Destinados escrita por Tsuki Dias


Capítulo 13
12 - Dungeons and Dragons


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, perdoem a demora! Espero que gostem!



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O grito de Mikhil ecoou pelo quarto quando as dores atingiram um estado insuportável. Sentou-se de súbito na cama e afastou os lençóis, mal suportando o roçar do algodão na pele sensível. Sua cabeça girou pelo esforço repentino, fazendo seu estômago revirar no processo. Deu-se um tempo para se recuperar da náusea e tratou de entender o que tinha acontecido.

O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi o rosto assustado de Kira e uma rajada de fogo veio em sua direção enquanto pensava nela. As outras imagens que se seguiram foram perturbadoras. Lembrou-se do modo como ela tremia em seus braços durante uma fuga desenfreada; de sua súplica quando intercedeu por ele; seu rosto em transe quando o salvou das chamas; a lágrima que escorreu quando foi levada pelo dragão...

Meu Deus! Kira foi levada pelo dragão!

– Calma, amigo! – a voz de Dgrov soou ao seu lado quando sua mão o forçou a permanecer na cama. Cara, aquele toque doeu até na alma. – Sare essas queimaduras antes de querer arrumar mais. Está parecendo um camarão, sabia?

– D? Que diabos! O que aconteceu? Onde está Rany? E Kira? O que houve com Kira?

– Calma! – Dgrov apertou a mão e Mikhil gemeu. – Qual a última coisa de que se lembra?

– Kira foi levada pelo dragão! Não pude protegê-la! Ela pode...

– Calma, Cara! Kira está bem e vamos buscá-la logo. Só descanse um pouco e se cure. Aliás, nunca mais me assuste daquele jeito.

– Como assim?

– Depois que trouxe a Rany pra cá (tranquei-a no banheiro), voltei para procurar vocês e vi quando a coisa saiu da clareira voando. Foi aí que te encontrei. Estava em ponto de carvão, quase fundido na pedra. É um milagre que tenha sobrevivido. E o susto que me deu quando emergiu das cinzas gritando o nome da Kira tipo a noite dos mortos vivos? Quase desencarnei!

– Precisamos resgatá-la! Precisamos resgatá-la antes que ele a mate!

– Mikhil, se acalme! Ela está bem! Se as coisas que nos contou forem verdade, ela estará mais que bem quando a acharmos.

– Ele vai matá-la!

– Não vai.

– Como pode ter certeza?

– Porque dragões protegem a verdadeira realeza. – a confusão no rosto dele era palpável. – Você disse que ele poderia não se interessar por elas por serem guerreiras, mas que a coisa mudaria se fôssemos da realeza, certo?

– Está dizendo...?

– Que ele não irá matá-la por que nós três somos Os Pilares. – a face séria do guerreiro não se alterou com o choque do médico, mesmo encolhendo os ombros com pesar. – Kira é a princesa.

–-**--

A viagem até sua casa foi tranquila e agradável. Apesar de se sentir dolorido pela luta que travara contra o Portador do Olho Sombrio, conseguira triunfar e purificar aquele corpo em alguns níveis. Entretanto, mesmo que a ligação entre os dois fosse forte o bastante e que fosse ele quem devesse resgatá-la de suas garras, O Portador do Olho não era o escolhido. O outro, aquele que compartilha os laços de sangue com ela, era quem teria que enfrentá-lo.

Quando avistou seus jardins floridos, baixou seu voo e pousou em meio à cama de pétalas de Sakura. Seus leais servos vieram recepcioná-lo e aquela que vinha a frente o olhava com um misto de alívio e pesar. Era alta e delicada com sua beleza quase etérea, em seu robe cor de lavanda com detalhes em verde florido. O cabelo escuro estava preso do alto da cabeça, balançando ao vento e acariciando seu rosto quando as rajadas mudavam de direção. Seu rosto sereno e delicado levava olhos levemente puxados e diamantinos de tão claros.

Mas apesar de sua aparência angelical, as pessoas se colocavam um tanto nervosas quando avistavam as pequenas escamas em partes de sua pele, as pontas das protuberâncias entre seus cabelos, suas presas cuidadosamente guardadas e sua língua ligeiramente bifurcada. Era tão gentil a menina... Tão malditamente gentil e bondosa...

– Meu pai! – ela se adiantou e cumprimentou-o com uma reverência. – É esta? Pensamos que seria a outra que vistes. Aquela que conseguiu hipnotizar...

Mudanças de planos, minha filha. – sua voz mental ecoou pelo jardim. – Esta é aquela tocada pelo destino. Precisamos dela.

– Mas ela está incompleta, Meu pai!

Assim como a outra. Mas esta sabe o que a aguarda. Tornará nosso papel mais fácil.

Antes que ela pudesse argumentar, ele se ergueu altivo e se permitiu que as chamas o envolvessem, transformando seu corpo e diminuindo-o, dando-lhe de volta à sua forma de Senhor daquele lugar.

– Está bem, Meu pai? – ela perguntou, notando seu robe rasgado e seu pescoço ferido.

– Estou cansado. Por favor, acomode nossa convidada. Falarei com ela quando... Estiver me sentindo melhor.

– Sim, senhor. – ela assentiu. Voltando sua atenção para a moça que repousava sobre o tapete de pétalas. – O senhor precisa de algo?

– Estou bem, minha querida. Cuide bem dela. – e sem olhar para a luz de sua vida, ele entrou em seu castelo e se dirigiu aos seus aposentos.

Precisava tanto descansar...

–-**--

Kira se remexeu em seu leito e suspirou pesarosa por ter de acordar e possivelmente levantar daquela cama divina. Mas pelo modo como seu subconsciente estava atormentando-a, não devia nem estar gostando da sensação.

Espreguiçou-se e abriu os olhos, dando de cara com o teto de dossel com cortinas azuladas. Céus! Estava em um quarto ricamente decorado, mais até que o dela no castelo de seu avô. Os móveis eram delicados, assim como as cores. Pelo amor dos deuses! Aquele era o tipo de quarto que seria perfeito para Lissa! Deveria ter sido ela a cativa, então por que os planos mudariam?

A menos que houvesse algo a revelar.

– Como se sente, Milady? – uma voz delicada soou ao seu lado. – Está ferida?

– Quem é você? – perguntou cautelosa.

– Yüeh. – a mestiça respondeu gentilmente, curvando-se com delicadeza. – Sou a filha dele. Legítima.

– Kira. – respondeu com decoro, pousando os pés no chão. – Estou bem, não fui ferida.

– Fico feliz. – ela sorriu. – Deseja alguma coisa?

– Queria falar com ele se não for incômodo.

– Incômodo nenhum. Ele mesmo me pediu para te acompanhar em sua espera. As transformações não são mais tão fáceis quanto antigamente, por isso ele se retirou para um tempo de descanso. Ele me incumbiu de cuidar de suas necessidades até que retorne e fale contigo. Gostaria de algo?

– Um banho, se não se importar.

– Imagine. A levarei às termas. Quando retornar, haverá no salão uma refeição à sua espera.

– Obrigada. – sorriu cordial e seguiu-a pelos corredores. – Você... Você sabe o que houve com aquele que estava comigo?

– Nossas visões dele acabaram quando meu pai se retirou da batalha. Mas não se preocupe, seu amigo deve estar bem. – Yüeh respondeu com um suspiro. – Você tem sorte por ter quem venha por você. Aquele que te defendeu te estima muito.

– Sim... Queria que as coisas fossem mais fáceis.

– Se me permite, parece que a complicação está apenas na sua mente.

– Mikhil tem mais com o que se preocupar... Assim como eu. Não posso me dar ao luxo... – Kira parou de falar e suspirou, sentindo uma tremenda vontade de chutar a própria bunda. – Sou uma cretina, não?

– Um pouco. – a outra riu e ficaram em silêncio, enquanto prosseguiam pelo corredor de retratos. Eram dezenas de rostos alinhados em ambos os lados.

– Você... – Kira começou, reparando nas escamas de seu pescoço. – Sua mãe foi a última?

– Não, a primeira. – ela Yüeh respondeu, parando em frente ao quadro de uma linda mulher asiática com olhos claros. Tão antigo... – Ele diz que tenho seus olhos.

– O que houve?

– O tempo. – ela suspirou. – Você é a primeira em muito tempo...

– Sabe que nada bom vai acontecer se me mantiver aqui.

– Precisa ficar até a batalha terminar. O guerreiro é esperto e já está a caminho com seu companheiro e a maga. Só... Espere.

– Isso é um erro.

– Concordo, mas não temos escolha. – ela parou em frente a uma grande porta de bronze onde calor e vapor escapava pelas frestas. – Mas você, mais do que ninguém, sabe o que acontece se não seguirmos as regras adequadamente.

– Sim, eu sei... – Kira suspirou e adentrou a sala de banho. – E sinto muito por isso.

–-**--

Para quem acha que ser da realeza é um mar frufru de rosas, com tanto luxo, festas, príncipes engomados e todas as babaquices do tipo, Kira teria somente uma coisa a dizer: acorde, idiota. Sinceramente, não tinha coisa mais desesperadora do que viver sob o peso de sua posição social, de ter que corresponder a expectativas absurdas e desempenhar papéis vergonhosamente fúteis só para manter vivas as ilusões dos outros. Inferno! O que não teria dado para nascer sem a coroa?

Olhando para seus pés metidos em confortáveis sapatilhas brancas bordadas em dourado, que combinavam com sua túnica branca e lilás, adornada com um obi roxo, dourado e branco, ela repassava todas as imagens “princesáticas” que tivera que corresponder com o passar dos anos: ser gentil, bonita, amável, bondosa, inteligente, culta: ok; entrar em perigo de vez em quando para ser salva: não que fizesse de propósito, mas acontecia; cantar melodiosamente: bem... Dava para o gasto, pelo menos não arrebentava tímpanos. Ser uma cabeça-de-vento que só pensa em seu príncipe encantado indo resgatá-la num cavalo branco para passar o resto de sua vida em seu castelinho, sendo servida: nunca. E de todas as idiotices que já encenou para Deus-e-o-mundo, bancar a donzela em perigo na torre do dragão definitivamente NÃO estava em sua lista.

Kira não era e nunca (mais) seria a donzela indefesa. Era uma guerreira agora, sabia dez tipos diferentes de combate; outros vinte de manejar qualquer de arma que tocasse; sabia feitiços e encantos de cabeça (mesmo que não os usasse por falta de magia); poderia fazer poções apenas com um galho, um pouco de água e uma cuia... Caramba! Tinha cicatrizes se formando em seu corpo todo e suas mãos e pés já pararam de sangrar em bolhas! Mais algumas semanas estaria tão forte quanto Taiga! Todo o seu conhecimento teórico já a tinha feito perigosa em seu rompante “inocente”, se o colocasse em prática totalmente, viraria uma arma bélica tão eficaz que poderia matar com meio amendoim.

Então alguém podia explicar para ela o maldito motivo de estar ali naquele castelo esperando que viessem salvá-la?

– Entre, Criança. – a voz grave que ecoou do outro lado das grandes portas (onde estivera parada em frente pelos últimos quinze minutos, divagando e lamentando os ofícios de seu berço), veio acompanhada de um forte cheiro de fogo e fumo. – Não se acanhe.

Com uma longa inspiração, Kira entrou na sala, esperando encontrar uma alcova rústica com ossos, peles e algum tesouro brilhando ao fundo numa atmosfera tipo vulcano. Mas não. A sala na qual se deparou era iluminada por grandes janelas incrustadas em paredes claras assim como o chão de ladrilho branco, tapeçarias pesadas e poltronas escuras davam o toque de cor naquela sala tão iluminada. Ao fundo, reclinado em um divã vermelho sangria em frente a uma grande lareira cinza fortemente alimentada, estava seu raptor em sua forma humanoide, com um longo cachimbo de boca pequena nos lábios, onde ele tragava lentamente a fumaça narcótica.

Olhar para ele devia lhe trazer um mínimo de terror, devia fazê-la tremer perante a visão de sua pele escamosa em tom de terra quente, suas garras escuras e as protuberâncias em sua cabeça. Mas não, Kira não conseguia sentir a repulsa. O pensamento que viera em sua mente quando o viu foi que ele parecia verdadeiramente... Cansado. Tão cansado como somente os grandes Lordes poderiam ficar com o peso de seu povo nos ombros.

– Bem vinda, Princesa Kira. – sua voz áspera e profunda ecoou na sala, tirando-a de suas reflexões. – Por favor, sente-se.

– Obrigada. – respondeu cordial, executando uma pequena reverência antes de se aproximar e sentar-se no chão, perto dele.

O silêncio se seguiu enquanto ele se ocupava em terminar seu fumo. Kira observou aquele semblante com atenção e a certeza que lhe ocorreu a entristeceu profundamente. A idade e o cansaço já apontavam em seu rosto duro e seus olhos alaranjados estavam fundos e opacos. Em outras vidas ele se sentaria altivo naquele divã, mostrando força e poder mesmo em seu tempo de descanso. Mas naquele momento, não parecia mais que um homem velho. Ela tivera experiências demais por uma vida para saber quando alguém estava perto de seu fim. E sabia do fundo da alma que aquele dragão já estava abatido.

– Para quem queria falar, o silêncio deve ser estranho. – ele comentou, baixando o olhar de íris alongadas para ela. – O que tem a dizer, criança?

– Sinto muito. – sua voz não passou de um sussurro dolorido, quando baixou o olhar para as mãos crispadas sobre o colo.

– Pelo quê?

– Por ser tão insensível. – respondeu séria, ousando encará-lo. – Eu deveria ter entendido antes seus motivos... Sinto muito por pensar mal.

– Não sinta ainda, criança. Você não sabe ainda a dimensão de tudo.

– Um fadado deveria entender o outro. – ela retrucou.

– E o que entende da minha sina?

– Entendo que é incompreendido, que sua missão é injusta e pesada demais. Entendo também que muito depende de seu fardo e que adiara ao máximo sua hora para poder... Viver. – a dor no peito de Kira se pronunciou a cada sílaba que proferiu. – Yüeh é tão linda, assim como a mãe foi... Você não precisa fazer isso. Não agora, pelo menos.

– Você sabe que não posso mais adiar, não sabe? Estou velho demais para brincar e cansado demais para errar. Há muito mais além de mim e minha filha, Minha Querida. – ele se levantou pesadamente e estendeu a mão a ela. – Deixe-me te mostrar.

Kira não relutou em aceitar a mão dele, muito menos em segui-lo pela sala até a grande lareira acesa. Com um movimento da mão, uma fenda dimensional se abriu e revelou uma visão infernal em meio às chamas. Mas em meio a todo aquele calor de fogo e lava, algo mais chamou a atenção dela. Não era o inferno, era uma maternidade. Milhares de ovos escamosos tomavam as plataformas da caverna, tão perto do fogo quanto podiam. E de todos que pareciam apenas pedra, três eram grandes... E brilhavam.

De toda uma ninhada de dragões que irromperia, três deles carregarão o destino da raça.

– Ah, meu... – ela exclamou chocada.

– Esses são os novos guardiões desse tempo. – ele explicou com tristeza. – Um acumulará riquezas e proclamará heróis, outro formará reinos e erguerá reis e o último viverá para guardar a magia deste mundo até a próxima geração. E eu sou o último... Adiei demais minha partida para dar lugar a esses novos. Como você, achei injusta minha sina e como eu, meus irmãos renunciaram aos seus papéis. Eis a morte dos velhos tempos. Para reparar meu erro, assumi os destinos de meus irmãos e... Vivi. Agora devo consertar o curso do tempo e trazer os tempos de paz de volta.

– Mikhil não é cavaleiro e Leo não está pronto para te enfrentar ainda. E não posso ficar e esperar um cavaleiro de armadura, Lorde Jhïngurg. Sinto muito.

– Eu sinto mais por você, minha cara, pois você projeta a sua própria limitação em seus companheiros. – aquelas palavras atropelaram Kira com tanta violência que ela se sentiu como se uma frota de caminhões a tivessem a amassado. Três vezes. Nunca ficara tão envergonhada! – Aquele que você chama de Leo é mais do que pode conceber. Sozinho ele foi capaz de resgatar o Portador do Olho e aquela que me atendeu primeiro. Nesse instante ele está rondando minhas barreiras, formulando um plano para resgatá-la.

– Mikhil está bem mesmo? – e aquela ansiedade para saber se o médico tinha sobrevivido a espantou. – Vi quando o queimou.

– Ele está bem. – ele revelou, mostrando a pulseira prateada no pulso dela, resultado daquele fio que ele lhe lançara antes de se separarem. – Muito bem.

– Graças aos deuses. – ela suspirou aliviada, sentindo o peso se dissipar de seu peito. – Céus!

– Seja mais verdadeira com ele, Kira. Ele morreria por você.

– Melhor prova, não terei. – ela sorriu, embalando o pulso enlaçado junto ao peito. – Mas... Espero que ele nunca saiba...

– Nada te impede de conhecer a felicidade antes de encontrar seu destino.

– É a dor que ela provoca que não quero conhecer.

– Covarde. – mais um nocaute dolorido.

– Isso não depende somente de mim... – ela murmurou com os olhos marejados. – É doloroso demais... Meu destino é doloroso... Não quero machucar ninguém... Nem mesmo meu Astërioh.

– Entendo. – ele suspirou, lembrando-se do modo como ela salvou o Portador de suas chamas, mesmo estando dominada. Astërioh, hunm? Mal sabem eles que um é mesmo a perdição do outro. E também o maior dos combustíveis. – Venha criança, te acompanharei ao seu quarto.

O caminho de volta foi rápido e silencioso. Kira refletia sobre as palavras do dragão e se sentia pior a cada pensamento. Jhïngurg estava silencioso ao seu lado, ditando o caminho com calma e fluidez, quase etéreo mesmo com o cansaço consumindo-o. Quando chegaram ao quarto, ele entrou como o lorde que era e se postou na janela, olhando para o horizonte com tristeza pairando sobre sua cabeça. Era como ver cair os últimos grãos de uma ampulheta. O tempo estava no fim...

– Seu primo está a caminho. – Jhïngurg falou, sem desviar o olhar da paisagem. – Ele, o Portador e a Maga estarão aqui em dez minutos. Devo encontrá-lo logo.

– Pelo amor dos deuses, Jhïngurg! – ela pegou-o pelo braço e parou-o quando se dirigiu à porta. – Por favor, por favor, por favor! Não vá! Por favor! Pense na sua filha!

– Ela tem mais anos que a época mais feliz de seu reino. E mais madura do que pode imaginar. Minha Cara, partir não é fácil, mas é necessário e ela sabe disso. Solte-me e deixe-me enfrentar meu destino.

– Jhïngurg, essa não é a solução!

– Tenha fé, Kira. – ele pegou as mãos dela e baixou-as de seu braço. – Espere aqui até o fim.

– Não.

– Não discuta criança... – o velho dragão a observou um momento e moveu a mão. Nesse momento, Kira sentiu a cabeça pesar. Com surpresa, percebeu que seu cabelo estava de volta, mais longo e bonito que antes. – Agora sim, está digna de uma princesa.

– Não posso deixar... – Kira não pode continuar a promessa.

Num rápido movimento, Jhïngurg pousou a mão sobre seu rosto e a empurrou levemente, observando sua queda. Com o balanço do braço ele realizou a mágica e suspendeu-a no ar, fazendo-a flutuar como se estivesse acolhida nos braços de alguém. Com pesar, levou-a à cama e pousou-a pesadamente sobre o colchão, permitindo-se observar seu cabelo se espalhar sobre os travesseiros.

– Meu pai? – Yüeh adentrou o quarto e parou ao seu lado, juntando-se a ele em sua contemplação culpada.

– Concorda com ela, Filha?

– Em parte. – ela respondeu, levando uma manga aos olhos e enxugando-os com delicadeza. – Se houvesse um jeito de não perdê-lo...

– Sinto por deixá-la. – ele pediu, virando-se para olhá-la. – Sinto mesmo.

– Não vá, Pai.

– Preciso. – ele a abraçou apertado antes de soltá-la e reassumir sua máscara altiva. – Você, como minha herdeira, é agora a senhora desta terra. Ajude o guerreiro, mas não sirva a ninguém mais. Espere o retorno do vencedor... Em silêncio.

– Sim, Meu Lorde. – com lágrimas nos olhos ela se curvou e assim ficou, tornando-se uma estátua de escamas vivas.

Assim como todos naquela propriedade.

–-**--

Lissa não conseguia entender como Leo se mantinha tão calmo. Mikhil, que era mais forte e experiente, estava se debulhando em uma pilha de nervos atrás da outra árvore, enquanto os três montavam tocaia em frente ao portal de pedra em ruínas, esperando-a terminar de preparar um feitiço que abrisse uma brecha na barreira que os separava do Dragão que pegara Kira.

Já tinha algum tempo que notara que Leo não se desesperava em situações de tensão, mas naquela vez... Deus! Nunca tinha visto seu irmão tão calmo e calculista antes. Assim que despertou do transe, ajudou-o a cuidar de Mikhil, que se queimara gravemente em sua luta como dragão e se empenhou em achar Kira e romper a barreira do covil da criatura. As ordens que deu, suas observações, suas incursões para a ruína para reconhecer o terreno... Era outra pessoa, não podia ser seu irmão. Realmente não podia!

– Se acalme, Lys. – ouviu-o sussurrar. – Não vou deixá-lo te pegar.

– Estou mais preocupada com o que ele pode fazer com você. – ela murmurou, terminando de preparar o pó-mágico. – Cuidado.

E com um último suspiro de nervosismo, ela jogou o pó verde no ar e assistiu a parede invisível se dissipar. A primeira coisa que viram foi um vislumbre de algo vermelho se movendo, antes de um arco de fogo surgir em sua direção.

Quando viu o fogo irromper a abertura, Leo tomou Lissa nos braços e a protegeu atrás de uma árvore petrificada, logo depois se lançando para a luta desenfreada que Mikhil engatara com a fera. Já tinha visto seu irmão lutar antes, mas aquilo era outra coisa. Os movimentos fluidos o levavam para longe dos golpes, os músculos trabalhando em esquivas perfeitas. Contra os dois, a fera não tinha chances.

Mas o estranho não era só os atacantes. O modo como o dragão lutava, não sugeria um comportamento agressivo, muito menos defensivo. Era como se ele fosse obrigado a estar ali, Lissa quase podia ver fios que se prendiam ao corpanzil da criatura e a controlavam. E como ela tinha certeza daquelas impressões? Nunca tinha visto olhos tão tristes quanto aqueles bondosos poços laranja.

– Vá. – ouviu Leo dizer a Mikhil quando se encontraram perto dela, ambos em guarda ao encarar o dragão com suas armas em riste. – Vá pegar a Kira.

– Não vou te deixar, D. – o médico retrucou sem desviar o olhar, mesmo que aquele pedido o tivesse surpreendido.

– Estou frente a frente com meu destino nesse momento, meu amigo. – naquele momento, Mikhil teve a impressão que o jovem era mais velho e sábio que o próprio tempo. – Vá encontrar o seu.

– Me desculpe. – pediu culpado antes de correr na direção que lhe era indicada.

Leo não desviou os olhos para ver a partida do amigo, tampouco para certificar-se da segurança de Lissa – podia sentir seu olhar assustado em suas costas –. Toda a sua atenção estava voltada para a imponente criatura que enfrentava. Sentia-se como nas histórias que seus pais lhe contavam sobre os bravos heróis em batalhas como aquela, enfrentando seu destino com honra e bravura, triunfando gloriosamente, mesmo que a morte os tivesse reivindicado em alguns casos. Podia ver naqueles olhos o que o aguardava, podia ler toda a vida daquele dragão e seu destino injusto, ele lhe mostrava o caminho a se seguir... E não havia escolha: um deles cairia de qualquer maneira.

Conhece seu destino, Garoto? – a voz da fera ecoou em sua mente e Leo confirmou suas suspeitas: aquela fera não era um monstro. – Não irei poupá-lo.

– Sinto que eu também não o possa. – ele respondeu sério, empunhando suas parceiras com firmeza. – Estou pronto.

E a fera atacou.

Lissa precisava pensar em algo, definitivamente precisava! Tinha que ter alguma magia em seu arsenal que o ajudasse a passar por aquela provação. Ver seu irmão sangrar por causa da terrível batalha que travara com o dragão não era algo que a animava, muito menos saber que a fera estava praticamente inteira e pronta para dar o golpe final.

Irei matá-lo agora, Garoto.­ – a voz do dragão ecoou, causando calafrios na menina. – Prepare-se.

Leo não respondeu. Soltado o ombro ensanguentado, desembainhou a outra adaga e se preparou, plantando os pés no chão. As lâminas em suas mãos pulsaram em expectativa, antecipando o momento do golpe final enquanto o guerreiro se concentrava sério em seu atacante.

Quando o dragão atacou pela ultima vez, Leo esperou por um momento e investiu contra a fera, sem vacilar, sem quebrar o contato visual. O dragão girou e ele sumiu sob o corpanzil escamoso. Sobre o grito de alarde de Lissa, o rugido de dor da criatura cortou o ar, elevando-se para além do espaço, anunciando ao universo que sua queda aconteceu pelas mãos do guerreiro que escolhera. E enquanto tombava, Lys viu seu irmão embaixo com as adagas firmemente cravadas no peito da criatura, entre as escamas, no coração pulsante, sendo banhado pelo sangue escuro escaldante.

Quando o pesado corpo atingiu a terra com um estrondo, desistindo de lutar contra a dor e agonia de permanecer em pé. Lissa saiu de seu esconderijo e se aproximou da fera caída e seu algoz, observando-os com dor no coração. O dragão respirava pesadamente com sangue quente escorrendo pela bocarra cheia de dentes, os grandes olhos âmbar olhavam aflitos, refletindo as feições dela como um espelho brilhante.

– Leo... Ele está sofrendo... – ela falou com a voz embargada, tocando o chifre do focinho. – Leo?

O silêncio que o envolvia era pesado quando se aproximou da prima e se postou ao seu lado, estendendo a mão para tocar a fera e mergulhar nos olhos alaranjados. Ele podia ver... Tudo. Sua história, sua vida, as coisas que passaram por seus olhos alongados e suas alegrias. E de todas as coisas, só um arrependimento rondava aquela mente sagaz...

Yüeh.

– Ela ficará bem. Juro por minha vida.

Quando o alívio brilhou naquele olhar de fendas e a cabeçorra deslizou em aceitação, Leo apertou as correntes em suas mãos, fazendo suas companheiras darem o golpe de misericórdia. O som que saiu da boca dele liberou a alma daquele corpo e uma onda de energia varreu tudo ao redor, ecoando seu poder pela floresta e devolvendo a vitalidade às plantas. E ao guerreiro.

– Leo?

– Vamos, Lys. Vamos achar aqueles dois. – ele murmurou baixo, embainhando as adagas.

– Não devia se limpar antes? Está coberto de sangue.

– Ainda não posso. – ele suspirou. – Vamos, Lys. Encontre-os.

–-**--

A luta que Dgrov travou com o dragão ecoou alto pelas árvores, enquanto embalava sua cruzada até o covil da besta. O último rugido que a fera deu, seguido da onda de energia que varreu tudo, foi a premissa de que seu companheiro fora o vencedor da contenda.

– Boa D. – murmurou orgulhoso, voltando ao seu objetivo.

Seu fio prateado indicava o caminho, conduzindo-o até aquela que lhe fora tirada. Quando o prendeu no pulso dela, tinha a esperança de fazê-la acordar e se libertar sozinha, mas o que recebeu em troca (a lágrima que recebeu em troca) o fez desejar nunca ter de se separar dela, mesmo que morresse naquela hora, sob o fogo infernal que o encontrava. Aquele fio fora sua esperança que não foi partida na dura separação do sequestro. Ia resgatá-la a qualquer custo, mesmo que fosse incinerado novamente.

Não deu atenção ao glorioso jardim asiático por onde entrou, muito menos ao castelo de pedra cuja porta transpassou tão rapidamente que se surpreendeu com a súbita mudança de ambiente. Ficou parado no meio do salão principal por alguns segundos antes de ter certeza de que não havia vida naquele espaço. Sem guardas, sem servos, sem ninguém. Parecia que o lugar fora abandonado, já que seu último mestre caíra naquele duelo mortal.

O fio em suas mãos o levava para cima, por corredores adornados, onde estátuas de escamas se dispunham em uma reverência em intervalos regulares, seguindo a sequência das colunas e janelas. A escada que se mostrou ao final o levou para a típica torre mais alta do local, onde espirais fariam alguém de estômago fraco ficar verde. Bendita sorte de ter um organismo tão bom!

– Princesa! – ele chamou ao esmurrar a porta no fim. – Princesa está aí? Responda!

Silêncio. Não havia movimentos no quarto que indicassem sua presença, mas o suave sussurro do vento nas cortinas esvoaçantes da janela aberta e a suave respiração lhe diziam para não parar agora. Arrombou a porta sem culpa, adentrou o espaço com a ansiedade bombardeando seu peito e caiu de joelhos perante a visão que contemplou.

A cama dossel tinha cortinas azuladas que combinavam com seus lençóis finos. No centro dela a bela jovem repousava pacificamente sobre os travesseiros, com os longos cabelos prateados espalhados ao redor de seu corpo delgado. A túnica branca que usava se moldava perfeitamente às suas curvas, revelando o contorno que conhecera em momentos tensos. Era um corpo tão familiar e ao mesmo tempo tão desconhecido!

Embora a distância em que ela sempre se mantinha, evitar qualquer tipo de contato por mais que tentasse agradá-la... Naquele momento se sentiu como se tivesse visto pela primeira vez, como que se a Kira que conhecia não existisse mais e aquela fosse uma pessoa totalmente diferente. Deus! Ela crescera tanto! Estava tão linda! Não era de se admirar que não a tivesse reconhecido, mas devia ter entendido seu súbito fascínio por ela. Era quase tão óbvio quanto saber quem era desde o início. Em todos aqueles dias, nunca lhe passou pela cabeça que Kira, a sua mal-humorada Kira, era também a princesa que o salvara e libertara de várias maneiras.

E vê-la ali, em toda a sua beleza, mesmo que perigosamente adormecida, o emocionava.

– Princesa? – chamou baixo ao se aproximar da cama e se ajoelhar ao lado dela. – Acorde Alteza.

Sua respiração não se alterou e não houve movimentos, ela continuava adormecida, profundamente entregue ao sono que a embalava. Não era natural, era induzido... Magia draconiana.

– Acorde... – lamentou tomando o rosto dela nas mãos. – Acorde Alteza...

– Mikhil?! Kira?! – a voz de Rany ecoou no espaço quando entraram no castelo. – Mikki?

– Eles chegaram, Princesa. – murmurou para ela, afastando uma longa mecha de seu cabelo do rosto. – vamos encontrá-los. Dgrov a despertará...

Tomando-a nos braços, tendo-a em contato com sua pele e ter sua respiração acariciando seu rosto... Era uma sensação diferente da vez que a tivera nos braços, tantos ciclos atrás. Naquela época era um homem frio, indiferente, um assassino. Naquele momento não se importava com nada além de terminar seu trabalho e arranjar um meio de retirar sua maldição. Naquele momento, quando a teve nos braços, não percebeu o peso de seu corpo, a suavidade de sua pele, a seda de seus cabelos... Ela era jovem naquela época, talvez fosse por isso que não lhe dera a devida atenção. Mas agora... Estava perigosamente consciente de cada particularidade daquela que não devia povoar seus pensamentos daquela forma.

– Ah, Viyânia... Volte para mim, Minha bela... – sussurrou uma vez, permitindo-se baixar a cabeça e tomar aqueles lábios novamente.

A longa respiração que ela tomou e o modo assustado como acordou, resistindo a ele por um momento antes de passar os braços por seu pescoço e soluçar em sua pele, pareceram abalar todo o castelo, como se aquele simples gesto ousado de sua parte tivesse sido suficiente para quebrar a magia. Mas, quem sabia as condições que aquela fera tinha imposto para toda aquela situação?

– Está tudo bem. Está tudo bem. – murmurou para ela, acariciando suas costas. – Está salva agora.

– Ele... Ele...

– O dragão não pode mais te machucar. – falou gentilmente sentindo-a negar com a cabeça. – O que?

– Ele não nos machucou... Nos ajudou... Ele só estava... – ela choramingou. – Leo o matou?

Leo?

– Sim. – confirmou com pesar. Ela se apertou mais a ele antes de se soltar e forçar seu pouso ao chão. – Ei! O que...? Alteza!

– Do... Do que me chamou? – ela parou à porta, olhando-o espantada.

– Alteza... – ele sussurrou, reverenciando-a. – Perdoe-me por minha conduta inapropriada devido a minha ignorância.

Kira não disse nada. O olhar que estampou seu rosto por aquele rápido segundo cortou ainda mais seu coração. Era um misto de decepção e tristeza, como se aquela formalidade que ele demonstrara a magoassem profundamente. Como se... Não quisesse ser quem era.

– Alteza? – perguntou confuso, vendo-a assumir uma máscara dolorosamente indiferente. Aquela era a princesa que não devia conhecer.

– Se apresse. Temos trabalho a fazer. – ela falou séria, deixando sua voz ecoar pelo quarto, antes de sair pela porta e descer rapidamente pela escada.

Mikhil gemeu desgostoso, sentindo uma vontade imensa de chutar o próprio traseiro. Devia ter uma razão para ela não ter mencionado sua realeza, e agora sabia que não era por causa da autoproteção, ela não podia era lidar com os olhares, as reverências... A distância...

Cara, esteve fazendo progresso com ela! Como pudera ser tão burro a ponto de regredir daquele jeito?

Deu uma última olhada para a estátua de escamas no lado oposto do quarto e se apressou a seguir Kira pelas escadas. Encontrou-a no final das escadas, acompanhada dos primos. Rany a abraçara, fortemente emocionada com o sequestro e a recuperação da prima. Mas Leo se manteve a parte, sério, contemplativo e sujo, inteiramente coberto de sangue de dragão.

– Estão feridos? – perguntou solícito.

– O L-Dgrov vai precisar de uns pontos. – Rany falou nos braços de Kira. – Mas e vocês? Se machucaram? Kira, seu cabelo...

– Estamos bem. – ela respondeu séria, se virando para o primo. – Fez mesmo?

– Sim, infelizmente. – ele confirmou, voltando seu olhar para a escada. – Sinto muito.

Os três se viraram e encararam aquela figura delicada ao pé da escada. Seu olhar era sério e austero, uma máscara para esconder a tristeza.

– Yüeh. – Kira murmurou penalizada. – Sinto muito...

– Não, Alteza. – ela balançou a cabeça. – É o que devia acontecer. Você, guerreiro, parabenizo-o por vencer meu pai. Podes tomar posse do tesouro e a você, Portador do Olho, também o parabenizo pelo sucesso. Ofereço-lhes abrigo pelo tempo que quiser, além de provisões para sua jornada.

– Obrigada, Senhora. – Kira se curvou para a mestiça, mantendo a cabeça baixa. – Sinto muito por sua perda. De verdade.

– Eu sei e agradeço seus sentimentos. – a mestiça sorriu, ocultando seu pesar. – Prepararemos uma refeição para vocês. Devem estar cansados. Aguardem um pouco na sala de estar, prepararemos tudo.

– Preciso mostrar a ele. – Kira falou em tom de súplica.

– Sim, precisa. Cuidarei de outro assunto agora, se não se importar de, por favor, guiá-lo...

– Obrigada, Yüeh. Fique em paz.

Com uma reverência, a mestiça se dirigiu a eles e continuou em seu passo gracioso. Leo soltou uma maldição por baixo do fôlego e pegou o braço dela, fazendo-a parar e olhá-lo. Ficaram naquela métrica por alguns instantes antes de ele baixar a cabeça e deixar pousa sobre os cabelos dela, bem entre os pequenos chifres que apontavam de seu crânio.

– Eu sei... – ela sussurrou embargada, levando uma mão à nuca dele. – E não o culpo. Também queria que as coisas fossem diferentes. Fico feliz que ele escolheu alguém tão gentil.

E ela se retirou antes que qualquer um dos três visse suas lágrimas.

– Venha. – Kira pediu ao pegar a mão do primo, que não desviara o olhar do caminho que a mestiça tomara. – Rany, Mikhil, podem entrar naquela sala e esperar até que tragam a comida. Descansem.

E Mikhil assistiu os dois andarem pelo longo corredor, enquanto ele conduzia Rany para o lado oposto.


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Notas finais do capítulo

Vocabulário: Astërioh: Perdição de alguém, algo que pode ser amado de tal maneira que a pessoa pode se descuidar ou matar por ela.
Viyânia: minha amada.

Editado em 25/04



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