coisa ela se levantou e foi embora, quase que correndo. A segui com os olhos. Depois disto me levantei também e fui até meu pai, na recepção.

-Lucas, precisa entregar suas chaves. –Busquei elas no meu bolso, tirei o chaveiro e entreguei a seu Romeu, o porteiro. O velho senhor as pegou, junto com as que meu pai dava. –Espero que está não seja a última vez que te vejo, rapazinho. –Ele disse enquanto bagunçava meu cabelo, nem dei muito bola para isto.

Queria poder dar tchau a Beth também, mas a garota tinha aula de inglês hoje de manhã. Mas como Joanne tinha dito mesmo, isto aqui não era um adeus.

A casa ficava em um outro bairro bem mais longe da praia, mas com toda certeza era maior que nosso antigo apartamento. Era uma casa azul clara de dois andares com uma cerca branca a sua volta. Dos dois lados várias outras casas parecidas com esta, já que este era um condomínio fechado. Na frente da casa um grande jardim cheio de flores e arbustos, mas sem árvores.

Já havia visitado a casa antes com meu pai. Ela já estava praticamente pronta, da última vez que viemos aqui. Afinal, as únicas coisas que traríamos eram nossos objetos pessoais.

Fui direto para meu quarto a última porta a direita no final do corredor do segundo andar.

A visão que eu tive a seguir foi no mínimo estranha. Várias caixas de papelão estavam no meio do lugar. É realmente incrível como tudo que temos pode ser embalado para a viagem.

Comecei a desembrulhar as coisas. Guardei minhas roupas no armário, arrumei a cama, coloquei meus livros na estante e alguns pôsteres novos nas paredes. Com bastante cuidado coloquei minha guitarra nova perto da minha cama.

Tive que chorar muito para conseguir que meu pai me desse ela, mas consegui.  Para falar sinceramente fizemos um acordo, se eu tirasse ótimas notas no boletim meu pai prometeu me dar a guitarra. Tenho que agradecer a Joanne principalmente  que me ajudou a estudar. A Forever está indo muito bem, semana passada mesmo tocamos em um campeonato de bandas de garagem. Não ganhamos nada, mas foi legal.

Pedi pro meu pai para tocarmos no casamento. Ele nem se deu ao trabalho de responder, mas não dizem por ai que quem cala consente?

Tirei por fim da mochila uma foto que a Mi me deu. Ela tira fotos e talz, está ela fez de mim e Joanne. Ela tinha ido ver o ensaio e usava um shorts jeans e uma blusa normal de manga curta. Fazia pouco tempo, duas semanas quem sabe. Tinha feito muito calor aquele dia.Seus cabelos negros lhe caiam acima dos olhos, na franja desparelha que ela recém tinha cortado. Na foto a garota me olhava de um modo diferente enquanto ajeitava (ou tentava ajeitar) meu cabelo.

Eu gostava tanto daquela foto. Pois eu via que o sorriso no rosto dela era sincero e este era um dos raros momentos em que ela pareci verdadeiramente feliz.

Coloquei com um alfinete a foto no mural. Por mais algum tempo fiquei olhando para ela.

Ouvi o barulho da porta batendo lá em baixo e de vozes femininas. Samantha e Camila deviam ter chego. Terminei de arrumar tudo rapidamente e então desci lá em baixo.

Antes porém passei por uma porta entre aberta, parei curioso para ver quem era que estava lá dentro. Camila arrumava suas coisas no armário, mas deve ter me visto pelo espelho, já que se virou.

Ela tinha mudado muito mesmo nos últimos tempos. A garota cortou o cabelo estilo Chanel, ao menos é assim que Anne fala, e pintou de vermelho escuro ou quem sabe aquela cor seja bordo. Mas não é apenas na aparência que ela mudou, desde que começou a fazer sessões com Eduarda, Camila passou a ser... sei lah. Ela apenas está diferente.

-Oi. –Ela disse, ao me ver. –Seu pai falou que já vamos almoçar, assim que chegar a comida chinesa que ele pediu.

-Vai ser seu pai também, a partir de agora. –Ela deu um sorriso descontraído.

-Você tem razão.