O Inferno de Lizzie Horn escrita por Ramone


Capítulo 14
Capítulo 13




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Lizzie ficou se admirando no espelho por um longo tempo, talvez porque nunca se sentira tão bonita como naquele momento. Quando desceu para o segundo andar era exato meio-dia.
Lucy estava na cozinha devorando seu café da manhã atrasado e Martin assistia a um programa de esportes na televisão. Lizzie parou no fim da escada, fazendo-se ser percebida imediatamente por Martin, que a olhou com um largo sorriso.

— Uau! Olhe como você está linda! – exclamou. Lizzie sorriu tímida. Lucy apareceu na sala com um copo de vitamina na mão e analisou a menina.

— Quem diria que esse trapo ainda ia servir pra alguma coisa – comentou mal humorada. Lizzie mordeu o lábio inferior chateada. Ela no mínimo esperava que Lucy dissesse algo realmente gentil como sempre fizera, mas Lizzie esquecia de que a garota não era mais a mesma.

— Obrigada Martin – disse.

— Mas para aonde você vai? – perguntou curioso, arqueando a sobrancelha. Lizzie não se incomodou com a pergunta, de fato, até gostara. Ela imaginava que era um sinal de preocupação.



— Zack vai me levar pra conhecer um lugar – explicou sem graça.

— Hm, entendo... Espero que se divirtam então! E juízo – disse sério, porém, num tom descontraído.  No mesmo instante, foram ouvidas algumas batidas na porta. Lizzie estremeceu. Ela mesma foi abrir a porta e sorriu aliviada quando viu Zack atrás da mesma, dessa vez, sozinho e com uma expressão positiva. Ele usava uma calça preta, uma camisa na mesma cor por cima de outra branca de manga longa e tênis All Star. Vendo-o, ela não deixou de se sentir estranha com a roupa que usava. Achou que estava “arrumada demais” enquanto ele estava bem mais a vontade. No entanto, ao perceber a expressão surpresa dele ao vê-la, desistiu na hora da idéia de trocar de roupa. Ele ficou alguns segundos admirando-a com um sorriso de canto e Lizzie não podia se sentir mais orgulhosa de sua aparência naquele momento.

— Que bom que eu não me arrumei à toa – disse enfim.

— Você está... Está incrível – exclamou tímido. Lizzie apenas sorriu, corada.

Zack cumprimentou Martin e Lucy ainda parado na porta.
— Olhe bem aonde você vai levá-la e o que vai fazer hein rapazinho! – brincou. Lizzie ficou ainda mais envergonhada. Ela não considerava aquele passeio um tipo de ‘encontro’, mas Martin fazia assim parecer e a idéia a deixava ansiosa, enquanto Zack parecia bastante constrangido. A menina jamais tivera qualquer coisa parecida com um encontro, nem mesmo um passeio com alguém do sexo oposto como estava prestas a fazer. Lizzie só vira algo do tipo nos filmes que via sem muita vontade no orfanato.

— Vamos?! – Zack fez sinal em direção ao carro estacionado. Lizzie notou que o veículo havia sido limpo, pois ela se lembrava dele estar imundo no dia anterior.  Ela assentiu, despediu-se de Martin e fechou a porta, acompanhando Zack até o carro.
O dia estava num clima super agradável, exatamente como Lizzie gostava: brisas frescas, às vezes gélidas, mas um sol radiante por detrás das poucas nuvens aparentes no céu. Ela pensou que talvez, no fim do dia, pudesse sentir frio já que o vestido não cobria parte do colo e os ombros, mas talvez Zack a levasse à um lugar mais protegido do clima.

 

Lizzie sentou-se no banco do carona, apoiando o braço sob a janela aberta e a deitou a cabeça por cima. Queria sentir o vento beijar seu rosto e esvoaçar seus cabelos.
 Zack ligou o carro e deu partida, pisando de leve no acelerador. Diferente de como costumava fazer, daquela vez ele não correu e dirigiu dentro da velocidade média de 60 km. Lizzie conseguiu observar pela visão periférica, que por vezes, Zack parava de prestar atenção no caminho para olhá-la, o que a fazia corar ainda mais do que a brisa gelada já causava em suas bochechas pálidas.

— Eu ainda não posso saber aonde vamos, né? – perguntou.
— É um lugar que vai combinar totalmente com o seu visual – disse risonho – Mas do que adianta eu falar o nome do local, se você não conhece praticamente nada em Trenton?
— Bem... Eu conheci a maior parte da Hamilton Ave – respondeu sarcástica ao perceber que o rapaz passava com o carro exatamente naquela avenida.
— Aonde vamos não tem nada a ver com a Hamilton Ave, pode ficar sossegada!

Zack então ligou o rádio e não fez menção de mudar a estação sintonizada, uma daquelas que na maior parte do tempo tocava flashbacks, algo que já também estava acostumada porque era o que costumava tocar no rádio do orfanato.  Lizzie não tinha nenhuma preferência musical e em sua infância, ouvir música ou ser fã de algum artista não era o tipo de coisa que mais fazia nas horas vagas, o que a fez ser bastante leiga em assunto de música, e dificilmente reconhecia algum cantor ou cantora atual pela voz.
Uma música meio lenta com guitarra envolvente e bateria leve tocava por baixo de uma voz calma, o que a agradou. Ficou surpresa em ver que Zack, aparentemente, também gostava já que batia os dedos no volante de acordo com o ritmo. Por algum motivo ela ficou surpresa, já que imaginava que ele gostasse de algum tipo de rock pesado.
Agradeceu mentalmente por ele não iniciar nenhuma conversa a respeito de música, e em vez disso, ficou em silêncio assim como ela durante todo o trajeto, que durou cerca de 20 minutos. Seguindo a direção oeste da Hamilton Ave em direção a Franklin St, ele virou o carro para a esquerda, caindo numa pequena rodovia e mais frente virou na primeira direita; Chegando ao fim da Cass St, Zack diminuiu a velocidade de frente a uma grande construção circular de tijolinhos com cobertura verde acoplado com bilheterias e um segundo andar com grandes janelas, um letreiro com as palavras “WaterFront Park”, e acima de tudo, uma bandeira dos Estados Unidos estiada num mastro. Na larga calçada do lugar também tinham algumas tendas, árvores e postes com luminárias decorados com pôsteres de jogadores de baseball. De cara, Lizzie não compreendeu o que poderia ser aquilo, e por um segundo achou que aquele era o destino deles percebendo que Zack estacionara o carro numa vaga de frente ao lugar.

— Isso é um estádio de Baseball! – explicou, desligando o carro. Lizzie balançou a cabeça em sinal de compreensão, mas não se mostrou animada. Não que não gostasse de esportes, na verdade, adorava! Gostava mais de assistir baseball do que séries de televisão, mas a idéia de assistir um jogo de baseball com aquela roupa e naquele momento não lhe agradava muito. Por sorte, percebendo a expressão da menina, Zack adiantou:

— Mas não é aqui que vamos. Não hoje! – explicou, deixando-a mais tranqüila – Vamos. O resto do percurso terá que ser feito a pé – avisou. Saiu do carro e espero Lizzie fazer o mesmo para caminhar lado a lado com a garota. Deixando WaterFront Park atrás, andaram para o lado contrário do estádio, andaram em uma rua não muito movimentada, onde apenas outra grande construção dividia a região, que parecia ser um enorme hotel sofisticado.

 

Quando avistou o hotel, Lizzie torceu para que aquele então não fosse o destino. O que fariam num hotel? Até para uma mente inocente como a dela, a hipótese principal não era algo ingênuo, e se ela estivesse certa, ficaria bastante decepcionada.
Por sorte, Zack a guiou para contornar o prédio do hotel, se direcionando para os ‘fundos’ da construção, uma faixa de terra com muitas árvores e arbustos que bloqueava a visão para o que pudesse haver atrás, deixando a menina novamente ansiosa e desconfiada.
Como ela não sabia se eles podiam estar ali, Lizzie estremeceu um pouco ao ver que alguns seguranças do hotel faziam ronda em torno do mesmo. Aquela área parecia pertencer à propriedade do hotel.

— Aja normalmente. Fique tranqüila! Não estamos fazendo nada de errado – sussurrou para a menina ao perceber sua tensão. Lizzie assentiu e tentou agir normalmente, assim como Zack, que sorria e acenava com a cabeça para as pessoas que cruzavam por eles, até mesmo um dos seguranças. Quando chegaram mais perto da fila de árvores nos fundos do terreno, o garoto puxou um maço de cigarros do bolso da calça e um isqueiro; Acendeu um cigarro com pressa e fez uma expressão de alívio. Lizzie continuou o observando, caminhando logo atrás de Zack enquanto passavam pelas árvores. Não eram árvores imensas, e talvez por causa da estação atual, as folhas estavam secas e muitas delas também haviam caído recentemente no chão de barro. Lizzie ergueu a barra do vestido afim de não sujar ou não grudar folhas secas.

Continuaram caminhando por entre as árvores por alguns segundos até finalmente sair numa outra área já pavimentada com pequenos paralelepípedos, ornamentado com um belíssimo jardim cheio de vida, que não combinava com o aspecto das árvores que ela havia visto logo atrás no caminho; Era um jardim circular cheio de flores coloridas com um espaço no meio onde era possível sentar-se na beirada do muradinho que protegia as flores. Em torno do jardim, um espaço para andar permitia chegar à extremidade do local: duas pilastras de tijolos decorativos seguravam um arco azul, e passando por ali, uma escada levava a um pequeno cais de barcos flutuante sob o grande e extenso rio de águas profundamente azuis que cortava New Jersey e Pennsylvania. Brisas geladas cortavam o ar ali próximo ao rio, mas não tinha vento suficiente para deixá-lo agitado.  Certamente, aquele lugar cheio de sombras de arvores e plantas é o que acabava intensificavam o clima úmido.

— Lindo aqui! – Lizzie exclamou sorridente. Jamais havia sido levada para conhecer um lugar tão natural, feliz e cheio de cores alegres. Era um espaço romântico, de paz. Tudo o que no fundo ela desejava para sua alma, diferente dos ambientes em que foi criada, desde o pântano sujo em que viveu com sua mãe e depois o velho orfanato preenchido de falta de esperança e tédio.
Lizzie fechou os olhos e inspirou com força, preenchendo suas narinas com aquele oxigênio limpo e puro. Estava bem no meio do jardim, e também conseguira sentir o doce odor das flores. Zack, parado próximo ao arco, a observava satisfeito enquanto terminava de tragar seu cigarro.

— Vem! Aqui é só o começo – avisou, fazendo sinal para que ela continuasse acompanhando-o. Ela deu a volta pelo jardim e o seguiu, passando pelo arco para descer as escadas que davam ao cais; Uma pequena canoa estava presa por uma corda ao fim.

— Eles aconselham a não “navegarmos” neste rio, mas o conselho não se aplica em dias como este de hoje – comentou, confirmando a idéia que Lizzie tivera ao ver o utensílio aquático – Já passeou de barco ou algo parecido alguma vez? – perguntou, ajudando-a a entrar na canoa. Ela balançou a cabeça negativamente e sentou na ponta um pouco desengonçada de acordo com o balanço da canoa. Em seguida, Zack sentou-se na outra ponta e foi desenrolando a corda que prendia a pequena embarcação de madeira ao cais, fazendo com o que o mesmo fosse se distanciando ao poucos. Para alívio de Lizzie, ele não desfez os nós da corda, de modo que a canoa continuasse presa com segurança.


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