O Pesadelo de Ozob escrita por jboscosoares


Capítulo 1
A explosão




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O ano é 2119. Delta City, Antiga Nova York.

As explosões foram ouvidas em diversos setores da cidade. Viaturas da polícia coorporativa riscavam os espaços entre os prédios e todas convergiam na mesma direção. Sobre as passarelas envidraçadas que interligavam os prédios, as pessoas olhavam o movimento. Assustadas sem entender o que havia acontecido. Em poucos minutos, todos os canais de notícia traziam a imagem daquele prédio gigantesco ruindo em câmera lenta para deleite dos expectadores. Notícia de última hora! Os impactos, de dentro para fora, se iniciaram na base e subiram em degradê por toda a estrutura. Um silêncio sombrio seguido dos estalos da estrutura ao desabar no sentindo oposto das explosões iniciais. Um instante depois, só restava uma coluna de fumaça. A imagem voltava a repetir com os gritos acalorados dos especialistas em algo que ninguém sabia.

Ozob é um replicante criado para exploração do satélite saturniano Pandora. Trabalhador de mineração, ele fugiu para a Terra e se tornou um mestre da arte do crime. Artista do submundo, ele tem na sua natureza palhaça um modo de vida. Albino, com cabelos ao lado da cabeça e uma granada vermelha no lugar do nariz.

Ele não lembra como chegou à boate. Olha para os lados e percebe como ela está quase vazia. Sentado no banco alto, bate forte com a mão fechada no balcão. O barman, que passa o pano em movimento circulares sobre uma mesa, vem em sua direção.

“O que você quer?”, cospe a frase.

“Eu quero outro...”, olha o copo à sua frente na tentativa de descobrir o que é. Como não tem nariz, não tem olfato, “seja lá o que for, eu quero outro!”

O barman apenas balança a cabeça e se vira para sair. Ozob segura seu braço, interrompendo o movimento, e pergunta:

“Como eu vim parar aqui?”

Quando o barman começa a responder, ele está em seu antigo apartamento. Não faz sentido, ele foi destruído – pensa. Parece intacto. Enquanto caminha, toca em suas coisas que pensava não existir mais. Tudo que ele colecionou em seus quase quatro anos de vida e fora destruído pelos caçadores de replicantes. A mesa bolorenta com sua TV de tubo que dá zoom nas fotos, suas tão queridas granadas, seu monociclo, longos sapatos... Tudo lá. Tem algo muito errado acontecendo, ele sabe. Ele não está mais em seu quarto. Agora, na superfície de Delta City. Nível zero, nos corredores que percorrem as ruas magnéticas. Longe, ele vê um dirigível de notícias mostrando uma cena de explosão repetidamente. Em seguida, corta para imagem distante de um homem deixando o prédio um pouco antes da explosão. A imagem se aproxima e ele reconhece o rosto na hora, é um palhaço com uma granada no lugar do nariz.

“Eu estou no dirizível!”, acena para a tela distante.

Ozob, em fuga, ainda não entendia o motivo. Ele sabia que toda a força de segurança de Delta City estava em seu encalço e seu rosto estampava os anúncios de procurados. Um outdoor de um prédio trazia em vermelho a palavra “Enjoy”, em seguida aparecia o rosto do palhaço. Era o responsável pela demolição do prédio da Google-Microsoft, a maior corporação de simbiose digital do planeta. Mas, ele não se lembrava disso.

Após despistar os caçadores de replicantes, pelas ruas da zona chinesa da cidade baixa, sobe pelas escadas metálicas de um prédio para procurar alguém que lhe ajude a entender aquela situação. Havia telefonado para Oleg Korolenko, um sniper russo com careca tatuada, barba preta volumosa e óculos escuros.

“Abre logo, Oleg!”, sua mão espanca a porta.

“Calma, calma”, diz o russo de sotaque carregado ao destrancar as travas. Eles se cumprimentam com tapinhas nas mãos seguidos de um soquinho. Ozob afasta a mão para cima em uma pequena explosão, “entrrra, pega uma vodka que eu vou ver se você foi seguido!”

“Eu não fui seguido!”

“Prrrecaução nunca é demais.”

Ozob abre a garrafa de vodka e senta numa poltrona. Coloca os pés sobre uma mesa de centro e bebe direto do gargalo. Tira um charuto do bolso do sobretudo e bafora a fumaça concentrada.

“Por que você destrrruiu o prrrédio?”, Oleg pergunta quando se junta a ele na sala. Puxa a garrafa da mão do palhaço e enche dois copos quadrados.

“Eu não destruí prédio nenhum. Ao menos não me lembro. Eu adoraria ter destruído, mas não destruí.”

“Como você não lembrrra? Bebeu muita vodka ontem?”

“Também não lembro!”

“Isso está muito estrrranho. Eu já tive muitas amnésias alcoólicas, mas nenhuma assim.”

“Eu preciso entender o que está acontecendo, Oleg!”

“Eu sei, Ozob. Por isso chamei James Rexus, ele deve chegar logo.”

“Ah não!”

Oleg abre a porta e passa por ela, com um sorriso, o carismático James Rexus. Contrabandista, mais ou menos 1,85m e muito gato. Quer dizer, de aparência agradável. Com suas roupas caras e casaco de pele.

“Ora, ora, Ozob! Que palhaçada foi aquela?”

“Eu não vou falar com você! Não pedi sua ajuda”, o palhaço apaga o charuto na mão e cruza os braços.

“Você está muito nervoso. Precisa relaxar um pouco. Quer que eu chame alguma replicante bonitinha para lhe entreter?”

“Tu é babaca, cara! BABACA!”, Ozob grita.

“Parrrem com isso, os dois. Prrrecisamos descobrrrir o que aconteceu de verdade. Isso pode complicar para todos nós”, Oleg falou com sua voz grave.

“Mas, e aí, alguma notícia do Silvana e dos outros?”, Rexus pergunta.

“Nenhuma. Não consegui falar com ninguém além de você”, o russo responde ao beber mais um gole de vodka.

“Estou fudido! Sendo caçado por toda Delta City e só um russo bêbado e um babaca para me ajudar.”

“A gente pode ir embora”, Rexus sorri.

“Parrem. Não comece de novo... Rexus, ligue para seus contatos e tente descobrrrir alguma coisa.”

“É pra já!”

“Oleg, você deve ficar aqui. Eu vou investigar onde você esteve nas últimas horas.”

“É o jeito... Só me diz onde você guarda as vodkas antes de sair.”

Ozob não percebe o tempo passar. O russo já está de volta ao apartamento e conversa em voz baixa com Rexus. O palhaço se aproxima e eles param de falar.

“Tá legal, o que você estão escondendo de mim?”

“Tiverrram duas outras explosões em Delta City na última hora. As duas, aparrrentemente, foram provocadas por você. Mas o Rexus me garrrantiu que você não deixou o esconderrrijo em nenhum momento.”

“Meus contatos também não entendem o que está acontecendo. Todos os alvos eram ligados à Google-Microsoft. Acreditam que possa ser alguma guerra corporativa.”

“Tyrell Corporation!”, os olhos de Ozob se serram e a frase sai como uma ofensa.

“Nós não sabemos, Ozob!”, o russo tenta colocar juízo na cabeça do replicante, “Porrrém, é o prrrimeiro lugar que devemos investigar.”

“Eu sei um jeito de entrar no edifício da Tyrell pelo túnel do elevador”, Rexus diz com um sorriso, “posso colocar você lá dentro.”


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