— O que você quer? – pergunto impaciente, evitando olhar nos olhos dela – E larga meu braço.

Ela me olha como se estivesse me analisando, sua expressão é séria.

— Quem te deu o direito de falar aquilo para aquelas crianças Haymitch? – ela diz em um tom um pouco alto – você não pode fazer isso.

— E quem te deu o direito de dizer a mim o que eu posso ou não fazer? Cuide da sua vida. – não acredito que ela veio me dar bronca. Quem ela pensa que é?

Ela continua me encarando, como se fosse me matar a qualquer momento. Credo, com tanta maquiagem parece até um bestante.

— Estúpido. – ela diz.

— Ridícula – rebato.

Ficamos uns minutos um encarando o outro até que me viro e volto a caminhar. Dessa vez passo um pouco de minha cabine.

— Haymitch, essa conversa não acabou. Você não tem o direito de tratar ninguém dessa maneira. Nem a mim e nem a aquelas crianças. – sua voz está embargada, mas ela mantém a posição séria. Encaro-a novamente, em silêncio – Eu me importava com você, me preocupava. Mas você só pensa em si mesmo, até mesmo ajudar aos tributos do seu próprio distrito você se recusa. Você além de egoísta, também é um covarde.

Me espanto ao ouvir o que ela diz. Lembro-me de cada segundo dentro daquela arena, quantas pessoas matei, o medo que senti. Fecho os olhos e me recuso a derrubar qualquer lágrima.

— Covarde? – digo em voz baixa – Covarde? – repito com a voz mais alta e cheia de raiva – Você sabe realmente o que significa essa palavra? Porque enquanto eu estava lá dentro daquela arena, matando pessoas e vendo outras morrerem, você e sua preciosa Capital se divertiram as minhas custas, as custas de cada tributo que morreu e de cada tributo que está vivo. – olho dentro dos olhos dela, demonstrando todo o meu desprezo – Você não tem o direito de me chamar dessa maneira.

Percebo que ela ingere cada palavra que ouviu, continuo olhando pra ela, mas ela desvia o olhar.

— Ok... – ela se vira, acho que para esconder alguma lágrima. – Esse assunto acaba aqui. Boa noite, Haymitch.

— Tchau, Effie.

POV Effie

Um tiro de canhão é disparado, seguido de alguns outros. 22 tiros de canhão ao todo.

Começo a correr como se minha vida dependesse disso, olho pra baixo e percebo que estou de salto e completamente machucada.

Escorrego na lama próxima a uma árvore, vou rolando até chegar a uma superfície plana e sem árvore nenhuma.

Não consigo me levantar pois estou muito machucada, fecho os olhos por uns instantes e ao abrir, vejo uma sombra. Olho pra cima e...

— Ora Ora... Olá Effie.

Vejo um homem com um machado na mão, engulo seco. Tomo coragem e olho no rosto dele. Me espanto.

Sinto como se meu coração parasse por uns instantes. – Ha-Hay... Haymitch?

— O que foi Effie? Tá com medo? – tinha um olhar assustador, quase como se fosse um louco.

— Por que ta me olhando assim? Onde estamos?

— É assim que quer jogar? – ele da uma risada quase cruel – Então tudo bem... Estamos na arena e você vai morrer.

— A-arena? Como assim? Eu não posso... – ele me interrompe.

— Você não pode estar aqui porque é da Capital, certo? Errado. – ele ri novamente – agora você vai sentir tudo o que todos já sentiram e vai ver que não há motivo nenhum pra rir.

Me levanto com certa dificuldade, o olho nos olhos. – Você vai me matar, Haymitch?

— Ainda tem dúvidas? – ele levanta o machado e acerta meu estomago com um único movimento.

Coloco minhas mãos em minha barriga e em seguida olho para elas. Estão cheias de sangue. Sinto minhas forças diminuindo e caio de joelhos.

— Quem é o covarde agora, Effie? – ele levanta novamente o machado e acerta meu pescoço. Solto um grito.

Sinto alguém me sacudindo. – Effie, Effie...

Abro meus olhos e olho em volta. Minha respiração está rápida e estou completamente suada. Olho pra cima e ele está lá, me segurando e abanando meu rosto.

— O que você ta fazendo aqui? – O encaro assustada, sinto lágrimas escorrendo pelo meu rosto e minha respiração cada vez mais descompassada. Seus braços me envolvem em um abraço, o que me faz chorar mais.

— Eu jamais faria algum mal a você... – ele sussurra