Eu já havia me levantado, tomado banho, me vestido e já estava cheia do café da manhã. Peguei minhas chaves que estavam no meu colo e dei partida no carro. Liguei o aquecedor e o rádio ouvindo uma música agitada e romântica. Dirigi até a escola sentindo um frio na barriga. Parecia que tudo estava dando certo dessa vez, mas a verdade é que nada estava certo. No dia anterior tinha me aproximado mais da Magá e feito novos amigos, porém tinha entrado em uma briga com a Carmem, que só olhou pra mim hoje para me lançar um olhar mortal. E meus pensamentos novamente se voltam para o idiota do Cebola. Eu realmente queria poder ler a mente dele para saber o que ele pensava. Por que ele estava sempre por perto para me derrubar e de uma hora pra outra tentar me ajudar a levantar ?
Acordei dos meus pensamentos quando ouvi uma buzina forte e um garoto do time de futebol me xingando. Eu quase bati o carro. E por causa dele.
Balancei a cabeça afastando qualquer coisa relacionada a ele e mexi o maxilar um pouco irritada. Parei na vaga mais póxima e desci do carro arrumando o meu cachecol, pois estava fazendo frio. Minha blusa de manga branca, minha calça jeans e minhas botas mostravam ainda mais isso. Arrumei minha bolsa de franjas pendurada no meu ombro direito e tirei uma mecha do meu cabelo que insistia em bater nos meus olhos por conta do vento frio. Olhei para os lados e não avistei ninguém que realmente gostaria de falar comigo, então me sentei na mesa com bancos que possuía no campo da escola. Peguei meu IPod e coloquei a música I'm not the only one, do Sam Smith, que apesar de ser uma música de côrno, eu gostava.
Notei uma presença repentina do meu lado esquerdo e espiei com os olhos para ver quem era. Meu estômago se revirou e senti a raiva nas minhas veias.
_ O que você está fazendo aqui Cebola ? - perguntei irritada -
_ O mesmo que você. Me sentando. - ele disse indiferente -
Notei que todos estavam nos olhando curiosos e com uma certa desaprovação, afinal, a nerd e o popular não são coisas comuns de se verem juntas. Senti como se estivessemos cometendo um crime e tratei de me afastar dele um pouco mais.
_ Suas mudanças de humor comigo estão me deixando louca, sabia ? - eu disse mais irritada -
_ Ah, então eu te deixo louca ? Sempre soube. - ele disse em um tom brincalhão e divertido -
O jeito que ele estava tratando aquela situação como algo normal estava me irritando mais ainda. Eu estou ficando maluca, ou ele é completamente bipolar ?!
_ Se não se importa, tenho aula pra assistir. - eu disse me levantando e lhe lançando um sorriso irônico - Até mais. Licença.
_ Toda.
Cebola enfatizou a palavra de uma forma irônica e eu me virei perplexa. O que se passa com esse garoto ?! Ontem mesmo ele estava falando que não devíamos nos " misturar " e agora já temos intimidade para brincadeiras irônicas ? É, parece que sei bem menos do que pensava sobre garotos. E muito menos sobre Cebola Menezes.
Entrei no corredor principal onde ficavam os armários e peguei alguns livros que iria precisar para a aula. Olhei para as fotos minhas e da minha mãe coladas na porta do armário e sorri tristemente. Ela me fazia falta cada vez mais. Segurei as lágrimas por alguns segundos e fechei a porta do armário dando de cara com o Do Contra sorrindo.
_ Ah! Oi. - eu disse um pouco surpresa -
_ Oi. - ele disse bem feliz - Tem aula de que agora ?
_ Hã... Biologia.
_ Legal... Pena que não vamos ter essa aula juntos, mas a próxima nos vemos.
Do Contra piscou sorrindo e se afastou quando o sinal tocou. Suspirei fundo e me recuperei da sua proximidade. Não sei como lhe dar nessas situações, já que até hoje só beijei dois garotos na minha vida. E tenho 17 anos. É, talvez eu devesse sair mais.
_ E aí ? - Magali disse pulando na minha frente -
_ Oi! Onde você estava ?
_ Acabei de chegar! Mas vi que você estava muito bem acompanhada.
Magali me lançou um sorriso malicioso e eu revirei os olhos. DC era lindo, não vou negar, porém o queria somente como amigo.
Entramos dentro da sala e a Magá se sentou junto com um garoto. Olhei em volta me sentindo um pouco perdida por não conhecer mais ninguém e não ter lugar para mim. O professor chegou e percebeu como eu estava.
_ Hã... Senhorita Sousa, você pode se sentar ali no fundo.
Olhei para o fundo procurando a mesa que só teria uma pessoa. Esbarrei em dois olhos mel que me encaravam. Que. Merda.
_ Não tem mais ninguém professor ? - perguntei esperançosa -
_ Não. - ele disse simplesmente -
As garotas começaram a me olhar como se eu fosse louca por estar perguntando isso e todos cochicharam sobre a situação em que nos encontrávamos novamente.
Caminhei até a mesa do fundo lentamente e me sentei com ódio por ter que fazer par com o Cebola pelo resto do ano. Isso só podia ser um pesadelo!
Cebola revirou os olhos e cruzou os braços se sentando afastado da mesa colocando todo o peso do seu corpo na cadeira. Ele esticou suas longas pernas e as cruzou, assim como fez com os braços. O espiei com os olhos e aproveitei que ele estava distraído mexendo em algum chaveiro que segurava. A janela estava fechada, porém a luz do dia nublado que estava lá fora invadia a sala. Cebola estava bem na direção da luz da janela próxima a nós dois. A luz batia em seu rosto fazendo o contorno perfeito de seu perfil e seus olhos mel brilhavam e ficaram mais claro do que já eram. Ele estava muito bonito. Talvez até de mais para o permitido. Balancei a cabeça e olhei para o lado amaldiçoando esse pensamento incoerente.
_ E então... Vai continuar me ignorando ? - ele perguntou me pegando de surpresa -
_ Eu ? - perguntei indignada - Você não acha que a situação é inversa ?
_ Na verdade, não. Só estou tentando manter as coisas em ordem.
_ " Em ordem " ? - soltei um riso sem humor - Por que fica dizendo isso ? Eu sinceramente não entendo o que vocês populares pensam...
Cebola mexeu o maxilar nervoso e se aproximou da mesa me encarando.
_ Como eu disse, só quero manter as coisas em ordem. E quero que se afaste de mim e pare de me procurar.
_ O quê ?! - eu disse me segurando para não gritar - Você acha que eu to... ?
Não consegui me controlar e comecei a rir. Cebola ficou me olhando confuso como quem perdeu a piada.
_ Eu não to te seguindo. Pra falar a verdade, seus encantos não são nada sobre mim, se é o que pensa.
Ta, talvez eu tenha mentido. Porém era meio verdade. Afinal, eu não saía correndo como as outras garotas faziam. Além de eu perceber quem realmente era Cebola Menezes.
_ Tudo bem.
Não nos falamos mais depois e quando a aula acabou cada um foi para um lado. Magali logo correu até mim com uma expressão curiosa.
_ O que você estava falando com o Cebola ?
_ Nada de importante. - eu disse azeda - Acredita que ele achava que eu estava seguindo ele ?!
_ Sério ? Que ridículo. - Magali disse com uma careta -
_ Nem me fale. - murmurei entre dentes -
Entrei na próxima sala onde eu teria aula de História e logo avistei o DC que parecia ter guardado um lugar pra mim ao seu lado.
_ Oi. - eu disse sorrindo levemente -
_ Oi... - ele disse sorrindo também - E então... O que você acha da gente tomar um sorvete hoje depois da aula ?
_ Hoje ?
Mexi minhas mãos um pouco nervosa e tentei não pensar que ele estava me chamando para um encontro.
_ É. Algum problema ? - ele perguntou -
Sorri falsamente e suspirei fundo olhando em seus olhos negros. Fazia um tempo que não saía com ninguém, então, por que não ?
_ Não. Vamos, claro.
Assistimos mais algumas aulas e depois fomos para o refeitório. Me sentei na mesma mesa que a Magá, o DC e Katherine.
_ Juro que não sei como o Peter Muller consegue ser tão gato! - Katherine disse para mim e Magali -
_ Também não sei. - Magali disse entre uma risadinha - E você Mônica ? Quem mais te chamou a atenção ?
Olhei para o lado sem querer e encarei aqueles olhos mel. Cebola me olhou por um segundo e jogou a batata que estava segurando com raiva no prato. Desviei o olhar me sentindo a pessoa mais idiota do mundo.
_ Ah não... - Katherine disse parando de comer - Não me diga que foi o Cebola Menezes ?!
_ O quê ?! Mônica! - Magali disse irritada -
_ Calma gente! Não é o Cebola! - eu disse tentando acalmá-las - Acho o Muller uma boa opção.
DC me olhou de relance e ficou sério de repente. É, talvez ele estivesse afim de mim.
O horário do almoço acabou e depois de termos assistido quase todas as aulas, a última teve que ser a que fecharia o dia com " chave de ouro "!
_ O trabalho é bem simples. Vocês farão em duplas e terão duas semanas para fazerem. E sem contar que vale 50% da nota. Pode te ajudar muito, não ? - o professor de química disse animado - Ok. Selecionei as duplas e colei com quem cada um ficou no mural da escola. Até mais gente! Estão liberados.
O sino tocou e todos se levantaram em disparada ao mural da escola. Fui o caminho inteiro rezando para ter saído com a Magá ou com a Katherine.
Empurrei toda aquela aglomeração de gente e consegui chegar ao papel onde estavam os pares.
Rolei os meus olhos na lista até chegar na letra M, pois estava em ordem alfabética.
Não, não podia ser.
Meu estômago se revirou e meu coração congelou.
_ É, parece que vamos ter que fazer um trabalho.
Olhei para trás e encarei Cebola com a boca aberta ainda em estado de choque.
_ Você pode fazer todo o trabalho e eu fico olhando. - Cebola disse com um sorriso brincalhão, porém nem tanto - Ah, e se quiser começar isso logo, vamos ter que fazer hoje. Amanhã não tenho tempo.
_ Hoje ?! Ficou maluco ? - perguntei finalmente soltando minha raiva -
_ Ah e... Acho melhor você pegar um taxi, não tenho espaço suficiente na minha limosine.
Cebola andou até o portão da escola entrando em sua limosine, mas antes piscando para mim. A raiva era minha dona naquela hora. Se o motorista dele não fosse rápido, eu teria furado os pneus. Liguei para o meu motorista ainda borbulhando de raiva e xingando muito o Cebola.
_ Oi Louis. É, hoje não vamos para a minha casa. - eu disse dando uma pausa - Tenho que fazer um trabalho pra pagar os meus pecados. - eu disse entre dentes -