Ouija - Não Saia Sem Pedir Permissão escrita por Miarah


Capítulo 2
Capítulo 2 - Please, Don't Turn Off The Lights.


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem do capítulo, e no final, se possível, deixe um comentário! É muito motivante e agradável saber a opinião dos leitores!



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Naquela hora já não havia mais barulho de conversas ou de risadas. Apenas o das gotas que desformavam num estralo ao se deparar no chão lá fora. Enquanto Clara foi buscar um edredom para colocar sob o corpo de Jô, Mary foi fazer um chá para ela. Eu continuei sentada ao seu lado, tirando seus cabelos castanhos do rosto e sentindo no toque sua pele facial gelada.

Ela ainda não tinha dito nem uma palavra, apenas olhava para mim com os olhos mais esbugalhados que eu já tinha visto.

– Você acha que foi um ataque do pânico? – Clara apareceu na porta segurando o cobertor.

Andou direto à Jô e a cobriu até o pescoço, passando as mãos rapidamente em seu corpo coberto tentando criar um atrito para gerar mais calor.

– Eu não sei... Mas você não acha melhor irmos ao hospital? – Questionei, procurando as mãos de Jô para poder segurar.

– Acho, mas amanhã. Agora ela precisa de um tempo para se recuperar do susto. Afinal, olhe para ela, está trêmula e branca como a névoa. Ela precisa descansar. – Completou.

Sem querer render assunto, fiquei quieta apenas do lado de Jô, quando Mary chegou com o chá e levou-o direto à cama. Também sem dar nem uma palavra.

Passamos muito tempo nos preocupando com como Jô estava, e sequer percebemos que Mary estava relativamente igual: Seu rosto coberto pelo horror, sua pele gélida e mãos trêmulas. Ela quase não estava falando, e acho que Clara também notou isso, mas preferiu ignorar assim como eu, porque já estávamos supersaturadas de problemas para aquela noite.

Clara sugeriu que deixássemos Jô dormir um pouco e nos reuníssemos na sala para conversar, e nós concordamos.

Dando um beijo na testa de Jô, disse para ela:

– Tente dormir um pouco, e se precisar de qualquer coisa, não hesite em pedir, estaremos no andar debaixo, sim?

Os olhos de Jô se fecharam em uma forma de afirmação, quando ela apertou minha mão e sussurrou um “Obrigada” – Foram suas primeiras palavras até agora.

Clara e Mary saíram do quarto, e quando fui me levantar para ir atrás, Jô agarrou violentamente meu braço e disse:

– Se algum dia eu tivesse que matar vocês três, você seria a última, Giu. Sempre foi minha favorita. – E sorriu com os dentes cerrados.

Minhas mãos começaram a tremer e eu respondi gaguejando:

– Tente dormir, que-querida.

Quando Jô deitou de uma forma confortável e fechou os olhos, fiz o meu caminho até a porta e quando coloquei a mão no interruptor de luz, ouvi a voz dela vindo da cama:

– Se importaria de deixar acesa?

Já não sentia mais os meus pés, era como se eu só estivesse andando até agora pela adrenalina, e precisasse urgentemente de algum lugar para desmoronar.

– Tudo bem. – Respondi dando o sorriso menos confortável que já existiu.

O caminho curto até a sala pareceu extremamente longo, a cada passo que eu dava me sentia sendo observada, mas não havia ninguém. Tentei fazer o mínimo de barulho possível enquanto o chão velho de madeira rangia dedurando minha localização. Ao chegar ao topo da escada fiquei com medo de minhas pernas não aguentarem chegar até o final – Não sou católica, mas naquele momento nada mais me restava do que implorar a Deus por misericórdia; Peguei no corrimão com toda a força que consegui herdar naquele momento, e ao levantar a perna esquerda, ouço uma voz que me deu um susto tão grande que quase me derrubou da escada:

– Você está bem, Giu? – Era Mary, que se posicionou ao meu lado, colocando seu braço direito debaixo do meu esquerdo como apoio.

Minha garganta secou e eu na defensiva respondi:

– Graças a Deus, Mary. Tive a maior câimbra do mundo aqui.

Olhando de soslaio para ela, tive certeza que ela sabia que eu estava mentindo – mas estava mais assustada que eu – se é que era possível. Ela me guiou até o último degrau em passos pausados, quando Clara nos viu e correu em nossa direção.

– Giu, está tudo bem?

– É só uma câimbra – respondi. – Mary, me ajude a ir até o sofá? – Mary concordou com a cabeça e com Clara do meu lado, fui guiada até lá.

Sentei no sofá na companhia de Mary e Clara sentou em uma poltrona vermelha; todas nos encaramos por alguns minutos sem saber o que dizer, mas o silêncio foi quebrado:

– Uau, o que aconteceu aqui, não é? – Clara falou tentando descontrair, tirando uma risada falsa minha e de Mary. – Quer dizer, primeiro alguém trapaceia no Ouija, depois a Jô aparece tendo um ataque do pânico;

– Você realmente acha que foi isso que aconteceu? Um ataque do pânico? – questionou Mary.

– Você tem outra resposta? – Clara atacou.

E o silêncio governou de novo.

– Tudo bem, esse clima está horrível. Sem ressentimentos, podem me dizer: Quem foi que mexeu o ponteiro do jogo? – Clara de novo questionou.

Observei a cabeça de Mary se abaixar encarando suas cutículas como meio de se calar; Eu resolvi abrir a boca:

– Não fui eu.

E Mary se defendeu:

– Nem eu.

Clara nunca foi boa atriz, por dentro de seus olhos todas sabíamos o que ela sentia: quando estava afim de alguém, quando fazia besteira – mas a expressão mais conhecida era: quando mentia.

– Tudo bem gente, fui eu. – Falou, dando gargalhadas desesperadas. – Só queria ver a cara de vocês. Desculpem se eu peguei pesado.

– E o quê você tem a dizer quando tirou a mão do ponteiro e ele continuou movendo? – Mary perguntou, com raiva em suas palavras.

– Mas Mary, eu não tirei a mão do ponteiro.

E de novo os olhos dela revelavam a mentira descarada. Ela queria colocar a culpa em alguém, e como ninguém aceitou, se culpou. Mas no fundo, todas sabiam: Não fora nenhuma das três.

Os minutos se passavam, e ninguém mais estava no clima para conversar, mas reparei os olhos de Mary em uma sequência momentânea: eles se fechavam de sono, e rapidamente se abriam, assustados. Minutos se passavam, e se fechava de novo. E abriam.

– É melhor irmos dormir, temos um longo dia pela frente amanhã. – Mary rapidamente concordou.

– Sim, eu só vou pegar água na cozinha e também vou. – Disse Clara.

Eu e Mary nos retiramos da sala, e, com minhas pernas já recuperadas, consegui com sucesso ir para o quarto. No caminho, Mary implorou:

– Giu, posso dormir com você?

Dando graças a Deus ao pedido, respondi que sim.

Clara seguiu até a cozinha, com seus olhos pesados de sono, tropeçando algumas vezes no próprio chão.

Ao acender as luzes da cozinha, seu coração descompassou de tanto susto que levou: Jô estava sentada de costas em uma cadeira na frente do balcão, e havia sangue pingando em volta dela.

Ela fazia movimentos tranquilos, e ria, com seu braço direito fazendo movimentos de como se ela estivesse cerrando alguma coisa, e o sangue continuava a pingar.

– J-Jô? – Clara falou, se aproximando ao lado dela, ao ver que o que segurava era uma faca, e o que serrava eram seus dedos.

O cheiro era forte, e Clara ficou tonta. Posicionou na frente dela, e colocou a mão em seu ombro, para que ela levantasse a cabeça – e se arrependeu disso no mesmo minuto: Jô levantou o rosto com os olhos totalmente virados e completamente brancos, atacando Clara com a faca e fazendo um corte no braço dela na tentativa de se defender.

Clara afastou-se rapidamente, sem dar atenção para seu braço cortado e bateu suas costas violentamente no fogão que era coberto por panelas, e todas se caíram sobre sua cabeça.

A última coisa que Clara viu foi Jô correndo em sua direção com a faca em suas mãos, preparada para golpeá-la fatalmente e rindo perturbadoramente – e tudo ficou escuro.

Eu e Mary íamos em direção ao quarto que me foi designado, em silêncio. Cada ranger das paredes despertava nosso medo, então nos demos as mãos.

Chegamos ao quarto e eu peguei meu pijama, fui para o banheiro para poder coloca-lo e fazer minha higienização diária. Após o pijama colocado e os dentes escovados, deixei o banheiro e Mary já estava pronta para entrar.

– Só vou dar uma olhada na Jô e já volto, tudo bem? – Perguntei.

– Claro, só não demore. – suplicou.

Abri a porta do quarto, fechando-a a seguir. Com minha pantufa estrategicamente calçada para não fazer barulho no chão, fui com passos leves até o quarto de Jô, que já não parecia mais tão assustador. Respirei aliviada ao chegar a sua porta, girando a maçaneta para a direita lentamente, tentando fazer o mínimo de barulho para que eu não a acordasse. E toda a calma se transformou em desespero.

A luz estava apagada, e uma forma humana negra estava de pé, em frente à cama de Jô, acendi rapidamente a luz, e a forma desapareceu.

Meu coração estava completamente descompassado e meu estômago se revirava, apaguei de novo a luz e a sombra voltou, me fazendo tampar os olhos rapidamente e acendendo novamente a luz.

– P-por favor. Deixe a luz acesa. – Uma voz, vindo debaixo do cobertor suplicou.

Mas a voz não era de Jô.

Minha perna novamente falhou quando dei um passo falso em direção à cama. Eu não sabia quem estava lá. Mas eu não podia ir embora sem olhar. Meus olhos já expeliam o pavor que estava dentro dele, em forma de lágrimas; aproximei-me e, com a mão trêmula, segurei no cobertor. Lentamente fui tirando de cima do volume no cobertor e naquela hora, já não conseguia mais respirar. Minha mão fraquejou e eu puxei o resto rapidamente, e o que havia lá me fez duvidar da minha própria sanidade: Ninguém. Nem a Jô nem travesseiros fazendo a forma de um corpo. Mas tinha volume antes de eu ter tirado, e também havia uma sombra que desapareceu quando eu acendi as luzes. Caí de joelhos do lado da cama e comecei a chorar histericamente, quando ouço um barulho vindo da cozinha de panelas batendo ao chão. Eu não queria ir lá.


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Notas finais do capítulo

Olá, se você chegou até aqui, deixe um comentário :) críticas construtivas são sempre bem-vindas! E obrigada pela visita!