A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 21
Diving - Part 2


Notas iniciais do capítulo

Gente, MIL DESCULPAS pela demora.
Essa semana foi, ó, uma bosta.
Espero que o capítulo também não tenha ficado.
Espero não ter perdido leitores... :(
Puxa... acho que estou perdendo o amor da galera...
Boa leitura!



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RONY

Quando já estava fora da vista espantada das náiades na água, comecei a retirar as pedras que recobriam o pequeno domo de rochas desmoronadas.

Finalmente, depois do que pareceram vários minutos, consegui adentrar na caverna de pedregulhos.

Assim que entrei, voltei a ficar parcialmente submerso no rio. O desabamento formara uma grande redoma, absolutamente coberta e sem nesgas de luz.

Apanhei a varinha que estava em meu bolso.

– Lumos.

Minha varinha iluminou o ambiente, ampliando-se ao redor de mim.

– Calíope?

Onde estaria a náiade líder? Eu não ouvia nada além de gotejamentos vindos das pedras e minhas pernas movimentando-se, submersas na água.

Finalmente, ouvi um sibilinho de dor vindo do fundo do canal de pedras.

Alguns galhos se destacavam em meio ás pedras, provavelmente arrancados e carregados pelo desmoronamento. Aquilo me deu uma ideia.

– Incendio!

Os galhos pegaram fogo, ampliando ainda mais minha visão.

O sibilo ecoou de novo, mais assustado do que feroz.

Finalmente, visualizei a silhueta caída e encolhida perto das rochas á beira do rio.

Quando me aproximei, mordi o lábio, arrepiado.

Um fragmento afiado de pedra se destacava para fora da perna da náiade, que estremecia de dor, parcialmente mergulhada na água. O sangue brotava do ferimento, tingindo a água de vermelho.

Eu sabia muito bem que aquela água não seria suficiente para mantê-la viva. Ela precisava voltar ao rio.

Cheguei mais perto, segurando a varinha.

VI os olhos de Calíope se fixarem em mim.

Podia ler a mistura de desespero e ódio em seu olhar.

“Vocês conseguiram... espero que estejam felizes.”

Suspirei. Parecia que a ninfa ainda queria fazer picadinho de mim.

– Calma, Calíope.

VI-a se arrepiar, contraindo levemente o corpo – o que justificou a contração de dor em seu rosto, quando a perna traspassada se movimentou.

“Não diga meu nome!”, ouvi a voz raivosa em minha cabeça.

Balancei a cabeça, finalmente chegando a menos de um metro dela.

– Pare com isso – revirei os olhos – eu só vim ajudar.

“Mentiroso!”, ouvi-a gritar enquanto me encarava. Sua voz mesclava angústia e raiva quando continuou, virando o rosto para baixo. “Seja lá o que for fazer comigo, faça de uma vez. E me mate logo. Não quero ter que agüentar muito tempo.”

– Céus, Calíope – ignorei quando ela fechou a cara para mim – você não ouviu? Eu só vou te ajudar. Por que acha que vou te fazer mal? Não vou matar você.

Seus olhos, brilhantes como esferas de ouro, voltaram a me olhar.

“Por que é isso que todos vocês fazem! Há séculos vocês fingem que vão ajudar meu povo, e tudo que fizeram foi se aproveitar de minhas irmãs e nos matar!”

– Vá por mim – dei mais alguns passos lentos, parando quando Calíope sibilou – eu não tenho a menor vontade de sequer pensar nisso.

Estava começando a me sentir penalizado. Pobres náiades... o que deviam ter visto e vivenciado durante todas aquelas décadas? Dava-me nojo só de pensar nas atrocidades que os Comensais da Morte deviam ter feito com elas...

Sim, eram criaturas encantadoras. Era impossível não sentir alguma atração por elas.

Mas isso nunca justificaria nada que os homens fizessem com elas.

Ouvi, surpreso, Calíope suspirar em minha mente.

“Está falando da minha humana? A garota que eu vi?”. Ela piscou, quase petulante. “Eu não duvido nada que esteja enganando também esta pobre coitada.”

Guinchei, exasperado. Calíope era tão cabeça-dura quanto Hermione. Tinha mesmo a quem puxar.

Decidido, cheguei finalmente até a perna ferida, ajoelhando-me diante dela.

Calíope se contorceu, rosnando. Não fiquei muito animado quando vi seus caninos por trás dos lábios rubros. Parecia que a única coisa que a impedia de me dilacerar era justamente a perna presa.

O que fez minha ficha cair.

Num movimento rápido, joguei minha varinha á uns quatro metros atrás de nós.

Calíope ergueu as sobrancelhas, parecendo surpresa.

– Pronto... desarmado, tudo bem? – ergui as mãos, como quem cedia – posso te ajudar agora?

Segurei o tornozelo dela, num movimento suave, tentando acalmá-la.

A reação de Calíope foi impressionante. Ela arregalou os olhos, ficando levemente boquiaberta, toda a raiva esvaída de seu rosto.

Aquilo parecia tanto com a reação de Hermione ao meu toque que a lembrança quase me desequilibrou.

– Vou só tirar essa pedra de dentro da sua perna. Posso? – murmurei – você precisa voltar para a água.

Calíope não respondeu, mas tampouco fez menção de tentar se encolher de novo.

– Escuta... – levei as mãos á pedra pontiaguda que emergia de sua perna, tentando ver aonde poderia arrancá-la – o nome dela é Hermione. E vou dizer isso á você, já que não vou falar isso para mais ninguém... eu a amo. E eu sei que vocês não acreditam nisso...

“Nunca tivemos motivos”, ouvi, estarrecido, Calíope choramingar. “Os humanos são cruéis e assassinos. Quase todos são...”

– Quase? – me atei à palavra, tentando amansá-la – então sabe que existem bruxos bons?

Ela virou o rosto, parecendo subitamente interessada em uma das pedrinhas caídas na água.

“Eu não tive a mesma... sorte... das minhas irmãs. Tinha tudo para odiar os humanos.”

Calíope se virou para mim outra vez.

Você me confunde... tanto quanto...”

A voz em minha mente se calou.

Mas eu já tinha pegado a referência.

– Foi um humano, não foi? - senti um arrepio - ele te usou... também?

“Fez bem pior...”.

Senti meu estômago se afundar quando ela respondeu.

“Ele roubou meu coração.”

– O que aconteceu com ele? – perguntei, em parte curioso, em parte tentando distraí-la da provável dor que sentiria quando eu tirasse sua perna da pedra.

“Por que quer saber?”, Calíope pareceu na defensiva.

– Desculpe... estava curioso. Não precisa dizer.

Fiquei mais alguns segundos averiguando o ferimento, antes que ouvisse a ninfa sussurrar.

“Ele foi morto.”

Parei de mexer na pedra, pasmo, olhando para Calíope.

– Sinto muito.

Os olhos na penumbra, para minha aflição, começaram a verter lágrimas.

“Ele era... diferente. Tão diferente quanto... você parece. Mas eu não podia simplesmente chegar para meu rebanho e dizer que os humanos eram confiáveis, depois de tantas vezes em que minhas irmãs foram abusadas e mortas por iguais... á ele. Tive que manter segredo... e ainda mantive... até hoje. O que seria um grão de bondade num mar de crueldade?”

– Eu me perguntava a mesma coisa quando saí por aí para salvar o mundo bruxo – comentei, bufando – mas quer saber? Fez a diferença... – acrescentei, compassivo – e parece ter feito diferença para você.

Ela piscou, confusa.

– Você parou para pensar... não nos atacou na hora... lá fora. E você parece ainda sentir muita falta dele... ele foi um bom homem, então.

Calíope abraçou o próprio corpo, soluçando.

– Eu vi Nina – falei – é uma menininha linda... – perguntei, tenso – é filha... dele?

Calíope assentiu. Vi, em seu olhar, o orgulho e a dor de uma mãe.

“Tem os olhos dele... são tão bonitos...”.

Finalmente, achei a base certa para quebrar a pedra.

– Vou precisar usar... minha varinha. Para quebrar a pedra.

Vi a ninfa envergar a cabeça para o lado.

“É... insano. É por isso que eu prefiro odiar os humanos. Eles acham que nós mexemos com eles... mas não fazem ideia do como eles também mexem conosco. Vocês são... incompreensíveis. Extremos. Em uma hora são como irmãos... na outra, matam o próximo sem remorso. Matam o próximo...”.

Sua voz terminou numa lamúria sofrida.

Não era preciso ser gênio para perceber que ela ainda amava o humano pelo qual se apaixonara.

E isso me fez quase odiar também a raça a qual eu pertencia.

Meu coração parecia pesar quilos.

Pobre Calíope... parecia ter vivido os últimos anos com o mundo nos ombros.

– Eu realmente... sinto muito.

Num ímpeto, segurei a mão dela.

Calíope arfou, piscando.

– Posso usar... a varinha? – sorri, tentando deixá-la mais calma – prometo que não vai te machucar.

Finalmente, vi aquele rosto, tão parecido com o da garota que eu amava, relaxar subitamente.

O sorriso fraco de Calíope pareceu dissipar qualquer barreira que ainda houvesse entre nós.

“Se quisesse me matar ou se aproveitar de mim, já teria feito isso.”.

O sorriso dela sumiu.

“Parece que eu errei de novo. Como errei com Frank. Perdoe-me. Você é um bom rapaz.”

– Eu que peço desculpas... – franzi o cenho – na verdade, não fosse esse maldito estágio, nem teríamos incomodado vocês... e provavelmente, tudo isso não teria acontecido.

Voltei para apanhar a varinha que jogara, retornando até a perna de Calíope em seguida.

“Sua Hermione é uma mulher de sorte.”

Sorri para Calíope, enquanto cortava a ponta da pedra com a varinha.

– Queria que ela ouvisse isso – mordi a língua, brincalhão – se bem que, provavelmente, ela teria um ataque de ciúmes e me esquartejaria.

“Duvido”. Pela primeira vez, a voz em minha cabeça parecia divertida. “Ela deve te amar muito.”

Terminei de cortar o pico da pedra, deixando apenas a base, que ainda aparecia dentro do tornozelo esquerdo da náiade.

– Vou ter que puxar a perna pra fora da pedra. Vai doer um bocado – olhei-a, preocupado.

“Tudo bem. Eu agüento”.

Calíope encostou a cabeça na base da pedra mais próxima, com as feições contraídas.

Segurei a perna dela com as duas mãos. Com medo de machucá-la ainda mais, firmei os dedos nos ossos do tornozelo para que não escapasse.

Numa puxada rápida, levantei-a e a tirei da pedra.

Calíope gritou de dor, caindo parcialmente nas pedras de trás.

– Desculpa!- arfei, deitando a perna de Calíope na água.

Eu estava ficando preocupado com a palidez anormal que parecia aumentar cada vez mais em Calíope. Eu tinha que levá-la de volta ao rio. E logo.

“Tudo... bem.”. Ela gemeu, ofegante.

– Eu não sei como curar isso. Vocês têm algum método curativo?

Calíope levantou-se com dificuldade da rocha em que deitara.

“Água... se eu voltar ao rio, o ferimento vai se fechar.”

– Bom, sendo assim... – me aproximei dela, erguendo os braços – segure meu pescoço... vou te carregar pra fora.

Ela estreitou os olhos.

“Por que está fazendo isso, afinal?”

– Fazendo o quê?

Calíope revirou os olhos. Parecia tanto com o que Hermione fazia que tive vontade de rir.

“Salvando minha vida. O que vai ganhar com isso?”

– Hum... uma consciência limpa e, quem sabe, uma permissão para meus amigos saírem vivos daqui. Sei lá...

A boca de Calíope se ergueu nos cantos. E o som mais inacreditável do mundo ecoou na caverna.

Ela riu.

Uma risada trêmula e fraca, mas ainda era uma risada.

– Nossa... é tão fantasioso assim? – indaguei.

“Não... faz sentido. Tirando essa coisa de consciência limpa...”. Ela deu um sorriso sarcástico, levemente distorcido pela dor e fraqueza. “A mente dos seus amiguinhos lá fora estava tudo, menos limpa.”

Ergui a sobrancelha.

– Escuta aqui, ninfa, você e suas amiguinhas bonitonas também não são o centro do Universo. Pelo menos pra gente. Então mantenha essa arrogância no lugar dela, se puder.

Minha nossa. Aquilo era tintim por tintim quase idêntico ás brigas que eu tinha com minha noiva.

Calíope era praticamente a encarnação da humana da qual era dimon. Aquilo era atordoante.

Ouvi Calíope dar outra risadinha enfraquecida.

Ouvir uma náiade rindo – rindo de verdade, sem segundas intenções ou com maldade – devia ser algo inimaginável. Impossível. E lá estava eu, ajudando uma ninfa, que ria de mim como se fôssemos velhos amigos.

Parecia que, pelo menos naquele ninho, eu já conseguia fazer algo positivo. Quem diria...

– Ei, saco de riso... melhor irmos para fora.

Calíope ergueu o olhar para mim, parecendo indecisa.

Por fim, ergueu os braços, enlaçando-os em meu pescoço.

Puxei-a para meu colo, certificando-me que sua perna ferida não esbarrasse em nada enquanto saíamos.

A náiade era tão leve quanto uma criança. Mal pesava em meus braços.

Evitei olhar para Calíope enquanto capengávamos de volta para a saída do domo de rochas.

Ter salvado sua vida e ouvir sua história me deixou com uma vontade estúpida de chorar.

Talvez fosse por que eu entendia muito bem o que era ver as pessoas que nós amávamos sofrendo e morrendo ao nosso redor.

Como alguém podia fazer aquilo com ninfas? Tudo bem que elas sabiam se defender razoavelmente, e que talvez tenham desenvolvido um conceito errado sobre humanos, e até mesmo matado alguns de nós... mas nada justificava aquilo. Nada.

Quando saímos da caverna, fiquei perplexo quando percebi que o sol já estava se pondo. Quanto tempo nós havíamos ficado lá dentro?

– Ali! – ouvi alguém berrar.

Vi Neville acenar freneticamente do barco. Para minha satisfação, as náiades pareceram chocadas quando viram sua líder sendo guinchada por ninguém menos do que um humano.

Mergulhei as pernas de volta no rio corrente, descendo Calíope delicadamente até a água.

Ela estremeceu em meus braços quando o rio banhou sua perna machucada.

Mas, para meu contentamento, o simples contato com a água do rio bastou para que o rombo na perna de Calíope se fechasse magicamente.

A ninfa escapou de meus braços, mergulhando por inteiro no rio.

Acenei para os meus colegas. Entre eles, vi Marcus, parecendo ter acabado de se recuperar do desmaio, com cara de quem não estava entendendo nada.

Enquanto as náiades se reuniam até onde Calíope emergiu, alguns metros adiante de mim, aproveitei para nadar de volta ao barco.

“Calíope! Calíope!”. Ouvi o coro de alívio das ninfas.

“Estou bem.”, Calíope respondeu.

“Pensamos que ele tivesse...ah, senhorita” soluçou a dimon de Luna.

“Estou bem, Megara. Ele não me fez nada.”

Vi várias náiades me encararem com perplexidade enquanto Noot e Dino me puxavam para dentro de nossa embarcação.

Marcus só balançava a cabeça, aparentando estar completamente atordoado.

– Weasley... o que...

“Mamãe!”, ouvi Nina guinchar.

Virei-me bem á tempo de assistir a linda cena da pequena ninfa nadando como um golfinho em direção á Calíope, pulando num átimo nos braços da mãe, e chorando com soluços de cortar o coração.

“Mamãe... você ta bem!”

Calíope abraçou a filha, sorrindo e afagando os cabelos bastos da pequena náiade.

“Oh, minha menina... está tudo bem. A mamãe está aqui...”.

– Não sei o que você fez, Rony – Neville parecia encantado da vida – mas funcionou. Cara...

Para nossa surpresa, Nina veio nadando até o barco, sorrindo. Eu podia ver, divertido, duas presinhas mínimas de leite na boquinha cheia de dentes.

“Obrigada por salvar a mamãe, moço.”

– Não foi nada – sorri, afagando a cabecinha dela, que deu uma risadinha animada.

As ninfas pareciam tão entretidas e abismadas quanto meus amigos pareciam estar.

Eu mal estava acreditando na repentina quebra de tensão que parecia estar surgindo ali.

“Obrigada.”, ouvi as náiades dizerem, me encarando, finalmente aparentando estarem á vontade.

Megara e Calíope se aproximaram outra vez do barco. Neville quase tropeçou em seus próprios pés quando a dimon de Luna se ergueu novamente na proa, rindo do susto do rapaz.

“Você me salvou, então nada mais justo do que lhe oferecer alguma retribuição.”. A dimon de Hermione levantou o corpo até ficar na altura em que eu sentara. “Basta pedir qualquer coisa.”

“Qualquer coisa mesmo.”, Megara acrescentou.

Olhei para a náiade loura, mordendo o lábio para não rir. Enquanto a humana dela era a timidez e loucura em pessoa, a dimon dela era uma assanhamento só.

– Bom... – Neville interveio, ficando lentamente vermelho – nós precisávamos seguir viagem, mas esse tronco está no meio do caminho. Se pudessem dar... – ele engoliu em seco quando Megara esbarrou a mão nele – uma mãozinha nisso... acho que não conseguiremos só com nossa magia...

Calíope sorriu, assentindo para as náiades ao redor.

Vi várias delas erguerem as mãos em direção ao tronco. Senti a água do rio correr violentamente na direção dele, mas, talvez pela intervenção de Megara, nosso barco manteve-se no mesmo lugar.

O tronco gemeu, guinchou e, após alguns segundos, desprendeu-se das margens, mergulhando na água e flutuando até esbarrar, com um baque, na margem mais adiante, finalmente abrindo passagem para nosso barco.

“Só isso?”, Megara falou, parecendo decepcionada.

“Acho que não, Megara”, Calíope balançou a cabeça, ainda apoiada no barco.

Senti a ninfa colocar algo em minha mão.

Ouvi sua voz em minha cabeça, tão reservada que eu só consegui deduzir que aquilo era o equivalente mental de um cochicho.

“Não desperdice. E não mostre a ninguém agora. Esconda-o”.

Obedeci, guardando o que quer que fosse no bolso da blusa.

Antes que qualquer um pudesse sequer ver, porém, Megara saltou para cima de Neville, agarrando seu rosto e – para meu choque – chapando-lhe um beijo na boca.

Neville recuou, tonto, enquanto a náiade voltava para o rio num salto, rindo descaradamente.

“Essa sua concepção de retribuição...”. Calíope torceu o nariz, mas parecia se divertir com meu amigo quase infartado sentado no barco com cara de quem queria morrer. “É desprezível... mas faz sentido.”

– É mesmo? – indaguei, petulante.

Você sabe o que acontece com um humano beijado por uma náiade? Ele nunca mais vai se afogar se estiver na água.”. Megara revirou os olhos, mordendo o dedo com uma expressão ousada. “E valeu a pena.”

“Louca”. Calíope piscou, me olhando humorada.

Porém, senti meu estômago dar um mortal triplo dentro da água quando os olhos cor de ouro rutilarem.

“Mas... quem sabe...”

Ah, não.

Ah, não, ah, não, ah, não.

Antes que eu pudesse sequer recuar, Calíope aproximou o rosto do meu.

Fiquei tão atordoado que mal consegui afastar minha boca dos lábios macios e gelados da ninfa.

– Merda!- guinchou Dino.

Senti um formigamento se expandir dali para o resto de meu corpo, como se eu tivesse entrado numa piscina de água escaldante. Mas – para meu desânimo – não era uma sensação ruim.

Calíope se afastou tão rápido, mergulhando de volta no rio, que eu ainda demorei a reagir.

Como num comando, todas as outras náiades também desapareceram rio adentro, sem sequer deixar vestígios de que haviam estado ali.

A última a mergulhar foi Nina, que me deu um adeusinho antes de sumir dentro da água.

Fiquei sentado ali, querendo ir á terra firme, cavar um buraco, me jogar nele e morrer.

– Que droga, Rony!

Olhei para Neville, que parecia perguntar em silêncio se ele podia também pular no buraco que eu queria cavar.

– Olhe só... quase morremos estraçalhados, e esses dois agora são “inafogáveis” – riu August.

– Se deu bem, Longbottom.

– Vê se morre, Noot – Neville choramingou, engolindo em seco.

Merda. Uma palavrinha tão pequena, que resumia tudo que eu estava sentindo.

Hermione me mataria. Não, ela me amarraria e me afogaria com a água Wicca. E nem esse selinho sem-vergonha da Calíope ia impedir que eu me afogasse.

Eu já me sentia afogado ali. Minha nossa.

– Será que um de vocês pode me explicar o que diabos aconteceu aqui? – esbravejou Marcus, que se mantivera calado e zonzo todo o tempo anterior.

– Longa história... dá pra contar no resto da viagem – engrolei, sacudindo a cabeça – Joseph, pode impulsionar o barco?

Enquanto Joseph erguia a varinha, eu sentei na divisão da frente do barco, finalmente sentindo o frio arrepiar minhas roupas encharcadas.

Maldita Calíope... e lá se ia minha promessa de nunca beijar mais nenhuma garota além de Hermione, por causa daquela tapada metida a ninfa irresistível.

Mas isso não me fazia arrepender-me de ter tentado ajudar. Aquela náiade merecia isso.

Passei o resto da viagem contando a Marcus o que acontecera. Para meu constrangimento, em vez de descer críticas, ele teceu elogios sobre minha “determinação” e “liderança sob pressão”, minha “iniciativa inusitada após a perda de consciência do tutor” que salvara todo mundo e o escambau, enquanto Joseph me olhava com cara de tainha.

Depois que eu já havia dito tudo, me vi fuçando o bolso aonde guardara o presente de Calíope.

Puxei levemente um vidrinho em minhas mãos, sem tirá-lo do bolso.

Fiquei surpreso quando vi o líquido rubro dentro do frasquinho.

Sangue de náiade.

Agora entendia por que Calíope dissera para esconder.

Devolvi-o ao fundo do bolso, suspirando.

Minha boca ainda estava fria por causa do beijo dela.

“Rony, acorda, seu inútil. Pare de pensar nisso.”, minha mente bufou.

Minha cabeça oca tinha razão. Por mais que aquilo tivesse – por favor, tinha que ter tido – intenções “nobres”, Calíope não devia ter feito aquilo. Não, não. Nem um pouquinho.

Hermione tinha razão. Ela parecia ter previsto que eu ia me encrencar feio.

Mas ela nem podia imaginar a enrascada em que eu me metera desta vez.

Enquanto navegávamos, pensei em Nina. A pequena ninfa nem tivera oportunidade de conhecer o pai. Ao contrário de outras ninfazinhas, ela poderia ter tido esta chance.

Pobrezinha...

Frank... por que o nome do pai de Nina não me era estranho?

Calíope disse que outro bruxo havia o assassinado.

Quando lembrei dos olhos de Nina, porém, minha boca despencou.

Eu sabia muito bem por que Nina me era familiar. Nem por que era filha de Calíope, que, naturalmente, era idêntica á Hermione.

Não...

Por que os olhos dela – os olhos...

Eram simplesmente da mesma cor e formato de Neville Longbottom.

Neville ainda estava tão atordoado com o ataque de Megara que nem percebeu meu assombramento.

Caramba... eu nem queria pensar... será que..?

Não podia ser...

O barco atracou repentinamente, com um movimento da varinha de Marcus.

– Senhor? – indagou Noot.

– Chegamos – Stark nos olhou, sério – está em meio á floresta daqui. O covil dos Comensais.


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Notas finais do capítulo

Comentários?
Se eu demorar a postar, não reparem. Não vou demorar mais que dez dias para um novo capítulo, prometo.
KIssus e até o próximo capítulo!



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