Ouija - Não Saia Sem Pedir Permissão escrita por Miarah


Capítulo 3
Capítulo 3 - Don't leave the house.


Notas iniciais do capítulo

Olá, desculpem a demora! É que eu estou sem computador e tenho aula de segunda à sábado e a tarde nos dias de semana, mas vou dar um jeito de regular o tempo e tentar postar com mais frequência! Obrigada pela atenção e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585192/chapter/3

Eu não dormia há dois dias, minha mente estava cansada e o meu corpo mais alerta do que nunca. O horror escalava friamente minha coluna vertebral, e doía. Doía ainda mais saber que o pavor que tinha me tomado, era real. Ao ouvir aquele barulho da cozinha, eu soube: precisava ir lá, alguém precisava de mim – mas por um segundo eu tentei não me importar.

Com meus joelhos cravados no chão, ouvi os pés descalços de Mary correndo em desespero atrás daquela voz – maldita voz que se eu tivesse sorte, só ia me assombrar pelo resto da minha vida. Recuperando o meu fôlego, fui em direção ao espelho do banheiro do quarto de Jô, me aproximei da pia, abri a torneira, fiz uma concha com a mão e capturei um pouco de água fria, levando-a diretamente ao meu rosto, tentando acalmar rugas de expressão que tinham surgido nas últimas horas.

– O que há de errado comigo? – sussurrei com os olhos inchados e avermelhados.

Meu reflexo repetia minha expressão de pavor com os olhos arregalados e eu fitava minha imagem, que de repente sorriu, caindo em gargalhadas. Eu tenho certeza de que eu não sorri.

Pela primeira vez desde a chegada em Mistiness City, Mary pôde relaxar seus músculos ao entrar debaixo da água quente do chuveiro, e nunca se sentiu tão aliviada. Passou a mão por seus fios loiros – que antes eram perfeitamente cuidados – e que naquela hora, caía aos montes e escorria diretamente pelo ralo. Teve de conter um grito naquele momento, porque já não era a mesma menina bem cuidada e segura de si que todos conheciam; O medo muda as pessoas.

Tudo que ela conseguia pensar era no quanto queria ir embora, e que se dane a Jô. A culpa não foi dela quando sua amiga resolveu entrar em crise. Remoeu aquela frase por alguns segundos:

– Amiga – sussurrou.

Afinal, o que sabíamos sobre Jô? Conhecíamo-la desde que entrara para o curso de publicidade e propaganda, no qual se isolava do resto da turma no princípio. Por pena, Clara começou a conversar com ela e aos poucos, todas nós deixamos a entrar no nosso ciclo social. Ela nunca falava sobre si, nunca falara sobre seus pais nem onde morava. Mas pensamos que isso não importasse no início, talvez ela só estivesse tímida e precisasse de mais um tempo para criar certa confiança. Passou-se um período na faculdade e decidimos fazer essa viagem – Jô definitivamente foi a mais animada quando ouviu Giu recitar as histórias de terror que seu pai contara a ela quando mais nova.

Enquanto fazia uma lista mental sobre as coisas que ela sabia sobre Jô, ouviu um barulho estranho vindo do andar de baixo.

– Droga, o que foi agora? – questionou. – Giu? Você está aí?

Não obteve respostas.

Desligou o chuveiro, abriu a porta do box e saiu, agarrando a toalha e secando as gotas que ainda não haviam evaporado de sua pele clara. Localizou suas roupas e vestiu-as com pressa, abrindo a porta do banheiro e levando-a ao quarto.

Tudo estava igual, exceto a televisão que saíra do ar. Mary tentou mudar o canal sem êxito e depois desligou. Ao colocar a mão na maçaneta, ouviu um barulho irritante vindo da televisão, e ao olhar, identificou a imagem da cozinha da casa que estavam e o corpo de uma menina rastejando e deixando rastros de sangue enquanto murmurava de dor.

– Clara? – a loira questionou enquanto corria drasticamente do seu quarto à cozinha, quase caindo das escadas ao pular alguns degraus.

Ao chegar à cozinha, ficou enjoada com o cheiro forte de sangue e a visão de sua amiga implorando por sua ajuda, mas ignorou o desconforto correndo em direção à Clara e levantando sua cabeça que escondia as mesmas olheiras que ela, abraçou-a forte e perguntou:

– O que aconteceu com você? Pelo amor de Deus, me responde.

Clara tossia e não conseguia dizer uma palavra, quando Mary passou as mãos sobre seus braços e Clara agoniou de dor.

Ao se afastar, percebeu que o sangue dominara suas mãos, e ao olhar o braço de Clara, percebeu que ele estava todo cortado e formando letras como se tivessem sido escritas com uma lâmina.

– Oh Meu Deus Clara, o que houve com você? Olha, não precisa falar, eu vou te ajudar, nós precisamos limpar esse sangue e estancar o sangramento antes que a situação piore, e depois disso eu vou te levar direto pro hospital, o.k.? Amiga, fica comigo. – falava em um tom alto e claro com sua voz falhando algumas vezes e sua testa pingando suor.

Em um movimento rápido, Mary já estava de pé puxando a toalha do lado da pia e molhando-a, correndo em direção à Clara e pressionando levemente os cortes em seu braço.

Ao ouvir passos vindo em direção à cozinha, ela abraçou fortemente sua amiga e começou a rezar com os olhos fechados, quando uma voz quebrou o silêncio:

– O que aconteceu aqui? – Clara e Mary abriram os olhos ao reconhecer a voz de Giu e murmurar um “Graças a Deus”.

– Merda, Giullia! Aonde você estava? – Mary gritou pela primeira vez desde que se conheceram.

– Achei que tinha te falado que ia ver como a Jô estava. – se defendeu.

– Certo, e como ela está?

– Eu não sei, não consegui encontrá-la.

– Merda, merda, merda. Dá pra você me dar uma ajuda aqui? Eu não sei o que fazer, nós precisamos ir a um hospital agora! – Mary perdeu o controle de sua voz de novo.

– Não podemos, antes de achar Jô. Você acha certo deixá-la sozinha aqui?

Mary riu ironicamente.

– Se eu acho certo, Giu? Não, não acho! Mas se você não percebeu, tem muitas coisas que não estão certas por aqui. – enfatizou. – mas sei de uma coisa que é certa e é salvar a vida da nossa amiga.

– Deixe-me ver – Giu falou se aproximando das duas e retirando o pano enrolado no braço direito de Clara.

O sangue ainda era muito, então passou o pano por cima dos cortes vendo lágrimas escorrendo pelo rosto de Clara, mas não cedeu. Passou mais uma vez e a pele revelou letras que juntas formaram: Não deixem a casa.

– Nós não podemos sair. – Giu leu, tirando olhares de espanto das duas amigas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, se você chegou até aqui, deixe um comentário; O capítulo ficou pequeno justamente porque não tive tempo, mas vou tentar fazer o próximo bem grandinho! E sobre o método da limpeza da ferida, eu tentei colocar uma menina que não tivesse ideia de como lidar com a situação, mas que tentasse ajudar sua amiga! De resto, é isso aí! Beijos