O Pesadelo de Ozob escrita por jboscosoares


Capítulo 3
Alô, criançada!




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Ozob aproveitou a confusão gerada pela explosão para chegar ao centésimo sétimo andar. Lá, descobriu que foram criados seis clones e que eles estavam espalhados por toda Delta City, eram responsáveis pelos atentados. Foram produzidos há mais de um ano e passaram por rigorosos treinamentos para aperfeiçoarem suas habilidades.

“Agora você fala para esse babacas que estarei no Central Park, na antiga Nova York”, Ozob diz para um encarregado das operações da Tyrell Corporation, “em duas horas quero todos lá. Ou, eu volto aqui e não vai sobrar uma viga em pé nesse prédio escroto!”

Ozob dirige em alta velocidade com sua moto, em um mergulho vertical para a cidade baixa. Esquece de Oleg e Rexus. A única coisa que consegue pensar é que existem outros seis “Ozob” espalhados pela cidade. Gerando o caos como se fosse ele. Não poderia aceitar isso. Só poderia existir um palhaço com uma granada no lugar do nariz gerando o caos na cidade. E era ele! Passa por uma passagem na zona zero e uma viatura da polícia corporativa o avista. A perseguição não dura cem metros. Ele joga um explosivo para trás e uma parte da estrutura desaba sobre o veículo.

Estaciona sua moto no que um dia foi o Central Park. Continuava central, mas não tinha nenhuma planta para chamar de parque. Apenas lama, ratazanas e lixos. Era escuro como todos os lugares da cidade baixa. Ozob caminha em passos largos e as poucas pessoas que vasculhavam o lixo saem correndo ao ver o replicante. Ele olha em volta, para não ser pego de surpresa pelos clones. Alguns minutos depois, Oleg e Rexus chegam.

“Você está louco? Nos deixou parrra trás. O que aconteceu?”

“Sério, Oleg, vai embora. Esse é um problema que EU vou resolver. Sumam daqui!”

“Que prrroblema?”

“A Tyrell Corporation fez clones meus. Seis clones. Eles são os responsáveis pelo atentado. Agora irei me encontrar com eles aqui. Vão embora!”

Rexus começa a gargalhar antes de Ozob terminar a frase e fala:

“Quer dizer que o circo chegou à cidade?”

Ozob lança um olhar ameaçador e responde:

“Eu não vou falar nada... Quer dizer... Vou: TU É BABACA, CARA! Quer dar um bitoca no meu nariz?”

“Ozob, você quer enfrrrentar seis replicantes sozinho? Bebeu muita vodka!”

“Quero não. Eu vou. Vocês vão embora!”

“Deixa disso, Ozob. Nós não vamos lhe deixar sozinho”, Rexus diz com seu sorriso carismático, “e não vou perder a oportunidade de ver seus clones!”

“SUMAM DAQUI! Fiquem longe, só apareçam se eu tiver perdendo!”

“Como vamos saber qual deles é você quando lhe salvarmos?”, Rexus pergunta.

“Eu serei aquele que vai te chamar de babaca quando perguntar...”

Os dois aceitam e deixam o parque.

O Central Park estava vazio. O silêncio era avassalador. Nem os chiados dos ratos, tão comuns na cidade baixa, podiam ser escutados. Uma bola de feno era carregada pelo vento quando um carro amarelo estaciona, ao pairar alguns centímetros do chão. Tão pequeno que não deveria acomodar nenhum adulto. Era, realmente, minúsculo. A porta se levanta e desce um palhaço. Depois mais um. Outro. Outro. Outro. E, outro.

Os clones de Ozob caminham poucos passos quando uma série de explosivos detona ao redor deles. A fumaça sobe e atinge os prédios antigos. Eles saltam e se jogam ao chão para se protegerem das explosões. Estão atordoados pelo barulho e claridade quando escutam um canto lento e distante:

“Alô, criançada, Ozob chegou! Trazendo alegria pra você e pro vovô! Estamos trazendo muito amor. Um, dois, três e... Vamos lá!”

A voz se aproxima deles e fica mais alta a cada nota.

“Sempre rindo, eu e você. Eu sou o palhaço de todos vocês! Vamos, amigos! Vamos cantar! Lá! Lá! Lá! Lá! LÁ!”

No último “lá” sentem uma explosão bem próxima deles. Dois já caem mortos quando os quatro se separam, todos com granadas em forma de nariz na mão. Quando a fumaça baixa, cinco palhaços estão parados em círculos.

“Agora, fudeu!”, um deles fala, “como vamos resolver isso?”

Eles escutam o barulho de dois corpos caindo ao chão. Em seguida, dois estampidos de tiro em algum lugar bem longe. Os palhaços jazem com suas cabeças partidas como melões e o sangue vermelho espalhado.

“Russo, seu filho da pu...” Ozob exclama revoltado.

Os outros dois olham para ele e tiram os pinos das granadas. Ele dá uma série de saltos mortais para trás e lança granadas no caminho. Várias explosões depois e dois palhaços estão rolando agarrados na lama. Aos socos. A mão de um sobe ao ar e desce em um soco explosivo no lugar que devia estar o nariz do outro. Ele dá uma cambalhota para trás e os dois ficam em pé. Colocam novas granadas no lugar do nariz e detonam explosivos, um atrás do outro. Eles bailam entre as explosões como dançarinos mágicos. Seus pés grandes são projetados para ampliar os saltos. A fumaça é tão densa quanto uma névoa de inverno rigoroso. Naquele balé só é possível identificar as granadas em forma de nariz.

“Dá uma bitoca no meu nariz que você vai me fazer feliz! E na careca também, cheira o cangote, meu bem! Dá uma bitoca no meu nariz!”, as vozes ecoam sombrias pela neblina, “dá! Dá! Dá! Vê se dá!”

Os palhaços se movimentam em frenesi, um de frente para o outro. Tão rápidos que o tempo parece mais lento. Seus braços fazem movimentos como de mestres de Kung Fu, enquanto as explosões continuam sem parar. Um dos palhaços dá um salto bem alto e passa por cima do outro, numa pirueta. Enquanto isso, sua mão desce e puxa o pino da granada. O palhaço cai com os dois pés no chão, de braços abertos e o outro tenta tirar a granada do rosto.

A última explosão é muito alta. Quando termina, um dos palhaços não tem mais rosto e está caído ao chão. O sobrevivente olha em volta e pega seu sobretudo que havia derrubado em algum momento da luta. Ajeita seu cabelo, tira a poeira dos ombros, enche o pulmão de ar e grita:

“Oleg, seu BABACA! Como sabia que um dos dois não era eu?”

O russo se aproxima carregando seu rifle M1012, acompanhado de Rexus com seu largo sorriso.

“Eu não serrria o melhor sniper da RRRússia se não soubesse reconhecer um palhaço de outro!”

“Eu torci para que ele tivesse matado você!”

“Sério, babaca. Cala boca!”, Ozob já tirava o pino da granada do nariz quando uma série de crianças aparece de todos os lados do Central Park.

Elas correm na direção dele, aos gritos. Aplaudiam animadas e gritavam:

“Ozob! Ozob! Ozob!”

Ele olha para os lados assustado. Estava cercado. Seus olhos demonstram seu pânico. Grita ofegante:

“Não! Não! Isso, não!”

“Só se vive uma vez... Uma vez... Vez...”


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