Pelos Olhos do Gavião escrita por Mayor Hundred


Capítulo 11
Milagres e Mutante




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Nick Fury de regata. Era uma das coisas que nunca imaginou que veria. Mas estava começando a se acostumar com essas coisinhas que lhe apareciam para o surpreender. Como a facilidade que aprendeu a trocar fraldas.

— Eu pensei que você tinha me dado férias.

Nick se virou com um meio sorriso e então Clinton notou o motivo da regata. Uma nova tatuagem cobria o ombro do diretor. Não era uma figura, ou um desenho. Duas letras. “N.B”. Seu primeiro palpite seria “Nick Boladão”, mas o sorriso esforçado entregou o verdadeiro significado.

Nicholas Barton.

Uma prova de amor silenciosa.

— Logan está no Canadá. — Aquela única frase parecia vinda de um viral de internet, mas foi só o que recebeu por um tempo. Não sabia o que fazer com aquela informação.

— O que isso tem a ver comigo?

— Ele matou dois esquadrões de mercenários. — Fury não sorria mais, e voltava a se cobrir com o sobretudo preto usual.

— E você quer que eu vá até lá, e seja fatiado? — Não parecia uma boa ideia.

— Quero que converse com ele.

Logan não era o tipo de sujeito que gostava de conversar. Clint sabia disso, Nick também. Não foram raras as vezes em que o Carcaju se escondeu por um período. Não conseguia entender o motivo desta vez ser diferente.

— Steve é amigo dele desde a segunda guerra.

— Capitão Rogers está no Oriente Médio. — Pelo tom, e o modo que suas sobrancelhas se moveram, Nick queria dizer “limpando sua sujeira, Clint”.

— O Professor Xavier também é amigo do Logan, e é um telepata psicólogo. Ninguém deve conversar melhor do que ele.

— Xavier não é um agente da S.H.I.E.L.D. — Clint sabia o que aquilo queria dizer. Significava “eu não confio nele como em você”.

Gostaria de, um dia, falar com Nick sem ser em códigos.

Normalmente, num encontro com Logan, Clint achava que tinha 99% de chance de sair vivo. Mas depois de ouvir o que ele fez com os agentes, de chegar até a casinha de madeira e ver os corpos, achou que agora era 50%.

— Esqueceu do arco? — Wolverine estava sentado solitariamente na varanda daquela casa semidestruída. Tinha uma lata de cerveja na mão, e algumas dezenas de outras aos seus pés. A maioria vazia.

— Eu não preciso. Não pra visitar um amigo. — Talvez ele precisasse, talvez não. Logan, entretanto, respondeu virando a latinha em sua mão e engolindo todo o líquido restante.

Não era necessário ter um super olfato para sentir. O homem à sua frente parecia ter trocado o sangue por álcool, e exalava cada gota em seu aroma.

— Quer uma cerva? — ofereceu, enquanto abria outra.

— Não. Seu metabolismo... — tentou achar lógica, mas foi interrompido.

— É, por isso eu bebo muito.

Sorriu, da melhor forma possível, e se sentou num dos degraus da varanda. Olharam, os dois, o horizonte laranja do fim de tarde em silêncio. O mutante canadense tinha bebido, provavelmente, mais do que Clint bebeu a sua vida inteira, e não estava nem perto de ficar bêbado. Nunca entendeu o sentido de se embriagar.

— Por que eu estou aqui, Logan? — Em resposta, ele soltou um barulho que Barton não soube julgar o que era. Esperou mais alguns segundos, até ouvir uma lata sendo amassada.

— Porque você é meu... “amigo”. — A palavra quase não saiu de sua boca, como se fosse estranha à sua língua. Não podia negar que foi uma boa resposta. Só não a que esperava.

— E o que você está fazendo aqui? — Não precisava ver para saber que ele deixou a lata de cerveja de lado e suspirou.

— Os corpos. Vê algum corte?

Não, não via. Aqueles dez homens caídos estavam “limpos” demais para o padrão Wolverine. Com um pouco de tempo e dedicação, observou buraco de balas que rasgavam as roupas em alguns. Não soava como Logan.

— Eu não posso usar minhas garras, Garoto Gavião. — Sempre se incomodava quando o chamavam assim, mas achou que corrigir não era uma opção. — Meu fator de cura já era.

— E daí? — Novamente o grunhido parecido com uma risada.

— Sabe quantos anos eu vivi?

— Não.

— Nem eu. — Clint sorriu com a resposta e olhou para trás, por cima do ombro, e viu Logan sério, ponderativo.

— De novo: e daí?

— Você é um cara que se veste de roxo e usa um arco e algumas flechas pra lutar contra os caras maus, eu vou supor que isso diz que não é muito inteligente. — Não havia como discordar daquilo. — Eu sou um mutante, Clint. Eu só tou vivo por causa desse maldito fator de cura. Se as garras saírem agora, vai demorar uma semana ou duas pra cicatrizar. Meu organismo cobra de mim mais do que qualquer um consegue comer. — Imaginou que Bobbi ficaria fascinada com aquilo. — Respondendo sua pergunta idiota, “e daí” que eu vou morrer. E logo.

Clinton achou que aquele era o momento de aceitar aquela cerveja.

— Bob... Harpia talvez possa te ajudar. — Logan o encarou, um tanto ofendido, mas Clint não soube dizer o porquê.

— Reed era o último super gênio da minha lista. — Abriram as latas em conjunto e ficaram em silêncio por alguns segundos enquanto bebiam lentamente o líquido amargo.

— Você já teve filhos?

Soube que tocou num ponto que não deveria. Uma ferida antiga, que nunca foi realmente curada. Demorou para que recebesse uma resposta além do silêncio e os olhos de Logan colados ao chão.

— Alguns.

— Sabe aquela história de pessoas que acham que um filho vai salvar o casamento? Que tudo vai fazer sentido? — Suspirou, dando um tempo para mais um gole. — É mentira. A primeira vez que eu olhei pro meu filho, eu pensei que ele era lindo. E depois, que era mais responsabilidade do que eu poderia ter. E se eu errasse em um pontinho, que lá na frente se tornaria algo grande?

— A única filha que eu fiz o que era certo, não devia existir.

Não era necessário ter grande sensibilidade para perceber o quão íntimo aquilo foi. E íntimo não combinava com Wolverine. Clint não fazia ideia a quem ele se referia, mas sentiu a dor do amigo.

O Gavião não terminou a sua bebida. Ergueu-se e ficou à frente do Carcaju.

— Logan, você pode se levantar?

— Por quê? — As sobrancelhas do mutante denunciavam a sua desconfiança naquele movimento tão repentino.

— Eu quero abraçar o meu amigo antes de ir.

Era claro, ele não se levantou. Fechou os olhos, e Barton respeitou o silêncio.

— É só isso? Pensei que cê iria se esforçar pra me convencer.

— Eu finalmente tenho pra quem voltar. E você também. — Como as tímidas luzes do início da alvorada, um raríssimo sorriso nasceu do rosto de Logan. — Você vem?


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