Túmulo das sete almas ~Hiatus~ escrita por Sol


Capítulo 16
Capitulo 16




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Terceiro dia
14h 05min


Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava beber o décimo copo e água. Meu pai me segurava com firmeza e havia me obrigado a sossegar no sofá, me envolvendo em seus braços de um modo protetor.
Charles estava sentado ao meu lado de cabeça baixa e olhos desfocados.
De tantas pessoas no mundo e com tantas possibilidades de assassinos, por que eu só me lembrava do pai dele? Por que tinha que ser o pai dele?
Segurei a camisa dele e a puxei, Charles apenas me lançou um olhar de relance que durou meio segundo, era quase a decima vez que eu o chamava e ele simplesmente se mantinha em silencio, de cabeça baixa, deixando seus fios loiros esconder os seus olhos.
— Meu pai não é um assassino!
Eu abri a boca para tentar dizer algo, mas dizer o que? Era o pai dele e o meu irmão. Não havia o que dizer sobre isso, havia dois extremos, eu queria dizer que estava tudo bem, mas... Tratava se de Cain e eu não podia ignorar a revolta que eu sentia por ter confiado e logo ter sido traído.
—É meu pai, sabe... – Charles recomeçou, dessa vez quase sussurrando. — Eu não sei se poderia simplesmente entender isso, meu pai não faria isso com vocês ou comigo, ele...
—Cain era meu refúgio, meu irmão e meu primeiro amigo e eu o perdi. Não quero soar insensível, mas eu não erraria quanto a isso, eu posso ter me esquecido da voz porque faz anos que eu não a ouvia, mas eu tenho certeza agora, eu não inventaria algo assim!
Consegui dizer, ainda entre soluços, e voltei a beber a água com dificuldade, meu pai se levantou para falar com alguém ao telefone e eu me senti seriamente incomodado por ter sido abandonado.
— Eu sei que não... – Meu amigo respirou fundo, logo deixando algumas lágrimas escaparem. — Eu sei, eu te conheço e sei que está sendo sincero, mas... – Ele desistiu de falar, secando as lagrimas e se levantando. — Me dê um tempo para pensar.
Eu não mais respondi, havia me encolhido mais no sofá, eu não conseguiria dizer nada reconfortante sem sentir que soaria como uma traição à imagem do meu irmão.
Ele começou a caminhar até as escadas, logo passando a subir os degraus lentamente, eu me sentia mal por aquela situação, mas eu também me sentia, acima de tudo, traído e culpado.

 

~ # ~
14h 40min

 

— Falei com algumas pessoas que eram próximas a nós na época. – Meu pai esclareceu, enquanto eu me encolhia novamente em seus braços. —E falei novamente com o detetive que ficou responsável pelo caso do seu irmão, a descrição do assassino bate com a de Edgar, receio que realmente foi ele.
Eu permaneci em silencio, de cabeça baixa, meu pai suspirou, já entendendo que não era o melhor assunto no momento, não queria ouvir sequer aquele nome, ele me trazia uma sensação de náuseas e ao mesmo tempo uma forte raiva.
— E aproveitei e falei com Jones, ele disse que ainda não descobriu nada da Jessica, ele acha que... – Meu pai parou de falar e eu o encarei no mesmo instante.
— Que? O que ele acha pai?
— Ele apenas está levantando hipóteses, sabe, como motivos, possíveis suspeitos e possibilidades do tipo mais sérias do que pode ter acontecido com ela.
— Que tipo? Ele não acha que... Ele acha que ela pode estar morta? – Meu pai não me respondeu, aquilo serviu como um sim para mim e eu me levantei revoltado. — Não há nada que indique isso, por que ele pensaria algo assim?
— Luc se acalma é só uma hipótese! Ele só pensou... Não é como se fosse realidade.
— Mas se ele pensou isso algum motivo tem!
— Luc! Não se desespere ok? – Eu abri a boca para retrucar, mas ele logo me puxou para sentar novamente, cerrei os punhos e comecei a socar o sofá.
Era sempre assim...
Sempre...
—Ele está mentindo! E VOCÊ TAMBÉM! TODOS MENTEM!
— Luc! – Meu pai segurou meus braços e me puxou para mais perto de si, eu apenas comecei a chutar o ar. —Eu liguei para sua mãe, ela logo vai chegar e não quero que ela te encontre em desespero, me ouviu? – Eu baixei os olhos, trincando os dentes enquanto evitava as lagrimas. — Eu sei que é um pedido injusto, mas, por favor, tente suportar mais um pouco. Logo ela vai aparecer e tudo vai se acalmar.
— Tenho medo! – Admiti, deixando de espernear e afundando mais ainda no sofá. —Tenho medo, droga!
— É normal ter medo. Olhe só eu sei que você não dormiu nada essa noite, por que não descansa?
Eu o encarei fixamente.
— Essa é a forma de me mandar calar a boca? – Resmunguei ironicamente, eu não queria ir, queria ficar e entender tudo, interrogar aquele velho e também queria chorar e agredir e-
—Certo, um calmante! – Meu pai se levantou, me puxando junto até a cozinha.
—Não! Não! Não!
—Sim!
—Não!
De repente ouvi o som de batidas na porta e instantaneamente parei. Encarando-a como se dela fosse sair um E.T e me abduzir, ou pior: Me levar para Max!
— Luc... – Mas antes que meu pai dissesse qualquer coisa eu fui marchando até a porta, para o mais longe possível do calmante.
Quando encostei a mão na maçaneta comecei a pensar nas formas de morte que eu poderia ter, quem sabe um ataque surpresa? Tiros? Facadas? Não, tudo menos facadas.
Fechei os olhos, já começando a girar a maçaneta e puxando a porta. Ela foi se abrindo lentamente, com um ranger suave e um pouco agudo que somente agora eu havia notado.
— Para César Romany! – Uma voz um tanto irritante soou, me fazendo abrir os olhos.
Era o carteiro, ele estava com um buquê de flores na mão e me entregou com pressa, na certa já conhecia meu pai, pois em seguida já começou a se encaminhar para a rua.
Fechei novamente a porta, encarando as flores com enorme desgosto, eram todas rosas vermelhas, eu sempre odiei o cheiro delas, era um cheiro incrivelmente fúnebre, denso, desagradável...
— Pai! – Gritei e ele apareceu em dois tempos, com um copo de água e um comprimido em mão. —Não! – Recuei mas ele me puxou e começou a me obrigar a tomar.
—De quem é? – Ele perguntou ao quase me fazer engolir o remédio, eu comecei a tossir um pouco e a sentir o calmante descer de mal jeito. —Bebe a água, teimoso!
Peguei o copo revoltado e me sentei no sofá, encarando aquelas flores.
Elas tinham uma beleza tão morta que chegavam a me arrepiar, elas me lembravam do velório de Cain, o cheiro da rosa, a cor, as lagrimas das pessoas, o choque, o sangue...
Novamente engasguei, dessa vez com a água, recomecei a tossir e meu pai retirou o copo da minha mão, um pouco irritado.
— Odeio essas flores... – Consegui dizer, ainda tossindo um pouco, meu pai sorriu tristemente, como se concordasse e se virou para levar o copo a cozinha.
Eu comecei a vasculhar o buquê, ainda curioso e contrariado, e não demorei até achar o cartão simples e escrito a mão, o abri rapidamente, lendo-o em seguida.
Reli mais umas três vezes, confuso e preocupado, meu pai questionou novamente de quem era, mas eu guardei este no bolso e tentei me acalmar.
— Não pai, não tem nada que diga! – Corri imediatamente até a escada. — O buquê está no sofá, vou dormir já que não tenho opção.
Ele murmurou um Ok distraído e eu mordi os lábios, encarando o papel novamente:


“Sinta o que eu sinto agora...
Att. Max”


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