Cachecol Azul e Cabelo Vermelho escrita por Lirah Avicus


Capítulo 23
Capítulo 23




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Molly Hooper olhava para o cérebro que jazia à sua frente, numa tábua, em cima da mesa de exames. Ele era rosa esbranquiçado, com veias tímidas percorrendo toda sua extensão, e um líquido incolor escorria de suas ranhuras, molhando a tábua e fazendo uma pequena poça ao seu redor. Um cérebro saudável. Um cérebro morto. Molly nunca se incomodou em ter de lidar com partes do corpo humano separadamente, fossem separadas com um bisturi, fossem com um machado. Ela encarava aquilo simplesmente como algo que antes fazia parte de um organismo vivo, e agora não fazia mais. Era apenas uma junção de carne, sangue, gordura e fluidos. Molly nunca compreendeu por que as pessoas se incomodavam tanto em ver um cérebro sobre uma mesa.

Mas naquele dia ela estava incomodada. Completamente. Profundamente. Aliás, ela estava incomodada desde que sua recém-adquirida amiga tivera um surto psicótico no meio de uma loja de departamentos e desaparecera no meio da multidão. E desde então ninguém tinha notícias dela. Estava desaparecida. E a situação era piorada pelo fato de que ela estava sendo perseguida por um assassino de sangue frio, que matava suas vítimas na pancada, Molly vira o estado dos corpos, ou então as enforcava e as degolava em seguida.

Molly cutucou o cérebro com o dedo de modo desinteressado. Não conseguia se concentrar.

Ruídos vindos do corredor. Molly se levantou, passando pela porta e olhando o corredor. Estava vazio, como deveria estar, afinal nenhum outro funcionário estaria trabalhando ali àquela hora da noite. Ela caminhou pelo corredor, seus passos ecoando pelas paredes. Ela pegou uma vassoura que estava no caminho, segurando-a com as duas mãos. Não era uma boa arma, mas devia servir. Depois de tanto estudar o corpo humano, ela sabia onde atingir de forma que doeria muito, o suficiente para que pudesse fugir. Ela percorreu o corredor até passar pela geladeira, e algo lá chamou-lhe a atenção.

A geladeira era onde guardava-se os corpos antes de serem enviados para o funeral. Já haviam passado pelo exame post-mortem e já estavam prontos para serem despachados. Era uma sala imensa, fria, repleta de mesas com cadáveres em cima, cuja porta era grossa e tinha uma janelinha de vidro, caso alguém quisesse espiar lá dentro sem ter que entrar. E através dessa janelinha, Molly pôde ver a cena não muito usual para um lugar como aquele.

Sherlock, sentado numa das mesas com as pernas cruzadas, de olhos fechados, mãos à frente do rosto. E cercado de defuntos...

Molly decidiu não atrapalhar. Saiu andando com um meio sorriso no rosto. Sabia exatamente o que aquele homem estava fazendo...

Sherlock não estava lá. Apenas seu corpo estava. Sentado e inerte. Sem uso. No entanto sua mente estava em estado máximo de agitação.

"Você viu isso?"

A voz era de John Watson. Sherlock abriu os olhos, e viu o doutor sentado numa das mesas, tendo um lençol a cobrir-lhe o colo, e uma costura em forma de cruz sobre o peito. Estava cianótico, com olhos completamente brancos, e tinha uma costura no pescoço. Morto.

"Você viu isso?" ele repetiu, impaciente, balançando um celular na mão. Não parecia feliz por estar morto.

"O que tem aí?"

"O que tem aqui? Uma mensagem do seu amigo psicopata, é claro! Como diabos ele foi conseguir o meu número?"

"Ele sequestrou Violet, e ela tinha seu número no celular que sumiu junto com ela."

John olhou para o celular, daí passou a mão sobre ele, xingando baixinho.

"Droga, sujei a tela de sangue..."

"Dê-me aqui." Sherlock estendeu a mão, pegando o celular do amigo e lendo a mensagem. Logo o celular sumiu e a mensagem apareceu escrita em letras de sangue na parede.


Todas as pessoas solitárias do mundo
De onde elas vêm?
Todas as pessoas solitárias do mundo
A que lugar elas pertencem?
Uma moça, um detetive e um santo
Qual será derrubado primeiro?

"Essa poesia não rima." afirma Lestrade, deitado em outra mesa. Estava semi-levantado, e apoiava a cabeça num dos braços. Tinha um buraco no peito, já seco e limpo, e marcas roxas pelos braços e rosto.

"Por que ele não faz logo o que quer fazer, em vez de ficar te mandando mensagem?" perguntou Molly, que sustentava uma marca de corda ao redor do pescoço e cortes finos no rosto. Ela observava a mensagem na parede, e passou os dedos pela garganta. "Ser enforcada coça..."

"Ele quer brincar." diz Sherlock. "Como já queria desde o início. Mas desta vez o prêmio é bem maior."

"Não deveria referir-se a uma pessoa como prêmio." disse John, em tom repreensivo. Ao mesmo tempo cutucava a costura em seu pescoço, encontrando uma pontinha e tentando puxá-la. "É extremamente insensível, e um tanto mórbido."

Sherlock não prestou atenção ao que John dissera. Estava profundamente concentrado na mensagem escrita na parede.

"Não é um poema inteiriço... " afirmou. "Parece que ele pegou o pedaço de algum poema que outra pessoa escreveu, e daí adicionou a parte final. São pistas. Essa mensagem me diz onde ela está. " ele cerra os olhos, estudando cada palavra. "De onde vem estas palavras?"

"Se você possuísse um círculo de leitura maior do que criminalística talvez soubesse de onde este poema vem." diz Mycroft, com 70% do corpo carbonizado.

"Eu não leio literatura inútil... " murmura Sherlock.

"Talvez fosse inútil antes, " Mycroft sorriu, e estava sem alguns dentes. "mas tem de admitir que seria muito útil agora."

Sherlock revira os olhos, voltando a observar a mensagem. Não fazia ideia de onde aquelas palavras vieram, ou o que queriam dizer.

"Preciso ir mais fundo..."

"Quanto mais fundo você for, mais difícil será voltar para a superfície."

A voz era conhecida, mas incomum, especialmente num lugar como aquele. Ele não a reconheceu de início, mas notou que toda a sala escureceu. Ele esticou as pernas, pois antes estavam cruzadas, vendo todos os cadáveres se deitarem e fecharem os olhos. Ele se levanta, e sente o chão frio sob seus pés. Olha para baixo, e nota que está sem sapatos, e de fato, sem calças também. Subiu o olhar por seu corpo e viu, finalmente, o início da costura, que subia por seu abdômen, cruzava com outra sobre seu peito e terminava pouco antes de sua garganta. Ele ergueu a cabeça, suspirando profundamente. Ele também morrera.

"Maldição..." rosnou para si mesmo.

"Não exija demais de si mesmo." diz Mycroft, deitado, olhando para o teto com seus olhos sem cor. "Todos morreremos algum dia."

Ele caminhou pela sala, vendo todos os corpos deitados, e imaginando se deveria se juntar a eles. Observando cada um, reconhecia a todos. Lestrade... Sra. Hudson... Molly... Mycroft... John...

Todos morreram, inclusive ele mesmo, por causa de sua inépcia em pegar o assassino.

Havia uma mesa no canto, e o corpo estava coberto por um lençol. Sherlock pôde adivinhar quem estava lá.

"Você poderia aproveitar que já morreu e me ajudar com alguma coisa." disse, levantando o lençol e soltando uma exclamação de espanto. Apenas naquela mesa, havia um desconhecido.

"Ela não está aqui." diz John. "Você não achou o corpo dela.”

Um barulho vindo de fora chamou-lhe a atenção. Ele foi até a pesada porta, abrindo-a, e chegando ao corredor. Viu-o muito sujo, como se não fosse limpo, sequer visitado, por décadas. A maioria das lâmpadas estava queimada, e a única ainda funcionando piscava, prestes a também apagar.

Ele começou a caminhar, observando cada canto daquele corredor imundo. As palavras na parede, originalmente no celular, giravam ante seus olhos, recusando-se a ir embora a menos que fossem solucionadas.

"Todos morrerão algum dia." a voz de Mycroft ecoava por todo o lugar. "E alguns morrem mais cedo. Apenas deixe acontecer... Deixe acontecer... Abandone o caso. Deixe-a ir..."

Sherlock balançou a cabeça com força, tentando sacudir aquelas palavras para fora de sua mente.

"Não..."

"Deixe ela ir... Enterre-a..." Sherlock fechou os olhos, juntando as sobrancelhas. Respirou fundo. "Enterre-a... Enterre-o!"

Sherlock abriu os olhos numa tomada de fôlego, vendo-se no quintal da casa dos pais, de pé sobre a grama, debaixo de chuva. Nas mãos, uma pá.

"Enterre-o!" ordenou novamente Mycroft. Ele estava jovem, adolescente, usava um colete de crochê colorido, e encarava o irmão mais novo, mãos na cintura, esperando. Estava frente a uma pequena cova aberta na grama, e o irmão caçula estava do outro lado dela.

Sherlock apertou o cabo da pá entre as mãos pequeninas. Era novamente uma criança, e observava a cova. Seus olhos estavam marejados, e não era em virtude da chuva. Olhou o irmão mais velho, suplicante.

"Não quero fazer isso, Mycroft!" choramingou.

"Você tem de fazer isso!" exclamou Mycroft, raivoso. "Sabe o que vai acontecer se papai e mamãe chegarem antes de você enterrá-lo?"

"Eu não posso... Eu não posso!" o pequeno Sherlock fungou. "Eu não quero."

Mycroft respirou fundo, procurando se controlar. Passou a mão sobre o rosto, tirando um pouco da água da chuva.

"Jogue a terra."

"Não..."

"Jogue a terra!"

"Não!"

"Você não entende, Sherlock? É para o seu bem! Enterre a droga desse cachorro!"

"Eu não queria que ele morresse!" disse Sherlock, começando a soluçar.

"Pare com isso!" ordenou Mycroft. "Seja homem! Pegue a terra e jogue!"

"Não!"

"Desista!"

"Não!"

"Deixe ela morrer!"

Sherlock olhou para a cova novamente. Parecia que ela havia aumentado de tamanho. Mycroft voltara a ser adulto, e tinha seu guarda-chuva aberto. Havia uma montanha de terra ao lado da cova, e não havia mais casas, apenas uma extensão gramada até onde a vista alcançava.

Ele hesitou. Iria acabar quebrando a pá entre as mãos, tanta era a força que estava concentrando nela. Era um adulto agora, poderia perfeitamente fazer isso. Moveu-se lentamente, aproximando a pá do monte de terra. Tinha de enterrá-la, tinha de...

Um latido ecoou. Sherlock virou-se, tomado de espanto.

Lá no gramado, debaixo daquela chuva, estava Barba Ruiva.

O belo cão de pêlo avermelhado jazia sentado, encarando o dono. Não parecia com raiva. Ao lado dele surgiu uma menina cheia de sardas, usando um vestidinho preto de gola branca, com cabelos longos e absurdamente vermelhos.

Sherlock já vira aquela garotinha. Vira-a num quadro, sobre uma mesa, no dia em que entrara na casa de Violet Hunter e a pegara de surpresa. Aquela garotinha era a própria Violet.

E agora ela estava parada, de pé, ao lado de Barba Ruiva.

"Por favor..." implorou a pequena Violet. "Não me enterre."

"Ora vamos... " suspirou Mycroft de modo fatigado. "Não me diga que está na dúvida só por que a viu criança. Termine logo com isso!"

"Por favor!" ela repetiu. "Não nos enterre!"

"Eu não vou... Eu não..."

"Por favor!" ela chorava agora. "Eu não quero morrer!"

"Tarde demais. " afirmou Mycroft. "Você já morreu."

"Não!" exclamou Sherlock, correndo até a lápide que surgira ante seus olhos. Caindo de joelhos, colocou as duas mãos sobre a pedra lapidada, onde estava escrito o nome que ele menos queria ver lá: Violet Hunter.

"Não pode ser... Ainda não... Eu tinha tempo, eu sei disso! Eu tinha tempo!" ele abraçou a lápide, fechando os olhos com força. "Dê-me tempo, por favor, dê-me tempo... Dê-me tempo..."

O cachorro latiu. Nesse instante, Sherlock despencou, caindo num corredor longo e bem iluminado. Seu palácio mental.

"Sherlock... " disse Violet, adulta, parada alguns metros à frente. "Me alcance..."

"Fique aí." ele disse, caminhando na direção dela. "Só mais um pouco."

"Estou com medo."

"Estou quase te alcançando."

O rosto dela ficou ilegível. Ela esboçou um sorriso triste.

"Ele me alcançou primeiro."

Um ruído altíssimo invadiu aquele corredor, forçando Sherlock a se abaixar com as mãos no ouvido. Ao olhar adiante, viu Violet ser arrastada à força por uma sombra indistinta, gritando sem som enquanto era levada. Ele se levantou, disparando atrás dela, e se deparando com uma escada em espiral. Começou a subi-la, correndo. Enquanto subia, cruzou com o pequeno Sherlock e a pequena Violet, que desciam as escadas, rindo e brincando junto com Barba Ruiva. Ele continuou subindo, mas ao fim da escada não havia nada a não ser um corredor idêntico ao que estava antes. Ele rosnou de raiva, batendo o pé no chão.

"Mycroft!" rugiu. "Eu não vou desistir dela! Não desta vez! Dane-se você e suas preocupações!"

Um canto começou a dançar entre as paredes. Enquanto Sherlock esbravejava com a presença do irmão, este canto começou, cada vez mais, a tomar conta do corredor, até que Sherlock se deu conta de sua presença e se calou.

"Ah, olhe para todas as pessoas solitárias..." a voz cantava. "Ah, olhe para todas as pessoas solitárias..."

Sherlock conseguiu se acalmar, escutando aquilo e voltando a meditar.

"Eu conheço isso... Por que eu conheço isso?"

"Ah, olhe para todas as pessoas solitárias..." a voz era aquela de antes, conhecida, mas não recordada. Sherlock agora sabia quem estava cantando. Benjamin Knight. Este surgiu à sua frente, exibindo seus olhos multicoloridos e um meio sorriso.

"Por que eu conheço isso?!"

"Está na sua memória, é lógico." a mensagem ressurgiu na parede, desta vez escrita em tinta preta. "Resolva isso."

"Por que eu poderia resolver isso agora?"

"Por que isso não é um poema. É uma música."

A mente de Sherlock voltou a trabalhar. A mensagem saiu da parede, pairando diante de seus olhos. Ele estendeu a mão, separando as quatro primeiras frases das duas finais.

"É uma música." ele repetiu, concentrado. "Eu não conheço músicas, são uma perda de tempo, por que esta eu conheceria?"

"Você já a ouviu." disse o Prof. Hombach, parado onde antes estava Knight. "Lembra-se dela, agora só precisa se lembrar onde."

"Assim encontrarei a resposta."

"Não tenho dúvidas quanto a isso."

Sherlock disparou pelo corredor. Fez isso enquanto abria todas as portas, todas as lembranças que tinham algo musical envolvido. Viu a despedida de solteiro de John Watson, em que uma música pulsante enchia o ar. Viu quando ensinou John a dançar, em que uma valsa acordou a Sra. Hudson e a fez reclamar do andar de baixo. Viu o casamento, quando dançou com... Como era mesmo o nome dela? Só conseguia se lembrar de um nome agora. Abriu outra porta e viu Violet dançando e cantando alto, vestida com aquele pijama horrível.

"Pare de relembrar bons momentos... " disse o Prof. Graham. "Concentre-se."

Sherlock deixou aquela porta para trás, mas ao dirigir-se para a porta seguinte, deu de cara com seu irmão mais velho. Este encarou-o, e parecia especialmente infeliz.

"Não." disse simplesmente. Ao dizer isso, o chão começou a se rachar, assim como as paredes e as portas. Tudo começou a se desfazer.

Sherlock caiu no chão, e Benjamin Knight postava-se ao seu lado, o olhar urgente. Os dois se encararam.

"Tire-a daqui." ele disse.

Ele se levantou, abrindo a porta que olhara antes e vendo a Violet criança acariciando Barba Ruiva. Ele foi até ela, pegando-a no colo e partindo corredor afora, enquanto este se desfazia ao redor da fúria de Mycroft.

Mycroft. A personificação do lado calculista. E este não estava satisfeito.

Sherlock fez uma curva fechada, virando noutro corredor e entrando por uma porta, fechando-a em seguida. Colocou a Violet criança no chão, encostando-se à porta e trancando-a.

Violet olhou em volta, e viu uma mulher vestida toda de rosa, deitada de bruços no chão.

"O que houve com ela?" perguntou.

A porta sacode. Anderson surge olhando algo numa prancheta.

"Rache é uma palavra em alemão que significa..." tudo sacudiu, e lascas de teto começaram a cair. Não podia ficar lá.

Sherlock pegou Violet novamente, voltando ao corredor. Barba Ruiva seguiu o dono, latindo, enquanto este corria com Violet nos braços. Avistou o corredor do Barts, apertou o passo, chegando até ele e entrando na geladeira. Trancou a porta atrás de si, sob os olhares espantados dos cadáveres que ali estavam. Ele colocou Violet no chão, olhando através da janelinha a destruição que ocorria do lado de fora.

"O que está havendo?" diz John, assustado.

O chão treme, Violet cai sentada no chão, e um celular cai de suas mãos. Uma música começa a sair dele, através dos fones, e esta se espalha pela sala. Uma musica formada por uma voz masculina, coro, e violinos.

"Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!"

Sherlock olhou o celular, e daí se lembrou. No mesmo momento em que vira pela primeira vez a pequena Violet, a versão adulta ouvia música no fone. O celular caíra, o fone de ouvido se desconectara, e a música se fez ouvida.

"Eleanor Rigby, catava o arroz na igreja onde o casamento ocorrera... Vive em um sonho... Olha pela janela... Vestindo um sorriso que guarda num vaso ao lado da porta."

"Uma música..." ele ofega.

"Desculpe..." Violet diz, olhando o celular.

"Eleanor Rigby, morreu na igreja e foi enterrada junto com seu nome... Ninguém apareceu..."

"É essa!" Sherlock exclama, em êxtase. Ele abre a porta da geladeira, saindo para o corredor e encarando a destruição que ainda acontecia. Respirou fundo, olhando aquilo de modo ameaçador. "Calem a boca!"

Tudo ficou em silêncio absoluto. O corredor de seu palácio mental voltou a ser o que era. Tudo calmo. Tudo domado.

Neste momento Sherlock levou as mãos às costas, enchendo o peito.

"Eleanor Rigby. Canção composta pelos Beatles, baseada na história de uma mulher que morreu sozinha e que foi enterrada por um padre. Uma alusão às muitas pessoas solitárias que existem no mundo. Como Violet. Uma lápide com o nome Eleanor Rigby foi encontrada num cemitério em Liverpool, onde os membros da banda se conheceram."

"Ele a levou a Liverpool?" pergunta o John cadáver. Sherlock revirou os olhos. Esquecera de fechar a porta da geladeira.

"Não, tem de ser outra coisa." ele recorda-se da mensagem. "Uma moça, um detetive e um santo... Quem é o santo?"

"Não superestime seu oponente." avisou o Prof. Graham. "Ele não é mais inteligente que você."

"Sim." disse o Prof. Godel, sorridente. "Humilhe-o em seu próprio jogo."

Sherlock esboçou um sorriso para o professor, e voltou a pensar. Estava agora na sala de aula, em cima do tablado. Não sairia de lá sem uma resposta.

"Ele disse 'derrubado'."

"O que quer dizer?" pergunta John, dessa vez na sua versão viva e vestida.

"Ele disse 'quem será derrubado primeiro'. Ele não disse 'morto', ou 'destruído', e sim 'derrubado'." Sherlock encara o amigo. "É uma construção."

"Como?"

"A moça é Violet, o detetive sou eu, e o santo é uma construção. Quem escreveu Eleanor Rigby?"

"Sir Paul McCartney." afirma John. "A maioria foi John Lennon, mas esta foi Paul. Ele também é o único que a canta na versão original."

"Paul? Sir Paul... Santo Paul... St. Paul... A igreja!" Sherlock junta as mãos, sem conter a excitação. "Ela está na Catedral St. Paul!"

"Espere... Como pode ter certeza?"

"Pessoas solitárias, John, ele estava falando de Violet, de mim, de si mesmo, e claro, das pessoas que vão àquela igreja rezar! Aquele lugar é famoso por apenas receber celebridades e elas sempre entram sozinhas. Um santo, ele citou um trecho da canção escrita por Paul McCartney, você mesmo disse que a maioria das músicas eram escritas pelo John Lennon. Ele não é um gênio." Sherlock soltou uma risadinha.. "Quis parecer enigmático mas seu único trunfo seria minha falta de conhecimento sobre os Beatles. Bem, ele se deu mal, pois eu soube tudo sobre eles com o fim de entender o assassinato de John Lennon." ele começa a caminhar. "Ela está na Catedral... A canção diz que ela foi enterrada na igreja... Há uma série de catacumbas abaixo dela, reminiscências de todas as reconstruções pelas quais a igreja passou, especialmente após o Grande Incêndio. Ela está lá." ele se vira, vendo Barba Ruiva sentado ao lado do quadro. Sherlock sorri para ele. "Eu vou buscá-la."

"Você sabe que eu vou descobrir que você tem obsessão por cabelos ruivos, não sabe?" diz John, erguendo as sobrancelhas.

"Sim, eu sei." ele diz. Sherlock abre os olhos, desta vez literalmente, vendo-se dentro da geladeira novamente. Ele se levanta, ajeita seu casaco, sai para o corredor e finalmente para a rua. Respira profundamente o ar de Londres. Continua falando em seu interior.

"Mas isso não é o mais importante agora."


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