O Inferno de Lizzie Horn escrita por Ramone


Capítulo 2
Capítulo 1




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Andar "sozinha" mundo a fora sem nenhum conhecimento ou experiência sobre o mesmo seria algo realmente difícil para uma pessoa normal, o que certamente, Lizzie Horn não era. Seu estilo de vida retraído certamente a faria presa fácil para as armadilhas do mundo, mas ela contava com algo que ninguém mais que ela conhecia possuía... Algo que lhe fazia ser diferente.

Lizzie não era apenas atormentada por almas perdidas e inquietas que normalmente acompanhavam uma coleção de atividades paranormais, como tais ruídos, barulhos e desaparecimento de objetos; A garota também contava com outros tipos de artifícios das quais nunca pedira ou comprara. Apenas nascera com ela.

Ela não se enturmava porque não queria, afinal, quem gosta de uma vida tão exclusa? O problema de Lizzie em se misturar com as outras crianças era o medo de machucá-las. Não seria ela propositalmente que faria isso, mas sim aquela figura negra que lhe acompanhava desde sempre. "Tito", como o nomeou quando tinha 7 anos, não era como os outros espíritos que a visitavam em sonho ou pessoalmente, ele era mais possessivo, nervoso. Ele parecia reagir com mais intensidade de acordo com os sentimentos negativos de Lizzie, como a raiva ou a angustia. Das vezes que ela se exaltou com alguém da escola que a gozava, ou até mesmo com sua mãe, alguém saia ferido, e não era por suas mãos, mas sempre de forma estranha.

Deste modo, ela preferiu se distanciar das pessoas, afim de não criar qualquer sentimento por alguém. E da única vez que se permitiu fazer isso, mesmo não tendo sentido algo ruim, a pessoa acabou morta: Fabrizzia.

Além de Tito e suas formas obscuras de dar uma lição em que se envolvia com ela e da capacidade de ver e conversar com almas viajantes (aquelas que ainda não partiram para o outro plano), Lizzie despertara também outras habilidades como a manipulação da realidade nos olhos de uma pessoa, ou seja, ela conseguia não só omitir informações sobre algo ou alguém, como implantar novas à seu favor. Esta capacidade, porém, acontecia somente em situações de risco e perigo... Era algo espontâneo. Diferente da sua habilidade de auto cura, pouco desenvolvida já que Lizzie não a manipulara decentemente. A principio, ela conseguia somente se curar de arranhões, torções, queimaduras leves e cortes não muito profundos. Certa vez, Lizzie perguntou à sua mãe da onde viera tais 'poderes', e como resposta obteve um arrogante "Me agradeça.. ou não!", e nunca mais tocara no assunto. Aliás, assunto não era algo constante na sua relação com a mãe Teresa. A mulher de 35 anos que mais parecia ter 50, havia perdido sua instabilidade mental à anos, e se mantinha erguida por motivos que Lizzie não conhecia, pois nunca via a mãe comer ou dormir. Ela vivia sempre no porão ou no meio do campo. Pouco sabia sobre sua mãe, e o que soube, foi de fofocas da escola.

"Minha mãe disse que sua mãe era uma macumbeira que chegou à cidade grávida e sozinha!"comentou uma menina da turma certa vez. "É, eu ouvi falarem que sua mãe foi estuprada pelo diabo"acrescentou o garoto ao lado. Porém, Lizzie não sabia nada de concreto a respeito de sua própria geração ou da vida de Teresa antes de parí-la. Não havia nenhum álbum de fotos disponível na mobília da sala, ou porta retrato de seu pai desconhecido. E perguntar pra Teresa sobre isso? Nem pensar.

– Oi.. Será que você pode me dar uma carona até Trenton? - perguntou numa voz frágil, encarando o caminhoneiro sentado atrás do volante com sua enorme barriga e roupas mofadas. Não ligou para a expressão maliciosa do homem, muito menos para as garrafas de álcool jogadas logicamente recém utilizadas pelo mesmo, o que indicava que ele certamente estaria embriagado. Qualquer carona é arriscada, mas aquela declarava perigo. Ainda assim, Lizzie não hesitou e vendo que o homem concordara com a "ajuda", entrou no caminhão e sentou-se ao seu lado no banco do carona, ignorando o olhar do motorista que a analisava por inteira. A calça jeans desbotada por baixo do vestido preto de alças não era o tipo de roupa mais sexy, mas era suficiente pra qualquer tarado.

Havia andado horas até a estrada principal depois que deixou o orfanato, e mais alguns minutos de pé tentando arrumar uma alma caridosa que lhe cedesse espaço no carro. Tudo bem que aquele ali, provavelmente, não era nenhuma alma caridosa, mas Lizzie estava exausta e precisava entrar em algum automóvel antes que caísse a noite e a rodovia se tornasse o cenário perfeito de um assassinato.

Cerca de 20 minutos depois de dar partida, ele puxou assunto:

– Vai fazer o quê em Trenton? - a voz do homem era rouca, tinha um forte sotaque sulista e bafo de cerveja com bacon.

– Visitar um amigo - mentiu sem olhar para o caminhoneiro. Seus olhos estavam atentos para a rodovia, diferente dele, que não prestavam atenção alguma ao movimento à sua frente, fazendo curvas e cruzamentos perigosos.

– E é uma visita surpresa ou ele te espera? - insistiu ele na conversa, curioso.

– Ele sabe - respondeu seca, já entendendo aonde o cara queria chegar com aquelas perguntas. Se a tal visita à esse tal amigo realmente existisse e fosse uma surpresa, caso ela não aparecesse, ninguém sentiria falta mesmo e ele então poderia fazer o que quisesse que não daria em nada, afinal, não havia testemunha ou prova alguma sobre a entrada da garota no caminhão.

– E ele é só um amigo mesmo.. ou seria seu namorado? - ele deu um riso pervertido.

– Só um amigo...

– E quantos anos você tem, mocinha?

– Dezoito.

Mesmo ignorando o homem e mantendo o rosto virado para frente, Lizzie pode ver o homem morder o lábio inferior com a visão periférica, e sua intuição alarmava freneticamente naquele instante; Ela também pôde sentir uma energia ainda mais intensa vinda de Tito, que à aquela altura, também sabia no que tudo aquilo iria dar.

Ela então percebeu que o cara começara a frear o veículo, encostando-o de qualquer jeito na rodovia à margem das árvores.

– Algum problema? - arriscou inocentemente, abraçando a mochila contra seu corpo.

– Problema nenhum.. Pelo contrário! - exclamou antes de puxar o freio de mão e, praticamente, se jogar para cima de Lizzie. Seu mau cheiro ficou ainda mais notável enquanto ele tentava aproximar os lábios no rosto e pescoço da garota; Suas mãos agarraram com brutalidade o corpo de Lizzie, puxando-o em direção ao seu ao mesmo tempo em que tentava abrir selvagemente o jeans dela. Lizzie se debatia e gritava, inutilmente, pois ninguém iria parar ali. Conseguiu arranhá-lo no rosto quando ele tentou apalpar seus seios, o que o irritou, fazendo-o instantaneamente dar um soco perto de seu olho. Tonta com a força da agressão, Lizzie não conseguiu escapar quando ele a beijou, invadindo seus lábios com uma língua grande e áspera; Nesse momento, ele já conseguira arrancar o botão da calça dela, abrindo-a e passando sua mão grossa e com calos por dentro da calcinha que ela usava. O homem então abaixou as próprias calças até as coxas, tentou se posicionar desengonçadamente em direção ao baixo ventre da menina e quando ia retirar seu pênis já ereto para penetrá-la, Lizzie retomou a consciência e, desesperada, imaginou a cabeça do homem ser arrancada num rápido golpe, espirrando sangue por todo o interior do caminhão e fazendo o corpo cair morto em cima do seu. E de forma bizarra, a imaginação virou realidade e a cena aconteceu diante de seus olhos. A cabeça do homem rolara pra debaixo do painel e ela agora empurrava o corpo dele para poder se sentar.

Lizzie não sabia como tal coisa acontecera, mas se sentia aliviada. Ser estuprada por criatura tão repugnante seria um trauma que não precisava, e uma pessoa como ele, não faria falta no mundo, certo?!


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