Olhei mais uma vez para a folha de caderno em branco, a caneta bic continuava na minha mão. Entretanto eu não tinha nada para escrever, as idéias pareciam fugir da minha mente. Acho que nunca mais vou conseguir compor uma música outra vez. Meu celular começou a tocar, demorei um pouco até achá-lo.

-Alô?

-Preciso de você. –A voz de Joanne soou do outro lado da linha.

-Anne?

-Por favor, vem aqui. Realmente preciso de você. –Ela falou, com a voz chorosa.

-Claro. Você está bem? Onde você está?

-Na praia, no lugar que você me mostrou... lembra? –Joanne perguntou incerta.

-Lembro, já estou indo. –Falei, me levantando.

-Vem rápido. –Ela sussurrou antes de desligar.

Olhei para o caderno em cima da cama. Rapidamente o coloquei no bolso da capa do meu violão, junto com a caneta. Fechei o zíper e depois coloquei o violão por meus ombros.

O dia estava ensolarado, e o vento abafado deixava um pouco calor, mesmo sendo inverno. Eu andava rapidamente pelas ruas tão conhecidas, seguindo direto para a praia. Em questão de minutos estava lá.

A pequena garota estava sentada encolhida no banco, de costas para mim. Mesmo assim sabia que era ela. Continuei andando, um pouco mais devagar, em sua direção.

-Oi. –Falei ao me sentar ao seu lado, colocando antes meu violão apoiado do outro lado.

-Você veio. –Joanne disse, sem virar seu rosto para mim.

-Claro que vim.

-Para salvar a donzela em perigo? –Ela perguntou com ironia.

-Não acho que você se encaixa bem nesta categoria. –Joanne riu brevemente.

-O que? Não sou uma donzela? –Ela perguntou, me olhando brevemente, com uma sobrancelha erguida.

-Não te imagino assim. –Admiti relutante.

-Então eu sou o que? –Joanne perguntou, parecendo divertida com a situação.

-Você ficaria brava. –Respondi, tentando acabar logo como assunto.

-Possivelmente. –Ela completou. -Porém agora que você começou já não tem mais chances de voltar atrás.

-Bem... Apesar de tudo você tem este seu jeito meio durona de ser. É como se fosse sempre tentasse esconder suas emoções por trás de ironias. –Ela continuou olhando para o mar azul, que estava calmo hoje. No seu rosto devagar um pequeno sorriso foi se formando. –O que foi?

-Você, às vezes, se parece tanto com o Nicolas. –Joanne disse, para minha completa surpresa.

-Isto é bom? –Ela riu um pouco, depois virou seu rosto para mim. Seus olhos estavam um pouco avermelhados e em baixo de seus olhos olheiras se assomavam bem aparentes em contraste com sua pele pálida.

-É sim. Ele é uma boa pessoa, apesar de ser um bobo, idiota e que fala demais. –Ela suspirou levemente. –Sinto tanta saudade daquele otário!

-Queria poder conhecê-lo. –Lhe dei um sorriso torto, admito que estava com um pouco de ciúmes do jeito que ela falava dele. Mas era só um pouco. Quem sabe fosse mais do que um pouco...

-Acho que vocês se dariam bem... –O silêncio persistiu entre nós, quebrado apenas pelo som do oceano.

-Por que você me chamou aqui? –Perguntei baixinho.

-Por quê? Preferia que não o tivesse chamado? –Joanne respondeu, cheia de ironia.

-Não é isto, e você sabe. Quero saber o que está acontecendo com você, para poder te ajudar. –Lhe falei, quem sabe sendo um pouco duro demais com as palavras. Ela continuou em silêncio por tanto tempo que imaginei que não me responderia mais.

-É só que eu estava me sentindo sozinha e... te liguei. Desculpe você deveria ter mais o que fazer.

-Anne, sabe que sempre que precisar é só ligar. Vou estar sempre aqui. Eu prometo que estarei sempre contigo. –Enlacei nossas mãos em cima do banco.

-Não faça promessas que não pode cumprir. –Joanne sussurrou, enquanto puxava sua mão de volta. Aquela reação foi tão inesperada que permaneci sem ação.

Fiquei apenas olhando para o seu rosto, tentando buscar uma resposta. Qualquer coisa que explicasse porque eu gostava dela. Porque mesmo agora eu não me levantava e ia embora. Mas eu não conseguia sequer deixar de olhar seu rosto. De tantas garotas no mundo eu tinha que gostar de uma tão complicada, tão contraditória e tão inesperada. Mas por outro lado ficar com ela era a única coisa que parecia fazer sentido.

-Desculpe, não devia ter te ligado. –Ela disse por fim, sem nem sequer olhar para mim, sua voz fria e sem emoção.

-Mas ligou. –Falei, sem entender porque ela estava fazendo tudo isso.

-Sério Lucas, vai embora. –Joanne falou sua voz com o mesmo tom impassível de antes.

-Por quê? –Perguntei a ela, sem sair de onde estava.

-Por que eu estou te pedindo. Porque estou cansada de promessas vazias como as que você fez agora mesmo. Meus pais me fizeram promessas deste tipo, Christian fez promessas assim. E todos eles me decepcionaram me deixaram. Estou cansada disto tudo. –A garota falou, me olhando novamente, com os olhos cheios d’água.

-Eu não sou eles. Eu não vou te deixar, nunca.

-Como pode ter tanta certeza assim? –Ela perguntou, voltando a ser irônica.

-Apenas sei, dá para entender? -Joanne e eu ficamos nos olhando por longos instantes.

-Não. –Ela sussurrou. Em um ato reflexo peguei o caderno e a caneta.

You make me happy whether you know it or not

(Você me faz feliz quer você saiba disso ou não)

We should be happy that's what I said from the start

(Nós deveríamos ser felizes, foi o que eu disse desde o início)

I am so happy knowing you are the one

(Estou tão feliz sabendo que você é aquela)

That I want for the rest of my days

(Que eu quero para o resto dos meus dias)
For the rest of my days

(Para o resto dos meus dias)

Your all of my days

(Você é todos os meus dias)

Olhei mais uma vez para a garota ao meu lado que agora me olhava com certa curiosidade. Seus cabelos sacudiam ao vento, mas não batiam em seu rosto, já que ela usava uma fita azul como tiara.

You’re looking so cool your lookin so fly

(Você está parecendo tão legal, tão descolada)

I cant deny that when I'm staring
 (Não posso negar que enquanto estou te olhando)

I wanna try to be the person you want

(Eu quero tentar ser a pessoa que você quer)

The person you need

(A pessoa que você precisa)

It's hard to conceive

(É difícil imaginar)

That somebody like you could be with

(Que alguém como você pode estar com)

someone like me

(alguém como eu)

-O que você está fazendo? –Ela me perguntou enquanto eu parava de escrever. Lancei-lhe um olhar obliquo.

-Compondo uma música. Mais uma, para você. –Respondi enquanto lhe passava o caderno. Seus olhos passaram rapidamente pelas linhas curtas, pelos versos que eu tinha recém feito.

-E quando você, Lucas, vai entender que o que é realmente anormal é um garoto tão fofo gostar de uma garota como eu? –Joanne falou.

-É, você possivelmente tem razão. –Falei cinicamente.

-Você está sendo irônico? –Ela perguntou incrédula.

-Aprendi com você.

-Agora mesmo que eu não vou para o céu. Desvirtuando garotos inocentes!

-Posso pensar em outros modos que você pode desvirtuar o “garoto inocente”. –Devagar cheguei com meu rosto mais perto do seu, fechei meus olhos enquanto nossos lábios se uniam em um beijo.