O Pesadelo de Ozob escrita por jboscosoares


Capítulo 2
O criador




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/584827/chapter/2

Tyrell Corporation era uma das maiores empresas do mundo. Sua sede em forma de pirâmide, que lembrava as antigas construções egípcias, podia ser vista de vários pontos da cidade. Foi transferida de Los Angeles para Delta City depois da Terceira Guerra Mundial. Criada e presidida pelo Dr. Eldon Tyrell, era a responsável por produzir replicantes e seus negócios se expandiam por todas as colônias.

“Ozob, você prrrecisa se acalmar”, Oleg já tinha perdido a paciência com o palhaço há muito tempo.

“Acalmar, nada. Nada! Eu não explodi o prédio da Google-Microsoft, mas vou acabar com esse.”

James Rexus dá uma risada e fala:

“Deixa o palhaço, Oleg. Certo, Ozob... Do lado norte da pirâmide, por baixo das estruturas da zona zero, há uma pequena passagem. Um corredor muito apertado usado para resfriamento dos exaustores. Você vai precisar se esgueirar por 120 metros até estar embaixo do túnel do elevador. Lá, você vai precisar causar uma explosão. O que não vai ser problema, acredito... Depois é só dar um jeito de subir.”

“SÓ dar um jeito de subir! SÓ dar um jeito de subir por um túnel de elevador de mais de um quilômetro... BABACA!”

“Você também pode bater na recepção e marcar uma reunião...”

“E é exatamente o que vou fazer, quero ver não me receberem quando virem isso!”, joga o sobretudo e exibe seu colete repleto de explosivos e começa andar. Oleg o segura e fala:

“Calma, Ozob. Você sabe que isso nunca darrria cerrrto. Mesmo que consiga entrrrar no prédio, em menos de um minuto até o exército corrrporrrativo estarrrá aqui. Você faz o que Rexus falou e nós lhe damos corrrbeturrra do lado de forrra. Se algo der errrado.”

“Só vou fazer porque o russo falou!”, Ozob pega seu sobretudo do chão.

“Claro!”, Rexus comenta com um sorriso.

“Só uma coisa, antes de eu ir!”, o palhaço veste seu sobretudo.

“O que?” os dois perguntam.

“Fala ‘Tyrell Corporation’, Oleg.”

“Vai prrra puta que o parrriu!”

Ozob gargalha.

A passagem sob as estruturas da zona zero eram bem mais apertada do que Ozob imaginava. Xingou Rexus durante todo o caminho, na esperança que ele pudesse ouvir de fora. O corpo inteiro preto de fuligem e cheio de poeira. O ar de resfriamento estava alguns graus abaixo da temperatura de fusão da água. Sentiu falta do traje espacial que usava em Pandora, mas sabia que, com ele, não passaria por ali. Seus lábios já tão vermelhos quanto seu nariz e cabelo. Durante todo caminho, havia passagens transversais que levavam para outros pontos da estrutura. Depois de se arrastar por 120 metros, usou seu sensor de pulso para detectar se estava no lugar certo. Confirmado, retirou um pequeno explosivo plástico do seu colete e o instalou na peça metálica. Voltou alguns metros e se escondeu entre os caminhos transversais. Ativou a explosão e apenas sentiu a massa de ar quente encontrar seu rosto. Resfriada pelo ar gelado do refrigerador, a temperatura não foi suficiente para queimá-lo. Voltou para o local da explosão e viu o túnel do elevador logo acima.

“Boa, Rexus. Mas continua sendo um babaca...”, diz para ninguém.

Ozob entra no túnel do elevador e sente o vento sair pelo buraco que abriu. O túnel era enorme. Podia ver, bem distante, as cabines dos elevadores se movendo em alta velocidade. Vários fios de eletricidade cruzavam as paredes e as cabines eram suspendidas por painéis eletromagnéticos. Precisava dar um jeito de subir. Pensou em pular, mas errar. Isso, provavelmente, não daria certo. Também não tinha o Androide ali para programar o elevador. É muito difícil trabalhar sozinho, pensou. E voltou a xingar Rexus.

O único jeito seria esperar um dos elevadores descer ao primeiro andar e se agarrar nele de algum jeito. Em baixo da cabine havia barras metálicas nas quais poderia se segurar e esperar o elevador chegar ao último andar, em algum momento.

Quando a cabine chegou ao andar, Ozob correu. Pulou pelas estruturas metálicas, as escalando, até chegar à cabine. Quando se segurou na barra metálica, ela começou a subir em alta velocidade. Ele ficou pendurado pelas mãos, fez força para cima e se prendeu com o antebraço. Mais um impulso e apoiou as pernas na outra barra paralelas. O elevador parou em vários andares. Ele acompanhava pela sinalização no túnel, utilizada pelas equipes de manutenção. Quando o elevador parou no penúltimo andar, usou as pernas como um trapezista e deu uma pirueta para trás. Agarrou as mãos nos fios de eletricidade encapados. Depois disso, exclamou:

“Tá-dááá!”

Ozob escala até o último andar agarrado nos fios com as mãos e usando os pés para dar impulso. Salta para o pequeno espaço da porta do elevador, enfia os dedos entre elas e empurra para abrir. À sua frente há um corredor mal iluminado. Caminha por ele de cabeça um pouco baixa e olhos para frente, como se preparasse o bote. Em seu rosto, um pequeno sorriso. Ao final vê uma porta, era o quarto do Dr. Eldon Tyrrel.

Abre a porta e encara um quarto amplo, sem muitos móveis e uma cortina esvoaçante ao meio. Ele caminha lentamente e olha, deitado, o homem que o criou. Seu coração bate forte. O sentimento que nutre por ele é confuso. Não consegue ser grato por um homem que, mesmo lhe permitindo existência, só lhe dera quatro anos de vida. Por melhor que eles fossem. Pega uma cadeira e a posiciona ao lado na cama, senta nela e coloca suas botas sujas sobre o lençol branco. Bate com uma das botas na cama produzindo um som oco.

Eldon Tyrrel abre os olhos devagar e o percorre pelo quarto. Veste seus grandes óculos. Enxerga ao lado aquele palhaço com uma granada no lugar do nariz. Ao contrário do susto que muitos teriam, ele expõe um largo sorriso e seus olhos brilham.

“Ora, ora. Que surpresa agradável!”, o olhar do cientista percorre o corpo de Ozob.

“Você não parece muito surpreso...”, Ozob acende um charuto.

“Eu sabia que você iria me procurar uma hora, só não sabia quando. Quer saber como viver mais, é isso?”

Ozob gargalha e responde:

“Claro que não. Estou satisfeito com meus quatros meses de vida.”

“Eu não acredito...”

“Acredite no que quiser, quatro olhos. Eu vim aqui por outro motivo”, Ozob joga as cinzas do charuto sobre o lençol, abrindo um buraco. Os olhos do cientista acompanham.

“Posso ter a honra de saber o motivo de uma das mais lindas criaturas que criei vir me procurar?”

“Sai daí! Nem se anima, não. Eu quero saber quem está atacando os prédios da Google-Microsoft.”

“Ah, você veio falar sobre isso...”, Eldon Tyrell ajeita os óculos no rosto, “bem, essa é uma história complexa.”

“Então é melhor você começar agora e terminar antes que meu charuto acabe”, as cinzas se acumulavam na ponta, a espera de qualquer movimento para caírem.

“Certo... Você sabe! Eu sou um homem de negócios, também. Apesar de preferir meu lado cientista. Mas não seria cientista sem as possibilidades que o homem de negócios proporciona.”

“Fala logo, cacete!”, as cinzas caem do charuto.

“Certo, certo... A Google-Microsoft controla a produção mundial de computadores neurais, o Google Brain. Praticamente monopoliza o mercado. As vendas do Tyrell Neurolaxy S6 caíram muito nos últimos anos e isso tem sido péssimo para as ações da companhia. O negócio dos replicantes ainda é bem lucrativo, com todo o respeito. Mas você há de convir que trazem muito problemas. Existe uma agência de polícia com um grande orçamento apenas para caçar vocês, imagina? E nós que somos obrigados a bancar grande parte. Os computadores neurais são muito lucrativos e não exigem a criação de nenhuma agência de polícia para caçá-los.”

“E o que eu tenho a ver com isso?”

“Nós precisávamos de uma unidade que fosse eficiente. E como você é o melhor exemplar já criado, nós o clonamos.”

“Vocês me o que?!”

“Clonamos... Você!”

“Me clonaram?! TU É BABACA, CARA?! Como assim me clonaram?”, Ozob levanta e sobe em pé na cama.

“Bem, não esperava que você entendesse, mas podemos entrar em um acordo”, Eldon recua sentando contra a parede.

“Onde estão esses clones? Quantos são?”

“Eu não sei dos detalhes.”

“Quem sabe?”

“A equipe de operação.”

“E onde eles ficam?”

“No centésimo sétimo andar... Mas fique calmo, eu posso entrar em um acordo. Posso prolongar sua vida...”

“Prolonga no seu cu! Quer saber de uma coisa?”

“Que coisa?”

“Dá uma bitoca no meu nariz!”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Pesadelo de Ozob" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.