O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 15
Se eles me virem com você, vão querer te eliminar também


Notas iniciais do capítulo

Bárbara deixa a situação bem clara: os quatro grupos não existem mais. E agora? Quem serão os nove vencedores da quarta prova da competição? Não deixem de conferir!



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Cris, Duda, Pata e Tati foram os primeiros a chegarem na arena onde aconteceria a quarta prova da competição. Bárbara se posicionava em um palanque de madeira no centro do local, cerca de um metro acima da superfície. Ao seu lado, alguns bancos, em um tom um pouco mais escuro que o piso, repousavam à luz fraca de um dia que acabara de nascer. Duas escadas laterais facilitavam a subida para os bancos, mas Bárbara fez sinal para que todos permanecessem embaixo, onde havia uma grande marca vermelha na areia. Ao redor, árvores chacoalhavam ao vento e insetos trabalhavam para manter a ordem em seu habitat natural.

Longe dali, Mosca, Binho, Maria, Vivi e Neco caminhavam lentamente, resistindo ao sono de uma noite mal dormida. O dia anterior foi marcado por uma longa tempestade e o frio enfraqueceu bastante as crianças. Vivi passou as últimas vinte e quatro horas procurando algum sentido em estar ali, e tudo em que conseguia pensar era que gostaria de estar de volta ao orfanato. Mas desistir definitivamente não estava em seus planos.

Maria não havia tido chance de falar com os meninos após a eliminação de Samuca. Sabia que um grande alvo estava em suas costas depois de ter arquitetado sozinha uma grande armadilha para eliminar um dos concorrentes mais inteligentes de todo o jogo e isso a assustava um pouco. Por enquanto, preferia ficar do lado de Vivi, mesmo sabendo que não poderia confiar muito nela. Sua intenção era buscar proteção, caso suspeitasse que os outros estavam tramando alguma coisa.

Ao se deparar com a primeira visão do grupo Fogo após a eliminação tripla, Tati viu que sua irmã continuava na competição e correu para abraçá-la.

"Vivi! Eu nem acredito que você ta aqui comigo! Eu tava morrendo de saudade!" - Tati não conseguia se desgrudar de Vivi. Colou seu rosto na barriga da irmã, para que ninguém visse que estava chorando.

"Aconteceu alguma coisa, Tati? Eles te fizeram algum mal?" - Vivi preferia que aquela cena não estivesse acontecendo, pois tinha certeza de que uma demonstração de afeto na frente de todos não seria nada bom.

Enquanto as duas se abraçavam, Mosca e Binho se dirigiram para onde Pata estava. Os três sentiram suas forças aumentando por estarem juntos outra vez. Duda e Cris se entreolharam, como se tivessem percebido alguma coisa ao mesmo tempo.

"Agora só falta o Rafa pro time ficar completo." - Falou Mosca mais alto do que gostaria.

Nessa hora, Duda puxou Cris de lado um instante. Os dois estavam com uma cara não muito boa.

"Você ta pensando o mesmo que eu?" - Duda olhava direto nos olhos de Cris. O som de sua voz saía por entre os dentes, para que ninguém pudesse ler seus lábios.

"Que esses três são uma forte ameaça pro nosso jogo?" - Cris falava com empolgação. Pela primeira vez conseguiu usar a razão e chegar na mesma conclusão de Duda. Quanto mais conviviam juntos, mais iam se tornando parecidos.

"Não só isso. Já imaginou se o Rafa ainda ta no jogo e os quatro se unem? Vai ser praticamente impossível derrotar a aliança deles." - Duda fazia cálculos com os dedos, tentando lembrar de alguém mais com quem pudesse se aliar. Sabia que Cris estaria ao seu lado a todo custo, mas os dois juntos não teriam força alguma contra o resto do pessoal.

"Não adianta pensar nisso agora. Afinal, a gente nem sabe o que vai acontecer. E pela cara da Bárbara ali em cima, não parece que vai ser algo muito simples." - Os dois fitaram o semblante misterioso que Bárbara emanava.

Quando os dois grupos já estavam posicionados dentro do círculo vermelho, foi a vez da equipe Água dar as caras. Bia vinha na frente segurando um grande pedaço de madeira, seguida de Fábio e Marian, que pareciam envergonhados com a maneira na qual Bia estava se comportando.

"Essa ridícula ta parecendo uma selvagem andando com esse graveto na mão" - Marian comentou baixinho para Fábio, que retribuiu o sorriso embora sem ter certeza do que estava fazendo.

Mais ao fundo, Janu e Janjão se arrastavam sem muito conforto atrás dos companheiros de grupo. A cabeça de Janjão estava ocupada demais para pensar no jogo e quantos mais suspiros dava, mais Janu ia desconfiando que alguma coisa estranha estava acontecendo com ele.

"Vem cá Janjão. Ta acontecendo alguma coisa que eu não saiba? Você ta muito esquisito desde ontem." - Janu olhava desconfiada para o garoto ao seu lado.

"Eu tô com frio, só isso." - Janjão tentava esconder seus sentimentos. A verdade é que estava com medo de que tudo aquilo que aconteceu entre ele e Bia não tivesse passado de um simples momento para ela. Além do mais, logo depois que a chuva acabou, ela o expulsou de sua caverna alegando que seria péssimo para o jogo dos dois se alguém suspeitasse do que havia acabado de acontecer.

Ao confirmar que Mili tinha sido realmente eliminada do grupo Água, Mosca e Pata se apressaram na direção dos vizinhos para tirar satisfação.

"Foram vocês que armaram pra cima da Mili, não foi? Seus covardes!" - Mosca empurrou Janjão, que acabou se desequilibrando e caiu no chão.

Janu foi para cima de Mosca, a fim de confrontá-lo, mas Pata a impediu de chegar mais perto.

"Fala logo o que foi que aconteceu, senão vai ser pior!" - Pata apontava o dedo na cara de Janu, e sua voz continha um tom de ameaça.

"Parem com essa briga agora, senão correrão o risco de serem desqualificados da prova!" - Bárbara usava um megafone para dar seu comunicado.

Ao ouvirem a voz gritante de Bárbara, Mosca e Pata retornaram para seus lugares, enquanto Janu ajudava Janjão a se levantar. De longe, Bia observava o quão distraído Janjão estava desde que os dois haviam se beijado na caverna.

"Aquilo definitivamente não deveria ter acontecido." - Bia segurava firme sua lança ao mesmo tempo em que escondia seu arrependimento. A última coisa que precisava era ter que esconder um segredo tão vergonhoso quanto aquele.

Por último, Rafa, Dani, Bel, André e Ana chegaram na arena, deixando todos surpresos. Até mesmo os vizinhos achavam que André havia sido eliminado, mas ao verem seus amigos ali presentes, Janjão e Janu correram para cumprimentá-los.

"Eu sabia que vocês iam conseguir!" - Janjão apertou a mão de André e sentiu sua atenção voltando subitamente para o jogo.

"Conta outra Janjão. Você passou a noite toda com cara de bobo. Aprecia até que tava lamentando a eliminação do André e do Tatu sem nem saber o que tinha acontecido." - Janu cortou a comemoração de Janjão e o fez ficar envergonhado diante dos outros.

"Por falar nisso, cadê o Tatu?" - Bel foi a primeira a sentir falta do amigo.

"Pelo visto eu não tava completamente errado." - Janjão olhou para Janu com cara de desprezo.

"O importante é que a gente ta junto a partir de agora." - André propôs um abraço coletivo e os quatro voltaram juntos para onde os outros estavam, se sentindo verdadeiros vitoriosos.

Rafa aproveitava o momento com Mosca, Pata e Binho para confabular algumas teorias de jogo. Os quatro falavam baixo para que ninguém mais os ouvisse.

"Por que você não eliminou o André? A Teca era tão ruim assim?" - Pata perguntou para Rafa em um tom debochado.

"Eu sinceramente não sei ainda como o André conseguiu reverter a situação. Só sei que eu e a Ana estamos do mesmo lado. Já a Dani… tenho minhas dúvidas." - Rafa mantinha um olhar desconfiado, ao perceber que Bel estava junto dos vizinhos novamente. Desejou ter tido mais tempo ao seu lado para dizer o quanto gostava dela.

"Ok, pessoal. Eu preciso da atenção de todos vocês. Como foi dito no recado que foi enviado ontem de tarde para árvore-correio de vocês, a partir de agora os quatro grupos estão extintos. Podem dar adeus a suas alianças, pois daqui pra frente o jogo irá mudar drasticamente." - A voz de Bárbara ia decorando o ambiente com um misto de esperança e suspense.

"Como vocês podem observar, ao meu lado estão nove bancos, representando nove de vocês. Na floresta ao redor foram escondidas nove bandeiras e somente com uma bandeira é que poderão sentar nesse banco." - Aos poucos as voz de Bárbara ia suavizando, na medida em que explicava como seria a prova.

"Mas o que esses bancos têm de tão especial assim?" - Perguntou Mosca.

"Ótima pergunta, Mosca. Quem estiver sentado em um destes bancos, não precisará ir ao conselho hoje à noite. Além disso, a partir de hoje, vocês serão divididos em dois grupos. Os que conseguirem as bandeiras, serão o grupo Sol, que portanto não precisarão eliminar ninguém mais tarde. Os outros dez precisarão passar pelo conselho dos desbravadores, onde alguém terá de deixar a competição e os que se salvarem formarão o grupo Lua. E então? Todo mundo entendeu?" - Bárbara percebia a apreensão em cada um dos rostos que a encarava. A segunda etapa do jogo prometia ser melhor que a primeira e ela mal aguentava de curiosidade para saber quem estaria em qual grupo. Talvez mais que qualquer um ali, Bárbara estava tendo as melhores férias de sua vida.

Após uma série de dúvidas, as crianças se acalmaram e começaram a pensar em que locais as bandeiras poderiam estar. Bárbara não havia dito nada a respeito de trabalhar em equipe, mas ao mesmo tempo, dificilmente encontrariam mais de uma bandeira no mesmo lugar. Foi então quando as estratégias realmente começaram.

_

Os vizinhos saíram na frente, em disparada. Escolheram uma direção aleatória e correram juntos, na esperança de acharem um lugar tranquilo onde pudessem pensar mais sossegados. Da mesma forma, Pata, Mosca, Binho e Rafa se apressaram em sumir da vista de todos. Quanto mais longe fossem, mais chances tinham de discutir estratégias em paz.

Bia e Ana continuaram no lugar onde estavam. Nenhuma das duas tinha coragem de chegar perto da outra, pois ainda tinha muita gente na arena e elas não queriam deixar na cara que iriam trabalhar juntas.

Marian e Fábio, por sua vez, escapuliram para um lado. Alguma coisa na cabeça de Fábio o alertava de que ficar do lado de Marian seria um grande risco, mas como não possuía uma ligação forte com ninguém ali, resolver seguir seu instinto. Bia, que não tirava Marian de vista, acabou notando a aproximação repentina dos dois e passou a imaginar até onde Fábio era de fato amigo dela.

"Como se não bastasse a cobra da Marian, agora tenho que me preocupar com o Fábio também. O que essa menina tem que faz as pessoas ficarem do lado dela tão facilmente? Argh." - Bia desejou estar mais perto de Ana para que as duas pudessem discutir sobre o jogo, mas ainda não era a hora certa.

Duda e Cris também não gostariam que alguém os visse juntos, portanto esperaram seus competidores se dispersarem. Ao verem Dani, Maria e Neco seguirem rumo ao local onde ficava o acampamento do antigo grupo Terra, começaram a caminhar despropositadamente para frente. Duda pegou um pouco de distância de Cris e adentrou a mata. A menina, logo atrás, fingia estar procurando alguma bandeira, enquanto seguia os passos de Duda.

"Vivi, anda logo. A gente ta ficando pra trás!" - Tati puxava Vivi pelo braço para que começassem a procurar pelas bandeiras.

"Calma Tati. A gente ainda nem sabe por onde começar." - Vivi continuava quieta, pensando se seria bom estar do lado de sua irmã - "Andar com a Tati não vai ser nada bom. E se os outros tentarem eliminar ela por minha causa? Mas… ao mesmo tempo… eu não posso deixar a minha irmãzinha se perder nessa floresta."

Competir ao lado da irmã era, de fato, muito mais complicado do que competir com Samuca. Vivi não conseguia esquecer o momento em que o amigo foi eliminado. Tinha medo que o mesmo acontecesse com Tati, e tudo aquilo ia se transformando em uma tempestade em sua cabeça.

"Olha. Aquela ali não é a Cris? A gente pode procurar junto com ela. Vem!" - Tati usou toda a força que tinha para levar sua irmã consigo. Ao ver que era realmente Cris que estava mais a frente, Vivi parou de resistir e as duas seguiram em direção a amiga.

Ao ver que não tinha mais ninguém na arena, Bia e Ana enfim se encontraram. As duas pareciam aflitas e precisavam se apressar pois as buscas já haviam se inciado há algum tempo.

"Escuta, Ana. Eu preciso que você fique calma e escute tudo que eu tenho pra dizer. Nós não temos muito tempo." - Bia olhava em volta ainda preocupada se alguém estava por perto.

Ana estava totalmente calma. Naquele momento, pouco a importava achar ou não uma bandeira. Sabia que ninguém votaria nela, então não faria mal se de repente fosse parar no grupo perdedor. Mas também não queria ser vista perto de Bia porque imaginava que a amiga seria um alvo fácil na competição. Afinal, quem não se sentiria ameaçado por uma garota de treze anos com uma lança nas mãos no meio de uma floresta?

"É o seguinte. Eu e a Mili fomos traídas pelo resto do grupo. A Marian provavelmente fez a cabeça do Fábio e dos vizinhos contra nós. Se eles me virem com você, vão querer te eliminar também. O melhor que você faz agora é ir procurar sozinha pela sua bandeira, até porque eu duvido que dê pra achar mais de uma no mesmo lugar." - Bia precisou de um tempo para respirar fundo. Aproveitou o fôlego renovado e continuou - "O Fábio ta andando com ela agora. Toma cuidado com ele também. Ah, eu preciso saber o que houve no seu grupo. Como a Teca acabou sendo eliminada? Quanto mais informações trocarmos, melhor." - Bia sabia que não estava contando tudo para a amiga porém jamais iria querer que alguém soubesse do que havia acontecido entre ela e Janjão.

"Provavelmente foi coisa do André. Ele viu que a Teca e a Dani não paravam de brigar e se aproveitou da situação, junto com a Bel, pra eliminar uma das duas. Eu e o Rafa estamos do mesmo lado." - Ana preferiu esconder que a eliminação de Teca tinha sido uma ideia totalmente sua. Desde o início, estava jogando sozinha e, mesmo que fosse bastante amiga de Bia, não iria permitir que isso afetasse seu jogo.

"Nossa. Cada vez que eu ouço falar nesses vizinhos asquerosos só me deixa com mais raiva. Agora corre, Ana. Da próxima vez que a gente se ver, vamos estar sentadas naqueles bancos. Uma do lado da outra." - Bia sorriu para Ana e correu rumo ao riacho próximo ao seu antigo acampamento. Era um lugar bastante óbvio para se esconder uma bandeira.

Ana seguiu um rumo totalmente contrário ao de Bia e assim todos estavam devidamente separados, a procura de um lugar entre o grupo vencedor. Aquela prova era a mais difícil até o momento por ser totalmente individual. Além disso, o olhar de Bárbara, em cima do palanque, indicava que achar aquelas bandeiras não seria tão simples assim. Ao seu lado, os bancos permaneciam estáticos, a espera de nove jovens guerreiros. Nove peças fundamentais que dariam um passo adiante na competição.


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Notas finais do capítulo

fiquei muito feliz com o apoio de vocês e resolvi voltar de vez!
quem vocês acham que ta crescendo no jogo? será que formar casal é uma boa estratégia? espero vocês nos comentários (;
bjs!



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