As flores que eu te dei... escrita por MSDuanca


Capítulo 5
Um lisianto com amor




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Sábado era dia de dormir até mais tarde na casa de Gael, por isso o Mestre nem esperou as suas filhas acordarem, tomou seu café da manhã sozinho e foi para a academia. Já passava das onze horas quando Karina e Bianca despertaram famintas. A filha mais velha do Mestre foi preparar um lanche para ambas e aproveitou que elas estavam sozinhas em casa para conversar ou, pelo menos, tentar conversar com Karina sobre o Pedro e seu relacionamento. Apesar de tudo estar indo melhor do que Bianca havia planejado, quando pagou a demo da Banda da Ribalta para que o guitarrista namorasse a sua irmã, ela sabia que Karina tinha dificuldade de se entregar e também temia que em algum momento a lutadora se magoasse com o menino. Para não afugentar a irmã, Bianca começou o papo perguntando se ela não ia treinar à tarde, se tinha gostado da festa, mas em seguida já estava questionando se Ka havia curtido a noite ao lado do namorado:

– E aí, maninha, aproveitou pra beijar bastante ontem sem o papai por perto?!

– Você sabe que eu não gosto de falar sobre essas coisas, nem sei por que pergunta - Karina respondeu secamente e continuou:

– Já que tocou no assunto, me conta você, qual é a desse tal de Henrique? É sério???

– Ah, ainda não sei direito, a gente tá se conhecendo, mas eu gosto do jeito que ele me trata, todo fofo, educado, um gentleman. Acho que pode virar uma coisa mais séria, sim. Eu tenho o direito de conhecer alguém que goste mesmo de mim, quero muito que as coisas deem certo com um cara como ele - confessou Bianca à irmã.

– Hum.. Sei lá, mas eu desconfiaria de um cara que vai para um luau e não tira nem os sapatos, é meio bizarro - disse Karina advertindo a irmã do comportamento esquisito de seu novo pretendente.

– Hãn?!? - Bianca resmungou com uma cara de surpresa.

– Vai dizer que você não reparou que ele ficou a noite inteira com o calçado nos pés!? - insistiu Karina.

– Não!!! - afirmou Bianca.

– É, mas no Duca sem camisa tenho certeza que você reparou, né?! - provocou Karina e caiu na gargalhada.

– Ai, cala a boca, Ka - protestou Bianca com voz brava e expressão séria, atirando nela a primeira coisa que viu pela frente, um guardanapo de algodão.

– Nossa que perigo, quase morri com essa "guardanapada" - divertiu-se Karina.

Bianca sabia que a irmã mais nova havia dito uma verdade agora. Ela realmente não tinha conseguido ignorar a figura do Duca seminu na noite passada. Na realidade, ela tinha adorado ficar admirando a imagem daquele homem maravilhoso só de bermuda e a poucos metros de distância. No entanto, Bianca se fez de desentendida e mudou rapidamente de assunto, pois sabia que se quisesse mesmo esquecer o passado e seguir em frente não era saudável ficar pensando no Duca, no seu corpo sarado, nos dois dançando juntinhos na noite anterior.

...

O lutador havia saído cedo para treinar, apesar de ter chegado exausto na noite anterior, a sua cabeça não se desligara do que ocorrera no luau e a insônia fora sua companheira durante a madrugada, por isso o neto de Dona Dalva decidira que era melhor ocupar o corpo para tentar esvaziar a mente. Após uma manhã exaustiva de repetições de chutes, socos cruzados, diretos, jabs e joelhadas em sequências alternadas comandadas pelo mestre Gael, Duca sentiu seu estômago reclamar de fome e decidiu que estava na hora de dar uma paradinha para recuperar as energias. Depois de um banho rápido, passou na banca para buscar a avó e os dois foram para casa almoçar juntos. Dona Dalva que nem conseguira conversar direito com o neto naquela manhã, não o deixou escapar mais uma vez do seu interrogatório. Enquanto Duca arrumava a mesa para os dois, ela quis saber mais detalhes da noite anterior:

– Agora, o senhor não me escapa, quero saber tudo que aconteceu ontem à noite - ela falou com voz autoritária.

– Hum... Ontem... Eu nem me lembro do que fiz hoje de manhã, imagina ontem... - ele respondeu tentando ignorar a curiosidade da avó.

– DUCA?!? - ela protestou.

– Tá bom, Dona Insistência. Vejamos... Por onde eu começo?! - ele fez uma cara pensativa e deu uma longa pausa antes de continuar:

– Ah, sim, o pessoal da Ribalta, mais especificamente a banda da Sol, Pedro e companhia, tocou muito reggae, pop, de tudo um pouco, um som muito bom... O Marcão azarou todas as meninas e não pegou ninguém, já o Zé se deu bem e ficou com uma morena, acho que foi isso... - ele respondeu tentando passar seriedade.

– Ah, não se faça de idiota, Duca. Você sabe muito bem que não era isso que eu queria saber. Eu quero ouvir o que você achou da festa, não o que os outros fizeram!!! - Dona Dalva retrucou.

– Eu não achei nada de mais, foi uma festa como tantas outras... - de novo Duca respondeu vagamente.

– E a Bianquinha? Ela tava lá??? - questionou Dona Dalva com uma pontinha de esperança de que eles tivessem se entendido ou pelo menos conversado amigavelmente.

– Vamos almoçar antes que a comida esfrie, vó - Duca comentou, ignorando a pergunta da avó.

– Duca, eu te fiz uma pergunta! - exclamou Dona Dalva, querendo que o neto se abrisse com ela a todo custo.

– É, a Bianca tava, sim - ele respondeu meio contrariado.

– E??? - Dona Dalva disse enquanto balançava a mão incentivando ele a continuar contando o que tinha acontecido.

– A senhora não vai me deixar almoçar tranquilamente até o que eu conte o que a senhora quer ouvir, né!?! - protestou Duca, já sabendo qual seria a sua resposta.

– Claro que não!!! - ela falou em auto e bom som.

– Que velha mais insistente e mexeriqueira, pelo amor... - ele reclamou.

Dona Dalva franziu a testa e ficou esperando que o neto finalmente matasse a sua curiosidade.

– A Bianca parecia bem, animada, estava acompanhada da irmã, do Pedro e de um magrelo, alto, Henrique ou sei lá que diabo de nome ele tem - ele falou meio enciumado ao lembrar que ela estava com outro.

– E vocês nem conversaram nem nada?! - Dona Dalva falou desanimada com o que tinha ouvido.

– Conversar mesmo, não, a gente dançou uma música, mas ela tava toda nojentinha - ele falou com a voz triste.

– Vocês, hein?!? Quando não é um, é o outro que dá defeito, Deus me livre!!! Por que complicar tanto?! - Dona Dalva desabafou revoltada com a forma que os dois estavam agindo.

– Então, agora que a senhora já matou a sua curiosidade, vamos terminar de almoçar em paz? Chega desse assunto por hoje - Duca pediu tentando por um ponto final na conversa.

– Tá bom, meu filho, mas eu só acho que você tem que tratar de ser feliz, nessa fossa nem eu te aguento mais - ela concluiu dando um ultimato no neto.

Duca torceu o nariz para a afirmação da avó, mas ele sabia que Dona Dalva tinha razão, ele andava apenas levando a vida do jeito que dava. Na verdade, estava se deixando levar pelos acontecimentos, até o seu sonho de ser um campeão tinha ficado de lado depois da morte do irmão, mas ele não queria pensar nisso agora, o restante do final de semana ele ia aproveitar da melhor forma possível, na companhia da avó.

...

“Cena 2: Amâncio e Maricota encontram-se escondidos no jardim da casa dela.

Amâncio – O que tu desejas contar-me, minh'amada?

Maricota – Oh, meu amor, minha vida, faltam-me as palavras para explicar-te o que ouvi mais cedo, da boca da minha própria mãezinha...

Amâncio – Receio que seja sobre Afonso, não?!

Maricota – Pois sim, o pai dele esteve aqui e ambos tratavam do nosso casamento!!! Não posso crer que minha mãe me obrigaria a tal desventura.

Amâncio – Esse pulha é o melhor partido da região, certamente, tua mãe deseja reerguer a fortuna da família por meio deste casamento.

Maricota – Mas eu não o amo, nunca o amarei... Tu sabes que és o único dono do meu coração e da minh'alma.

Amâncio – A nós, só nos resta fugir desta tua mãe tirana que nunca consentiria em entregar-te a mim, um pobre funcionário do estado, cuja remuneração mal consegue cobrir as próprias despesas.

Maricota – Fugir??? E deixar tudo para trás? Minha irmã que eu tanto amo e que és como uma filha para mim, minhas primas adoradas, nosso lar tão confortável... E viveríamos do quê?

Amâncio – Então tu preferes se casar com aquele rapazola?

Maricota – Não, certamente que não, meu amor. Eu só temo pelo nosso futuro...

Amâncio – Pois saiba que nenhuma dificuldade seria tão cruel e avassaladora quanto ficar longe de ti...

Maricota – Tens razão, meu amado, fugiremos assim que o sol se pôr.

O casal troca um olhar terno, Amâncio beija a mão de sua amada e os dois se separam.”

Quando Bianca estava terminando de ler a segunda cena de uma peça que Edgar havia entregado aos alunos, ouviu a porta de entrada bater, imaginou que era o seu pai, pois Karina havia acabado de sair para encontrar o namorado. Rapidamente, ela largou os papéis em cima da sua cama e correu para a sala, visto que precisava ter uma conversa com o Mestre. Com as duas mãos na cintura e expressão de indignação, Bianca nem cumprimentou Gael, foi logo questionando o seu comportamento na noite anterior:

– Eu ainda não acredito no que você fez ontem!!! O que foi aquilo??? Tava querendo me matar de vergonha??? Fique sabendo que quase conseguiu - falou Bianca atropelando as palavras e corando de raiva.

– Do que você está falando, Bianca? - questionou de volta o mestre, demosntrando incompreensão.

– Como assim do que eu estou falando? Do showzinho na varanda, do senhor me tratando como se eu fosse uma criança na frente do Henrique!?!?! - continuou Bianca, cada vez mais indignada e aumentando gradualmente o tom de voz.

– Abaixe esse tom, moçinha! Você sabe muito bem que: minha casa, minhas filhas, minhas regras e ponto final. Não tem nada de ficar se agarrando com um desconhecido para o bairro inteiro ver - Gael repreendeu a filha.

– PAI?!?!?! - exclamou Bianca em protesto.

– É isso mesmo, ninguém conhece esse cara, ele aparece e desaparece do nada, não acho que ele seja confiável, então o cuidado tem que ser redobrado - argumentou Gael.

– O senhor se esqueceu de que foi ele que me ajudou quando eu fui assalta e fiquei sem nada na praia. Se não fosse ele nem sei o que seria de mim aquele dia, pra mim ele já provou que é um princípe, isso sim - falou Bianca saindo em defesa do seu ilustre desconhecido.

– Mas pra mim ele não provou nada, e eu que sou seu pai sei bem como as coisas funcionam - mestre Gael retrucou.

– AFFF!!!! - Bianca suspirou, fazendo cara de desdém para as colocações do pai.

– E já chega de reclamações por hoje. Para aprender a me respeitar você vai ficar o resto do final de semana de castigo. Já pro quarto!!! - sentenciou o Mestre, cansado das birras da filha mais velha.

– Argh!! - exclamou Bianca enquanto dava meia volta e se dirigia para a sua “prisão”.

Bianca se jogou na cama e pegou de novo os papéis da peça que estava estudando anteriormente, afinal de contas era a única coisa que lhe restava fazer já que esse final de semana seria perdido.

...

“I was left to my own devices / Many days fell away with nothing to show…” [1]

A futura atriz estava tão concentrada na leitura que quase não ouviu o seu telefone tocando, ao olhar no display viu um número desconhecido e hesitou por um segundo, sem saber se atendia ou não, mas apesar de não ser o seu costume resolveu atender, já que ela estava entediada por ter que ficar trancada em casa em pleno final de semana:

– Alô - ela falou com uma voz desconfiada.

– Oi, Bianca. Tudo bem? - a pessoa do outro lado da linha respondeu animadamente.

– Tudo, mas quem está falando mesmo? - ela disse, curiosa para saber quem estava lhe telefonando, pois não tinha reconhecido a voz daquele indivíduo que a tratava com certa intimidade.

– Não acredito que você não conhece a minha voz ou não desconfia de quem seja?!?! - falou a pessoa em tom de brincadeira.

– Não - ela afirmou, cada vez mais intrigada.

– Hahahaha... é o Henrique, você lembra de mim, né?! - ele se divertiu do outro lado da linha.

– Ah, seu bobo!!! Nunca que ia saber que era você, já que você nem pegou o meu telefone - ela respondeu, achando graça da situação agora.

– É, mas eu tenho os meus meios para descobrir as coisas - ele falou com ar de mistério.

– Hummm... Que medo!... Hahahaha - ela falou brincando com a situação.

– Falando sério agora, eu liguei pra te convidar pra sair, o lugar você escolhe, o que me diz? - Henrique disse.

– Aaaah, esse final de semana eu tenho que estudar um monte de coisa pra aula da Ribalta, acho que não vai dar... - ela recusou o convite, meio que se desculpando e omitindo o fato de que ela não poderia sair de casa porque o pai tinha lhe colocado de castigo. Nesse momento, Bianca achou melhor contar uma mentirinha do que parecer uma pirralha que ainda nem manda no seu próprio nariz.

– Mas você não vai dar nem uma folguinha dos estudos??? - ele insistiu.

– É, infelizmente não. Mas agora você tem o meu telefone e eu tenho o teu, a gente pode combinar alguma coisa um outro dia - ela falou tentando amenizar um pouco a sua negativa.

– Tá bom. Eu preferia te ver hoje ainda, mas se não tem como a gente se vê outro dia...Bons estudos, então - ele concordou meio contrariado.

– Obrigada e bom final de semana pra você! - Bianca falou se despedindo.

– Agora não vai ser tão bom como eu gostaria, mas obrigado. Até logo. Beijos - ele se queixou mais uma vez.

– Beijos - Bianca disse desligando o telefone e salvando o número dele para não ter esse tipo de surpresa novamente.

A sua vontade de estudar que já não era muito grande, ficou ainda mais reduzida ao ter sido obrigada a recusar o convite do seu novo pretendente e ter que passar o final de semana dentro de casa. Ela tinha certeza que não merecia tal castigo, mas sabia que não ia adiantar questionar o pai de novo, pois seria em vão e, provavelmente, ele acabaria estendendo o castigo por mais um ou dois finais de semana. Então, mesmo com má vontade ela pegou mais uma vez as peças de teatro e retomou a leitura.

...

O filho do Dr. Heideguer permanecia atirado na cama, com os braços atrás da cabeça, olhando para o teto, desanimado com a recusa de Bianca ao seu convite, quando começou a ouvir os murmúrios que vinham de algum outro cômodo do amplo apartamento do seu pai. No entanto, não demorou muito para ele descobrir que era o próprio doutor que estava causando a barulheira, pois o mesmo abriu de supetão a porta do quarto do jovem e já chegou questionando o filho:

– Quem lhe deu permissão para pegar um dos carros da empresa, seu moleque?

– Eu achei que não tinha problemas, o senhor é meu pai, dono da empresa, por consequência eu também tenho alguns direitos sobre os bens... - o garoto disse, começando a se justificar.

– Direitos? Para ter algum benefício você vai ter que batalhar muito, mostrar resultados, isso aqui não é a casa da mãe Joana, achei que eu já tinha deixado isso bem claro - o Doutor continuou indignado com a petulância do filho.

– E deixou. Eu só pensei que como era para conquistar uma gata não teria problema. O senhor nunca quis impressionar uma garota quando era jovem?

– Pare, pare! Não quero ouvir mais nenhuma desculpinha estúpida. Então, eu achando que você tinha vindo para cá para trabalhar, virar um homem responsável e você mal chegou e já está indo atrás de distrações - criticou Dr. Heideguer.

– Ela não é uma distração ou um divertimento qualquer, é uma garota especial, aliás, é filha de um dos seus clientes, o Mestre Gael.

Ao ouvir isto a expressão do advogado mudou subitamente, a raiva que ele estava sentido deu lugar ao espanto e um brilho malicioso surgiu no seu olhar, pois esse romance poderia lhe trazer algumas vantagens. Abrandando o tom da sua voz, ele tentou se mostrar menos indignado e mais compreensivo com o filho:

– Isso não abona o que você fez, espero que seja a primeira e última vez que você faça alguma coisa sem o meu consentimento, ouviu? Se você precisar de algo venha falar diretamente comigo, combinado?

– Sim, desculpe - o jovem se limitou a responder para não piorar a situação para o seu lado.

Quando o seu pai saiu do quarto, Henrique respirou aliviado. Do modo transtornado que ele havia entrado no cômodo, o garoto chegou a pensar que ele partiria para a agressão física, mas felizmente ao ouvir que a sua pretendente era filha de um conhecido o Doutor havia compreendido melhor a situação, e Henrique agora acreditava que a fúria dele não passava de preocupação com próprio filho. Certamente, o seu pai não queria que ele se envolvesse em algo perigoso ou com alguém que fosse indigna de conviver com os Heideguer.

No escritório do apartamento, encostado na sua confortável cadeira de couro, o Doutor pensava no que ouvira do filho a pouco. O garoto estava tendo um romance com a filha do Mestre Gael, com certeza isso lhe interessava e muito. A partir de agora, ele ia ter que se inteirar mais da vida do filho, pois através da sua namoradinha ele poderia obter informações preciosas para os seus negócios se tornarem cada vez mais lucrativos.

...

Toc, toc, toc...

O barulho de seus passos no chão eram constantes e ritmados. Ela não conseguia parar de andar de um lado para o outro do quarto, a conversa que tivera com seu amado mais cedo a tinha deixado perturbada. Seu pai querendo que ela se casasse por dinheiro, ela não podia acreditar, nem aceitar isso.

Quando ela deu meia volta pela milionésima vez, deparou-se com seu amor entrando pela varanda.

– Carlos Eduardo, o que fazes aqui? Sabes muito bem que meu pai não gostaria de ver-te sozinho comigo, nos meus aposentos - Bianca falou surpresa com a ousadia dele.

Eu tinha que vir falar contigo. Nós temos que fazer algo para evitar o teu casamento. Agora tu vês que o que te disseste fazia sentido?

Sim, meu amor, receio que meu pai me obrigue mesmo a casar com Henrique por causa de sua fortuna.

Só nos resta uma opção: fugir para longe deste teu pai ditador, para que possamos ser felizes juntos.

Fugir???

Sim, tu não me amas a tal ponto??

Claro que te amo e tu sabes disto. Mas não sei se serei capaz de abandonar minha família.

Então, preferes se casar e ser infeliz para sempre??

Não. Quem sabe haja uma maneira de convencer meu pai de que este casamento não será bom para mim.

E achas que teu pai te ouviria. Ora, não te iludas, Bianca. Prepara-te que ao anoitecer vir-te-ei buscar.

Não sei...

Estarei a tua espera, se não apareceres saberei que não me amas tanto quanto eu te amo, pois estou disposto a abandonar tudo e todos por ti.

Ele beijou-lhe o rosto e saiu pela varanda.

Bianca ficou pensativa, ela o amava e tinha certeza disso, porém não queria tomar uma decisão da qual poderia se arrepender no futuro.

A noite caiu, Bianca desejou boa noite para o pai e a irmã e foi mais cedo para o seu quarto. Quando fechou a porta do cômodo atrás de si, ouviu o barulho de uma pequena pedrinha batendo no vidro da sua janela. Correu para verificar do que se tratava e viu que seu amado já tinha posicionado uma escada junto à parede e estava lhe esperando. Ela sorriu para ele e correu para apanhar a pequena maleta que havia escondido embaixo da cama. Desceu as escadas com cuidado e ao tocar o chão foi recebida pelo seu amado com uma linda flor cor de rosa, um lisianto, de pétalas abundantes e textura macia, no mesmo momento Bianca abriu um sorriso encantador e se jogou nos braços do seu amor, beijando-lhe com imensa paixão. Assim que suas bocas se afastaram daquele beijo doce e caloroso, Carlos Eduardo advertiu-a:

Vamos, não podemos perder tempo.

Sim, vamos - ela concordou sorrindo novamente.

Quando estavam começando a dar os primeiros passos em direção a liberdade e felicidade tão desejada por ambos, ouviram uma voz:

Gostaria de saber aonde os dois amantes vão passear esta noite - exclamou Henrique, que havia acabado de encostar o seu veículo próximo da casa de sua prometida.

Os dois se viraram para ver o rosto do interlocutor e ficaram paralisados de surpresa e medo.”

“Paaam!!!!”

A batida da porta do quarto das duas irmãs despertou Bianca do sonho maluco que ela estava tendo. Ainda meio zonza, Bianca repreendeu a irmã:

– Ka, quando você vai aprender a não bater a porta do quarto desse jeito???

– Ih, Bianca, não enche. E você tá fazendo o que dormindo uma hora dessas, não tem nada pra fazer, não?! - Karina respondeu mostrando que a delicadeza nunca seria o seu forte.

– Ah, o papai me deixou de castigo, eu tava lendo uns textos, mas peguei no sono, e tava tendo um sonho... - se explicou Bianca.

– Hum...Sonho, é? De que tipo? Com quem??? - Karina perguntou curiosa.

– Sei lá, nem lembro direito, acho que não era alguma coisa nada a ver - disse Bianca disfarçando para não relatar à irmã o sonho que estava tendo com os dois rapazes que estavam mexendo com a sua cabeça.

– Ah, maninha, você não viu a minha pasta cinza com o material da Ribalta por aí, procurei por tudo que foi lugar e não achei - Bianca aproveitou para mudar de assunto.

– Bianca, se você não sabe onde guarda as tuas coisas, eu é que não vou saber - debochou Karina, mostrando a língua para a irmã.

– Humm... Então, eu devo ter esquecido na Academia, vou falar com o papai, preciso desse material.

Bianca foi para a sala, tentar convencer o pai a deixá-la dar um pulinho na Academia para procurar o seu material. Gael que estava estirando no sofá da sala assistindo ao jornal na televisão nem tirou os olhos da tela quando ouviu os passos da filha.

– Paizinho, eu passei a tarde inteira estudando no meu quarto, e já terminei de ler todo o material que eu tinha lá, só que eu tenho quase certeza que deixei uns textos na Academia, posso ira lá buscar? - Bianca perguntou com uma voz fofíssima.

– Não - o mestre se limitou a responder sem tirar os olhos da TV.

– Mas pai, é rapidinho, eu preciso mesmo ler tudinho até segunda - ela continuou insistindo.

– Bianca, você está de CAS-TI-GO, esqueceu??? Sair de casa nem pensar. - Gael lembrou a filha, ao mesmo tempo que lhe lançava um olhar severo.

– Ah, paizinho, mas a Academia é uma extensão da nossa casa, além do mais é logo ali do outro lado da rua - suplicou Bianca, mais uma vez.

– Ok, cinco minutos, Bianca, eu vou ficar contando no relógio, não invente de aproveitar para fugir, senão você vai ficar de castigo pra sempre - ameaçou o Mestre.

– Tá bom, paizinho - Bianca sorriu e foi dar um abraço no pai.

– Quatro minutos e cinquenta segundos, quarenta e nove... - o Mestre já tinha começado a contar o tempo, fazendo com que Bianca saísse correndo de casa.

...

– Duca, meu filho, pega o meu rémedio que está em cima da geladeira - pediu Dona Dalva interrompendo a concentração do neto que prestava atenção no filme que os dois estavam assistindo juntos.

– Claro, vó - Duca respondeu se levantando e caminhando na direção da cozinha.

Ele tateou toda a superfície superior da geladeira, mas não encontrou o remédio que sua avó tinha pedido.

– Não está aqui, não, vó. A senhora não deixou em outro lugar? - ele questionou Dona Dalva.

– Não, meu filho, eu sempre guardo aí...A não ser que eu tenha esquecido na banca... - ela respondeu.

– Ah, Dona Esquecida, então eu vou dar um pulinho lá para procurar - Duca falou zombando da avó.

– Quero só se quando você ficar velho também não vai começar a esquecer das coisas - Dona Dalva repreendeu o neto.

– Desculpa, Velha Resmungona - ele disse se aproximando dela para dar-lhe um beijo na testa, depois pegou a chave de casa e foi para a banca.

Quando chegou à porta que dava para a rua, Duca viu Bianca sozinha caminhando apressadamente na direção da Academia, por um segundo pensou em chamá-la, mas logo desistiu da ideia e se encaminhou para a banca da avó.

Bianca revirou as pilhas de papéis em cima da mesa do escritório da Academia e nada. Abriu todas as gavetas e também não viu a sua pasta. Quando estava desistindo de procurar e foi empurrar a cadeira para perto da mesa do computador, viu que ela travou, se abaixou para ver o que tinha acontecido e avistou a sua pasta presa entre a parede e a mesa.

– Ah, está aí - Bianca falou alto, aliviada por ter encontrado o seu material.

Ela pegou a pasta, fechou o escritório e foi para casa.

Duca estava prestes a atravessar a rua em direção a sua casa, quando viu de relance a sua ex saindo da Academia do pai. Ele parou onde estava e resolveu fazer-lhe uma surpresa, encostou-se na banca, meio de lado, de modo que ela não o visse ali e esperou que a filha do Mestre passasse por ele para se aproximar dela sem que a mesma percebesse e a puxou pelo braço. Pelo adiantado da noite e por estar meio distraída, Bianca levou um susto e deixou suas coisas caírem no chão.

– Duca??? Você quer me matar de susto??? - ela falou indignada ao virar e ver que se tratava do ex-namorado.

– Oi, não. Só queria falar com você um minuto - ele respondeu.

– Fale logo que eu estou com pressa - ela disse meio sem paciência.

Então, ele a conduziu pelo braço para trás da banca da avó, onde eles sairiam da vista da maioria das casas da redondeza e assim teriam maior privacidade.

– O que é??? - ela perguntou impaciente.

Ele a olhava fixamente, hipnotizado pela sua beleza, num ímpeto puxou-a para si, envolveu-a com seus braços musculosos e beijou os seus lábios com vontade. A princípio ela tentou resistir, mas acabou correspondendo o beijo caloroso do ex. Quando ambos já estavam sem fôlego, ela se afastou dele e o questionou:

– Duca, o que foi isto? - a garota tinha a voz embargada e a respiração ofegante.

– Você sabe muito bem o que foi isso e também gostou - ele respondeu com um sorriso de lado extremamente malicioso.

– Não importa se foi bom ou não. O que interessa é que não existe mais nada entre a gente e você não pode ficar me agarrando quando bem entender... Uma hora me beija, na outra não quer mais, um dia está perfeito, no outro tudo mudou... CHEGA!!! Eu cansei disso tudo, eu não quero mais sofrer. Me esquece... - ela falou quase atropelando as palavras pelo calor da emoção e nem esperou uma resposta do ex, virou-se e foi embora, totalmente perturbada pela situação.

Duca que estava paralisado com a reação da ex, ficou observando-a se afastar e viu que a pasta que ela estava carregando quando saiu da Academia tinha sido deixada para trás.

– Bianca... - ele tentou chamá-la, mas ela nem sequer olhou para trás, continuou caminhando com passos firmes na direção da casa do Mestre.

Diante da indiferença da ex e sem ter mais o que fazer ali, o lutador pegou as coisas dela e foi para a sua própria casa, pois já estava quase passando do horário de sua vó tomar o remédio.

[1] Toque do celular da Bianca, música “Pompeii” da banda Bastille.


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