O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 2
Você vai ser o primeiro a voltar pra casa!


Notas iniciais do capítulo

Com mochilas pesadas e bastante animação, os órfãos e seus vizinhos partem para o acampamento de sobrevivência das férias Desbravadores do Leste. O que eles não sabiam é que dessa vez as regras seriam completamente diferentes.



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Uma pilha de roupas se espremiam para caber na mochila de Vivi, e aos poucos a menina percebia que não dava para levar nem a metade daquilo que julgava precisar.

"Ai não gente. Minhas roupas não tão cabendo. Se eu não levar meu vestido novo e a camisa que eu ganhei do Matias eu vou morrer!"

"Calma Vivi. É só um acampamento. Você não vai precisar de quase nada do que tem aí." - Disse Pata, separando luvas, meias e todas as peças necessárias para enfrentar os dias de frio.

"Além do mais, Vivi, você nem deveria ta usando essa camisa que o Matias te deu. Você precisa esquecer ele, lembra?" - Falou Mili, que lá no fundo sabia que o que acabara de falar também servia para si mesma.

O assunto, que quase virou discussão entre as meninas, foi interrompido quando, de repente, Mosca invade o quarto avisando que a vã já estava esperando por eles lá embaixo. Nesse momento, Cris surge por trás de Mosca e o empurra num gesto de desespero, correndo em direção à sua mala semi pronta.

"Ai não gente! Socorro! A vã chegou e eu ainda não separei todas as minhas coisas! Bia, você viu o carregador do meu celular? Eu não posso ficar sem o meu celular!"

"Ai como você é anta, Cris! Você não lembra que é proibido usar celular no acampamento? Além do mais, não teria como você carregar ele lá né!" - Bia completou a frase socando a testa.

"E agora? Como é que eu vou fazer pra tirar fotos e gravar os melhores momentos da viagem? Alguém pode me dizer?" - Gritou Cris, ofegante.

"Tem o Duda…" - Disse Pata com os olhos mirando o chão.

Todas ficaram em silêncio como se aquele nome fosse proibido de ser pronunciado em voz alta. Uma buzina começou a alarmar freneticamente e as meninas se apressaram para finalizar suas bagagens.

"Espero que dê tudo certo..." - pensou Cris.

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Lá embaixo, os menores faziam a festa. Maria corria de um lado para o outro segurando Laurinha pelo braço e fazendo com que os cabelos da boneca se esvoaçassem ao vento. Dani e Teca disputavam a atenção de Neco para saber qual das duas era a mais corajosa. Ele, por outro lado, estava congelado no sofá, pensando que essa viagem não era uma boa ideia.

"Anda Neco, fala logo qual das duas é a mais corajosa!" - Gritou Teca, já sem muita paciência.

"É claaaaro que sou eu. Ou você esqueceu que eu já estive no acampamento nas últimas férias e que o meeeeu grupo ganhou a competição?" - Dani estava ciente de que pouco fizera para a vitória do seu grupo, mas seus olhos diziam o contrário.

"Isso não importa. Eu não estava lá. Anda Neco, responde logo!" - Insistiu Teca sacudindo o garoto.

"Gente, ainda dá tempo de desistir? Acho melhor eu ficar aqui e cuidar do orfanato enquanto vocês estão fora" - Os lábios de Neco começaram a tremer.

Thiago passou por perto neste momento e, ao perceber que o garoto estava com bastante medo, resolveu entrar no assunto.

"É, Neco. Tem muitos bichos soltos na mata que poderiam te devorar numa mordida só. Da outra vez, tinha uma onça gigante que quase engoliu o Rafa. Não foi Dani?"

O menino se levantou nas pressas e correu para abraçar Carol, que estava no telefone e não pôde lhe dar atenção. Thiago, Dani e Teca davam gargalhadas do outro lado da sala e só pararam quando Carol pouso os olhos neles, entendendo na mesma hora o que estava acontecendo.

"Só um minuto" - Pôs a mão tapando o telefone - "Ô Neco, você não precisa ter medo. Essa viagem é justamente pra ensinar vocês a superarem os desafios. Não liga para o que os outros dizem. Eles só estão brincando com você." - E com o mesmo fôlego, voltou à ligação - "Tudo certo, então. A vã deve estar partindo em vinte minutos no máximo. Vocês tem o endereço do acampamento?" - Uma voz do outro lado confirmou, e Carol finalizou a ligação - "Ok. Qualquer coisa é só ligar no número que eu deixei com o Janjão. Tchau tchau."

Ao ouvir aquele nome, Neco deu um salto e olhou firme nos olhos de Carol.

"Ai não! Eu já tinha esquecido que aqueles meninos malvados iam com a gente. Por favor Carol, não deixa eles me pegarem" - Neco pensava tão alto que a mulher em quem estava agarrado conseguia ouvir suas preces. Mais uma vez, Carol o tranquilizou. - "Neco, olha pra mim. Eu te prometo que vai ficar tudo bem. E qualquer coisa é só você ficar perto da Mili ou do Mosca. Eles não vão deixar que nada de ruim te aconteça."

Os dois se abraçaram uma última vez, enquanto os outros passavam por eles carregando suas mochilas pesadas. Da vã, todos deram tchau para os que ficavam. Do lado de fora, Chico, Carol e Ernestina sorriam e desejavam em pensamento que desse tudo certo.

"Gente, gente! Cadê a Maria? Ela não pode ficar pra trás como da outra vez!" - Gritou Tati, tentando assegurar que nada de ruim atrapalhasse a viagem.

"Eu tô aqui, Tati. Esqueceu que agora eu falo? Não vou mais me perder como da outra vez" - Maria sorriu e abraçou Laurinha. Por dentro, a boneca também estava animada para viajar.

"Eu quero um minuto da atenção de todos." - Falou um homem de rosto conhecido por alguns - "Para quem não me conhece, meu nome é Cleber, e eu sou o instrutor do acampamento de sobrevivência Desbravadores do Leste. Quero avisar, desde já, que a aventura vai ser bem diferente da última, e prometo que será inesquecível. Alguém aqui está animado?" - O instrutor estava claramente mais empolgado que qualquer criança dentro daquele veículo. Antes que continuasse seu discurso, Binho o interrompeu com um "Uhruuuh!" e todos caíram na gargalhada.

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Logo atrás da vã que conduzia os meninos do orfanato, um carro um pouco menor seguia levando os vizinhos para o acampamento. O pai de André dirigia com bastante concentração, e os garotos aproveitavam o momento para armar seus planos de massacrar os órfãos.

"Então Janjão. Você já sabe o que a gente vai aprontar com aqueles trouxas?" - Perguntou Tatu do banco da frente. O banco de trás estava um pouco apertado com os outros quatro se espremendo para caberem.

"Ainda não pensei em nada. Mas a gente não precisa se preocupar com isso. Chegando lá, dependendo de como for essa tal 'aventura de sobrevivência', a gente arrebenta com eles" - Janjão estava mais despreocupado que de costume. Como se outra coisa ocupasse sua mente mais do que vencer seus inimigos.

"A gente só não pode relaxar." - Complementou Janu, com uma cara não muito boa. "E eu não quero ver ninguém daqui de conversinha com aqueles órfãos. Ta me ouvindo Bel?"

Bel não tinha aberto a boca nenhuma vez naquela manhã. Tudo em que conseguia pensar era nas diversas formas de se encontrar às escondidas com Rafa, para que ninguém suspeitasse da amizade dos dois.

"Hã? Do que você ta falando Janu? Eu hein…" - Bel falou sem saber realmente do que a amiga estava se referindo - "Será que ela sabe…?" - Pensou em seguida, mas logo fingiu não saber de nada.

"Calma aí galera. O importante é a gente se unir contra eles. Tem uns quinze deles e só cinco nossos. O mínimo que a gente pode fazer é tentar trazer alguém de lá pra aumentar as nossas forças." - Disse André, completamente disposto a vencer o que quer que seja.

"Faz sentido. Mas como a gente vai fazer isso? Nenhum deles confia na gente. Não é verdade?" - Perguntou Tatu.

Nessa hora, tanto Bel quanto Janjão sorriram disfarçadamente. No fundo eles sabiam de pessoas que poderiam sucumbir ao lado deles. Só não tinham total certeza de que isso era o certo a se fazer.

Chegando no acampamento, André se despediu de seu pai, e os cinco seguiram para junto das outras crianças. Em pouco tempo, muitos planos teriam de ser repensandos e novas estratégias precisariam ser feitas.

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Um último carro apareceu e Duda saiu de dentro com um semblante um pouco mais maduro. Estava mais forte também. O tempo que passou fora o fez diferente. A primeira a notar as mudanças foi Mili. No passado os dois foram bastante próximos, e a saudade deu lugar a um sentimento lindo de reencontro. Os dois se abraçaram e um sorriso lindo decorou a face de Duda. Por cima dos ombros de Mili, visualizou os outros amigos que não via há um bom tempo. "Ah não. A Pata ta aqui. Tomara que eu não fique no mesmo grupo que ela." - Pensou assim que notou a primeira das meninas que lhe chamou atenção. A próxima também não seria uma surpresa - "Olha só a Cris. Mais bonita do que de costume. Talvez mais até que a Mili. Ainda bem que eu trouxe a câmera que ela me pediu, senão ela ia me matar."

"Ja ta bom de abraço né Mili. Deixa o Duda vir cumprimentar os outros. Eu preciso da minha cam... quer dizer, da câmera que ele trouxe" - Falou Cris com os olhos brilhando. Havia também um pingo de culpa por ter quebrado a câmera que Duda havia lhe dado antes de viajar para os Estados Unidos. Mas depois de uma série de pedidos de desculpas pelo FriendBook, a menina estava um pouco mais tranquila quanto a isso.

Após uma série de abraços e apertos de mão, a confraternização foi surpreendida pela chegada de um outro rosto conhecido. Bárbara, a coordenadora do acampamento, se pôs ao lado de Cléber e alertou a todos que precisava de total atenção. À partir daquele momento, tudo iria mudar. A forma como enxergavam uns aos outros, os laços que os uniam e até mesmo os sentimentos ocultos no coração de cada um.

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"Certo, deixa eu ver se entendi" - Disse Mili olhando para Bárbara - "Nós vamos nos dividir em quatro grupos, sorteados aleatoriamente, e depois disso teremos que montar um acampamento num lugar específico da floresta. Certo?"

Bárbara fez que sim com a cabeça e logo novas dúvidas surgiram. Para contornar a situação, resolveu explicar detalhadamente todo o processo envolvendo a nova disputa de sobrevivência.

"Atenção que eu só vou falar mais essa vez. Somente um de vocês levará o título de Último Desbravador do Leste. Para isso serão formados quatro grupos para disputar as provas e também para sobreviverem juntos no acampamento que cada time irá construir. A cada disputa de imunidade, o grupo que obter o pior resultado terá que eliminar um de seus membros, através do Conselho dos Desbravadores. Além disso, novas quatro regras serão importantes para decidir o vencedor:

1 - Ser forte nas competições

2 - Saber em quem confiar

3 - Eliminar sabiamente os concorrentes

4 - Não esquecer de se divertir e de construir novos laços de amizade

Mais uma coisinha deverá ser lembrada. Na floresta estão escondidos alguns colares de imunidade. A pessoa que encontrar um colar desses, deverá mostrá-lo no Conselho dos Desbravadores, antes da contagem dos votos para a eliminação. Os votos dados àqueles que estiverem usando o colar, não irão valer. E assim declaro oficialmente aberta a competição valendo o título de Último Desbravador do Leste. Boa sorte à todos e que vença aquele que jogar melhor."

Algumas crianças tiveram dificuldades para entender o jogo. Ana foi a primeira a falar que não tinha compreendido quase nada do que Bárbara havia dito. Bia a tranquilizou dizendo que as regras eram confusas mas que, com o tempo, ela iria acabar entendendo.

"Isso se você não for eliminada antes." - Falou Janjão, provocando o riso de seus amigos. Bia se enfureceu e partiu para cima do garoto.

"Cala a boca seu imbecil! Você vai ser o primeiro a voltar pra casa!"

"Ei ei ei! Calma aí gente." - Separou Bárbara - "Esqueceram que uma das regras importantes é se divertir? E outra, ninguém aqui vai pra casa antes das férias terminarem. Um outro acampamento será montado para aqueles que forem eliminados da competição. Lá terá comida, diversão e outras provas para entretê-los enquanto os outros continuam no jogo. No fim, eu tenho certeza de que todos irão adorar."

"Pera aí." - Cris se ergueu entre os demais bastante preocupada - "A gente vai ter que passar o mês inteirinho aqui? Ninguém tinha me dito isso!"

Uma contestação coletiva começou a surgir, obrigando Bárbara a gritar por silêncio.

"Gente! Quem não estiver gostando, pode ir pra casa. Ninguém está sendo obrigado a ficar aqui. Mas, uma vez dentro do jogo, é preciso seguir as regras até o fim. Mesmo os eliminados terão de permanecer na floresta até que seja descoberto o vencedor. Quem estiver de acordo, dê um passo à frente."

O primeiro a concordar foi Fábio. O menino não conversava muito com os amigos, mas sempre que se envolvia em competições, sentia uma necessidade enorme de testar a si mesmo ao máximo. Depois dele foram os vizinhos que se mexeram para frente. Mosca, Binho, Thiago, Pata e Bia também se decidiram.

Samuca estava muito atento na hora da explicação, e pareceu ser o que mais entendeu o que havia de ser feito para vencer. O problema era que sua pele estava reagindo muito mal à exposição solar, e todas as suas alergias estavam vindo à tona de uma só vez.

O próximo a dar o passa à frente foi Duda, seguido de Mili e depois de um tempo, por Cris. Maria surpreendeu a todos e também resolveu participar. Com ela, Dani e Teca, ao mesmo tempo, se juntaram aos demais. Tati estava esperando sua irmã Vivi se decidir, mas a menina parecia estar com muito medo de participar daquele jogo durante um mês inteiro.

"Vamo Vivi. Eu quero muito participar, mas só vou se você também for." - Falou Tati fazendo um jogo de olhares para a irmã.

"Ai não Tati. Meu cabelo vai ficar horrível. Não vou brincar disso nem morta" - Falou Vivi decidida.

"Rafa, você não vem?" - Perguntou Mosca ao amigo.

"Err… é que eu não sei se… " - Antes de terminar a frase, deu uma olhada para Bel e viu que, se ela ia jogar, ele queria estar por perto para protegê-la - "Ta bom, podem contar comigo."

Marian estava muito intrigada com as regras do jogo. Tudo que ela mais gostava de fazer era colocar as pessoas contra as outras e nunca havia estado numa posição onde tivesse que contar com mais alguém além de si mesma. E ao se tratar de uma competição, não iria gostar de perder para ninguém. Ao fim de muita especulação, percebeu que o jogo poderia estar ao seu favor, de certa forma. Já que ela poderia muito bem fingir laços com alguém e depois trair todo mundo numa jogada de mestre. Sem expressar qualquer tipo de sentimento, deu um passo à frente.

A essa altura só estavam faltando Vivi, Tati, Ana, Samuca e Neco se decidirem.

Ana não havia entendido quase nada do que era para ser feito, mas ao encontrar com os olhos de Bia, se sentiu um pouco mais confiante para tentar. Tati segurou na mão de sua irmã e a puxou para frente sem deixar tempo para que a outra se soltasse. Ao ver que Vivi tinha se juntado aos demais, Samuca resolveu não dar bola para seus problemas de saúde, fazendo com que apenas Neco permanecesse indeciso. Na cabeça de Neco começou a se formar um plano de fuga daquela floresta. Ali não era muito diferente da carvoaria onde trabalhou e sabia muito bem como escapar de lugares assim. De repente a voz de Carol veio em sua cabeça, dizendo que ia dar tudo certo, e só assim ele teve coragem, como em poucas vezes na vida, e deixou de lado o medo que o prendia no lugar.

As crianças haviam topado participar do desafio. Faltava agora ver como ficaria a divisão dos grupos. Cleber segurava uma urna misteriosa e Bárbara foi em direção a ela, indicando que ali estavam os nomes para o sorteio. A divisão se deu da seguinte forma:

Grupo 1 - Ar (Duda, Cris, Tati, Pata, Thiago e Tatu)

Grupo 2 - Água (Mili, Janjão, Bia, Marian, Fábio e Janu)

Grupo 3 - Fogo (Mosca, Vivi, Binho, Maria, Samuca e Neco)

Grupo 4 - Terra (Rafa, Ana, Bel, Teca, André e Dani)

A reação de todos foi um caos total. Quase ninguém ficou contente no grupo em que estava. Ao verem que a competição já tinha começado, cada grupo pegou seu mapa e seguiu na direção onde estava o local de seu acampamento. Quando já estavam um pouco mais longe, Bárbara gritou para terem cuidado e para ficarem atentos ao aviso da primeira prova, que se iniciaria em breve. O barulho dos passos foi ficando cada vez mais distante e o sol anunciava um lindo dia de aventuras.


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Notas finais do capítulo

E aí? Vocês gostaram do sorteio dos grupos? Qual o favorito de vocês???