As flores que eu te dei... escrita por MSDuanca


Capítulo 4
Aroma envolvente


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores,
Antes que vocês se envolvam com os acontecimentos descritos a seguir, gostaria de esclarecer que este capítulo foi escrito antes do dia 14/12/14 e já havia sido postado em outro local. Acho que este esclarecimento é essencial, visto que por uma coincidência inusitada existe uma passagem desta história muito parecida com uma cena que foi ao ar na novela. No mais, os outros trechos não se parecem com os rumos que a história de Duanca está tomando na trama original. Espero que todos compreendam e não deixem de acompanhar os próximos capítulos desta humilde história.



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"Almofadas coloridas, confere. Velas aromatizadas, confere..."

Quando terminou de arrumar as coisas que tinha se comprometido a levar, Bianca foi direto para o chuveiro tomar um banho demorado para ficar linda e cheirosa, já que a noite que prometia.

Ainda envolta na sua toalha cor-de-rosa e com os cabelos molhados, ela andava de um lado para o outro procurando no armário um look especial. Revirou as gavetas e os cabides do guarda-roupas, experimentou várias combinações de blusas, shorts e saias, mas nada lhe agradava. Voltou para passar um pente fino no armário e quando bateu os olhos em um vestido florido teve certeza que aquele era o ideal. Os pequenos cachos de rosas vermelhas, que se espalhavam por todo fundo branco do vestido curto e rodado, juntamente com as duas alçinhas delicadas que se entrelaçavam na parte de trás, davam um ar simples e romântico ao modelo que iria combinar perfeitamente com a sua rasteirinha cor-de-rosa.

Feliz com o look escolhido, Bianca completou o visual fazendo uma trança lateral e realçou os seus belos traços com rímel, blush rosa claro e um brilho labial. Quando estava se olhando no espelho para dar os últimos retoques, ouviu sua irmã lhe chamando aos gritos:

– Bianca, é pra hoje??? Que demora!!! O tal de Henrique já tá esperando lá embaixo - mesmo sabendo que a irmã demorava horas para se arrumar, Karina nunca tivera paciência para esperá-la.

– Já estou indo. Pede pra ele subir, Karina - ela respondeu, também aos berros.

Bianca retocou o batom, deu uma última ajeitadinha na trança, pegou sua bolsa e foi para a sala. Lá ela encontrou Henrique sentado no sofá junto com Karina e Pedro, todos sendo vigiados pelo Mestre Gael, que se encontrava em pé próximo à mesa da cozinha, só de olho nos meninos. Ao vê-la entrar, Henrique se levantou e seus olhos brilharam encantados com a beleza e graciosidade da moça que acabara de entrar no recinto. Já Karina não se acanhou com a presença do desconhecido e implicou com a irmã:

– Sério, se você demorasse mais um minuto, eu desistia de ir. Toda essa demora para colocar um vestido que não tem nenhum botão, só você, Bianca!

– Ai, Ka! Você pode não gostar de se arrumar, mas eu gosto, tá. E já que vocês estão com pressa, vamos, me ajudem a levar essas sacolas aqui - ela retrucou.

– Esperem aí - o mestre falou, fazendo com que todos se virassem para ele. Então, continuou:

– Bianca, eu quero que você fique de olho na sua irmã e comportem-se. No máximo, onze e meia quero as duas em casa, ouviram? – ordenou Gael, como sempre impondo regras para as suas filhas.

– Tudo bem, paizinho, a gente vai se cuidar! – prometeu Bianca e se aproximou para dar-lhe um beijo.

– Agora, vamos, já que temos hora marcada para voltar. Me ajudem aqui - pediu novamente a filha mais velha do mestre aos demais.

Henrique não perdeu tempo e foi logo se prontificando para ajudá-la:

– Pode deixar que eu levo as sacolas. E a propósito, a demora valeu muito a pena, você está muito bonita, quer dizer, mais que o habitual - ele falou passando a mão em todas as sacolas que estavam cheias com as almofadas e demais objetos que ela havia separado para o luau.

Quando os quatro - Bianca, Henrique, Karina e Pedro - estavam descendo as escadas quase esbarraram com João, que tinha vindo atrás do amigo.

– Opa, pessoal! Toda essa pressa pra quê??? Vocês quase me atropelaram!!!!

– Relaxa, Jonhny!! Magro desse jeito a probabilidade de alguém conseguir te acertar era mínima - Pedro não perdeu a oportunidade de zoar o amigo.

– HAHA... Muito engraçado. Já estão indo pra festinha??? Rola uma carona??? - questionou o recém-chegado, com cara de pidão.

– Só se você conseguir manter essa boca fechada - disse Bianca, franzindo a testa e fechando a cara para o intruso.

– Obrigado pela receptividade! É muito bom se sentir tão querido assim - ele ironizou.

Estacionado em frente à porta da casa do Mestre Gael, o veículo preto com a lataria brilhante chamava a atenção dos passantes e despertava a inveja dos menos favorecidos.

– Pô, a Bianquinha me arranja cada um, hein?!?! Primeiro aquele lutador saradão, agora esse riquinho com um carrão de cinema, assim fica difícil de competir - lamentou João com o amigo, enquanto observava o seu rival abrir a porta do carro para Bianca.

– É, Jonhny. Acho que a sua única esperança é ganhar na loteria, aí você vai poder dar um jeito nessa cara feia e desfilar com um carrão ao mesmo tempo - sentenciou Pedro, divertindo-se com a situação do amigo.

– Ei, vocês estão esperando o quê? – questionou Karina, já sentada no banco do passageiro atrás da irmã e impaciente com a demora dos rapazes.

Os dois se olharam e, certamente, o pensamento que lhes passou pela cabeça foi o mesmo: “fazer o quê, vamos lá, se está ruim com o riquinho pior sem ele, sem carona”; então, deram a volta no veículo e entraram. Henrique esperou os dois se acomodarem no banco traseiro e jogou as sacolas cheias em cima dos dois amigos, bateu a porta e com um sorriso matreiro no rosto ocupou o lugar do motorista.

...

O céu estava límpido e uma meia-lua brilhante reinava na escuridão da noite. A temperatura beirava os 25°C e um vento fraco soprava na direção sudeste. O tempo estava colaborando generosamente com os planos da turma da Ribalta. Quando os cinco pisaram nas areias da praia ficaram maravilhados com o visual incrível que se desenhava na frente dos seus olhos.

O ambiente estava quase pronto, uma mesa pequena fora colocada no centro de uma roda formada por algumas almofadas, cangas e pequenos banquinhos. Em pontos estratégicos, as tochas de bambu já queimavam, proporcionando uma luminosidade leve, suficiente para auxiliar as pessoas a se locomoverem pelo local, sem tirar o clima gostoso que o escurinho é capaz de proporcionar.

O grupo foi recebido pela Ruiva, que estava de pé ao lado de uma mesinha abarrotada de leis[1] feitos com plumérias de diversas cores. Bianca foi a primeira a receber um colar da amiga:

– Aloha[2]– Ruiva cumprimentou-a e enquanto colocava o colar envolta do seu pescoço, sorrindo sussurrou no ouvido da amiga: - com muitas flores vermelhas, cor da paixão.

– Caprichou na produção, hein? Os colares ficaram lindos, multicoloridos, acho que nem no Havaí eles fazem algo tão bonito assim - elogiou Bianca, para fugir do comentário “maldoso” da colega.

Azul, amarelo, rosa e vermelho eram as cores das flores que predominavam nos leis. Cada um que chegava recebia um colar para entrar no clima da festa. Depois de estarem devidamente caracterizados, os cinco se espalharam pelo local. Bianca cumprimentou os demais amigos, foi organizando as almofadas que havia trazido nos espaços vagos, acendeu as velas aromáticas e as depositou junto à mesa que estava recheada de frutas, bebidas e saladas leves.

Aos poucos todos foram chegando, a música da banda do Pedro começou a animar a galera e eles logo improvisaram uma pista de dança. Bianca tentou arrastar a irmã e o cunhado, mas não obteve sucesso, já Henrique e João nem esperaram o convite foram, sem nenhuma cerimônia, acompanhando a linda morena de vestido florido pelas areias mornas da praia.

Entre uma música e outra, João até tentou se aproximar de Bianca, em determinado momento quis chamar a atenção da sua musa puxando o colar havaiano dela para trazê-la mais perto de si, mas o máximo que conseguiu foi levar uma bronca e despertar nela um sentimento de repulsa por ele não deixá-la aproveitar a noite em paz com suas colegas e com Henrique.

...

No Catete, Zé e Marcão aproveitavam para tomar uma cervejinha estupidamente gelada com a Dona Dalva, enquanto esperavam o amigo voltar da faculdade. Eram quase 22h, quando Duca abriu a porta de casa e se deparou com o tico e o teco à sua espera. Ele não escondeu a surpresa e indignação ao vê-los:

– O que vocês dois estão fazendo aqui? E ainda por cima deixaram a Dona Dalva beber??? Não acredito nisso - ele esbravejou.

– Peraí, Duca, eu já sou maior de idade, ninguém precisa me deixar fazer alguma coisa, não - Dona Dalva saiu em defesa dos garotos.

– Pô, Duca, desculpa aí. A gente achou que não tinha problema - disse Zé tentando se justificar.

–Tá, mas agora já chega, Dona Teimosia. E aí? O que vocês estão fazendo aqui até uma hora dessas? - Duca questionou novamente.

– Ué?! Tamô esperando você pra nos dar uma carona pro luau, pra gente se entrosar com as meninas da Ribalta e sair do zero a zero, Duca - explicou Marcão.

– Ah, até tinha me esquecido desse luau, mas eu nunca disse que ia, da onde vocês tiraram essa ideia?! - falou Duca.

– Faça-me o favor, senhor Carlos Eduardo! Lógico que você vai, tá na hora de retomar a sua vida, meu filho, viver e não ficar vendo os dias passando na sua frente sem fazer nada. Você vai, nem que eu tenha que ir te atropelando com a minha cadeira até a porta, aqui você não fica hoje - antecipou-se Dona Dalva, apoiando os amigos do neto.

– Aeee, Dona Dalva, mandando a real, assim que eu gosto! Isso aí, meu irmão, a gente não vai sair daqui sem você - falou Zé reforçando a ameaça da avó do lutador.

– Vai logo se arrumar que a gente não pode chegar muito tarde, senão não vai sobrar umas minas pra gente dar uns beijinhos - disse Marcão, todo empolgado com a possibilidade de engatar um romance com uma das meninas da escola de artes.

– Vocês não vão me deixar em paz, não é?!?! - indagou Duca, apesar de já imaginar a resposta.

– NÃÃÃÃOOO!!! - os três responderam em coro.

– Ok, vou tomar um banho rápido e já venho. Juízo e chega de cerveja por hoje, Dona Dalva!- disse Duca subindo para se arrumar para o tal luau, do qual ele não conseguiria escapar de jeito nenhum, por mais cansado e desanimando que estivesse ele sabia que os três continuariam enchendo a sua paciência até ele ceder.

...

Don`t worry about a thing

'Cause every little thing
Gonna be all right

Saying, don`t worry about a thing
'Cause every little thing
Gonna be all right

Rise up this morning
Smile with the rising sun
Three little birds
It`s by my doorstep
Singing sweet songs
Of melodies pure and true
Sayin`,"This is my message to you"

Saying, don`t worry about a thing
'Cause every little thing
Gonna be all right

Saying, don`t worry about a thing
'Cause every little thing
Gonna be all right...” [3]

O reggae era o ritmo que estava animando a galera, todos dançavam e cantavam nas areias da praia como se não houvesse amanhã. Bianca parecia leve como uma borboleta e dançava com os pés descalços, sentindo toda a energia boa que emanava do local e das pessoas felizes a sua volta.

Os olhos azuis de Henrique observavam atentos todos os movimentos da sua acompanhante, já ele limitava-se a balançar timidamente o corpo, meio desajeitado e sem ritmo para imitar os passos de dança dos artistas da Ribalta. Na realidade, ele só estava ali esperando uma oportunidade de ficar a sós com Bianca. Quando a música parou, ele se aproximou, curvou-se e prôpos:

– Vamos dar uma volta pela praia? Descansar um pouco...

– Ah, mas tá tão bom aqui. Vamos dançar mais algumas músicas - Bianca pediu com o seu jeito doce, que tornava impossível a qualquer simples mortal contrariá-la.

Henrique assentiu com a cabeça e teve que se contentar em ficar ali meio constrangido tentando dançar no ritmo da música, apenas observando Bianca mexer seu belo corpo em sincronia com as amigas da Ribalta.

No momento que Duca pisou na praia, mesmo ainda longe de onde todos estavam reunidos, a primeira figura que ele avistou foi a de uma linda moça de vestido florido, que flutuava na areia. Até mesmo de costas e à distância, ele seria capaz de reconhecer Bianca. Neste instante, o seu coração acelerou e o seu corpo ficou sem reação, ele imaginava que ela estaria ali, mas não sabia que o mesmo garoto alto e magro do outro dia estaria dançado tão próximo da “sua” garota. O lutador ficou estático por alguns segundos, tentando decidir se iria embora ou não, afinal de contas ele não tinha certeza se estava preparado para vê-la nos braços de outro alguém.

“É melhor eu ir embora enquanto ninguém se deu conta da minha presença”–ele pensou e abriu a boca para comunicar aos seus amigos que precisava voltar, mas antes mesmo que a sua voz se projetasse para fora, ele viu Bianca rodopiar na areia e os seus olhos se encontraram em meio à escuridão.

"Tarde demais..." - Duca ponderou, agora que ela já tinha lhe visto no local, ele não seria covarde a ponto de ir embora. Teria que encarar a situação de frente.

– Então, Duca??! Vai ficar quanto tempo parado aí? Vambora aproveitar a festa! - chamou Zé, que já se encontrava a uns dois metros à frente do amigo.

–Estou indo... - ele respondeu, caminhando na direção dos dois, mas sem conseguir tirar os olhos de Bianca.

Como ela estava linda, a cena toda parecia uma miragem. A música perfeita que a Sol cantava...

"Quando Deus te desenhou, ele tava namorando

Quando Deus te desenhou, ele tava namorando

Na beira do mar, na beira do mar do amor

Na beira do mar, na beira do mar do amor

Papai do céu na hora de fazer você

Ele deve ter caprichado pra valer

Botou muita pureza no seu coração

E a sua humildade fez chamar minha atenção

Tirou a sua voz do própolis e mel

E o teu sorriso lindo de algum lugar do céu..." [4]

...Bianca com seu belo vestido florido, que balançava de forma suave acompanhando seus movimentos graciosos, o seu sorriso encantador, seu olhar intenso e vivo... Ah, como ele sentia falta de tê-la junto a si, de pegá-la em seus braços, de beijar os seus doces lábios.

A ex namorada de Duca, que estava dançando animadamente com Henrique, teve que se concentrar para não demonstrar que ficara mexida com a chegada do lutador. Bianca se esforçou para continuar sorrindo e se divertindo com os amigos. No entanto, quando seus olhos se encontraram com os dele, mesmo que por uma mísera fração de segundo, ela pôde sentir o quanto ele ainda mexia com o seu emocional. As sensações que tomaram conta dela eram conflitantes: felicidade, por ver que ele finalmente resolvera sair do buraco negro no qual se encontrava há meses e estava voltando a aproveitar a vida com seus amigos; e um misto de ciúmes e receio, por ainda não se sentir a vontade para vê-lo paquerando outras garotas.

– Está tudo bem, Bianca? - Henrique quis saber, quando a viu diminuir um pouco o ritmo e forçar um sorriso amarelo.

– Sim, só cansei um pouco. Será que você pode pegar uma água para mim? - ela pediu.

Henrique foi buscar uma garrafa de água, enquanto Bianca ficou observando discretamente os passos do ex, que estava particularmente atraente aquela noite, o seu look despojado, composto por uma bermuda azul marinho e uma regata branca, combinava tão bem com a sua personalidade, além de valorizar o seu físico perfeito. Por mais que Bianca quisesse evitar, foi impossível não acompanhar todos os movimentos do ex enquanto ele se aproximava do grupo, de forma lenta e meio hesitante, até ser parado por Wallace:

– E aí, referência?! Achei que você não viria - falou Wallace, surpreso com a presença de Duca.

– Pois é, eu não pretendia vir mesmo, mas não achei um outro jeito de me livrar daqueles dois malas ali - respondeu Duca, apontando para Zé e Marcão, que já estavam no meio da galera arriscando uns passos de dança.

– Então, bora se divertir!!! Fica a vontade!!!! Naquela mesa ali no centro estão os comes e bebes... - quando Wallace terminava de pronunciar essas palavras ouviu a sua namorada o chamando.

– Vou nessa que a patroa não aguenta ficar muito tempo longe do pretinho aqui - explicou Wallace, soltando uma de suas gargalhadas típicas.

– Beleza, irmão - Duca se limitou a responder.

O neto de Dona Dalva foi, então, buscar uma bebida e sentou-se na areia, próximo ao círculo formado por um monte de almofadas coloridas, mas na direção oposta a que estava a banda, de onde ele tinha uma visão privilegiada do pessoal que dançava e cantava em coro:

"Seu telefone irá tocar

Em sua nova casa que abriga agora a trilha

Incluída nessa minha conversão.

Eu só queria te contar

Que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia

E a vida que ardia sem explicação

Explicação,

Não tem explicação.

Explicação, não

Não explicação

Explicação,

Não tem, não tem explicação

Explicação

Não tem explicação

Não tem, não tem..." [5]

Observando o pessoal se divertir, ele sentiu vontade de ir embora várias vezes, pois não estava no clima para comemorar nada, entretanto a inércia sempre o vencia e ele continuava sentado na mesma posição, bebendo o seu coquetel de morango. Mesmo absorto nos seus pensamentos, ele não pôde deixar de notar os olhares que algumas das meninas da Ribalta lhe lançavam e a forma provocante como elas dançavam, até que uma dessas garotas veio em sua direção:

– Oi, Duca. Provavelmente você não saiba, mas nas festas da Ribalta é proibido ficar parado o tempo todo - disse Carla, uma menina magrinha de cabelos cacheados e olhos negros como a noite.

– Sabe o que é... - ele ia começar a se explicar, mas foi interrompido.

– Não, não aceito desculpas esfarrapadas, vem comigo. Ah, meu nome é Carla - ela disse e já foi puxado-o pelo braço.

Sem saída, Duca acabou levantando e seguindo a moça até a "pista" de dança:

– Ok, mas eu não me responsabilizo se pisar no seu pé - ele esclareceu de imediato.

Ao ver o ex se aproximando, Bianca puxou Henrique pelo braço, dizendo que estava cansada e agora sim precisava tomar um fôlego. O garoto até estranhou a atitude da gata, mas nem questionou, pois não aguentava mais ficar no meio do pessoal sentindo-se deslocado e sem graça, ele apenas deixou que Bianca o conduzisse na direção da banda até que os dois se acomodassem em umas almofadas próximas à sua irmã, que admirava Pedro tocando violão.

– Então, maninha, está se divertindo? - perguntou Bianca à irmã assim que eles sentaram-se.

– Mais ou menos, o Pedro não largou esse violão até agora - reclamou Karina.

Bianca olhou para o seu lado esquerdo, onde Henrique estava sentado e lhe disse:

– Henrique, você não está afim de assumir o violão um pouco?

– Claro, me passa ele aqui - Henrique respondeu, não querendo desapontar a sua acompanhante.

Bianca sorriu para ele, virou-se para a irmã e cochichou:

– Aproveita, maninha - ela falou dando uma cotovelada na irmã e sorrindo com malícia.

Karina se levantou e acompanhada de Pedro, se distanciou do grupo para poder namorar mais a vontade.

Henrique tomou posse do violão e sugeriu logo de cara que eles tocassem "Fácil" do Jota Quest, com o intuito de dedicá-la a Bianca:

"As coisas são assim

Quando se está amando

As bocas não se deixam

E um segundo não tem fim

Um dia feliz

Às vezes é muito raro

Falar é complicado

Quero uma canção

Fácil, extremamente fácil

Pra você, e eu e todo mundo cantar junto

Fácil, extremamente fácil...” [6]

No meio do povo que dançava, Duca tentou se desvencilhar dos braços de Carla que insistia em dançar com o seu corpo quase colado ao dele, mas não conseguiu e teve que continuar dançando mais uma música com ela. Mesmo com ela falando o tempo inteiro no seu ouvido, coisas que ele nem se dava ao trabalho de escutar, a sua atenção estava voltada para Bianca, que havia sentado junto do pessoal da banda, de costas para ele e ao lado daquele rapaz desnecessário.

Quando a música acabou, Duca conseguiu se afastar da garota grudenta e ao ouvir o primeiro acorde da próxima canção, gostou do que estava ouvindo e sem hesitar se dirigiu até a bela moça com a trança lateral e por trás tocou-lhe no ombro. Bianca, que balançava a cabeça no ritmo da música, virou o rosto para ver quem lhe chamava e teve uma surpresa quando viu Duca atrás de si. Não conteve o ar de espanto e antes mesmo que pudesse perguntar o que ele queria, Duca se adiantou:

– Dança essa música comigo - ele pediu.

Bianca que já estava estupefata ficou mais impressionada ainda com a atitude do ex e não conseguiu responder de imediato. Então, ele insistiu:

– Então, vamos? Ou você está com medo? - ele falou de forma provocante.

– Eu? Com medo do quê? Claro que não - retrucou Bianca enquanto se levantava para acompanhá-lo.

Os dois caminharam lado a lado, sem trocar uma só palavra ou olhar, até a rodinha onde os outros pares já estavam formados. Quando chegaram próximo aos demais, pararam e viraram-se um para o outro, seus olhos se encontraram por um instante antes que ambos desviassem o olhar. Duca deu um passo para frente e colocou suas mãos envolta da cintura dela. Bianca, meio sem jeito, pousou seus braços delicados no ombro dele e eles foram se movimentando lentamente no ritmo da música.

"Eu sei, tudo pode acontecer

Eu sei, nosso amor não vai morrer

Vou pedir aos céus, você aqui comigo

Vou jogar no mar, flores pra te encontrar

Não sei, porque você disse adeus

Guardei, o beijo que você me deu

Vou pedir aos céus, você aqui comigo

Vou jogar no mar, flores pra te enc

You say good-bye, and I say hello

You say good-bye, and I say hello..." [7]

O contato da pele, o aroma forte e envolvente que emanava do colar de plumérias que Bianca usava, misturado com o perfume dos seus próprios corpos os embriagou de tal forma que fez com que ambos se deixassem levar pela emoção do momento e se aproximassem cada vez mais. Duca começou a pressionar as suas mãos contra as costas dela, percorrendo toda a sua extensão até a nunca. Bianca, por sua vez, foi se aninhando nos braços do ex e acariciando os seus cabelos, como ela costumava fazer quando estavam namorando. Quando se deu conta, ela já estava com a cabeça encostada na dele, com os rosto colados... Então, subitamente ela se afastou. Duca, que estava adorando a proximidade dos dois, questionou:

– Algum problema?

– Nada, só acho que a gente não devia... - Bianca ia começar a se explicar, mas não consegui concluir a frase.

– Não devia o quê? Sentir arrepios quando os nossos corpos se encostam? Sentir vontade de beijar um ao outro e ficar grudados o resto da noite? - insinuou Duca ao sentir a vulnerabilidade dela frente aos seus carinhos.

– Não, a gente não devia se encostar porque você já está todo suado - ela respondeu fazendo uma careta forçada de nojo.

– Aham... Sei... - ele ironizou com um sorriso de lado, sem acreditar na desculpa esfarrapada que ela havia dado.

Os dois continuaram dançando mais afastados agora, até que foi a vez de Duca se afastar repentinamente ao sentir um arrepio provocado por um líquido gelado que escorrida pelas suas costas, instintivamente o lutador soltou Bianca e virou-se para ver o que havia acontecido, então se deparou com uma das garotas da Ribalta, com cara de culpada e meio alterada pelo efeito do álcool, pedindo-lhe desculpas e dizendo que tinha sido sem querer. Para não ser grosseiro, apesar de ter ficado bravo, ele disse:

– Tudo bem, o problema é que eu vou ficar todo grudento agora.

– Ah, é só você tirar a camisa que a gente te ajuda a se limpar - ela respondeu toda oferecida.

– Não precisa se preocupar, eu me viro sozinho - ele falou já se afastando das garotas.

Com o episódio do acidente, Bianca aproveitou para voltar a sentar-se junto com o pessoal da banda e ficou observando à distância o ex e o bando de garotas que se amontoaram a sua volta com o intuito de ajudá-lo após o ocorrido. Ao vê-lo se afastar sem aceitar o auxílio de ninguém, ela sorriu discretamente e teve um sobressalto quando o lutador tirou a regata para tentar limpar o líquido que escorria pelas suas costas. A visão do ex sem camisa, com os músculos generosos, que foram caprichosamente esculpidos durante anos pela rotina diária de treinos pesados na academia do pai dela, mexeu mais uma vez com o seu emocional. Ah, que saudade ela sentia de vê-lo treinando, de acariciar as suas costas definidas, de deitar a cabeça em seu peito. Nesse momento, Bianca já não conseguia mais disfarçar o seu olhar fixo no ex, estava tão concentrada na paisagem maravilhosa que se apresentava a sua frente, que nem notou a irmã se aproximar e sentar ao seu lado.

– Bianca, já são 23:15 h, acho melhor irmos, você sabe como o pai é! - Karina chegou já alertando a irmã mais velha do adiantado da hora.

– É verdade, nem tinha me dado conta do horário, maninha - Bianca respondeu concordando com a irmã e convidando Henrique para que eles fossem embora. Apesar de inicialmente não saber se preferia ficar ali vendo como o ex iria se comportar com o assédio das meninas, após ele ter exposto o seu corpo perfeito; ou se preferia ir embora e não estar presente para o ver cedendo às investidas das garotas e se agarrando com uma outra qualquer bem na sua frente. Ela decidiu que era melhor não enfurecer o seu querido pai, que tinha estabelecido um horário rígido para o retorno das suas duas filhas.

Até recolher tudo que Bianca havia levado, o relógio já marcava 23:35 h quando os cinco - Bianca, Karina, Pedro, João e Henrique - entraram no carro rumo ao Catete. Duca que estava a um tempo tentando se limpar sozinho com a camisa e uma garrafa de água, ao ver Bianca e o grupo indo embora, resolveu dar um mergulho, assim não precisaria ficar dispensando as garotas enquanto esperava pelos amigos, Zé e Marcão, que permaneciam na ativa cantando todas as meninas. Além do mais, o banho de mar serviria para tirar de vez o grude da bebida que havia secado nas suas costas e ainda "lavar" a sua alma. Após sair do mar, Duca sentou-se em uma rocha distante da confusão provocada pela cantoria e gargalhadas do pessoal da Ribalta e ficou admirando sozinho a escuridão daquela bela noite de primavera.

...

– Karina, pode ir subindo que eu já vou - Bianca comunicou à irmã quando eles pararam na frente da casa do mestre Gael.

– Tá bom, mas se você demorar já sabe que o pai... - Karina estava alertando a irmã quando foi interrompida.

– Sim, eu sei - Bianca se antecipou e fez um sinal com a cabeça, indicando que era pra ela e os dois meninos se mandarem logo.

Quando os três já haviam desaparecido da sua vista, Bianca quis saber de Henrique o que ele tinha achado do luau:

– Então, você curtiu a festinha, o pessoal e tudo mais?

– Sim, os teus colegas são bem divertidos e simpáticos. Gostei, sim. Só ficou faltando o "tudo mais" - ele respondeu maliciosamente, enquanto se aproximava para lhe dar um beijo.

Bianca sorriu e se deixou levar pelo clima de romantismo que emanava do rapaz, os seus lábios se tocaram de forma suave, ao mesmo tempo em que ela sentia o calor das mãos dele segurando o seu rosto. Os dois estavam redescobrindo o gosto um do outro, quando foram interrompidos por uma voz potente, com uma entonação brava.

– Yoooo!!! - gritou o Mestre Gael que estava sacada do quarto das meninas.

Os dois assustaram-se com o grito e se afastaram rapidamente, Bianca olhou irritadíssima para o pai, mas o mestre se adiantou novamente:

– Bianca, o teu relógio está com o fuso horário de Nova Iorque??? Porque no horário oficial de Brasília já passa e muito da hora que eu estabeleci para vocês estarem de volta - disse Gael com um ar sério, apesar de estar implicando propositalmente com a filha.

– Já estou indo, paizinho. Deixa eu só me despedir do Henrique - ela falou.

– Chega de despedidas por hoje, pode subir de uma vez - disse o mestre, irredutível.

Bianca percebeu que não ia ter jeito mesmo, então se aproximou de Henrique e deu-lhe um beijo no rosto.

– Desculpa, mas tenho que ir mesmo. Ah, mas não se assuste com o meu pai, ele parece durão, mas não é - ela falou constrangida com a atitude de seu pai.

– Tudo bem, eu entendo que ele queria lhe proteger - Henrique respondeu tentando mostrar que era compreensivo.

– Boa noite - Bianca se despediu e foi para dentro, enquanto Henrique a seguia com os olhos.

Quando chegou ao seu quarto e se deparou com seu pai à sua espera, Bianca até pensou em reclamar do comportamento dele em relação ao seu novo pretendente, mas já estava tão cansada que acabou só dando eu beijo de boa noite no mestre e foi dormir.

[1] Leis: colares havaianos

[2] Aloha: cumprimento haviano, que significa compartilhar a energia da vida no presente momento.

[3] Música “Three little birds” do Bob Marley.

[4] Música “Desenho de Deus” do Armandinho.

[5] Música “O Segundo Sol” de Cássia Eller.

[6] Música “Fácil” do Jota Quest.

[7] Música “Eu sei” da banda Papas da Língua.


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Notas finais do capítulo

As plumérias (Plumeria rubra) são flores que possuem uma fragrância inebriante, que se torna ainda mais acentuada à noite. Suas pétalas se projetam na forma de hélice a partir do centro, lembrando o formato de um cata-vento. Elas são encontradas nas cores creme, branco, azul, amarelo, rosa, vermelho e em tons misturados. Muito cultivadas no Havaí, elas são usadas para criar os colares chamados de “leis”. Na linguagem das flores, a pluméria representa charme, beleza e graça.



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