No dia seguinte eu o confrontei:

– Yoan, quero conversar – Fiz tom de deboche, querendo lembra-lo de que era ele que gostava de fazer deste jeito.

– Quem disse que eu quero?

– Vai vir ou não? – Não estava muito afim de enrolações. Ele compreendeu e me acompanhou.

Atravessamos quase a escola inteira. Chegando na metade do pátio dos fundos, Yoan perdeu a paciência:

– Vai me levar no setor infantil? Porque estamos caminhando tanto?

– Porque, se eu parar agora, posso acabar esmurrando essa sua cara antes de conseguir pronunciar as palavras que quero. – Falei, sem me virar para olhá-lo.

– Não começa com essas frescuras. Fala logo o que você quer.

– Agora você está impaciente? Engraçado, ontem você não parecia tão impaciente para sair com Sasha! – Yoan conseguiu me fazer parar para encarar sua cara feia.

– O que te importa isso? Você não está feliz com Dimitri?

– Todo mundo sabe que você só está fazendo isso para me deixar brava!

– Você acha que é o centro do mundo?

– Não me venha com essa!

– Você acha que eu só estou saindo com Sasha pra deixar você brava? Que engraçado, acho que já ouvi essa história...

– Não começa com esse papo, Yoan! Você está mentindo!

– Mentindo? Como você pode saber? E se eu realmente gosto de Sasha?

– Mentiroso! – Empurrei com as palmas das mãos seu peito. Yoan deu dois passos para trás.

– Eu faço o que eu quiser e não é problema seu! - Ele avançou novamente em minha direção. Senti que minhas lágrimas estavam por vir.

– Porque está fazendo isso, Yoan?

– Já disse que faço o que eu quero!

– Você sabe que eu estaria contigo se você não fosse tão idiota! – Minhas palavras jorravam sem que eu pudesse segurá-las mais.

– Comigo? Mas você não ama o Dimitri! – Ele parecia estar fora de controle também.

– Eu sempre amei Dimitri! – Cada palavra que saía de mim dava-lhe um soco no peitoral de Yoan.

– Então porque diz que estaria comigo, se o que você quer é estar com Dimitri? – Yoan não recuava. Ao contrário, ele avançava a cada palavra que dizia.

– Eu amo Dimitri, mas queria estar contigo!

– Você não pode amar duas pessoas!

– Eu amaria você se você não tivesse me enganado!

– Se eu não tivesse te enganado, você teria me forçado à te apresentar a Dimitri, e aí você estaria com ele, e não comigo!

– Como pode ser tão horrível?

– Como você pode preferir ele do que eu?

– Eu te odeio Yoan!

– Não minta para mim, Teresa!

Eu socava-o com todas as minhas forças. E Yoan não recuava. Ele segurava meus cotovelos, tentando me fazer parar, tentando me fazer entender. E, na confusão de sentimentos, angustias, raiva e força, sem perceber, meus socos se extinguiram, e eu e Yoan estávamos nos beijando. Um beijo amargurado, com gosto de lágrimas e ansiedade, um beijo apertado e nervoso. Então Yoan me soltou.

– Porque tem que ser assim? – Eu o perguntei, sentindo suas mãos em meu rosto.

– Porque você quer que seja assim, Tess.

– Eu nunca quis que fosse assim.

– Já disse que Dimitri não vale à pena.

– Pare de dizer coisas ruins do seu irmão! – Eu me afastei, a raiva voltando.

– Me escute, Teresa!

– Não! Chega! Eu gosto do Dimitri!

– Então o que você quer de mim?

– Nada! Suma da minha frente!

– Se você não quer nada de mim, não vai se importar com quem eu estou saíndo.

– Não! Não me importo! – Fui embora dali, empurrando-o para o lado. Ele ficou em silêncio, me vendo ir.

Minha visão ficou confusa, confiei em minha memória para achar um banheiro, querendo secar minhas lágrimas.

– Argh, que ridícula. – Falei em voz alta para meu reflexo no espelho. Minha cara estava inchada e vermelha.

– Teresa? – Sasha, essa maldita Sasha, aparecia sempre nas piores horas. Se eu caísse de um penhasco, ela com certeza apareceria na beirada, rindo de mim.

– Olá, Sasha. – Respondi sarcasticamente.

– Tudo bem com você? – Perguntou, com muito bom humor.

– E o que a garota popular dessa maldita escola quer saber da minha infeliz pessoa?

Sasha mudou de expressão, perdendo aquele estúpido sorriso da boca. Saiu do banheiro, sem dizer mais nenhuma palavra.

Pensei depois que deveria ter dito algo como “beijei a porra do seu namoradinho, sabia?”, mas tinha consciência de que não teria sido boa ideia. Ela teria ficado contente em me perguntar o que aconteceu em seguida para me fazer correr até o banheiro chorando.

Fechei os olhos, respirei longamente para baixar meus batimentos cardíacos e liguei para Dimitri.

– Alô, alô, minha linda!

– Dimitri... eu preciso conversar com você.

– Pode falar, minha princesa!

– Não dá pra ser agora por telefone, eu tenho aula agora. Poderíamos nos encontrar no parque de sempre, pela tarde?

– Quer que eu te busque na escola?

Pensei, pensei, pensei... Meu lado vingativo venceu:

– Sim, seria ótimo.

– Tá certo então. Mais tarde nos falamos.

– Ok. Obrigada, Dimitri.

– Beijos, gata!