Eu Estou Aqui escrita por SenhoraDiAngelo


Capítulo 2
Capítulo II




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"Don´t get too close

It´s dark inside"

– Demons, Imagine Dragons

Jason não conseguiu dormir aquela noite. Mesmo que Nico já estivesse bem “o suficiente para dar um soco naquela sua cara”, como ele havia dito. Os pesadelos continuaram, mas agora Nico não morria de hemorragia em sua frente como quase havia acontecido. Agora, ele mancava por um corredor vazio feito de ossos humanos. Estava escuro e ele parecia ainda mais magro e a forma de seu crânio estava ainda mais definida contra a pele fina. Seus olhos estavam contornados por olheiras fundas e pareciam haver lágrimas escorrendo por seu rosto. As mangas de sua camisa estavam molhadas com sangue e os cabelos emaranhados. Jason viu a si mesmo parado à frente dele, segurando uma foice dourada. Ele queria ajudar o filho de Hades e tirá-lo daquele lugar, mas não conseguia controlar seus próprios movimentos. O rosto de Nico empalideceu mais ainda e seu rosto se contorceu numa expressão assustada. Antes que percebesse, estava erguendo a foice acima de seus ombros em posição de ataque.

— Jason, não. – pediu o Nico de seu sonho, com a voz embargada.

Jason queria soltar a foice e parar com aquela loucura, mas seus membros não o obedeciam. Jason deu um sorriso, ergueu a lâmina ainda mais.

— Adeus, Nico. – ele disse contra a própria vontade. Jason baixou a foice contra o corpo do filho de Hades e assistiu horrorizado enquanto o sangue dele escorria pelo chão e espirrava no rosto dele, manchando seu corpo de escarlate, e a expressão no rosto dele, que era muito mais que medo, era horror, sentimento de traição, e o pior era que era Jason quem o havia traído..

Jason acordou suando frio. Esse sonho fora muito pior do que o da outra noite. Muito pior. Ele teve de esperar alguns segundos antes de se convencer totalmente de que tinha sido um sonho e teve que se esforçar para se lembrar do que tinha realmente acontecido. Nico estava bem. Jason havia salvo-o da estátua descontrolada do deus das forjas. Havia voado com ele gritando agarrado em sua camisa e sido ameaçado logo antes de ser agradecido.

Estava tudo bem.

Jason olhou seu relógio. Quatro e meia da manhã. Ele deitou e fechou os olhos, tentando voltar a dormir, mas não importava o quando ele se mexesse, não conseguia encontrar uma posição confortável. Derrotado, buscou uma camisa no armário e saiu de seu chalé. Precisava pensar.

O filho de Júpiter andou até a floresta, em busca do Punho de Zeus. Sentou-se lá e ficou admirando o reflexo da lua na água do rio que corria serenamente, fazendo um som agradável, acolhedor e relaxante. Pensou que deuses poderiam estar observando-o; Diana através da lua, Netuno pelo rio, Ceres pela floresta (se bem que isso seria mais provável se ele estivesse num terreno de agricultura ou uma plantação). E então pensou em seu sonho. Bom, sonhos de semideuses nunca eram exatamente sonhos; normalmente eram um sinal, uma pista, ou uma predição do que aconteceria no futuro. O que Jason sonhara na noite passada já tinha acontecido. Mas... e o que havia sonhado poucos minutos atrás? Será... que isso iria acontecer? Di Angelo morreria... pelas mãos dele? Não. Não poderia ser. Isso... não podia acontecer. Não era real. Ou era? Que lugar seria o corredor de ossos? Por que Nico estava tão machucado? Por que eles estavam sozinhos? Que foice era aquela? E... por que, em nome de Plutão, ele havia matado Nico? Sua mente girava com perguntas que ninguém poderia responder.

“Pare com isso.”, ordenou a si mesmo. “Foi só um sonho. Mesmo que seja real, talvez não deva ser interpretado literalmente. Talvez seja um sinal, signifique outra coisa...”.

Mas então... por que NICO? Por que ele estava sonhando com Nico de Angelo, filho de Hades? Ele nunca tinha tido nenhuma importância sólida em sua vida. “Ou tem?”, disse uma voz em sua cabeça. Era verdade. Nico era irmão de Hazel. Nico era um tripulante do Argo ||. Campista. Semideus. Amigo. Ou talvez, agora ele sentisse algo mais íntimo com ele, afinal, ele era o único que sabia de seu grande segredo. Ele ainda lembrava-se da expressão de sofrimento dele e seus olhos marejados ao confessar para o deus do amor “Eu tive uma queda por Percy Jackson”. Aquilo sim fora crueldade por parte de Cupido. Não era JUSTO. Mas... talvez tenha sido até uma coisa boa no fim das contas. Jason agora via-o de uma maneira totalmente diferente. Ele agora podia entende-lo melhor. Conseguia compreender o motivo de sua angústia. Como Nico poderia odiar uma pessoa e amá-la ao mesmo tempo? Nico odiava Percy por ter descumprido sua promessa. Por não ter salvo sua irmã. Mas mesmo assim, o amava. Não era a toa que o garoto tinha um nó na cabeça. Se Jason estivesse no lugar dele, também fugiria pelas sombras.

Nico, Nico, Nico, ele só conseguia pensar nele? O que tinha de errado com Jason? Isso era estranho. A guerra acabou. Ele não deveria ficar feliz, em vez de ficar se preocupando com coisas triviais? Jason censurou a si mesmo. Os sentimentos de alguém não eram e nunca seriam triviais. Ele sabia o que algumas pessoas, até mesmo entre os sete pensavam dele: calculista, frio, só pensava em tudo como uma estratégia, disposto a sacrificar uma vida se isso significasse a vitória, calculando cada palavra e pensando nas consequências de cada uma delas.

Bom, não era bem assim.

Por fim, Jason se levantou, se espreguiçou e resolveu voltar ao seu chalé para aproveitar as horas de sono que ainda lhe restavam.

Dessa vez, ele não teve nenhum sonho.

A manhã passou voando para Jason. Passou a hora do café da manhã rindo com seus amigos, fazendo piadas e aproveitando seu tempo com sua namorada, Piper. Depois disso, foi praticar um pouco de esgrima com Percy. Como todos haviam imaginado, não fora uma boa ideia. Os dois terminaram quase se espancando. Ainda era difícil por dois semideuses que eram exatamente o oposto um do outro (um grego e um romano, um filho do deus do céu e um filho do deus do mar) para lutar sem os dois disputarem quem é o melhor. De qualquer forma, depois do treino de esgrima, ele foi para a escalada (nível máximo. Sim, tinha lava embaixo.), e depois para uma espécie de palestra sobre mitologia. Depois disso foi o almoço.

Foi aí que tudo deu errado.

Jason se sentou ao lado de Piper e Leo em sua mesa. Do lado de Leo estava Calipso, e depois Frank e Hazel. Do lado de Piper estavam Annabeth com Percy, Rachel ao lado deles, e Reyna mais adiante, acompanhada de Octavian, que a seguia para todos os lugares, completamente deslocado no acampamento grego. Tyson, depois de alguns minutos, se junto a eles, balançando a mesa, afobado.

Porém, Jason não pode ignorar o semideus vestido com roupas escuras, pálido e encarando o grupo com olhos cheios de mágoa que estava parado sob uma árvore, como se misturasse com as sombras dela.

— Licença, eu já volto. – disse aos amigos, se levantando da mesa. Piper o olhou com uma expressão estranha que Jason não conseguiu decifrar.

Ao ver Jason se aproximando, Nico suspirou, como se estivesse se preparando para uma longa discussão.

— Nico. – disse Jason, se aproximando. – Você está bem?

Nico suspirou novamente e cruzou os braços, olhando-o com pouco caso.

— Você não pode simplesmente me deixar em paz? Eu estou bem.

— Você não parece bem.

— Isso não tem nada a ver com isso, Grace.

Nico se virou e começou a andar para longe de Jason.

— Eu me importo com você, Nico. Como todos aqui.

Nico parou.

— Só... – pediu Nico. – Me deixe em paz.

— É por causa... você sabe... dele?

Jason se arrependeu de de ter dito o que disse segundos depois de ter dito. Ele tinha cutucado a ferida. Nico se virou repentinamente, os dentes cerrados e os olhos arregalados, numa expressão surpresa e cheia de ódio.

— O que...? – o filho de Hades se aproximou rapidamente e segurou Jason pela gola da camisa. – Cale a boca, Grace! Você... nem sabe do que está falando!

Jason segurou a mão de Nico, fazendo-o soltar sua camisa.

— Eu SEI do que eu estou falando, Nico. E eu já te falei que estou aqui se você quiser falar sobre isso.

— Não. – respondeu Nico, certo de si. – Não tem nada sobre o que falar. Eu não quero falar sobre isso. Nunca. Não... não me pergunte novamente.

— Nico! Você não pode esconder isso para sempre! – Jason gritou, enquanto Nico começava a se afastar com a cabeça baixa. – Está vendo? Agora você está fugindo de novo! Por que você tem MEDO. Mas você não precisa ter! Você... nós... você não é o único no mundo! Você tem amigos! Pessoas que se preocupam com você! – Nico parou de andar. – Se você só nos deixar te...

Jason foi interrompido pelo punho fechado de Nico em seu rosto.

— Me deixe sozinho! – gritou o filho de Hades.

Todos pararam suas conversas para olhar. Em alguns segundos, todos no hall olhavam para Jason caído no chão com uma marca vermelha que começava a se transformar em um hematoma e Nico parado na frente dele em pé, com o punho ainda fechado. Cada rosto demonstrava confusão e surpresa. Mas mais que isso, demonstrava... medo. Era o que todos sentiam por Nico, não era verdade? O garoto de preto, o filho da morte, pálido, misturando-se nas sombras. Perigoso. Cada um dos sete olhava-o com os olhos arregalados. Até Leo e Calipso pararam de se agarrar e olharam para eles. Mas... o pior olhar que Nico recebeu fora o de Hazel. Ela estava... decepcionada com ele. Era o pior olhar que ele poderia receber. Ela balançou a cabeça negativamente.

— Jason! – gritou Piper indo socorrer o namorado. – Você está bem?

Piper? Eu... estou bem. – ele respondeu, apalpando o lugar onde Nico o havia socado.

Nico arregalou os olhos, surpreso com o que tinha acabado de fazer, envergonhado, cheio de remorso. Assustado com o mundo ao seu redor.

— Eu... – Nico abaixou a cabeça e correu.

— Nico! – gritou Jason, erguendo a mão.

A última coisa que Nico viu foi o olhar indecifrável da filha de Afrodite, antes de perde-los de vista.


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