Túmulo das sete almas ~Hiatus~ escrita por Sol


Capítulo 15
Capitulo 15


Notas iniciais do capítulo

Essa fic não será tão longa, então as coisas vão começar a acontecer a partir de agora, começando nesse cap que terá uma puta revelação... É isso dois Bjs



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Terceiro dia
       04h 10min



O avô de Charles me encarava com uma expressão difícil de decifrar, eu não sabia se ele queria me esfolar ou me abraçar, seu rosto tinha uma mistura de raiva e pena.
— Não me olhe assim menino! – Ele resmungou, ajeitando o próprio casaco. — Me sinto um monstro que rouba doces de crianças.
Naquele momento eu estava sentado na cama emburrado e fuzilando o velho com o olhar, e ele? Na realidade ele mal parecia se incomodar.
— Já encontraram a Kelly? – Consegui perguntar, minha voz saiu um pouco ríspida demais, porém foi o máximo de gentileza que consegui no momento.
— Sim, estava enfurnada na casa de uma amiga em uma cidade vizinha. Minha filha surtou por causa disso! - Ele sorria enquanto falava isso, como se a ideia fosse-lhe agradável, talvez agora poderia dizer a filha coisas como: “Por isso mesmo eu sempre tenho razão!”
— E Charles? Como ele está? – A expressão dele se tornou mais séria e ele respirou fundo. — Não te entendo, como pode odiar o próprio neto?
Ele me encarou por um segundo e logo sorriu de um modo engraçado.
— Eu não o odeio Luc, é só aquele maldito pai dele que estragou tudo e ele insiste em defender.
— Como assim? O que o pai dele fez?
O velho deu uma breve risada. — Não lembra mesmo? Céus, só... – Ele inspirou o ar e me encarou, erguendo a mão e passando pelo meu cabelo. — Que seja!
Abri a boca para interrogar aquele projeto de ser, mas fui impedido pela porta do meu quarto sendo aberta e meu pai entrando com o café em mãos.
— Olha aqui... – Ele parou, quase derramando o café no chão, e me encarou, de repente senti vontade de me jogar de alguma ponte por ai, com certeza teria algum interrogatório, e era isso que eu menos queria. — Luc? O que faz acordado? Por que seu olho tá vermelho? O que aconteceu? — Ele disparou, empurrando o café para o velho e eu me escondi embaixo do cobertor. — Luc? – Senti ele se sentar ao meu lado e segurar o cobertor.
— Aconteceu que você largou o seu filho aqui, seu demente desmiolado, caso não saiba adolescentes são tão responsáveis quanto crianças, ainda mais os mimados, como esse ai! – O velho resmungou e eu me emburrei, com muita vontade de dizer em alto e bom som que mimada era aquela fuça velha dele.
— A culpa não é minha se o carro quebrou! – Meu pai retrucou impaciente. — Agora me dê licença um minuto que preciso me entender com meu filho!
— Claro senhor responsável!
Ouvi os passos do homem se afastarem, e esperei até ouvir a porta ser fechada.
— Luc? Olha se não quiser não precisa me dizer o que é, mas olhe para mim. – Meu pai sussurrou calmamente e eu tirei o cobertor do meu rosto, fitando os olhos determinados dele. — Eu sei que esses dias estão sendo complicados para você, sobre a Jéssica e sobre o Cain, tudo aconteceu rápido de mais, sinceramente eu não queria que esse assunto do seu irmão viesse à tona novamente, não agora, mas infelizmente ele veio e o que podemos fazer? – Ele fez uma pausa e eu me sentei, baixando os olhos, se ao menos fosse só isso, mas ainda havia mais, havia Max, havia Yuri, havia todos os desaparecidos, havia o risco que eu corria. — Eu queria dizer que pode contar com seu pai para tudo, eu posso ter cometido meus erros na vida, posso ter me afastado de tudo, mas eu quero que saiba que eu mudei por vocês.
— Vocês?
Ele sorriu, olhando para cima.
— Sinto que seu irmão neste mesmo momento esteja cuidando de você, como fez até o ultimo momento.
Senti meus olhos marejarem imediatamente. — Pai! – O chamei, fazendo com que ele me encarasse. —Obrigado por se preocupar comigo, pensei que jamais ouviria algo assim de você.
Ele afagou meu cabelo e me puxou para um abraço quente e reconfortante. — Eu sempre me preocupo, e sempre vou me preocupar. Agora vai dormir, anda.
— Ok! Ok!
Eu sorri e deitei novamente, dessa vez estava bem mais tranquilo, não estava mais sozinho a mercê das maluquices de Max. Meu pai começou a afagar meu cabelo, exatamente como Cain fazia quando éramos menores, sem perceber deixei o sono me invadir novamente, dessa vez com calma e vontade e, no fim, simplesmente apaguei.

~ # ~


12h 40min (pm)

 

Ainda morto de desanimo desci do carro, encarando a escola a minha frente, não era a coisa mais legal do mundo voltar aqui depois do que aconteceu, mas meu pai foi bem claro quando disse: Ou eu ia ou eu ia, não havia outra opção.
Fiquei observando tristemente o carro se distanciar e me deixar para trás.
— Luc! – Senti um mini-infarto quando alguém se jogou em cima de mim, com um riso debochado e ao mesmo tempo afetado, nem precisei me virar para adivinhar quem estava rindo. — Como foi a grande noite com tio Max? – Charles brincou, parando ao meu lado e me encarando, até mesmo seu olhar era afetado. — Pelo seu humor foi péssimo né?
— Que isso! Melhor impossível, estou pensando em até ficar sozinho em casa mais vezes. – Retruquei ainda emburrado. — Agora é serio bobo da corte, to péssimo, dormi mal e seu avô não me deixou sair de casa enquanto eu não tomasse a droga do café direito.
— Eu sei, meu avô é um insuportável, mas me conta tudo o que aconteceu. – Ele parecia veementemente ansioso, seus olhar se desviava rapidamente para qualquer coisa que se movia ao nosso redor, seus passos estavam um pouco menos descontraídos que o normal e, mesmo ele não demonstrando mais nenhum sinal, eu sentia que ele estava abalado.
— Vamos andando e eu vou te explicando, sinto que precisamos mesmo conversar.
~ # ~


13h 25Min (pm)

 

Charles jogou o plástico do biscoito na lixeira e voltou a se sentar no chão ao meu lado, nesse horário seria aula de química, mas fomos avisados que Marlee chegaria atrasada então estávamos a toa nos fundos da sala enquanto nossos colegas jogavam uma espécie de Quiz, volta e meia alguns deles pareciam me encarar de um jeito piedoso, porém sempre acabava recebendo uma cotovelada de outro colega, todos sabiam que eu não sabia lidar com crises de um jeito bom, e nem falar sobre isso. Por isso ficavam em silencio.
Ainda assim me senti enrubescer de vergonha, eu sabia que querendo ou não eu estava em destaque aquele dia.
— Sabe... Eu lembro bem desse tal Yuri. – Meu amigo comentou, me trazendo para a terra e deixando transparecer um resquício mínimo de rancor. — Ele me empurrou da escada no sexto ano. Não tem como esquecer.
Parei um instante para pensar, no sexto ano Charles havia acabado de voltar à escola depois de ser preso pelo incêndio e estava em seu pior estado, quase não falava, não olhava no rosto de ninguém e evitava grandes multidões. Nessa época, por algum motivo, Yuri se irritou com ele e, como Charles não disse nada, ele perdeu a paciência e o empurrou por impulso, o único problema era que os dois estavam no meio das escadas.
— Aquele dia você levou muitos pontos e quebrou o braço, isso que é azar. – Comentei sorrindo. — Jessie quase espancou Yuri. – Meu sorriso diminuiu. — Ela sempre defendia todos nós.
— Sim e por isso eu tenho certeza que ela está bem.
— Certo. – Dei de ombros, falar de Jessie não era uma opção, não na escola, onde varias pessoas estariam ali, presenciando novamente minha fraqueza. — Agora você pare de me enrolar e me diz por que estava tão nervoso ontem.
— Não estou te enrolando, só... – Ele suspirou. — Meu avô se aproximou de mim e perguntou se eu estava bem, estranhei, porque ele mal olha na minha cara, enfim, eu disse que sim e ele perguntou de você. Até tudo bem, até que... Ele me disse algo que eu achei estranho, ele disse: “Seu pai começou tudo isso, eu disse para ele não fazer, eu disse e ele o fez.” Fiquei com medo cara, porque ele parecia sério. – Charles abraçou as próprias pernas. — Meu avô sempre odiou o meu pai, mas sei lá, nunca chegou a dizer algo como isso.
— Realmente e tem mais. – Comecei, o encarando. — Seu avô me perguntou se eu me lembrava do que o seu pai havia feito e ainda riu, ou ele tá ficando doido ou ele sabe de algo.
— Prefiro acreditar que ele está louco! – Charles afirmou seriamente e eu sorri em apoio. — Acha que devemos interrogar?
— Não que ele vá falar alguma coisa, mas não custa tentar. O que é isso? - Perguntei ao vê-lo retirar uma caixa da mochila.
— São coisas que peguei com minha mãe, coisas do meu pai e meus irmãos, queria ver se algo era útil... Até porque, faz séculos que mal posso ver o rosto do meu pai e as memórias até dos amigos da nossa família ficou meio vaga. – O sorriso dele diminuiu, desde o incêndio vetaram Charles de ter contato com tudo que lembrasse o pai, nem mesmo eu me lembrava direito do pai dele, não o via mais desde muito antes do incêndio.
— Fugir para vasculhar? – Propus e o sorriso dele aumentou um pouco.
— Só você mesmo. Vamos logo!

~ # ~
14h 28min (pm)
— Vou começar a ver as coisas na TV da sala ok? – Charles perguntou já se encaminhando para o sofá, eu já segurava a foto que Max havia me enviado, mas como meu amigo estava enrolado decidi esperar um pouco para mostrar.
— Ok! Vou despistar o povo. – Sussurrei sorrindo de lado e logo corri para a cozinha. Eu sabia que me pai não havia dormido direito e por isso ainda estava em casa, e também sabia que o avô de Charles ainda estava por ai, então eles com certeza perguntariam algo.
Entrei de fininho na cozinha, evitando a todo custo olhar para a porta da garagem, que era justamente onde meu pai e o velho estavam.
— Não está cedo de mais mocinho? – O avô de Charles resmungou e meu pai apenas me lançou um olhar de duvidas, desconfiado certamente.
— A professora faltou, fomos liberados. – Expliquei com má vontade e ele torceu o nariz, meu pai suspirou e foi até a cafeteira, para ele café caia bem em qualquer momento do dia e da vida, eu simplesmente odiava café. — Seu neto está aqui, não vai dizer nada a ele? Pensei que não o odiasse!
— Você é bem intrometido menino. – Ele resmungou, andando até a sala, eu apenas sorri vitorioso.
—Professora faltou em? – Meu pai comentou vagamente e eu fiz minha melhor expressão de sofrido.
—Ah! Pai sabe como é não é? Eu estou meio zonzo por causa de ontem, fiquei pensando no meu irmão... E... – Baixei os olhos e encolhi os ombros, ele me encarou de modo piedoso e me abraçou. Por um mínimo segundo senti a culpa me invadir, mas era isso ou falar de Max.
—Vamos impedir a terceira guerra mundial, certo? – Ele propôs e então eu ouvi a voz de meu amigo na sala, ele e o avô pareciam trocar implicâncias. Sorri de lado e comecei a me caminhar lentamente até eles, sinceramente, mesmo com tanta implicância, eu sentia que algo havia se tornado menos frio na relação deles.
Na sala, Charles colocou um dos CDs de vídeo que estavam na caixa, essas lembranças certamente eram de grande importância para meu amigo.
cx Eu podia ouvir a voz da mãe dele agora, ela cantava uma musica infantil e animada e os resmungos de uma criança, sorri imaginando se não poderia ser Charles.
Porém logo meu sorriso desapareceu.
Ouvi a risada de um homem e em seguida o ouvi dizer alguma coisa, eu gelei e parei de andar no mesmo instante.
As palavras que ele dizia ficavam vagas e desinteressantes à medida que sua voz fazia com que lembranças perdidas começassem a se reunir.
Aquela voz...
Era a mesma...
“Vou leva-los para casa!”
Era exatamente a mesma.
A voz que ecoava em todos os meus pesadelos.
“Não confia em mim?”
Andei até a meu amigo e parei em frente a TV, sentindo meus olhos se arregalarem e meu coração acelerar assustadoramente.
“Vem Luc, antes que seu irmão nos encontre!”
Um homem loiro e forte se virou para a câmera, com um miniprojeto do meu melhor amigo no colo, ele apenas ria e abraçava Charles.
— Luc? Tá tudo bem?
“Vamos Luc, antes que ele nos veja tenho um ótimo jogo que você vai amar!”
—Luc? Está me ouvindo? Vô me ajuda aqui! – Charles me chacoalhava, mas eu permanecia imóvel.
O homem sorria no vídeo com muito gosto.
Eu encarei seu braço, uma tatuagem de fênix com uma coroa na cabeça, o mesmo da foto? Então algo fez minha mente processar todas as informações, a voz, a tatuagem.
“Luc! Sai de perto dele agora! Luc! Olhe para mim! Corre!” A voz de Cain ecoou alto em minha mente, como um apelo, recuei alguns passos e apenas conclui o que era obvio.
Eu não corri quando ele mandou, por que não corri? Por anos me perguntei isso, agora tudo fazia sentido.
Senti as lágrimas saírem descontroladas, no vídeo o homem começou a rir com vontade, tampei os ouvidos com tanta velocidade que a foto escorregou da minha mão e, enquanto ela caia lentamente, eu já havia começado a gritar.
Senti fortes braços me segurarem, o mundo ao meu redor perder o foco. Eu gritava e recuava, relutava. Não queria que ele me tocasse. Que se aproximasse.
A risada do vídeo havia parado, mas ecoava repetidamente no ar.
Alguém me abraçou forte e eu relutei mais. Aquele homem de mascara, não!
Eu tinha que fugir... Tinha...
Charles parou a minha frente, tentando me chamar de volta ao mundo, eu o via, embora não o enxergasse, em meu campo de visão entrou apenas o velho, que lentamente pausou o vídeo.
“Seu pai começou tudo isso, eu disse para ele não fazer, eu disse e ele o fez.”
“Luc! Ele é mal!” Meu irmão tentou me avisar enquanto corria atrás de mim, mas eu não me importei porque eu o conhecia.
Não fugi porque eu confiava naquele homem.
Era o homem que mataria meu irmão... E eu o conhecia!
Meu amigo se abaixou e pegou a foto caída.
— Luc? Por que você tem uma foto do meu pai?


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