O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 16
Em quem não podemos confiar - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

A corrida em busca das bandeiras está apenas começando. Quem serão os nove competidores a salvo da eliminação? Isso e muito mais em um capítulo que promete abalar o coração de muita gente!



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Bia caminhava sozinha rumo ao riacho onde costumava pescar. Ao ouvir Bárbara dizer que as bandeiras estavam escondidas em locais estratégicos, imaginou que talvez pudesse ter alguma por lá. Ainda era bem cedo da manhã e os pássaros continuavam assoviando seus cânticos matinais.

Ao passar pela caverna onde dormiu pelas últimas três noites, lembrou do momento em que ela e Janjão se beijaram. De repente, era como se aquela chuva continuasse caindo e os dois estivessem colados um no outro, se esquentando de frente para a fogueira.

"Por que isso teve que acontecer logo aqui?" - Bia estava com o pensamento tão longe que sequer imaginou que poderia haver alguma bandeira escondida na caverna.

Seguiu direto para o riacho e notou um silêncio desagradável ao seu redor. Era como se estivesse completamente sozinha naquele lugar. Na mão direita repousava a lança que não soltava por nada no mundo. Era seu amuleto sagrado e precisa estar sempre com ela.

Chegando no riacho, se aproximou da água e aproveitou para lavar o rosto. Não sabia de onde tinha tirado forças para acordar. Passou a noite anterior quase toda pensando em Janjão e no porquê das coisas terem que ser daquele jeito. De todos os vizinhos, ele era o que mais encrencava com ela e todos os outros do orfanato. Saber que aquele garoto já beijou seus lábios, as vezes chegava a lhe dar nojo. Mas sentia algo diferente em seu coração. Como se a repulsa tivesse se transformado em algo bom. As vezes parecia que conseguia enxergar uma pessoa boa dentro de Janjão que só aparecia para ela, quando estavam a sós.

"Eu preciso esquecer esse garoto o quanto antes."

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"Pata, me ajuda aqui." - Mosca pedia a ajuda de sua irmã para subir em uma árvore onde, um pouco mais acima, descansava uma pequena bandeira amarela com um sol desenhado.

"A gente deu muita sorte nessa. Nem precisamos procurar muito." - Rafa não tirava os olhos da bandeira enquanto Binho, um pouco mais afastado, olhava se não havia alguém por perto.

Pata usou suas mãos para servir de apoio aos pés de Mosca e com isso o garoto conseguiu subir na árvore com cuidado. Se esgueirou entre os galhos e, com um pouco de esforço, conseguiu recuperar o objeto. Ao descer, resolveu fazer uma reunião rápida.

"Chega mais, galera. Eu não sei de vai dar pra achar bandeira pra todo mundo, então é bom a gente pensar junto em quem não podemos confiar. Ou melhor, precisamos definir quem são nossos alvos principais." - Mosca falava enquanto escondia a bandeira em um dos bolsos, deixando parte do mastro a vista.

"Com certeza o Duda. Além de ele ser forte nas provas, o Thiago saiu por causa dele. Esse garoto ta contra mim desde o início e conseguiu até fazer a cabeça da Cris e da Tati uma vez." - Pata tinha muita convicção em suas palavras.

"A gente também precisa acabar com aqueles vizinhos chatos, um por um." - Falou Binho com cara de bravo e dando socos na própria mão.

"Basta a gente se livrar do Janjão e da Janu. Os outros não têm poder nenhum sozinhos." - Mosca lembrava do rosto sorridente de Mili, quando estavam todos juntos, e isso o deixava ainda com mais raiva.

"Não é bem assim não, Mosca. O André é bem mais esperto do que eu pensava. Ele até conseguiu evitar ser eliminado. E olha que nós estávamos com a vantagem." - Rafa quase deixou escapar que Bel estava do seu lado, mas no fundo sabia que isso era um segredo apenas entre os dois.

"Também tem a falsa da Marian. Vocês não acham que ela pode armar alguma coisa pra cima da gente?" - Pata sabia muito bem o tipo de garota que Marian era e isso a preocupava mais do que os próprios vizinhos.

"Relaxa. A Marian não faz mal nem pra uma mosca. Hahaha" - Binho olhou para Mosca e todos riram, exceto Pata.

"Então ta ok, galera. Agora a gente precisa se separar pra poder ficar mais fácil achar essas bandeiras. Eu vou com a Pata por esse lado, vocês dois por aquele ali." - Mosca apontou as direções e todos seguiram seus comandos sem hesitar.

"Ele ficou com a bandeira?" - Perguntou Binho para Rafa enquanto corriam para a direção ordenada.

"É… acho que ele tava tão apressado que nem deu tempo de decidir quem ficaria com a bandeira. Mas relaxa, a gente logo logo encontra as nossas." - Rafa estava mais calmo que de costume. Chegava a pensar que seria melhor não encontrar bandeira alguma. Assim Bel teria mais chances de se salvar.

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Ao notar que já estavam longe o bastante da arena, Duda e Cris se encontraram finalmente. Duda pisava forte para que Cris soubesse para onde estava indo e assim puderam caminhar na mesma direção.

"Vem cá." - Chamou Duda de braços abertos e um sorriso no rosto.

Cris foi ao seu encontro e os dois aproveitaram alguns minutos para ficarem juntos. Era a primeira vez em que não precisavam se preocupar tanto. Todos estavam empenhados em encontrar bandeiras enquanto os dois só queriam um instante a sós.

Sentaram embaixo de uma árvore enorme, cuja sombra se estendia por cerca de três metros. Duda envolveu seus braços sobre o corpo de Cris e manteve seu rosto próximo ao dela.

"Você não vai me dar um beijo?" - Duda olhava firme nos olhos de Cris.

"Eu nunca imaginei que um dia iria poder olhar pros teus olhos tão de perto." - A menina não conseguia guardar para si o que estava sentindo. Era mais forte do que tudo que havia experimentado em toda sua vida.

"Não fala besteira. Eu tô aqui, não tô?" - Duda usou sua outra mão para puxar o queixo de Cris mais perto e lançou um beijo demorado. Nunca passou pela sua cabeça que a menina ao seu lado pudesse fazê-lo tão bem. Todo o tempo em que frequentou o orfanato só tinha olhos para Mili, e isso acabou impedindo que enxergasse a graciosidade tímida de Cris. Neste momento, gostaria que não houvesse competição nenhuma e que pudessem assumir o que sentiam um pelo outro na frente de todo mundo.

Ao ouvirem algumas folhas se mexerem, os dois se afastaram mutuamente. Cris arrumava os cabelos apressada enquanto Duda se levantava para ver o que havia sido aquele barulho. O garoto andou alguns passos para frente e deu de cara com Vivi parada, olhando friamente em sua direção. Tati vinha logo atrás.

"O que você ta fazendo aí parada?" - Perguntou Duda desconcertado.

"Eu preciso falar com a Cris. E precisa ser agora mesmo." - Vivi tinha um olhar sério e isso acabou assustando a todos, inclusive Tati.

Cris levantou e seguiu para perto de Vivi. Seu rosto totalmente corado não conseguia esconder o que acabara de acontecer.

"Tati, você pode nos dar licença?" - Vivi fez menção para que Tati se afastasse.

Duda estava em pânico. Queria poder fazer alguma coisa mas não queria transparecer que estava preocupado, afinal Vivi poderia não ter visto nada. Só restava esperar o resultado da conversa que, por sinal, não estava sendo nada boa.

"Cris, o que você tem na cabeça? Você ta querendo roubar o Duda da Mili?" - Vivi jogou uma pergunta boba enquanto pensava em alguma maneira de usar a situação a seu favor.

"Não é bem isso que você ta pensando, Vivi. Nem tava ac… acontecendo nada. A gente só ta descansando antes de começar a pr.. procurar as bandeiras." - Cris gaguejava mais e mais, completamente nervosa.

Depois de um tempo olhando Vivi nos olhos, percebeu que tinha sido chamada de ladra de namorados, o que definitivamente não era o caso.

"Eu não tô roubando o namorado de ninguém. A Mili nem gosta mais dele e nem ele dela, só pra você saber!" - A voz de Cris ia se exaltando aos poucos.

"Aha! Então você tava mesmo beijando o Duda! Bem que eu suspeitei!" - O sorriso de Vivi pressionava Cris ainda mais.

"Então você não tinha visto nada?" - Nessa hora a expressão de Cris mudou completamente de nervosa para furiosa.

"Isso não importa. Acontece que se alguém ficar sabendo disso… hum… acho que não seria nada bom pra vocês dois…" - O tom na voz de Vivi ia piorando com o tempo.

"O que você quer dizer com isso? Você não pode contar pra ninguém! Ta me ouvindo, garota?" - Cris apontava o dedo na cara da amiga.

"E o que eu ganho em troca do meu silêncio?" - Vivi olhava para Duda e Tati do outro lado. Alguns pensamentos vieram em sua cabeça.

Nesse momento, Vivi caminhou em direção a Duda enquanto Cris a seguia com medo do que iria acontecer. Tati estava muito confusa e esperava entender alguma coisa através da fala da irmã.

"Duda, você vai ter que encontrar uma bandeira pra mim e outra pra minha irmã, senão eu conto o que acabei de ver pra todo mundo." - Vivi não conseguia entender muito bem porque estava ameaçando seus amigos. Já era a segunda vez que se encontrava sob um enorme estresse.

"Tudo bem. Não há motivo pra se exaltar. A gente vai achar uma bandeira pra todo mundo." - Duda tentou acalmar a situação.

"Mas o que você viu, Vivi? Eu não tô te entendendo." - Perguntou Tati tão aflita quanto Cris, ao seu lado.

"A sua irmã me viu com alguma coisa no ouvido e achou que eu tava falando no celular. Mas tudo já foi esclarecido, não é Vivi?" - Duda fez uma cara feia para Vivi.

"Claro… foi só uma sombra. Eu me preocupei porque é extremamente proibido usar celular na competição e ele poderia ser desqualificado… Foi só isso." - Vivi sorriu disfarçadamente para Tati.

"Então vamo deixar de conversa e procurar logo por essas bandeiras que já ta ficando tarde." - Duda apanhou sua bolsa do chão e seguiu mata adentro.

Tati ficou um tempo parada, digerindo o que a irmã acabara de fazer. Nada daquilo parecia ter algum sentido e a cara de Cris indicava que os três estavam escondendo alguma coisa dela. Preferiu não se importar, afinal, estava com sua irmã e isso era motivo suficiente para não se preocupar com coisa alguma.

Cris seguia olhando para o chão, completamente arrasada. Nem tanto por ter sido flagrada com Duda, mas por sentir que havia destruído completamente o jogo dos dois.

"Eu não aguento mais esse jogo idiota." - Pronunciava sem que ninguém ouvisse. Levantou o rosto e notou que Duda não conseguia nem ao menos olhar para trás - "Você ainda vai pagar muito caro por isso, Viviane."

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"Olha só o que eu achei!" - Gritou Janjão para seus amigos.

Os vizinhos tinham decidido seguir por um caminho totalmente desconhecido e acabaram se deparando com um galpão abandonado. Já estavam ali há algum tempo e nada de bandeira. Quando já estavam de saída, Janjão se deparou com algo que fez o passeio ter valido a pena.

"O que são essas coisas escuras aí no chão?" - Perguntou Janu tentando enxergar melhor.

"São armadilhas de caça, você não ta vendo?" - Janjão conhecia Janu há bastante tempo e frequentemente usava da intimidade que tinham para tratá-la da maneira como bem entendesse.

"Legal! A gente pode usar essas armadilhas contra os órfãos!" - Ao dar sua sugestão, André notou que Bel não estava com uma cara muito animada.

"Ai não gente, Que maldade. Eles podem acabar se machucando com isso daí." - Bel tentava impedir que os amigos causassem ainda mais revolta no pessoal do orfanato. Por dentro, temia que fizessem algo contra Rafa.

"Relaxa Bel. É só uma cordinha. Não faz mal pra ninguém." - Falou Janjão com um sorriso enorme no rosto.

Após retirarem toda a corda da caixa, notaram que se tratava de uma rede de caça. Ficaram alguns minutos estudando como se usava aquilo e saíram apressados do galpão.

André e Janu esticavam bem a rede no chão enquanto Janjão espalhava areia e folhas secas por cima. Bel sentou um pouco mais adiante eficou observando o ato nada amistoso de seus amigos. Nos últimos dias andou pensando no que a fazia seguir essas pessoas se não concordava com quase nada do que faziam.

"Nossa… Como eu queria que o Rafa tivesse aqui comigo…"

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"Anda logo, Fábio! Joga essa bandeira pra mim antes que ela caia lá embaixo!" - Marian acenava para Fábio, que fingia não estar ouvindo nada.

Fábio passou a maior parte do caminho em silêncio. De vez em quando parava bruscamente e subia em alguma árvore para procurar sua bandeira. Marian acompanhava seus passos como se também estivesse procurando bandeiras, quando na verdade esperava que ele achasse alguma para ela.

"Eu preciso achar alguma forma de enganar esse chinês idiota." - Pensou Marian enquanto assistia Fábio se esticar por cima de um tronco que pendia para fora de uma elevação montanhosa.

O relevo daquela floresta possuía algumas formações rochosas largas e por vezes perigosas para crianças daquela idade. Mas Fábio não tinha medo de quase nada. Ao ver que havia uma bandeira presa naquele tronco, nem se importou com o fato deste mesmo tronco estar suspenso no ar, a cerca de dois metros acima da água corrente.

Marian tentava de tudo para que Fábio jogasse a bandeira para ela, mas ele jamais faria algo assim pois sabia que não podia se confiar em alguém tão incoerente. Na eliminação de Mili, os dois ficaram responsáveis por votar em Janjão, mas no último segundo antes de entrarem no conselho, Marian se aproximou dele e o obrigou a votar em Mili, alegando que, caso não fizesse isso, poderia ser o primeiro eliminado do grupo Água.

Até aquele momento, Fábio não havia tido chance de falar com Marian para descobrir o motivo dela ter feito isso, já que ela mesma votou em Janjão como havia sido combinado desde o começo. Ao voltar com a bandeira em mãos, resolveu tirar a história a limpo de uma vez por todas.

"Eu preciso te perguntar uma coisa, Marian." - Fábio estava um pouco desconcertado mas precisava saber quais eram as verdadeiras intenções de sua única aliada no jogo.

"Pode falar, Fábio." - Marian aprontou um sorriso agradável como de costume e esperou calmamente a pergunta ser feita.

"Por que você me disse que eu deveria votar na Mili, naquele dia do conselho?" - Fábio reparou que a expressão de Marian permaneceu a mesma.

"Eu te expliquei direitinho naquela hora, Fábio. A Mili e a Bia estavam querendo que você fosse o primeiro eliminado do grupo por ser bastante forte e querido por todos. Elas me disseram que você era uma grande ameaça para o jogo de qualquer um." - Marian estava feliz em poder contar mais uma de suas mentiras.

"E por que você resolveu ficar do meu lado e não no delas?" - Perguntou Fábio ainda repleto de dúvidas.

"Por que se elas pensaram isso de você, poderiam pensar de qualquer um. A Mili é a menina mais falsa que já conheci em toda a minha vida. Além do mais ela sempre consegue o que quer já que ninguém desconfia das mentiras dela. Foi então que os vizinhos vieram me propor que a gente se juntasse pra tirar ela e eu te avisei porque gosto muito da sua companhia." - Marian olhou profundamente nos olhos de Fábio e percebeu que aos poucos ia conseguido acalmar o garoto.

"Então por que você votou no Janjão e não na Mili?" - Fábio esperava acabar com suas dúvidas de vez.

"Por que eu não queria que a Bia ficasse contra nós dois. Eu sabia que ela iria me acusar de ter traído a Mili, então achei melhor votar no Janjão pra ela pensar que você estava seguindo com o plano delas." - Marian já não estava mais aguentando tantas perguntas de uma vez.

"Mas então, por que as duas votaram na Janu e não em mim?" - Insistiu Fábio.

"Escuta, Fábio. Não é por nada não mas ta ficando muito tarde e eu ainda não tenho a minha bandeira. Outra hora eu termino de te explicar o que aconteceu." - Marian continuava a sorrir esperando que o garoto esquece aquela história toda.

Fábio sorriu de volta e guardou a bandeira no bolso. Estava feliz em ver que Marian estava realmente do seu lado. Por alguns instantes, pensou em segurar sua mão, mas era tímido demais para um gesto como esse.

"Agora nós precisamos achar a sua bandeira." - Fábio passou a andar lado a lado com Marian e sentiu que tinha acabado de conquistar uma amizade muito importante. Principalmente para o jogo, mas não só.

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"Deve ter alguma por aqui…" - Binho vasculhava em cada canto por onde passava. Revirava troncos, mexia em arbustos e cavava pequenos buracos em lugares estratégicos.

"Será que os outros tão se dando bem? Ta tão difícil achar essas bandeiras." - Rafa sentou em uma pedra para descansar e resolveu puxar um pouco de assunto.

"Eu acho bem difícil os menores estarem se dando bem. Imagina só a Maria e o Neco subindo em árvore ou cavando buracos no chão. A Dani então…" - Binho deixou escapar um riso debochado.

Os dois continuaram conversando sem deixar de lado em momento algum que estavam em uma competição. Desde que moravam na rua, Binho e Rafa eram bastante amigos e nunca haviam passado muito tempo separados. O valor da amizade, para eles, era bem maior do que o título que estava em jogo mas, no fundo, cada um tinha seus motivos para permanecer ali. Rafa, por exemplo, queria mostrar para Bel que era corajoso e esperto o suficiente para chegar até o fim. Momentos antes, ao perceber que Samuca não estava mais entre eles, sentiu um grande orgulho de si mesmo, perante ela, por ter durando mais que seu grande rival.

Já Binho tinha uma perspectiva diferente. Embora não fizesse tanta questão de se tornar o Último Desbravador do Leste, desde o início estava jogando de diversas formas possíveis. Acordava cedo para pegar frutas, tratava a todos muito bem e ainda reservava um tempo, sempre que podia, para estudar seus concorrentes. Por toda a sua vida, levara nome de covarde, mentiroso e algumas outras características que pessoalmente discordava. Estar competindo juntamente com seus amigos era uma oportunidade ótima para provar que, ao contrário do que pensavam, possuía muita coragem e inteligência.

Ao investir um pouco mais no seu jogo social, conseguiu várias informações importantes acerca dos antigos companheiros de grupo. Sabia por exemplo que Maria facilmente desistiria do jogo caso perdesse Laurinha e que Neco voltaria para casa se por algum motivo passasse a se sentir inseguro na floresta. Também notou que Mosca se deixava levar facilmente pelo seu lado emocional. Ao perceber o quanto a eliminação de Mili mexeu com o amigo, Binho imaginou que o mesmo aconteceria caso Pata tivesse o mesmo destino. O único de quem ainda não tinha conseguido arrancar informação alguma era Rafa.

"E então, Rafão. O que você achou de estar num grupo com a Bel e o André? Eles são muito chatos?" - Binho continuava revirando pedras e troncos enquanto mantinha o diálogo.

"Que nada. A gente até que se deu bem. Tirando o dia do conselho, todo mundo tava sempre se divertindo junto." - Rafa avistou uma pedra diferente das outras, há poucos passos de onde estava sentado.

Binho não acreditou em nada do que Rafa disse. Enquanto os grupos estavam reunidos, mais cedo, ouviu o boato de que Dani havia colocado fogo no acampamento e sabia, pela cara do amigo, que aquilo era verdade.

"Ele ta escondendo alguma coisa de mim. Mas o quê?" - Pensou Binho sem deixar transparecer suas dúvidas.

"Mas e no seu grupo? Rolou alguma complicação?" - Rafa estendeu o assunto para que Binho não suspeitasse de seus movimentos. Aos poucos foi se aproximando da pedra diferenciada, sem fazer barulho, e encontrou uma bandeira embaixo da mesma. Apanhou o objeto e colocou no bolso imediatamente.

"Complicação… O Rafa nunca usaria esse palavra numa conversa normal… Definitivamente tem alguma coisa errada…" - Pensou Binho.

"Tirando o Mosca achando o tempo todo que pode mandar em todo mundo, não teve nada demais." - Binho escondia perfeitamente seus sinais de satisfação. Desde o princípio queria fazer Rafa acreditar que futuramente Mosca poderia ser uma grande dor de cabeça. Com isso, garantiria que, quando restassem poucas pessoas no jogo, os dois maiores se voltariam um contra o outro, tornando seu caminho para a reta final muito mais fácil.

"Também acho isso. Nós precisamos tomar muito cuidado com ele, quando chegar a hora certa." - Rafa voltou tranquilamente para seu lugar, sem que Binho percebesse que havia se levantado. Tirou um sanduíche da bolsa e começou a devorá-lo rapidamente. A ânsia pela vitória o deixava faminto.

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Não demorou muito para que Bia encontrasse sua bandeira. Enquanto lavava o rosto no riacho, percebeu algo estranho flutuando na água, um pouco distante da superfície. Sem pensar muito, usou sua lança para recuperar o objeto. Com a bandeira em mãos, saiu correndo na direção onde ficava Bárbara e os bancos.

"Será que ele também conseguiu?" - Bia torcia secretamente para que Janjão também se salvasse da eliminação que iria acontecer mais tarde. Uma parte dentro dela queria ter a chance de beijá-lo outra vez.

"Não. Tomara que aquele idiota seja eliminado ainda hoje."

Bia estava em um grande conflito interno naquele momento. Uma hora queria estar perto de Janjão e logo em seguida gostaria de nunca ter tido nada com ele. Corria distraidamente até que suas pernas cruzaram uma linha quase invisível, que a derrubou no chão repleto de grama e folhas secas. Em poucos segundos estava completamente imóvel, presa por uma rede suja e pesada.

"Socorro! Alguém me tira daqui!" - Bia tentou se mexer mas o esforço foi em vão. Por sorte, sua lança havia caído longe no momento da queda, evitando que se machucasse ainda mais.

Algumas pessoas se aproximavam, mas a posição em que estava dificultou o reconhecimento imediato. O primeiro rosto que apareceu em sua frente, tão assustado quanto o dela, fez uma lágrima cair de seus olhos. O rosto de alguém que jamais conseguiria perdoar.


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Notas finais do capítulo

tô tentando escrever bastante esses dias pra recompensar vocês pela demora
espero que estejam gostando e por favor, não deixem de comentaaar!
espero vocês no próximo capítulo
até mais :**



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