Pelos Olhos do Gavião escrita por Mayor Hundred


Capítulo 14
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Notas iniciais do capítulo

Primeiro, peço perdão pela demora.

Houveram imprevistos e problemas, mas eu espero que as coisas tenham melhorado e que eu possa publicar com mais frequência.



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Seis horas.

Foi o tempo que Capitão pediu, antes que Clint fizesse alguma loucura. Seis horas. Um quarto de um dia. Na sua última consulta ao médico, a indicação era que dormisse pelo menos por seis horas.

Ele não tinha seis horas para dormir. Mas, não era essa a questão.

Sua família talvez não tivesse seis horas para viver.

Barton não era do tipo detetive, mas também não era necessária grande percepção para entender o que aconteceu. Os seguranças mortos, ironicamente, pelas próprias armas. A porta da frente ilesa, com exceção da fechadura que fora arrancada com violência. Não havia sangue, mas sinais de luta pela sala. Objetos caídos e quebrados. Essa era a sua Bobbi: lutando até o fim.

Teve medo de caminhar até o quarto do bebê. O silêncio completo não combinava com a vitalidade que o pequeno Nick atribuía àquele lar. Precisou reunir toda sua coragem para entrar, só para encontrá-lo intacto. Entretanto, sem o seu filho.

Pegou o seu arco, escondido no quarto principal, caminhou para fora e olhou novamente a nota tão particular deixada pelo sequestrador: dois carros completamente amassados que foram, de alguma forma, transformados em um só.

Poucos tinham a força de fazer isso. Mais só um podia fazer aquilo parecer uma obra de arte de um gosto tão sádico: Magneto.

O que Magneto queria? Quase todo mundo poderia responder essa pergunta. Magneto queria a hegemonia dos mutantes. Matar os que se opõem e dominar os fracos que restarem. Apesar de se considerar divergente à humanidade, não era tanto assim.

Entretanto, o que ele poderia querer com a família Barton?

Clint não sabia. E, como no dia em que perdeu seus pais, viu as horas passarem como um borrão em seus olhos enquanto sentado ao meio-fio de sua casa, esperando, esperando, esperando.

Encontrou a si mesmo apoiado em seu arco, molhado com a chuva e com os olhos irritados. Steve Rogers estava novamente sem uniforme, de moletom. Via a boca dele se mexer, mas o som não chegava aos seus ouvidos. Apenas acenou com a cabeça, sem saber o porquê, e levantou-se.

Estava só um tantinho mais quente no interior do carro, mas suas roupas estavam tão molhadas que era quase impossível se apegar ao calor. No banco do passageiro, uma figura familiar alongou-se para mostrar o rosto.

— Estamos aqui, Garoto Gavião. Você não está sozinho.

Sim, ele estava.

Parecia errado discutir qual seria o próximo passo. Era bastante simples: correr até Magneto e resgatar a sua família. Não sabiam onde ele estava, e Capitão e Wolverine concordavam que tratava-se de uma armadilha.

Mas numa armadilha como esta, um Gavião não via outra solução a não ser cair.

— Nick pode nos ajudar — Clint sugeriu, já cansado de esperar. Precisava agir.

— Não — Steve falou e Logan balançou a cabeça, concordando. — Fury vai colocar os homens dele para fazer o trabalho, e isso é pessoal.

— E como vamos fazer isso sem cair na armadilha?

— O plano é cair na armadilha, Clint. Mas fazer isso de um jeito inteligente. — Não achava possível cair em uma armadilha de maneira inteligente, mas não estava disposto a discutir. Balançou a cabeça, em afirmação.

— E onde vamos encontrá-lo?

— Ele pegou a sua família, vai estar onde perdeu a dele. — As palavras de Logan fizeram com que a situação finalmente se encaixasse na mente de Clint.

O beco em que Wanda foi assassinada.

Costumava ser um lugar comum de New York, mas acabou por se tornar o lugar em que uma vingadora morreu. Sombrio. Esquecido. Vazio. Clint não se lembrava de ter ido ali antes, e não quis sequer chegar perto depois. E, agora, ali estava. Naquele bairro escuro, pisando em um chão molhado.

Olhou para baixo, e não conseguia não imaginar o corpo de Wanda ali. Encolhida, em posição fetal. Sentindo a vida lentamente escapar de seu corpo. Sozinha.

Sentiu calor, mas provinha de uma lágrima solitária que logo misturou-se à chuva.

Não teve muito tempo para os seus pensamentos, ouviu um rugido e armou o seu arco com uma flecha. Uma sombra corpulenta atravessou o seu campo de visão e aterrissou alguns metros à sua frente. Era curvada e forte demais para ser Magneto, mas isso não o fez relaxar o cordel.

— Sinto um cheiro familiar em você, passarinho. — A voz de Victor Creed era como uma navalha na escuridão.

— Não fomos apresentados. Você é o cachorrinho do Magneto, não é? — Estava brincando com fogo e sabia. Dentes-de-Sabre grunhiu entredentes, e Clint tencionou o cordel. Dois barris de pólvora, esperando pela fagulha.

— Me siga, passarinho.

Achou que nunca veria um homem tão animalesco do que Logan, mas Dentes-de-Sabre era ainda mais. Corria curvado, e às vezes tomava impulso com as mãos. Rugia e gritava algo ininteligível que sempre terminava com “passarinho”.

Sem muitas opções, Clint abaixou a flecha e o seguiu. Com os sentidos ao máximo. Depois de pouco tempo, conseguia ver que Creed o guiava até um galpão. Os funcionários estavam mortos, e, por mais que Barton não quisesse admitir, ele não se importava. Só se importava com Bobbi e o pequeno Nick.

Caminhou mais um pouco dentro do galpão e já não se importava com o frio. O Cap tinha lhe dado instruções bastante básicas, mas, quase que sem perceber, o seu arco já estava munido com uma seta pronta para ser disparada. O espaço era imenso naquele lugar, mas não conseguiu encontrar Magneto. Não antes de ser muito tarde.

Uma barra de ferro veio com violência contra o seu rosto.

Encontrou o chão, e tentou levantar-se. Antes que pudesse descolar-se do solo, foi empurrado novamente, desta vez por Dentes-de-Sabre que, num salto, prendeu o arqueiro, inutilizado.

— Você achou que poderia me tirar o assassino da minha filha? Que poderia escolher o seu destino? Ele era meu. — A voz poderosa só poderia vir de Magneto, embora Clint não fosse capaz de enxergar. — Quanto tempo você achou que esconderia de mim? Alguns meses? Alguns anos? Não seria idiota o suficiente para pensar que fosse para sempre. — Mesmo sem saber, Clint sabia: Erik Magnus estava em seu limite. Ouviu o mutante respirar fundo. — Victor, deixe-o. Eu quero que ele veja. Sinta-se tão impotente quanto eu me senti.

Dentes-de-Sabre estava pronto, diminuía lentamente o peso sobre Clint e ia mover-se para o lado.

Ia.

Um escudo triangular e com as cores da América voou como um salvador e bateu contra a cabeça de Creed, caindo no chão em seguida.

O Capitão corria em direção ao seu escudo, enquanto o arqueiro arrumava o seu jeito de escapar. Dentes-de-Sabre saltou contra Rogers, deixando Barton livre. O Gavião levantou-se, e já conseguia sentir o gosto da vitória.

Cedo demais.

O escudo inerte no chão ganhou movimento. Bateu no rosto de Clint, rasgando a pele e tirando sangue. Não se deixando parar, foi em direção à briga que se iniciou e a terminou, acertando o rosto do Capitão, que teve o nariz e os lábios explodidos em sangue.

Os heróis sentiam o gosto, o cheiro e o barulho do sangue. Mas não durou muito. Tudo isso foi cortado pela risada controlada de Erik Magnus.

— Eu não sou só um mutante que controla o metal, Gavião Arqueiro. — O codinome fora cuspido com uma dose especial de desprezo. — Eu sou o Magneto.

Fechou os olhos, visivelmente em esforço e moveu o braço. Não demorou muito até ouvir um grito, mas tardou para perceber que era de Logan. O esqueleto de adamantium podia facilmente ser manipulado por Magnus, e era por isso que o Carcaju não podia enfrentá-lo. Era por isso que ele tinha o papel de tirar Bobbi e Nick.

Aquele pequeno momento era um no qual Clint nunca gostaria de viver.

Quando os heróis falham.

Sentiu o desespero correr pelas suas veias e levantou-se, procurando o seu arco. Só para novamente cair, com Wolverine sendo jogando em cima do arqueiro.

O baixinho estava sangrando e muito. O osso de adamantium de sua perna estava para fora, rasgando a pele. Até então, Barton não havia sequer lembrado da ausência do fator de cura do Wolverine.

— Erik... — resmungou com dificuldade, Logan. — Você se lembra de um garotinho na Polônia que foi resgatado em Auschwitz? O que ele acharia do homem que se tornou?

Por mais estranho que aquilo poderia soar, Magneto pôs-se a pensar por um momento, em quietude e sem se mover.

— Ele choraria — respondeu. — As mesmas lágrimas que chorei.

Com uma bizarra gentileza, Magnus fez novamente levitar o Carcaju e o repousou ao lado do Capitão, que estava desacordado.

— Escolha errada de aliados. Um escudeiro e um com esqueleto de metal.

Clint ergueu-se e, desta vez, não foi derrubado. Olhou para Magneto, para Capitão, para Creed. E então olhou fundo nos olhos de Wolverine, que apenas assentiu.

— Mas as flechas são de madeira.

Logan estava sem seu fator de cura, mas ainda tinha a sua força e estava a um braço de alcance de Dentes-de-Sabre. Saltou desengonçado, da melhor maneira que pôde, e segurou o arqui-inimigo pelo pescoço. Soltou as suas garras, fazendo a mão jorrar sangue, e gritou tão alto quanto era possível, com dor.

Clinton Barton, entretanto, não viu nada disso. Puxou uma flecha de sua aljava nas costas, arremessou-a com as próprias mãos e correu.

Não podia errar. Mas não erraria. O Gavião nunca errava.

Quase caiu, com uma vacilada que a perna dolorida deu no meio do caminho, mas forçou-se a seguir em frente. Gritou como o próprio Victor Creed e socou o rosto de Erik, fazendo-o cair.

O capacete tombou junto com o corpo velho e desgastado do líder mutante, e o herói viu-se livre para golpear. Sua mão foi de encontro ao rosto dele uma, duas, três, dez, vinte vezes. Perdeu as contas, e não tinha intenção de parar. Apenas via o rosto branco e os olhos azuis transformarem-se em uma coisa só e em uma única cor: vermelha.

Um grito lhe fez parar, e só então percebeu todo o barulho ao seu redor. Dentes-de-Sabre rugia e Logan gemia de dor. O pequeno Nick chorava no colo da mãe, que gritava, olhando para o seu marido montado em Magneto.

— Você vai matá-lo.

E ia. Ia matá-lo com as próprias mãos, se não tivesse sido impedido pelo grito de sua esposa. Levantou o olhar e a viu. Havia muitas faces de Barbara Morse-Barton, mas ele nunca tinha visto essa. Um toque de medo e um pouco da mesma cara que fazia quando olhava para vilões.

Olhou para os próprios punhos, inchados e cheios de sangue.

Percebeu que não precisava de radiação gama para ver um monstro dentro de si.

Levantou-se, e, sem olhar para trás, fugiu.


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