Dona Melly rapidamente chegou ao ginásio em uma ambulância. Os enfermeiros botaram Nesse em uma maca. Gotay havia se escondido. Mariah chegara em seguida carregando Ralph nas costas.

– Por favor! Ajude-o também!

Nesse e Ralph haviam desmaiado. E Mariah fitava os dois amigos, Ralph estava com apenas alguns arranhões em seu corpo. Mas ela estava mais preocupada com Nesse. Ela se sentara no lado dele.

– Nesse, desculpe por fazê-lo se machucar tanto. – Mariah acariciava os cabelos azuis do amigo, se segurando para não chorar.

Ao chegarem ao hospital. Mariah também recebeu cuidados. Havia vários cortes em suas costas, mas claro, nenhum fatal. Mas o mais ferido dos três era Nesse, que ao chegar ao hospital ele foi rapidamente socorrido. Seus corpos estava coberto por vários cortes que o fizera perder muito sangue. Por isso ele teve que ficar e tomar soro.

Ralph foi socorrido também, mas seus feridos haviam se curado, por alguma razão, mas as áreas onde Slace havia atacado com suas lâminas haviam inchado os membros, além dos arranhões que cobriram a maioria dos feridos, já em período de cicatrização. Mas o arranhão que chamava mais atenção era o que estava em seu peito.

– O que vocês estavam fazendo?! – Perguntava o médico que cuidava dos três. – Brincando com facas?

– Pode se dizer que sim. – Mariah falava meio constrangida.

Depois de dois dias do hospital. Ralph finalmente acordou. Estava com uma baita dor de cabeça e mal se lembrava do que havia acontecido com ele dias atrás. O médico que o havia socorrido percebeu que Ralph tinha acordado, se aproximou e exalou um sorriso de alivio.

– Ufa! Achei que você ia entrar em coma. –

– O – Onde eu estou? – Ralph estava confuso e sonolento.

– Ralph, não é? Você está no hospital. Você foi trazido pra cá dois dias pra cá com mais duas pessoas. Eles aparentavam serem seus amigos.

– Ah! – Ralph parecia que havia acordado de um pesadelo. – Onde eles estão? Eles estão bem?

– Sim. Eles estão. Já receberam alta.

Ralph ficou aliviado. Mas sentiu um leve sentimento de solidão, e confusão. Ele não se lembrava do que havia acontecido para ele estar ali.

Quando o médico saiu. Uma enfermeira apareceu e seguiu diretamente onde estava a maca de Ralph. Havia oito macas naquele quarto. Quatro em cada lado. As paredes eram brancas e ali exalava um cheiro de anestesia, que Ralph odiava. A enfermeira se aproximou dele e comunicou:

– Rafael? Você tem visitas.

Ninguém o chamava de Rafael. Nem mesmo a sua mãe. Ele se sentia uma pessoa diferente quando era chamado daquele jeito. Era inédito e sempre o surpreendia. Quando a enfermeira saiu do quarto a expressão de Ralph mudou.

Era Mariah e Nesse.

– Ralph! Como você está? – Nesse falava com um entusiasmo na voz. Estava recomposto novamente, com apenas alguns curativos sobre o rosto. – Quase nos confundimos quando viemos te visitar.

– Ué. Por quê?

– Seu nome. – Mariah deu uma leve risada. – É tão diferente para nós te chamarmos de Rafael.

Os três riram bastante durante alguns minutos. Mas a ansiedade de Ralph falou mais alto, estava muito curioso para saber o que havia acontecido dias atrás.

– Pessoal o que aconteceu dois dias atrás? Eu não estou me lembrando de nada. E o aconteceu com Slace?

Depois de um longo minuto, Mariah respondeu.

– Slace está morto, Ralph. – Mariah falava com tristeza em sua voz, se recordando o que acontecera. – Você o matou... Ele está morto!

– Eu o matei? – Ralph não tinha entendido. – Eu geralmente sinto alguma coisa quando eu acabo com alguma coisa, mas não sinto nada...

– Eu acho que Mariah não quer entrar em detalhes. – Nesse comentou com Ralph enquanto Mariah se afastara um pouco da maca.

– Mariah, o que houve? – Ralph se arriscava em tentar falar com ela, que parecia aflita. – Por que está assim. Se o que eu fiz foi tão ruim, por favor, me...

– Esquece sobre dois dias atrás! – Mariah encerrou o assunto com um tom impaciente. – Nós temos outra coisa mais importante pra se preocupar!

– Outra coisa mais importante? Qual?

Mariah ia responder, mas Nesse tomou a dianteira.

– Acontece que estávamos em uma missão, Ralph. – Nesse falava com preocupação. – Temos ordens superiores, e devemos cumprir elas.

– Entendi. Mas o que isso tem de importante agora?

– Acontece. – Mariah ignorou Nesse. – Que nós estamos aqui pra isso, mas... – Ela hesitou um pouco para falar. – Logo nós não poderemos mais ficar aqui.

– Não podem? Por quê? – Ralph queria entender. – O que aconteceu com a missão?

– Nós falhamos! – Mariah já estava com raiva. – Foi isso que aconteceu!

– Meleca... – Ralph não conseguia dizer mais nada.

– Logo Gabriel virá nos chamar de volta aos Sete Céus. – Concluiu Nesse.

– E se isso acontecer... – Ralph não queria terminar a frase.

– Você vai ter que se virar sozinho. – Mariah terminou a frase amargamente. – Isso é o que vai acontecer.

Os dois anjos deixaram Ralph no hospital. Mas logo ele foi avisado que iria receber alta em algumas horas. Depois que ele foi liberado, ele pegou as suas coisas que estava guardado ao lado em sua maca. Ele agradeceu ao médico e aos enfermeiros e seguiu ao caminho de casa.

Mas como um raio, as lembranças vieram todas de uma vez, enquanto ele estava perto de casa. Agora ele se lembrava do que acontecera. O que... É... Isso?! Ele estava vendo o corpo decapitado de Slace no beco em sua mente, da luta que tivera com ele, de estar quase morrendo e de lembrar-se de algo grande com olhos amarelos olhando para ele. O que... Foi que eu fiz?! Ele correu direto para casa.

Longe dali, o Mestre estava em seu Campo de Projeção. Tudo ali era escuro, inclusive o próprio, e por isso não se dava para ver o seu rosto. Ele havia chamado os seus subordinados e os estava esperando.

– Slace me rendeu uma boa diversão. – O Mestre comentava com ele mesmo. – Ele foi mais longe do que eu pensei.

Ele deixou seus pensamentos quando percebeu seus subordinados surgindo em projeções atrás dele.

– Meu mestre. Aqui estamos nós. – Um dos dois que apareceram ali anunciou a sua voz.

– Ótimo. – O Mestre se se virou para os dois que ali estavam.

O subordinado que fora o único dos dois que havia falado “saíra” da projeção e estava ali, referenciando o Mestre. Este subordinado se vestia um pouco diferente dos outros. Vestia camisa listrada verde e amarela e usava um sobretudo marrom que estava aberto. Além das calças jeans e sapatos de couro. Tinha um cabelo longo, e algumas mechas estavam sobre o seu rosto.

– Levante-se, San Areno. – O Mestre chamou-o pelo nome sem muita formalidade. – Agora eu quero saber do que você é capaz.

– E quanto a mim, Mestre? – O outro subordinado ainda estava na projeção, e sua aparência ainda era oculta.

– Acalme-se, Slam. Você agirá quando eu mandar.

– Como queira, Mestre.

– Ei, você não vai me tratar como tratou Kleber, né? – San Areno voltara a sua atenção para Slam. – Eu ainda não fiz nada de errado.

– Você está certo. Ainda. – Slam mantinha um tom que provocava os outros por ser calmo.

– Chega de conversa. San Areno agirá primeiro. – O Mestre parecia decidido e queria deixar aquilo logo resolvido. – Aguarde ao meu chamado.

– E pra quer esperar? – San Areno tinha um tom objetivo. – Eu vou matá-lo sem nem ele saber!

– Espere! – Slam o interrompeu. – Mestre, eu peço a sua permissão de querer testar Ralph. Quero conhecer a sua força.

– Hum? Como você pode dizer uma coisa dessas quando eu estou aqui?! – San Areno ficara perturbado. – Eu é que fui enviado agora!

– Espere San Areno. – O Mestre ainda estava meio pensativo. – Achei a idéia dele uma boa opção. Então eu te darei a minha permissão para fazer o que bem entende.

– Agradeço Mestre. – Slam fizera uma referência e havia irritado San Areno.

– Mas lembre-se: É apenas um teste. Depois retorne e me relate o seu relatório.

– Perfeitamente, Mestre.

– Hunf. Só porque nós dois somos Ishins ele fica nos mudando de trajetória. – San Areno reclamava consigo mesmo. – Mas, Mestre. Porque não quer que eu o mate?

– Ainda quero saber de mais algumas coisas. E Slam fará isso para mim.

– Hum. – San Areno bufou silenciosamente. – Como queira, Mestre.

– Estão dispensados, vocês dois.