Talvez tenha sido insolação escrita por ally_albarn


Capítulo 1
O dia que conheci Dimitri e nunca mais o esqueci


Notas iniciais do capítulo

Vamos começar? No final do capítulo comento melhor sobre..



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Meus dedos do pé escondiam-se na areia. Não era aquela areia seca e suja como dos parquinhos que costumávamos ir. Era uma areia macia, boa de enterrar as mãos. Não que eu não fizesse isso nos parquinhos também, mas aquela sensação, nova e diferente, me deixava fascinada. Naquele dia, além da areia fofa e do mar salgado e agitado, também conheci você.

Foi difícil desgrudar dos meus pais no primeiro dia. A timidez me impedia de fazer qualquer movimento brusco. Chegamos nós três juntos, cada um deles segurando minha mão, meu pai usando a outra para carregar os brinquedos de praia novos, um carrinho com baldinhos e pás diferentes, nas cores rosa e roxo, que ganhei de Natal, especialmente para aquele dia e os próximos que seguiriam naquele veraneio. Minha mãe foi a primeira a se desprender. Abriu sua cadeira e sentou-se, para o bronzeio que tanto ansiava. Com dificuldade, meu pai convenceu-me de que eu não precisava segurá-lo o tempo todo. “Vá brincar na areia com seus brinquedos novos!” – Ele disse.

Olhei para ele, depois para baixo. Meus chinelos estavam sujos daquela areia. Só então percebi que ela era diferente da que eu costumava brincar. Olhei novamente para meu pai. Ele sorriu e tirou os próprios chinelos. Eu observei e fiz exatamente a mesma coisa. Meus dedos do pé escondiam-se na areia. Mexi um pouco eles, pela sensação de estar descalça. Me agachei lentamente e encostei as mãos na terra.

Foi quando ouvi uma risada. Você estava lá, a alguns metros de distância, dentro de um buraco, um buraco tão grande que só se via de seus cotovelos para cima. Outro menino estava do lado de fora, de costas para o mar, e quando a onda chegou à vocês, ele se assustou e quase caiu no buraco, levantou e correu para longe, fazendo você rir. Uma gargalhada debochada, mas que despertou meu interesse.

No primeiro dia só observei. No segundo também. Todos os dias você já estava lá, cavando buracos, as vezes mais fundos, às vezes não tanto. Sua risada surgia muitas vezes, hora com insetos e bichos marinhos, hora com crianças e suas, brincadeiras e conversas. Não sei ao certo quantos dias se passaram, eu apenas observando, quando minha mãe repentinamente perguntou:

– Porque você não vai brincar com aquele menino ao invés de ficar só olhando?

Senti meu rosto quente na hora, e não respondi. Baixei meus olhos novamente para meu castelinho e ela não reclamou do silêncio, apenas riu...

Então no dia seguinte tomei coragem e fiz o que ela disse.

Aquele dia tínhamos chegado um pouco mais cedo que o costume. Você estava a recém começando um de seus buracos, ainda ao lado de fora e de joelhos. Cheguei perto e, reunindo toda a coragem possível daquele mundo, falei:

– Vai começar outro buraco?

Você olhou pra mim surpreso. Acho que não tinha notado minha presença até minha voz sair. Sorriu e disse:

– Claro!

Desde então, brincávamos todos os dias durante os veraneios.

Eu tinha cinco anos. Você já tinha sete. Eu tinha nojo dos bichinhos que moravam na beirada do mar e se enterravam rapidamente na areia. Você os colocava no meu ombro para me assustar. Eu queria ser uma princesa. Você, um pirata que encontra um baú do tesouro. Seu nome, Dimitri (meu primeiro pensamento foi que isso era nome de príncipe, e não de pirata, mas obviamente nunca contei). Você ficava um mês na praia todos os anos. Eu, quinze dias. Por pouco tempo.

Antes que vocês pensem que foi por algo ruim, vou logo explicando que não foi. Na verdade, nós veraneávamos na casa emprestada de meus avós. Como meu pai não se dava com o irmão, para que fosse justo, quinze dias eram nossos, quinze do meu tio. Contudo, quando eu tinha oito anos, meus pais juntaram dinheiro suficiente para comprar um pequeno apartamento em outra praia. Assim, ao saber da notícia, chorei, e nunca mais pude te ver.

Claro que haviam outros meninos, na escola, na nova praia. Porém nenhum deles tinha sua risada. Seus cabelos desgrenhados e escuros, seus olhos com a cor de chocolate. Todos eram implicantes, mas de um jeito repulsivo. Duas vezes me peguei gritando que eles não eram legais como o Dimitri, chorando de raiva. Logo depois me arrependia, por dizerem que Dimitri, além de ser imaginário, era meu namorado. Meu namorado imaginário.

– Ele não é meu namorado! E também não é imaginário! – Claro que minha preocupação inicialmente era de que você não era meu namorado, apesar de, no fundo, saber que gostaria que fosse.

Enfim, os anos foram passando. Nunca esqueci de você, nem dos outros que passavam as férias com nós. Porém, como éramos os únicos com datas fixas para ficar lá, nunca era certo quais crianças estariam ou não junto de nós. Outro fator que me fez ter mais lembranças de você, do que dos outros. Que te fez mais próximo do que qualquer outro.

Você no fim, virou apenas isso. Uma lembrança. Uma paixonite de infância. Cresci e deixei no passado. Até um dia ouvir a risada.

No corredor da escola, eu estava com minhas amigas voltando para a sala de aula. Uma gargalhada ao fundo me chamou a atenção, e quando olhei, não acreditei no que vi. Você.

–Só um pouquinho meninas! – Abandonei-as e corri em sua direção. Você estava no meio do lance debaixo das escadas, subindo para o meu andar. Parei na ponta da escadaria e perguntei pelo seu nome.

– Dimitri? É você?

Ele parou de sorrir. Olhou pra mim, olhou pros outros garotos à sua volta, olhou para mim novamente, de cima a baixo, e respondeu:

– Não. Meu nome é Yoan.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoas! Faz tempo que não posto!Sim, Yoan. É um nome incomum, mas é essa a intenção auhaiuhaiaEnfim, queria mais era postar o primeiro capítulo pra ver como era a reação. Tinha vontade na verdade era de escrever toda a história e depois postar capítulo por capítulo, mas eu nunca consigo me segurar e sempre acabo postando na medida que escrevo auhauhaua... mas é que também ajuda a saber se tá agradando ou não né :3Espero que tenham gostado, e por favor, digam se querem continuar >.