Se não estivesse sóbria noite passada, teria dito que bebi muito para aquilo acontecer. Apesar de que odeio bebidas alcoólicas. Por que eu deixei o Cebola se aproximar de mim ? Desde quando somos amigos ? Até quando ele vai ficar me perseguindo ?
Balanço a cabeça encarando o teto do meu quarto. Estendo um braço para olhar as horas no celular. São 7:40. Preciso me arrumar para a escola, ou vou acabar chegando atrasada e, como nunca fiz isso, não quero começar por causa dele.
Levanto da cama em um pulo e vou tomar um banho quente. Coloco um cardigã cor vinho, uma calça jeans e por último apenas penteei meus longos cabelos castanhos. Tudo bem, eu estou nervosa. Não sei porque, isso é tão ridículo. Sério que você está preocupada com a opinião de Cebola Menezes ? Aquele idiota metido e superficial ? Apesar de que ontem ele não foi assim. Ele me mostrou um lado que nunca pensei que ele teria. Mas mesmo assim não acredito que estou preocupada se ele vai falar comigo ou não.
" Se recomponha! " Minha mente grita pra mim.
Solto um curto suspiro e pego a chave do meu carro. Desço sem a menor fome pelo nervosismo e me dirijo até o carro. Ligo o automóvel e logo também o rádio. Parece que ouvir uma música sempre me acalma. Aperto as mãos no volante e tento me concentrar apenas na música e em nada mais.
Estaciono na garagem enorme da escola e desço tentando não cair com as minhas pernas bambas. Coloco as chaves na minha mochila e levanto o olhar dando um passo para frente, mas logo paro. Avisto a Carmem abraçada com o Cebola no meio de seus amigos. Todos estão rindo e provavelmente se gabando de alguma coisa. Cebola me olha e simplesmente sorri. Não consigo me controlar e fecho a cara para ele andando apressadamente até a porta da escola.
_ Oi! - Magali diz aparecendo do meu lado -
_ Oi. - eu digo entre dentes -
_ Nossa... O que foi ? O encontro com o DC não foi bom ? - ela provoca -
Andamos até os armários e coloco o segredo agressivamente. Magali me observa cautelosa e eu pego os meus livros da minha bolsa jogando com força dentro do armário.
_ Não estava saindo com o DC. Mas resumindo, quase não fiquei lá já que o Cebola foi me pegar. - respondi fechando o armário com força -
_ O Cebola foi te pegar ?... - ela diz como se estivesse processando tudo - Espera, por quê ?!
_ Não sei! Segundo ele era para me provocar e depois me levou no restaurante da mãe dele.
_ E depois ? - ela pergunta curiosa -
_ Depois... - eu digo me lembrando do resto e corando fortemente - Ele continuou sendo um idiota.
_ Sei... - ela diz cruzando os braços e me analisando - Mônica, você está vermelha! O que realmente aconteceu ontem ?
Fico em silêncio por um tempo e apoio meu peso na minha perna direita.
_ Não sei. - eu respondo sinceramente - Será que dá pra gente mudar de assunto ?
Magali assente, mas sei que mais tarde vai me exigir explicações. Logo um sorriso largo surge em seus lábios.
_ O baile da escola está chegando! Estou tão ansiosa! - ela diz quase pulando -
Não consigo segurar o riso e a olho um pouco surpresa.
_ Nunca pensei que gostasse dessas coisas. - digo rindo -
_ Bom, não gostava... - ela diz ficando vermelha - Mas alguém me convidou.
_ Jura ?! Quem ? - pergunto animada e curiosa -
_ O Cascão. - ela responde timidamente -
Nunca havia visto a Magali tímida. Provavelmente ela tinha uma queda enorme por ele, porém odiava admitir por ele ser popular.
_ Hum... Interessante. - eu a provoco e ela ri ficando mais vermelha -
_ Tá bom, chega. Você vai ou não ?
Me remexo um pouco envergonhada e entro na sala me sentando na carteira.
_ Não tenho com quem ir. - respondi dando de ombros - Também não sou muito desses bailes.
Magali começou a falar alguma coisa, porém desviei minha atenção para Cebola que entrava com Carmem. Ela dava risadinhas finas e bobas. Nunca pensei que diria isso, mas acho que ela gosta dele. Novamente aquele sentimento de incômodo se debate dentro de mim. Tudo bem, o que está acontecendo ? Não tenho nada a ver com isso. Pare de se intrometer nessa história Mônica.
Cebola sorriu para mim e eu fechei a cara para o mesmo. Ele franziu a testa confuso e eu voltei minha atenção para o professor.
Eu estava apreciando a minha leitura na aula de ciências sobre plantas quando senti uma coisa me atingindo. Um papel branco e amaçado em uma bola estava em cima do meu livro. Olhei ao redor e todos estavam concentrados lendo. Abri o papel um pouco ansiosa.
" O que aconteceu ? " - Cebola
Revirei os olhos ignorando a pequena pontada que meu estômago levou. É sério que ele está me perguntando isso ?
Pego um lápis e escrevo no mesmo papel: " Nada. Só pensei que amigos conversassem. "
Jogo a bola em sua carteira um pouco impressionada com a minha pontaria. Eu normalmente nunca acerto. Continuo lendo o capítulo em silêncio esperando a resposta. Mas nada vem. É, talvez não sejamos mais amigos.
O sinal toca avisando que é hora do almoço e eu caminho até o meu armário para deixar alguns livros. Novamente olho para a foto minha e da minha mãe. Sinto muita falta dela. Acho que irei ligar para ela mais tarde.
Assim que fecho a porta do armário, Do Contra aparece atrás dela.
_ Meu Deus! - eu digo depois do susto que levei e ele ri - Você tem que parar de fazer isso.
O apelido " amigo psicopata emo " surge em minha mente e eu me repreendo. Merda Cebola.
_ Bem, eu... Na verdade queria te pedir uma coisa. - ele diz um pouco tímido -
Do Contra está usando uma calça jeans, uma blusa regata de mangas preta e seus cabelos estão levemente arrepiados. É, ele é bonito mesmo.
_ Claro, pode falar.
Ele se endireita e sorri.
_ Você quer ir ao baile comigo ?
Não posso afastar a surpresa da minha cara. Nunca haviam me chamado para o baile e eu nunca havia ido em um. Na verdade, uma vez, um menino até que tentou. Ele era meio tímido e um nerd da minha sala, assim como eu e eu sabia que ele era afim de mim. Mas assim que ele foi me pedir para ir ao baile com ele, o mesmo ficou tão nervoso que vomitou na minha frente e na da escola inteira. Estremeço com essa lembrança e olho fixamente para DC.
_ Hã... Eu não sou muito de bailes... - eu digo soltando um riso nervoso - Mas, eu posso pensar ?
Do Contra fica feliz e por máximo que tente disfarçar isso, é perceptível.
_ Tudo bem. Sem problemas! - ele diz animado - Te encontro no refeitório.
Do Contra se inclina rapidamente e me dá um beijo na bochecha direita e sai em direção ao refeitório. Eu sei que estava um pimentão agora. O que deu nesses homens de ontem pra hoje ?!
Vou para a fila infernal para apenas conseguir pegar uma salada. Será que é pedir muito ? Vou pegar uma tigela de morangos, porém alguém segura minha mão brevemente. Olho para o lado e levanto olhar dando de cara com dois pares mel me encarando. Merda dupla. Ele sabe ser bonito mesmo sem tentar.
_ O que quis dizer com o bilhete ? - ele me pergunta -
_ Jura que não sabe ? - pergunto com um tom cínico e logo percebo que ele está falando sério - Ontem você disse que éramos amigos...
_ Sim, nós somos. Fora da escola.
E então a verdade cai sobre mim. Como eu fui tão estúpida ? Eu acreditei mesmo que podíamos ser amigos ? Parabéns Mônica! Quebrando a cara como sempre.
Mordo o lábio inferior segurando o meu sorriso irônico e frustrado.
_ Não, não somos. - eu respondo duramente - Amigos não têm vergonha um do outro.
Me viro para sair, porém Cebola me puxa de volta e novamente seus olhos estão me analisando. Eles sempre parecem estar procurando algo.
_ Não é isso... - ele diz mexendo o maxilar nervoso -
_ Ah, não... - eu digo irônica -
_ Mônica, eu não acredito que o DC te chamou pro baile...
Magali se aproxima de mim animada, mas para assim que vê o Cebola. Ela fica irritada e cruza os braços o encarando. Só que ele passa a me encarar como se eu tivesse cometido um crime.
_ Vai no baile com o psicopata emo ? - ele pergunta com um tom estranho -
Olho de relance para a Magali e depois volto meu olhar para ele. Lembro dele andando hoje com a Carmem e de como me ignorou depois de dizer que éramos amigos. Se ele não gosta do Do Contra, ele merece isso.
_ Sim. Por quê ?
Cebola franze a testa e me encara como se eu fosse um alienígena. Não consigo imaginar porque ele não gosta do DC, porém vê-lo com raiva está me fazendo sentir melhor.
_ Nada. - ele responde com a testa fechada -
Solto meu braço de sua mão e o lanço um último olhar revirando os olhos. Magali me acompanha e me olha com cara de quem não está entendendo nada. Bufo e tento bloquear da minha mente o último acontecimento de poucos segundos atrás. Ela tenta tirar informações de mim, mas falo que não quero tocar no assunto. As vezes acho que vou enlouquecer por causa do Cebola e a última coisa coisa que quero é isso.
Voltamos para a aula e assisto mais duas aulas. Me esforço ao máximo para prestar atenção e brigo comigo quando começo a fugir da aula. Eu nunca fiz isso. Não posso começar agora, não mesmo.
O sinal toca avisando que podemos voltar para casa e pego meus materiais os colocando na minha bolsa enorme. A coloco no meu ombro direito e tiro do meu rosto o cabelo que insistiu em cair. Me deparo com os dois olhos mel que estão me perturbando já faz tempo.
_ O que foi ? - pergunto tentando esconder a raiva na minha voz -
_ A gente... Tem o trabalho para terminar... - ele diz um pouco sem jeito -
_ Ah.
Sinto minhas bochechas ficarem quentes e me odeio por um segundo por ter sido grossa. Tudo bem que ele não merece nenhuma compaixão minha, porém ele não fez nada de errado. Mentira. Mas ainda sim, talvez eu devesse pegar mais leve.
_ Não precisa se sentir intimidada pelo pensamento de mim no seu quarto. Achei que já tinha superado isso. - seu sorriso brincalhão surge -
Fecho a cara e novamente me odeio. Não, não preciso pegar leve.
_ Vamos acabar logo com isso. - eu digo entre dentes -
Andamos até o seu carro e todos nos olham como se estivéssemos assassinando alguém ou com algum animal raro do nosso lado. A nerd e o popular juntos. É, com certeza não é uma coisa que se vê todos os dias. Paro e encaro sua limusine com desgosto. Dou um sorriso irônico e mostro as chaves do meu carro para ele. Cebola para de sorrir e arregala os olhos por um tempo quando percebe o que quero dizer.
_ Não, não é não. Vamos no meu carro. - ele diz balançando a cabeça de um modo desaprovador -
_ O que há de errado com a Samanta ? - eu pergunto me sentindo ofendida -
_ Na... - ele diz parando e me olhando com um olhar divertido - Samanta ?
_ Sim. - eu assinto de modo inocente -
Ele sorri e seus olhos também sorriem. Tá, chega de reparar essas coisas idiotas Mônica.
De forma relutante, Cebola fala para seu motorista ir embora e entra no banco passageiro. Ele coloca o cinto e me olha como se fôssemos morrer.
_ Ah fala sério! Eu sei dirigir Cebola! - eu digo indignada -
_ Como vou saber ? - ele diz nervoso - Eu nunca entrei em um carro em que não fosse Tom ou eu dirigindo.
O olho surpresa e cautelosa. Como isso é possível ?
_ Sério ? Por quê ? - pergunto curiosa -
_ Não tenho muita confiança. - ele diz se remexendo nervoso e bem desconfortável -
Procuro não tocar muito no assunto e ligo carro. Cebola parece estar muito nervoso e posso jurar que vi seus olhos com algumas lágrimas. Ah por favor. Dirijo devagar porque no fundo fico com pena dele, apesar de que se estivesse em meu estado normal, estaria me aproveitando disso. Chegamos na minha mansão e eu olhei para Cebola. Ele estava branco e eu me preocupei com ele por um momento.
_ Você está bem ? - pergunto -
_ Sim... Sim. - ele diz passando a mão nos cabelos - Vamos.
Ficamos durante uma hora fazendo o trabalho e fazemos uma pequena pausa para um lanche. Faço um sanduíche integral de tomate e queijo e comemos em silêncio. Não consigo me controlar e resolvo perguntar impulsamente.
_ Você e a Carmem estão namorando ?
Cebola me olha por algum tempo e seus olhos novamente procuram algo nos meus. Me pergunto mentalmente o que eles tanto procuram e o que ele pode estar pensando.
_ Eu não diria... " namorando ". Mas acho que estamos tendo um lance.
Assinto com a cabeça e dou um sorriso sem graça. Deixo metade do meu sanduíche no prato e procuro evitar olhar em seus olhos que ainda me encaram.
_ Você vai mesmo no baile com o Do Contra ? - ele me pergunta com uma expressão indecifrável -
O encaro e tento esconder um sorriso sem motivo que insiste em surgir no meu rosto. Aperto meus lábios um contra o outro e suspiro.
_ Não sei. - respondi honestamente -
Um pequeno sorriso forma em seus lábios e eu sei que estou corando. Seus olhos mel levantam para me encarar e eu fico intimidada por eles. A luz batia neles e iluminava seu rosto sem defeitos. Balanço a cabeça com isso e olho para a janela. O dia está bonito.
_ Que tal se a gente ir caminhar um pouco lá fora ? - ele me pergunta -
Suspiro profundamente e tento esquecer a raiva que estava hoje mais cedo dele.
_ Claro.