Quando o amor acontece escrita por Burogan


Capítulo 6
Rainha + Herói + Ketchup = Um Acordo.


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais voltei rsrsrs... esta aí mais um capitulo da história. Espero que estejam gostando do rumo que os personagens estão levando, obrigado e tenham uma boa leitura.



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Não demorou muito até eu encontra-la. Paty estava numa lanchonete rodeada pelo seu grupinho e claro, Thad a abraçava. Ela brincava, ria, era como se ela soubesse que estava sendo observada. Não tinha um que passava por eles e não dava uma espiadinha na ruiva, ela realmente é uma rainha. “Coragem herói!”, perdi a conta de quantas vezes repeti essa frase na minha mente, a impressão que eu tinha era de estar me jogando aos lobos. Até que finalmente dei o primeiro passo.Minhas pernas estavam duras, eu tremia. Mais alguns passos e pronto. Estava perto o suficiente pra toca-la.

— Será que a gente pode conversar? – As palavras quase não saíram.

— Estou ocupada. – Paty não olhou no meu rosto.

— Seja lá o que estiver fazendo, não pode esperar? – O nervosismo era presente em minha voz.

— Ai sua voz me irrita. Some daqui Nerd! – Ela trincou os dentes.

— Apenas venha comigo. – Eu tentava controlar a voz.

— Não vou a lugar nenhum com você. – Paty jogou suco de uva na minha blusa. – Ops! Hó me desculpe, acho que o nerd vai precisar ir no banheiro se limpar. – Sua voz era sínica. Todos riam de mim agora.

— É importante! – Todo meu interior queimava. Tudo o que queria era sumir, mas eu tentava manter a calma. Peguei um guardanapo e passei na blusa.

— Cai fora nerd! – Uma das amigas de Paty jogo uma latinha em mim. O que ela bebia? Eu não sei.

— Uma hora ou outra você vai ter que me ouvir. – Minha voz era suave.

Peguei a latinha que estava no meu pé, ela bebia uma Sprite. Caminhei lentamente até a lixeira e joguei no lixo. Percebi que ainda era o centro de muitos olhares, caminhei em linha reta até achar que não estava sendo visto. Fui parar atrás do bloco de Nutrição, me escorei na parede, lentamente minhas pernas foram cedendo e por fim me agachei. Respirava forte. Levei as mãos tremulas até a cabeça. Eu queria chorar, mas a raiva não deixava. O que é isso, até parece que estou no colegial, pra que tanta humilhação? Minha camiseta branca novinha, nem tinha terminado de pagar. Eu não podia esperar menos daquele demônio, ela podia ter vencido a batalha, mas não venceu a guerra. Ninguém disse que seria fácil. Para passar de semestre, pelo meu futuro, eu estava disposto a sacrificar minhas convicções, nem que eu tenha que me tornar amigo de Paty Pannes. Sempre acreditei que nerds e populares não se misturavam, é o que os filmes e as histórias contam, só que dessa vez será diferente, nem que pra isso eu tenha que reescrever essas histórias.

Me levantei e olhei no relógio, faltavam quarenta minutos pra acabar as aulas. Falar com aquele demônio diretamente não ia funcionar, não em público com todos os seus amigos por perto. Afinal ela é uma rainha e não quer ser vista simpatizando com alguém como eu. Precisava falar com ela em um momento em que estivesse sozinha. Fiquei pensando por alguns segundos, até que me lembrei que a ruiva dirigia um Veloster branco. Sem pensar duas vezes caminhei em direção ao estacionamento da universidade. A Arcati é bem grande e o estacionamento ficava em um terreno atrás dela, levaria uns vinte minutos andando. Assim que entrei no estacionamento fui direto pra área dos carros, não foi muito difícil encontrar o carro, pois só tinha um Veloster no local e na frente tinha uma plaquinha escrita “Srta. Pannes”. Ela tinha uma vaga só dela? Me perguntei o quão mimada ela é.

Sentei no capo do carro e fiquei ali esperando. Minha mente estava dividida, um lado apoiava o que eu estava fazendo o outro me dizia para correr dali o mais rápido o possível. Era onze e meia quando finalmente escutei os passos de salto, com certeza era ela. Me assustei quando o Vesloter deu dois bips e piscou, em seguida Paty apareceu. Ela usava um vestido preto, bolsa e alguns livros nas mãos.

— O que você faz aqui? – Ela me fuzilou com os olhos.

— Eu disse que preciso falar com você. – Minha voz era séria.

— Mas eu não tenho nada para falar com você, nerd. – Ela destacou a última palavra.

— Olha, você acha que eu quero ter essa conversa? Não, mas é preciso. Você pode facilitar e me ouvir ou dificultar, nesse caso vou te infernizar até que queira me ouvir. Você escolhe. – Eu estava ficando bom em controlar minha entonação.

— Ok, nerd. – Paty bufou. – Mas será do meu jeito. – Ela tinha a voz séria.

— Tudo bem. – Concordei.

— Entra no porta malas do carro. – Ela ia pro lado do motorista.

— Por quê? – Estava bom demais pra ser verdade.

— E correr o risco de ser vista com você no meu carro? No meu bebê? Ou você entra no porta malas ou pode ir embora. – Ela entrou dentro do Veloster.

— Tudo bem, eu vou no porta malas. – A decepção abraçou minha voz.

Eu acredito que há uma cota de humilhação que uma pessoa pode passar e eu com certeza bati a minha. Eu estava no porta malas do carro da Paty Pannes, que maravilha – pensei comigo mesmo. Me sentia uma pipoca estourando, bati na lataria do carro osso que eu nem sabia que tinha. Será que aquela anta esqueceu que estou aqui atrás? Parece que ela fazia questão de passar direto os quebra-molas. Depois de alguns minutos o carro parou, logo em seguida Paty abriu o porta malas. Estávamos em uma lanchonete, o lugar era bonito, mas tinha pouco cliente. Não falei nada, apenas segui a ruiva que entrava no recinto. Nos sentamos e logo ela pediu um suco de laranja.

— Onde estamos? – Olhei em volta.

— É um bairro distante da faculdade, meus amigos não frequentam esse lado da cidade. – Ela não tinha emoção na voz.

– Aqui eu não corro o risco de ser vista com você. – Ela disse.

— Melhor assim. É sobre o semestre interativo. Eu tentei falar com o meu coordenador e ele não vai trocar a dupla. – Eu olhava em seus olhos.

— Nossa! Você não serve nem para fazer uma coisa simples dessas? – Paty debochou.

— Nós vamos ter que fazer esse trabalho. – Comecei a brincar com um canudo que estava na mesa.

— Eu me recuso! Nerds não andam com populares. – Paty deixou bem claro.

— Olha, eu quero muito passar de semestre e você também quer, está escrito na sua cara. – Eu falava sem parar.

— E o que você sugere? Eu não quero perder meu posto de rainha, o que as pessoas vão pensar quando nos virem juntos? – Paty bebericava o suco de laranja.

— Eu não quero que perca seu posto, é por isso que vamos fazer um acordo. – Respirei fundo.

— Um acordo? – Paty me olhou curiosa. — Sim, vamos fazer um trato. Até o fim do semestre, nós temos que nos dar bem. Depois que apresentarmos o trabalho, é cada um para o seu canto e você fica livre para me odiar o resto da sua vida. – Eu a olhava nos olhos.

— Perfeito, mas pra isso dar certo temos que estabelecer algumas regras de convivência. – Ela pegou uma caneta na bolsa e depois um guardanapo.

— Se isso significar ter paz com você, aceito qualquer condição. – Falei.

— Regra número um. Você não vai me procurar na faculdade, não vai dizer meu nome e nem me tocar. – Ela escrevia no guardanapo.

— E como vamos falar sobre o trabalho? – Eu tentava entender.

— É por isso que vou te dar meu número. – Ela me passou o guardanapo. – Se você passar para algum amiguinho idiota seu, você é um homem morto. – Ela tinha o tom sério.

— Quanto isso não se preocupe, eles não vão querer te conhecer. – Retruquei.

— Regra número dois. O principal motivo pelo qual eu não vou com a sua cara, é por que você sempre fala de coisas que eu não entendo. Isso me faz me sentir burra e eu odeio isso. Por tanto, a partir de hoje evite falar de coisas estranhas quando estiver comigo. – Aqueles olhos azuis piscina pareciam querer me engolir.

— Concordo plenamente. – Sorri.

— Acho que é só isso, então... estamos de acordo? – Ela estendeu a mão.

— Não, assim já está muito ultrapassado. Para dar certo temos que fazer algo único, só nosso. – Peguei o ketchup e passei no dedo.

— Você é sempre retardado assim? – Paty me olhava curiosa.

— Ssshhhh! – Coloquei o indicador entre os lábios.

– Deixe o herói falar. – Minha voz era suave.

— Você é muito estranho, sabe disso né? – Paty me encarava. Ela tentava ficar séria, mas era quase nítida a curiosidade em seu rosto.

— Já ouviu falar no clã Uzumaki? Ele vem do extinto pais do redemoinho, os seus selos são os mais poderosos. – Fiz alguns jutsus de Naruto e coloquei ketchup no meu dedão.

– Coloque o seu dedão no meu. – Sorri.

— Nem morta! Eu acabei de dizer pra você não falar de coisas que não entendo. – Paty estava ficando de mau humor.

— Mas tecnicamente ainda não temos um acordo. – Mostrei meu dedão sujo de ketchup.

— Aff, tudo bem. – Paty revirou os olhos. – Mas eu juro que se você estiver fazendo alguma macumba, se eu amanhecer morta amanhã, eu volto para te assombrar. – Seu dedo tocou o meu.

— Eu, Bryan Marralkcs juro não me irritar e tentar entender Paty Pannes. Juro pela minha vida, fazer com que a harmonia entre nós dois seja a melhor o possível. – Sorri.

— Eu, Paty Pannes juro não me irritar e tentar entender Bryan Marralkcs. Juro pela minha vida, fazer com que a harmonia entre nós dois seja a melhor o possível. – Paty não tinha nenhuma expressão.

— Agora sim temos um acordo. – Eu a observei limpar a mão.

— Certo, eu vou indo então. – Paty se levantou e foi até a saída da lanchonete.

— Espera, você vai me dar um carona né? – Perguntei.

— Eu tenho cara de taxista? – Ela sorriu pra mim.

Ô ódio. Quando cheguei em casa era mais de uma da manhã, tudo graças aquela ruiva que me abandonou naquele fim de mundo. A minha sorte é que a garçonete tinha o número de um taxi. Assim que entrei no meu quarto peguei uma toalha e fui direto para o banheiro. Agora nós tínhamos um acordo, só o que restava era saber se ela o cumpriria. Assim que me deitei na cama, percebi os danos que o porta malas do carro havia feito em minhas costas. Cada musculo protestava. Aquele demônio me paga! Tentar uma amizade com ela não será nada fácil, por mais que agora a gente se ature, a verdade não vai mudar, nos odiamos. Eu precisava dar o melhor de mim, caso o contrário seria expulso. Até o fim do semestre ela definitivamente será minha amiga.

— Esse herói jura solenemente entender e aturar Paty Pannes. – Foi a ultima coisa que disse antes de cair no sono.

Hoje o dia seria ótimo, meu humor estava nas alturas, afinal hoje começariam as aulas de fotografia. Como o banco só abria as onze, eu sempre era o último a sair de casa, Aline ia cedo pra academia e Amanda tinha a escola. Depois de um café, um banho, e três episódios de Claymore, esse herói estava pronto pra mais um dia de batalha. É claro que os heróis normais diariamente salvam donzelas, lutam contra dragões e bestas selvagens, mas este herói não. Ao invés de dragões, enfrento clientes mau humorados que geralmente estão com prestações atrasadas. Dragões cospem fogo, já meus clientes tem a habilidade de ficarem extremamente vermelhos e bufarem. E é claro, estão sempre acompanhados de uma infantaria armada chamada Advogado.

Eu estava sentado no ponto esperando o ônibus, pensativo. Eu estava com o fone de ouvido, então não podia ouvir nenhum som externo, não sei exatamente por quanto tempo fiquei assim. Uma pessoa sentou ao meu lado me tirando do transe. O rapaz usava uma calça jeans, uma blusa preta junto com um casaco vermelho, sua característica marcante era o enorme topete que ele usava parecido com o do Elvis Presley. Então o rapaz fez sinal para que eu tirasse os fones. Me perguntei o que ele queria.

— Oi. – O jovem falou rapidamente.

— Olá, algum problema? – Tentei ser direto.

— Não se lembra de mim não é? – O rapaz tinha uma cara séria.

— Eu deveria? – Perguntei curioso.

— Eu roubei a sua irmã, lembra? – O jovem colocou o capuz vermelho.

— O que você quer? – Senti a raiva em minha voz.

— Tome. – O jovem me deu uma nota de cinquenta reais.

— O que é isso? – Arqueei a sobrancelha.

— Aquele dia você me deu dinheiro para eu comer. Eu prometi pra mim mesmo que assim que eu conseguisse o dinheiro, iria pagar a minha dívida com você. – Ele tinha a voz séria.

— Então muito obrigado. – Peguei o dinheiro.

– Como me achou? – Perguntei.

— Digamos que enquanto lutávamos você deixou cair isto da bolsa. – Ele me entregou uma conta de luz.

— Obrigado! – Sorri.

— Você falhou com esta cidade! – Disse o menino. – Você disse essa frase quando me abordou, então eu pesquisei na internet. Arrow né? – O jovem me encarou.

— Isso mesmo. – Não pude conter o tom de surpresa em minha voz.

— Prefiro o Batman. – O jovem sorriu.

— Bruce Wayne é legal, mas sou fã do Oliver Queen. – Não acredito que eu estava tendo esse tipo de conversa com o cara que assaltou minha irmã.

— Não vai me perguntar por que eu furto? – Ele tinha a voz séria.

— Já disse, as pessoas têm motivos para fazer o que fazem, e você provavelmente tem os seus. – Me levantei assim que vi o ônibus se aproximar.

– Até mais. – Disse.

— A propósito, meu nome é Thomas. – O garoto me observou subir no ônibus.

— Até a próxima Thomas. – Sorri.

Eu tinha acabado de ter uma conversa sobre super heróis com o cara que roubou a bolsa da Amanda, uma coisa era certa, hoje o dia não ia ser normal. Assim que cheguei na agência a fila pro atendimento já estava enorme. Até dar a hora do almoço eu fiquei no atendimento, depois o gerente me pediu para arquivar alguns contratos habitacionais. Conclusão? Fiquei a tarde toda no arquivo descendo e subindo caixa. Quando me dei conta já estava no ônibus que ia para a universidade.

A faculdade já estava cheia de alunos, fui direto para o bloco que tinha um galo na frente. Na sala todos riam e brincavam, a maior parte da turma já estava unida, menos este herói, é claro. Logo encontrei o olhar furioso de Tati, aquelas esmeraldas pareciam me comer vivo. André segurava a risada como se soubesse o que estava para acontecer. Sem entender a situação, me fiz de besta e cumprimentei os dois. Não demorou muito para algo pontudo tocar as minhas costas.

— Posso saber onde o senhor esteve ontem a noite? – Tati pressionava a ponta de sua caneta nas minhas costas.

— Ai! – Protestei. – Como assim? Eu estava resolvendo um problema do semestre interativo. – Minha voz era baixa.

— Você não pode ficar matando aula Bryan, quer reprovar é? – A voz de Tati era baixa, porém não escondia a raiva.

— Foi só dessa vez. – Minha voz era suave.

Depois daquele encontro no shopping, a Tati começou agir estranhamente como se fosse minha namorada, apesar de não estarmos namorando. Começou a ficar mais ciumenta, sempre que andamos juntos ela quer andar segurando meu braço, as perguntas “Onde você estava?”, “O que você fez hoje?”, “Por que não me ligou?” se tornaram frequentes em seu vocabulário. André até tinha comentado que ela não parava de falar sobre mim. Por mais que parecesse o obvio, eu não me importava, preferia pensar que ela só estava fazendo seu papel de amiga.

— Olá meus alunos, meu nome é Jéssica Ribeiro. Sou a professora de fotografia de vocês, por favor, me sigam até o estúdio. – Disse uma mulher de cabelos negros e arrepiados.

A voz daquela mulher soou como o canto dos anjos nos meus ouvidos. Finalmente a tão esperada aula de fotografia. Eu quase quiquei na cadeira, mas me controlei, não podia me dar ao luxo de surta, não na frente dos outros. Praticamente fui um dos primeiros a levantar e seguir a mulher que apesar de pequena tinha passos rápidos.

O estúdio era todo equipado com iluminação, tinha figurinos para tirar fotos, mas a tristeza veio quando vi que a aula hoje seria apenas teórica. Ela ficou mostrando fotos no Datashow e explicando como elas haviam sido compostas, questões de ângulos, enquadramentos, tons, texturas, lentes, tudo aquilo era um mundo extremamente convidativo para mim.

Não demorou muito para irmos para o intervalo. Normalmente no horário do intervalo eu me escondo no meu santuário para poder ver animes, mas dessa vez, digamos que esse herói foi impedido. Antes que eu saísse pela porta do estúdio, Tati grudou em meu braço dizendo algo como “Hoje você não me escapa”. Ela saiu arrastando eu e André para uma lanchonete que ficava ao lado da Subway que tinha no campus.

— De todas as lanchonetes que existem no campus, por que você escolheu a mais distante do nosso bloco? – André franziu o cenho.

— Por que o cachorro quente daqui é o melhor e o mais barato. – Tati fez sinal pra garçonete.

— Meu Deus! Fui abençoado com a mais bela das visões. – André quase babou enquanto apontava para Paty.

— Não tem nada de abençoado em ver um tomate que anda. – Eu disse enquanto tomava um suco.

— Tomate? – Os dois riram.

— Todo cara sonha em tê-la como namorada. – André suspirou em quanto observava a ruiva entrar na subway.

— Eu não. O meu sonho é falar élfico. – Sorri.

— Da onde você tira essas coisas Bryan? – Tati sorriu pra mim.

— Nunca viu Senhor dos Anéis? – Arregalei os olhos.

— Não. – Tati me encarava igual uma criança quando vê um doce.

Fama, dinheiro e beleza. Quando o assunto era Paty Pannes, era só isso que as pessoas sabiam falar. Eu fiquei observando ela durante um tempo e por alguns segundos seus olhos encontraram os meus, por incrível que pareça ela não fez cara de nojo ou veio me importunar, ela apenas não demonstrou feição alguma. Uma pequena chama de esperança ascendeu em mim, talvez ela estivesse seguindo o nosso acordo.

– Você vai com a gente né Bryan? – Tati falou me tirando do transe.

— Vou a onde? – Perguntei.

— Green Fairy! Todos estão comentando. – Tati tinha a voz empolgada.

— Vai dar muita gente lá. E quando eu digo “Muita gente”, quero dizer muitas gatinhas. – André deu alguns beijos no ar.

— Desculpe, mas eu já tenho compromissos com meus animes. – Minha voz não tinha emoção alguma.

— Há larga de ser chato! – Tati deu um soco no meu braço. – Custa sair para se divertir um pouco? – Ela me olhava séria.

— Mas eu me divirto vendo animes. – Sorri.

— Olha, vem comigo pra Green Fairy e eu prometo que te mostro o que é bom. – Tati mordeu os lábios.

— Há pelo amor de cristo, beija ele logo. – André reclamou

.— CALABOCAAAA ANDRÉ! – Tati protestou.

— O-oi, você é Bryan Marralkcs? – Uma menina de rabo de cavalo havia se aproximado.

— Sim, sou eu. – Lancei um olhar curioso para a menina.

— O sr. Morales pediu pra você encontra-lo no estacionamento da Arcati. – A menina não tinha emoção alguma.

— No estacionamento? Agora? – Eu não parava de fazer perguntas.

— Parece que ele tinha algo pra tratar com você a respeito do semestre interativo, mas ele esqueceu. Por isso ele pediu pra que fosse agora. Parece importante. – Ela terminou de falar e em seguida tomou o seu caminho.

Fiquei uns dois minutos observando aquela menina ir embora. A roupa toda branca indicava que a jovem cursava algo na área de saúde, ela tinha cadernos nas mãos e cabelos negros amarrados num rabo de cavalo. Olhei para Tati e André, os dois me encaravam sem entender. Não perdi mais tempo. Deixei algum dinheiro na mesa para ajudar a pagar a conta, me levantei e segui para o estacionamento.

O que será que aquele velho queria? Talvez tivesse repensado na minha punição e não me obrigaria mais a me dar bem com Paty. — Santo Goku, tomara que seja isso mesmo. – Falei só para mim. Levei cerca de vinte minutos andando até chegar no estacionamento, tinha bastante carro ainda, provavelmente por que faltavam uma hora para as aulas acabarem. Ela me disse pra encontra-lo no estacionamento, mas não disse especificamente onde. Não demorou muito pra alguém surgir de entre os carros e sair me arrastando pelo braço. O estacionamento não tinha uma iluminação boa, então não era possível identificar quem estava me puxando. Provavelmente sr. Morales. A minha única curiosidade era por que no estacionamento? Ele tem um escritório só dele na universidade, por que me encontrar aqui? Uma pergunta que provavelmente não obteria a resposta.

Depois de alguns minutos de caminhada fomos para uma parte clara do estacionamento, revelando a identidade da pessoa que me guiava. Eu esperava encontrar um homem velho, com as barbas de Gandalf, com tatuagem no braço, mas o que meus olhos viram foi algo totalmente oposto. Ajeitei meus óculos com o indicador para ter certeza do que via e era verdade. A rainha. Seus cabelos vermelhos pareciam pegar fogo enquanto interagiam com a luz fraca do estacionamento. Ela usava uma saia preta, com uma blusa de manga cumprida azul, um scarpin azul dava graça aos seus passos. Por fim chegamos ao veloster.

— Não sei não hein sr. Morales, parece que você andou exagerando na doze de estrogênio, até pintou o cabelo de ruivo. – Eu ri.

— Cala a boca! Foi o melhor que eu inventei. – Ela tinha a voz séria.

— E a menina do recado? – Perguntei.

— Há, aquelazinha? Apenas disse que se ela fizesse isso pra mim, eu ia dar uma entrada pra ela ir na Green Fairy. – Ela sorriu triunfante.

— Ok, por que me chamou? – Minha voz era séria.

— Por que você é um nerd imprestável e burro. – Ela tinha um sorriso sínico.

– Sabe, quando eu dei meu telefone para você, a ideia era que me ligasse para tratarmos do trabalho. Mas você não o fez, então estou agindo. – Ela apertou um botão nas chaves e o veloster deu dois bips.

— Eu ia te ligar hoje. – Aquele demônio. Será que ela não consegue dizer nada sem me ofender?

— Entra no porta malas. – Paty tinha a voz séria.

— Não dá, ainda tenho aula. – Falei.

— Mas eu não. O professor liberou minha sala mais cedo. – Ela me encarava.

— Como é que é? – Perguntei sem entender.

— Queridinho! Meu horário é o seu horário. Então entra no porta malas e vamos sair daqui antes que alguém nos veja. – Ela entrou no carro.

— Você não está falando sério. – Senti a raiva consumir meu corpo, mas controlei a voz.

— Estou sim. – Paty ligou o carro.

Tentar uma amizade com aquele demônio não vai ser fácil, se toda vez que tivermos que sair e eu for no porta malas, no final do semestre vou ter que colocar pino na coluna. Por que ela não pode ser amável igual a Rias-chan? Tudo pelo trabalho – era só nisso que eu conseguia pensar. Fiquei naquele porta malas tempo o suficiente para não sentir minhas pernas, por fim o carro parou. Quando Paty abriu o porta malas percebi que estávamos no mesmo lugar da noite passada, só que dessa vez identifiquei o nome da lanchonete – Pão de mel. Paty foi pedindo logo um suco, como eu estava com fome pedi um x-burguer.

— Já que nós temos um acordo de convivência, agora temos que decidir o que vamos criar. – Paty tirava seu caderno da bolsa.

— Concordo plenamente. – Também peguei o meu caderno.

— Não precisa ser algo grandioso, só bem feito. – Aquele azul piscina parecia me engolir.

— A Arcati tem uma filosofia ecológica não é? Por que não fazemos algo voltado a isso? – Sugeri.

— Algo feito com material reciclável? – Paty anotava em seu caderno.

— É, pode ser. – Minha voz não tinha emoção alguma.

— Espera. Só um minuto. – O telefone de Paty tocou.

— Fica à vontade. – Dei graças a Deus por ela atender o telefone, pois o lanche havia chegado.

— Alô? Oi bebê. Tudo bem? Não, eu aproveitei para dar uma passadinha no shopping para compra algumas coisinhas. Eu não estou fazendo nada, por que? Shoppada? Certo, estou indo até ai. Beijos seu lindo. – Paty desligou o celular.

— Vai embora né? – Falei com a boca cheia.

— O pessoal da sala vai se encontrar num bar. – Ela anotava algo no papel.

— E eu vou ver animes. – Sorri.

— Você é estranho. – Ela fez cara de nojo. – Eu tenho uma vida noturna muito agitada, então sábado quero você nesse endereço as uma da tarde. Não marque nenhum compromisso. – Ela rasgou um papel e me entregou.

— Que lugar é esse? – Perguntei.

— Apenas vá. Tchau seu nerd feioso. – Sua voz não tinha nenhuma emoção.

— Sayonara! – Falei enquanto mordia o lanche.

Não adiantava ir pra faculdade por que a aula já estava acabando, então fui direto pra casa. Peguei o papelzinho que Paty havia me dado, que raios de endereço é esse? Não importava, desde que eu conseguisse fazer esse trabalho. Assim que cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi tomar um banho, Aline e Amanda sempre estavam dormindo à essa hora, por tanto o silencio dominava todo o perímetro da casa. Purificação. A hora mais esperada por esse herói. Liguei o Tablet e fui a procura de algo interessante para ver, mas dessa vez eu não estava procurando algo para assistir, queria algo para ler. Um mangá. Aka Akatoshitachi no Monogatari foi o escolhido da vez, digamos que esse herói tinha um fraco por vampiros. Me enrolei no cobertor igual uma cobra, o único barulho que existia era som do ar condicionado. Não deu tempo nem de ler a primeira página do capitulo e o telefone tocou.

— Alô? – Quem me ligaria as uma e meia da manhã?

— Me... ajuda. – A voz do outro lado tinha dificuldade em respirar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E é isso ai galera, espero ter conseguindo agradar. O que será que esse herói irá fazer? Não percam o próximo capitulo =D



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