Pelos Olhos do Gavião escrita por Mayor Hundred


Capítulo 7
Gênio do Buraco




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— Senhor Barton?

Clint precisou de alguns segundos para perceber que estavam falando com ele, e depois de mais alguns, para entender que tinha que responder. A voz era estranhamente familiar, mas ele não conseguia ligá-la a um nome ou rosto. Só sabia que era o seu motorista.

— Qual é o problema de vocês com primeiros nomes? — Pelo retrovisor interno, viu que o jovem agente da S.H.I.E.L.D abriu um sorriso amarelo, sem graça. Ficou algum tempo em silêncio, tentando encontrar as palavras.

— Eu sei que você prendeu o assassino... — Mesmo sem conseguir olhar para Clint, percebeu que foi uma má escolha de palavras. Calou-se por mais alguns segundos antes de ousar recomeçar. — Eu sinto muito, é que você disse que conseguiria um autógrafo do Capitão e significa muito...

Barton foi obrigado a sorrir. Aquilo era, realmente, querer muito alguma coisa, e se tratava exatamente do tipo de coisa que o próprio Clint falaria. Instantaneamente começou a gostar mais do seu motorista.

— Eu vou conseguir, John — prometeu.

— É Joseph, Senhor Barton.

Não era todos os dias em que Clint Barton podia olhar o alto da Torre Stark e ver um homem sentado na beirada do terraço. A multidão se formava enquanto o Gavião estava no elevador, e eles cochichavam sobre o suicídio do Homem de Ferro. Um homem tão rico, tão solitário e alcoólatra não duraria muito tempo, diziam. Todavia, Barton sabia que aquilo não fazia o estilo de Tony. Ele se amava demais para acabar com a própria vida.

Jarvis estava parado sobre a porta que dava para o exterior, encarando o patrão sentado. Ao contrário do que se esperaria de um mordomo, Jarvis estava rindo. Se divertia com a visão.

— Veja, senhor Barton, ele agora está acenando para as pessoas lá embaixo — cantarolou com o falso sotaque britânico. Fez uma pausa para colocar os dedos por cima da boca e rir baixinho.

Sempre apreciou o senso de humor bizarro do homem, e esboçou um sorriso com o comentário.

— Tasha me chamou, onde é que ela está? — Na mesma hora, a expressão do mordomo se transformou. De riso para desgosto.

— Está se banhando. Gostaria que eu a apressasse? Ou aumentasse a temperatura a níveis infernais? — sorriu malicioso com a oferta.

— Não. — Foi obrigado a devolver o sorriso. — Eu vou falar com Tony, não a incomode.

Uma das principais habilidades de Jarvis era saber desaparecer do campo de visão tão rápido quanto um homem morcego faria. E, no instante seguinte, parecia que ele nunca esteve ali. Clint nunca se acostumaria com aquilo. Abriu a porta e respirou o ar puro que adentrou na sala. Caminhou em passos vagarosos até Stark.

— Posso me sentar? — Anthony estava despido de sua armadura, exceto pelo capacete. Tinha o rosto escondido por baixo de uma máscara de ferro conhecida mundialmente.

— É claro, Clint. Quer uísque?

— São dez da manhã, Tony — o informou, sentando-se ao seu lado. Para se sentar naquela sacada era necessário manter as pernas para fora dos limites do edifício. E aquilo dava uma eterna sensação de adrenalina. O corpo estava bem preso ao “chão”, mas as pernas balançavam à deriva.

— Sabe o que aconteceria se eu caísse daqui? — Stark olhou para baixo, e Clint foi levado a fazer o mesmo. A altura era incalculável.

— Sua armadura é ativada, você voa, salva o dia e fica com a garota? — A resposta fez o bilionário rir.

— Não, Clint. Eu morro.

As palavras do Homem de Ferro fizeram tudo se silenciar. Ao menos na cabeça de Clint. Ele não ouvia mais a multidão, nem os barulhos do trânsito, e tampouco a respiração dos dois. Só conseguia pensar nas mortes que tiveram em tão pouco tempo.

— Eu sei que a morte de Wanda e o Mercúrio sumido...

— Não é isso. — Tony não se importou em cortar o discurso sem qualquer rodeio. — Eu estou contemplando a minha finitude. Quando eu era mais novo, pensava que, por ser esperto, poderia viver pra sempre. Mas agora eu me pego pensando, talvez até “pra sempre” tenha um fim. Na melhor das hipóteses, o infinito vai acabar.

Aquele era o gênio do buraco. A altura em que estavam era mais do que Clint poderia contar. Não importa quanto tempo demorava para subir, sempre era possível cair em um só instante.

— Por que você está sorrindo? — Aquela não parecia ser uma conclusão satisfatória.

— Como você sabe que...?

— Eu te conheço. — Stark não se livrou do capacete, mesmo assim.

— Eu não sei. Saber que eu vou morrer me faz querer aproveitar as coisas, entende?

— Sim. — A voz feminina pegou ambos os homens de surpresa. — Vamos, Clint?

— Claro — se levantou com rapidez. Estava aliviado ao saber que o amigo não tinha pensamentos suicidas, e mais ainda ao colocar ambos os pés em terreno sólido. — Mas pra onde?

Natasha riu.

— Você tem que saber sobre Pietro.

A última pessoa que imaginaria encontrar no edifício Baxter era Wolverine. E, pior ainda, Wolverine sem camisa e Reed na mesma sala. Clinton pensou em uma boa piada, mas o Senhor Fantástico não era conhecido pelo senso de humor, e o Carcaju menos ainda.

— Logan. O que está fazendo aqui? — Os dois homens desviaram o olhar com a pergunta.

— O doutor aqui precisava de umas amostras do meu sangue pra uma pesquisa. — Logan nunca foi um homem de muitos amigos, mas ele nutria uma antipatia mútua com Johnny Storm e Ben Grimm. — E você?

— Ér... não sei. — A resposta fez Reed sorrir discretamente e Romanoff rir, mas o baixinho canadense nunca sorria. Soltou um grunhido que era o mais parecido com risada que poderia fazer.

— É, esse é o espírito. — Sem se despedir, ou fazer qualquer menção do ato, pegou a sua camisa branca suja e amassada e caminhou para fora da sala, vestindo-se enquanto andava. Clinton observava com curiosidade. Poucas pessoas podiam se considerar amigas de Wolverine, e, imaginava que, menos ainda eram consideradas assim por ele. Entretanto, o homem era um mistério para qualquer um.

— Vieram ver Frank? — O doutor questionou, depois de pigarrear. Natasha acenou com a cabeça, mas o arqueiro se limitou a movimentar os ombros. A Viúva Negra não havia lhe dado qualquer dica do que o Quarteto Fantástico tinha a ver com o desaparecimento de Mercúrio. — Sue provavelmente está os esperando.

Ainda não era nem meio dia, mas Clint já queria ir pra casa. Não era como se não se importasse com Pietro, mas estava esgotado daquele assunto. A morte de Wanda mexeu profundamente com eles, todos eles. Ninguém admitiria, mas estavam recalculando a vida e tentando encontrar o que realmente importava, por que escolheram aquilo, por que levantavam de manhã.

Por sorte, caminharam pelos corredores sem encontrar ninguém até entrarem em um quarto estranho. Era branco, e repleto de brinquedos. Duas crianças louras estavam sentadas no chão, conversando baixinho. Demorou para entender que “Frank” era Franklin Richards, e aquele cenário bizarro finalmente fez sentido para Barton.

— Clint, Natasha, como vocês estão? — Nenhum dos dois eram próximos de Susan, mas em tempos como aqueles todos pareciam uma única e grande família. — Como está Bobbi?

— Foi ver um médico, está um pouco doente.

— Coitada. O que ela tem? — A mulher pegou as mãos de Clint e encarou-o firmemente.

— Se importam se terminarmos logo? — Romanoff arqueou uma sobrancelha com a aproximação de Sue. — Por favor — suavizou.

— Claro, claro. Reed, por que você não explica pra Clint? Eu vou... preciso... — Não foi pela atitude da Viúva, mas todos na sala sabiam que ela saiu correndo para chorar. Um constrangedor silêncio se fez.

— Sinto muito, ela não está muito bem desde que Wanda... vocês sabem. — Ninguém estava. — Clint, você conhece Frank. Essa é Layla Miller, e ela... sabe das coisas.

A garotinha loira sorriu com a apresentação, e então examinou o Gavião. Passou uma rápida olhada na Viúva e riu baixinho.

— Vocês dois serão a ruína um do outro. — Clinton achou aquilo particularmente engraçado, mas Natasha não.

— Layla pode ver ou simplesmente saber coisas através dos vários universos e dimensões. Com Frank, eles conseguiram rastrear Pietro em minutos. — Richards não conseguia disfarçar o orgulho ao falar do filho.

— Então... Pietro está em outro universo? — Era uma coisa absurda de se dizer, mas ele não achou que estava tão fora do contexto. Mas isso mudou quando as duas crianças riram.

— Sim e não. Ele está nesse universo, e em muitos outros — Franklin respondeu didaticamente.

— Como isso é possível? — Procurou em Natasha alguma explicação, mas ela só apertou os olhos mortos. Ele sabia o que aquele olhar significava. Que tudo o que ouviu até então era um segredo. E ele sempre odiava quando era posto naquela posição.

— Ele está em um lugar muito específico. Eu não consigo chegar, e nem mesmo ver — Frank resmungava como um garotinho mimado, porque, apesar de seus inacreditáveis poderes, era isso que ele era.

— É um lugar além de todas as coisas.


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