O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 3
Eu prometo que vou fazer de tudo pra ficar até o fim


Notas iniciais do capítulo

Os grupos passam pela primeira dificuldade: enfrentarem a si mesmos.



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O grupo Água foi o primeiro a encontrar o lugar demarcado para montar o acampamento. Janjão e Janu ficaram para trás no trajeto, o que acabou preocupando os outros. Mili foi a primeira a questionar.

"Gente, o que será que aconteceu com a Janu e o Janjão? Eles tavam andando muito devagar. Será que eles se perderam na floresta"?

"Relaxa Mili. Logo logo eles aparecem. Aposto que tão aprontando alguma pra cima da gente. Ainda bem que o Fábio ta aqui pra não deixar isso acontecer. Não é, Fábio?" - Falou Bia, confiante.

Fábio hesitou um pouco antes de consentir com a cabeça. Sua chegada no orfanato ainda era recente e os seus amigos estavam separados em outros grupos. A única coisa que podia fazer para permanecer no jogo era ir bem nas provas e mostrar para as meninas que ele poderia protegê-las dos vizinhos.

Marian, que estava quieta desde a divisão dos grupos, resolveu romper com o silêncio.

"Eu não sabia que a gente ia ter que montar um acampamento do zero. Como é que faz isso?"

"Tem umas instruções atrás do mapa. A gente pode dar uma olhada juntos depois que os outros chegarem" - Falou Mili, observando no mapa algumas das anotações. - "Aqui diz também que há uma espécie de caixa de correio numa árvore aqui perto, onde serão colocados os locais das provas."

"Eu acho que a gente poderia começar sem eles." - Sugeriu Bia, procurando o melhor lugar para montar a barraca. - “Só não sei como essas barracas vão proteger a gente, caso chova."

Enquanto as meninas conversavam, Fábio se adiantou para procurar comida. Algumas árvores estavam recheadas de frutas dos mais variados tipos e o garoto sabia muito bem como pegá-las. Ao subir numa árvore, escutou passos e decidiu ficar quieto para saber do que se tratava.

Janu e Janjão cochichavam suas estratégias para eliminar os órfãos, sem saber que Fábio estava ouvindo tudo.

"A gente precisa pegar um deles pro nosso lado. Somos seis pessoas e, caso o nosso grupo precise eliminar alguém, não vamos ter chance, só nós dois." - Falou Janu enquanto afastava algumas folhas do seu rosto.

"É verdade. Que tal se a gente tentasse aquela tal de Marian? Ela parece ser a menos pior do orfanato. Talvez ela ajude a gente." - Janjão estava começando a se empolgar.

Nesse momento, Fábio fez um barulho na árvore onde estava escondido e assustou os garotos. Janu olhou para os lados desconfiada mas não viu ninguém. Os dois decidiram continuar o papo outra hora e seguiram para onde estavam os outros.

"Olha só quem resolveu aparecer, os dois folgados. Será que dá pra acelerar o passo da próxima vez?" - Falou Bia, olhando fixamente para os olhos de Janjão.

Mili apaziguou a situação, antes que os vizinhos retrucassem, e os cinco passaram a construir o acampamento. Algum tempo depois, Fábio retornou segurando várias frutas enroladas em sua camisa. O clima do grupo Água, que não era dos melhores, aos poucos foi se acalmando.

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"E então, galera. Será que dá pra ir mais rápido? A gente ta ficando muito pra trás. Vamo acelerar aí!" - Alertou Mosca olhando para trás e percebendo o cansaço do grupo Fogo.

"Ai não gente. Eu já tô ficando toda suada e nojenta. Preciso de um banho bem relaxante. Não sei onde eu tava com a cabeça quando decidi participar desse jogo." - Reclamou Vivi, espantando alguns mosquitos que rodeavam sua cabeça.

"Calma Vivi. As suas glândulas sudoríparas logo logo vão dar uma pausa e o odor proveniente delas não conseguirá superar o perfume que você colocou. Além do mais, analisando o solo e o relevo local, suponho que há um riacho aqui por perto, onde a gente pode tomar banho." - Samuca estava tentando tranquilizar a garota, que aparentemente não entendeu nada do que ele quis dizer.

"Eu vou logo avisando que não vou tomar banho em riacho nenhum. Ai meu deus, onde foi que eu vim me meter!" - Esperneou Vivi, atrasando ainda mais o grupo.

Logo atrás dela estavam os três menores, Binho, Neco e Maria. Os três pareciam não estar ligando para as dificuldades da floresta, mas ao mesmo tempo, seus corpos já estavam começando a ficar exaustos. Binho cobria a retaguarda, assim como no último acampamento. Maria estava contente de ter Binho por perto outra vez. A menina ainda lembrava vagamente das vezes que ele a protegeu. Neco caminhava em silêncio, sem deixar transparecer qualquer sentimento.

Ao chegar no lugar certo, Mosca começou a montar a barraca, mesmo com a ausência dos companheiros de equipe. Samuca fez uma pausa junto com Vivi, que resolveu descansar sem sequer avisar alguém. Os menores caminhavam em passos lentos, mas não demoraram muito a chegar onde estava Mosca. Binho resolveu procurar frutas enquanto os outros preparavam o acampamento.

"Samuca, eu posso te perguntar uma coisa?" - Pela primeira vez na viagem, Vivi abriu a boca sem ser para reclamar de algo.

"Claro que pode. O que ta havendo?" - Perguntou Samuca bastante interessado.

"Você não teria coragem de me eliminar, teria?" - Agora as intenções de Vivi começavam a ser expostas.

"Não, não, imagina. Eu gosto muito de v… quer dizer, eu gosto muito da sua companhia, e você seria a última pessoa que eu pensaria em eliminar" - As mãos de Samuca suavam enquanto as palavras iam saindo de sua boca.

"Ótimo. A gente precisa achar mais alguém pra nossa aliança. Será que a Maria ou o Neco topariam votar em quem a gente mandasse?" - A menina ia se revelando aos poucos como uma verdadeira estrategista, o que acabou agradando Samuca.

"Nossa Vivi. Nunca imaginei uma ideia dessas vindo de você… Quer dizer, eu gostei muito da sua ideia. Vou tentar falar com o Neco depois pra ver no que dá." - Samuca estava muito feliz por dentro. Começou a notar que talvez a garota por quem ele se apaixonou tivesse um potencial de raciocínio tão alto quanto o dele. O devaneio do garoto foi interrompido por uma voz distante.

"Vocês não vêm ajudar a gente não é?" - Mosca gritou de longe.

Os dois seguiram juntos rumo ao acampamento. Enquanto caminhavam, Samuca sentiu uma vontade enorme de segurar na mão de Vivi. Mas jamais permitiria que ela percebesse o quanto ele estava suando. A menina continuava imaginando quanto tempo iria demorar até poder tomar um banho.

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"Eu já falei que eu sou a mais corajosa. Você é surda, garota?" - Dani gritou com Teca e fez com que todos parassem para separar a briga.

"Ei ei ei, parem vocês duas!" - Bradou Rafa, tentando pôr ordem na equipe - "A gente é do mesmo grupo. Não tem porque ficar brigando assim."

Bel olhou admirada para Rafa. "É incrível como ele leva jeito pra esse negócio de liderança" - pensou.

"É essa garota chata que fica o tempo todo me tirando do sério. Todo mundo aqui sabe que ela não é capaz nem de andar sozinha pelo orfanato. Quanto mais nessa floresta cheia de bicho." - Explicou Teca, olhando feio para Dani.

Ana assistia a discussão sem tomar partido algum. Gostava das duas por igual e não queria pôr em risco sua amizade com nenhuma delas. André também observava calado a teima das duas. Desde que começaram a caminhar, o garoto só conseguia pensar em como fazer para eliminar alguém do orfanato antes que eliminassem ele ou Bel.

Após se recomporem, os seis seguiram se baseando nas indicações do mapa. Bel era a encarregada dessa parte e compartilhava o cargo com André. Rafa ia um pouco mais atrás se certificando de que os menores estavam bem. Ao chegarem, todos começaram a trabalhar em equipe, com a exceção de Dani e Teca, que resolveram sentar para descansar. Ao ver que reclamar não iria adiantar de nada, os outros continuaram a montar as barracas. Ana era a que mais trabalhava, não parando um segundo sequer para descansar. Lá no fundo de sua cabeça, uma ideia se repetia: "Eu não posso deixar eles perceberem que eu tô com medo."

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Duda foi nitidamente o mais descontente com o sorteio das equipes. A última coisa que queria era ficar novamente ao lado de Pata, pois desde o outro acampamento de férias, os dois não se dão nem um pouco bem. Por outro lado, Pata não estava se importando muito com a presença de Duda. O que ela mais queria era provar para todo mundo que poderia vencer a competição sem passar por cima de ninguém. A única coisa que a preocupava, era saber que em determinado momento, teria que eliminar as pessoas que gostava. Ou pior ainda, poderia ter que votar no próprio irmão.

Tatu também foi outro que não gostou nada da divisão dos grupos. Janjão estava junto de Janu e André estava com Bel. De seus amigos, era o único que estava completamente sozinho. Como não era muito bom de papo, resolveu observar bem as pessoas ao seu redor. Qualquer brecha seria útil para que ele pudesse tentar alguma coisa. Seu maior medo era ser o primeiro eliminado do jogo.

"Ta tudo bem com você, Tatu?" - Perguntou Tati como quem não quer nada.

"Mais ou menos… eu tô sentindo muita falta do meu cachorro Goe."

"Sei como é. Eu também tô com muita saudade da minha cachorrinha Pipoca. Não sabia que você tinha um cachorro. Vocês brincam muito?" - Tati parecia bastante empolgada.

"Bastante. O Goe é o meu melhor amigo. Mais até que o Janjão" - Respondeu Tatu, com um sorriso no canto da boca. "É isso. Eu preciso me aproximar da Tati." - Pensou, enquanto mantinha o sorriso intacto.

Cris era a mais lerda de todas. Parava em cada árvore para tirar uma selfie, e nem sequer se importava nas tentativas de Thiago de estragar suas fotos. Voltou a câmera para si, e disse:

"Oi gente. Mal chegamos aqui no acampamento e logo fomos divididos em grupos. Vocês nem vão acreditaaaar! A gente ta participando de uma espécie de Reality Show, com eliminação e tudo! Eu prometo que vou fazer de tudo pra ficar até o fim e filmar os melhores momentos pra vocês!"

Enquanto Cris gravava cenas para o seu blog, Thiago jogava folhas na frente da câmera, tentando atrapalhar a filmagem. Cris estava tão animada que em nenhum momento se irritou com o garoto. Para ela, muita coisa estava em jogo nesse acampamento.

"Ok pessoal. O mapa diz que é pra gente montar as barracas aqui. Vamo logo começar porque a Bárbara falou que ainda hoje vai ter uma prova e quando a gente voltar já vai estar muito tarde." - Falou Duda, se certificando de que aquele era o lugar certo.

"Pera aí. Quem foi que disse que você é o líder do grupo? Que eu saiba ninguém te colocou no comando aqui." - Confrontou Pata.

"Ai não, Pata. Outra vez você querendo pegar no meu pé. Larga a mão de ser chata e começa logo a armar as barracas, vai." - Disse Duda, lembrando das discussões que teve com Pata no último acampamento.

"Ai gente, vocês não vão começar a discutir agora, né? Vamo arrumar esse acampamento logo que eu tô morrendo de fome e a comida que deram pra gente não vai dar pra nada. Daqui a pouco a gente vai ter que achar umas frutas pela floresta." - Interrompeu Cris.

Os três ficaram se entreolhando por algum tempo, até que Thiago quebrou o gelo colocando um galho na cabeça de Tati, que tomou um susto.

"Ô garoto! Vê se deixa ela em paz, ta! Se você se meter com ela, vai se ver comigo." - Falou Tatu, já partindo para cima de Thiago. Os dois ficaram se encarando e, se não fosse pela intervenção de Duda e Pata, teriam começado uma briga ali mesmo.

"Eu sei me defender muito bem sozinha." - As palavras de Tati pareciam ser de uma garota bem mais velha. Aquilo pegou Tatu de surpresa. Naquele momento, não era raiva que sentia. Era uma coisa diferente. Algo que ainda não sabia o nome.

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Os acampamentos foram montados e as crianças conseguiram arranjar frutas para comer. Pouco a pouco eles iam percebendo a importância de trabalhar em equipe e também que não tinham comida suficiente para muito tempo.

O grupo Água descansava, quando, de repente, Fábio chegou trazendo um papel nas mãos. Eram as instruções sobre o local da primeira disputa, que começaria no final da tarde. Do grupo Fogo foi Mosca quem encontrou a "árvore correio" e, dentro dela, um bilhete indicando a hora e o lugar onde aconteceria a prova.

Os dois grupos seguiram, quase que ao mesmo tempo, para a competição entre equipes. Enquanto isso, o grupo Terra e o grupo Ar pareciam ter esquecido de checar suas caixas de correio. Duda, do grupo Ar, e Rafa do grupo Terra se deram conta no meio da tarde que teriam de ficar atentos para os avisos sobre as provas.

Cris se desesperou, achando que não iam chegar a tempo, mas pata a acalmou dizendo que ia dar tudo certo. O grupo Ar saiu em disparada para o local indicado, deixando o grupo Terra em último lugar na ordem de chegada. Era impossível conter a empolgação e algumas das personalidades mais competitivas estavam prestes a mostrar suas garras.


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Notas finais do capítulo

Qual grupo será que vai perder a primeira prova? E quem será o primeiro eliminado da competição? Não deixem de acompanhar os próximos capítulos (:



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