Por: Ken

Sentei-me no banco num dos jardins, o mesmo jardim em que eu quase me declarei a ela... O mesmo jardim em que Nathaniel a beijou e o mesmo jardim em que eu me despedi dela e prometi voltar...Fitei a fotografia em minhas mãos,na época tínhamos 15 ela provavelmente deve ter se esquecido do dia, suspirei e fitei-a uma última vez antes de dobrá-la e guardá-la no bolso da jaqueta que eu usava.

Suspirei e levei ambas as mãos em direção ao meu cabelo, bagunçando-o, fitei o lago cristalino, na esperança de vê-la refletida ali, sorrindo atrás de mim.

Cuidadosamente toquei um pingente em meu pescoço, sentindo meu coração bater mais rápido, havia ganhado-o dela, metade de um coração, a outra metade devia estar em sua pulseira agora.

No pingente estava escrito “I Love you, dear friend”, a parte “I Love you” estava comigo, por pura insistência dela... O que enchia de esperança, de algum dia poder ficar para sempre ao seu lado, ser mais que um simples amigo ou o seu protegido!

Guardei-o de volta dentro da blusa, sentindo uma mão pequena e fria tocar-me o ombro, viro-me na direção da pessoa e encontro Lynn, os cabelos castanhos escuros soltos e os olhos verdes claros divagantes sob o sol poente.

Ela sentou-se ao meu lado e suspirou, encolhendo-se, agarrando o suéter verde-musgo com força contra si mesma, senti uma pontada de culpa, aquele fora o suéter que ela deu a mim, lembro-me que o usei até a minha partida para a escola militar, então o devolvi.

_Acha que ela se lembra de nós?_Indaga a voz fraca._Acha que ela vai conseguir lembrar-se de nós com um sorriso nos lábios, ou com amargura no olhar?_Completa.

Não sabia o que dizer pela primeira vez em semanas Lynn dirigia-se diretamente a mim sem revirar os olhos ou usar sarcasmo. A mesma encolheu-se ainda mais, puxando os joelhos para cima do banco, apoiando o rosto nos joelhos cobertos pelo vestido verde jade, a mesma estava descalça.

Os lábios pequenos e rosados entreabriram-se num sorriso pequeno e frágil.

_Ela deve estar fazendo biscoitos de chocolate e jogando batalha naval..._Fala ela._Com eles!_Completa antes de desabar.

A mesma começou a chorar alto, a mesma não conseguia conter a tristeza, a mesma apoiou sua cabeça em meu ombro direito, eu nunca a havia visto assim tão abalada, a mesma tremia e balbuciava coisas como “Eu queria que ela estivesse aqui!” ou “Como ela faz falta!”.

A mesma não tinha mais outra saída a não ser sucumbir, desabar, derrubar as barreiras que a impediam de fazer o que tanto queria… Chorar e sentir o peso que carregava em suas costas diminuir.

_Pra onde ela foi?_Indago.

A mesma levantou-se num rompante, fitando-me fraternalmente, seu olhar ia de preocupação a repreensão.

_Ela... Se foi..._Hesita.

_Isso eu sei... Mas pra onde ela foi?_Indago.

Sabia que Amy tinha ido embora, apenas não sabia seus motivos e o lugar em que se encontrava, esperava poder encontrá-la em breve para trazê-la de volta, e mostrar ao tio dela que sou digno dela!

_Village Kiss estava ameaçando Sweet Ville, para impedir uma guerra que certamente atrairia mundanos e então, propuseram uma aliança, mas como a família que comanda Village Kiss não teve herdeiras meninas, não teve como mandar Castiel para dar um jeito na vida... E felizmente eles tem seis príncipes... Então mandaram Amy..._Fala hesitante, prolongando as últimas palavras, criando um efeito dramático que indicava a gravidade da situação.

_Eles ofereceram Amy como uma moeda de troca?_Indago exaltado.

Lynn de imediato levantou-se e pôs-se a minha frente, agachando-se e segurando minhas mãos firmemente, fixando seus olhos nos meus, exatamente como ela fazia quando éramos mais novos, para me fazer prometer algo ou falar a verdade.

_Ken... Não foi assim, eles discutiram outras formas de aliança, mas a única que pareceu agradar aos Sakamaki foi a do casamento... O casamento ocorrerá ano que vem pouco depois do aniversário de 18 de Amy, quando ela enfim decidir do lado de quem ficará... Prometa-me que não fará besteiras!_Fala Lynn, firmemente.

Não conseguia mentir para ela, não quando ela fazia daquele jeito, seu rosto delicado como o de uma boneca de porcelana encontrava-se sério, seus olhos verdes agora expressavam um único sentimento: culpa.

_Prometo!_Falo.

Ela suspirou de alívio e levantou-se, beijando o topo de minha cabeça, saindo do jardim apressada, fitei o lago mais uma vez, peguei uma pedrinha e atirei-a no lago, a água cristalina refletia meu rosto contorcido de ódio, o céu azul e sem nuvens acima de minha cabeça e arvore verde e frondosa ao meu lado.

Peguei uma das flores que estava perto do banco, uma rosa branca separada, fitei-a e rodei-a entre meus dedos, sentindo vez ou outra um espinho arranhar-me as costas da mão.

Será que não te mereço minha querida Amy? Será que este tempo todo eu mudei em vão? Fiz tudo o que fiz por você... Mas mesmo assim ainda não é o suficiente?

E daí se, mudei por ela? Se venci guerras e vivi 3 anos entre mundanos apenas por ela? Apenas para ter um assunto novo para conversar com ela... Apenas para vê-la sorrir ao falar sobre como era Paris (um lugar que ela sempre quis visitar!) e prometer levá-la da próxima vez...

Parei a rosa branca vendo aos poucos, gotas pequenas e vermelhas surgirem nas pétalas brancas da rosa delicada.Balancei a cabeça negativamente, a única vez em que eu vira isso acontecer...

Arregalei os olhos e tentei conferir o aroma doce e costumeiro da rosa, deparando-me apenas com um cheiro metálico... Sangue!

Tentei recuar, mas não a tempo, logo a figura conhecida e branca estava a minha frente, o rosto doce e delicado contorcido numa careta furiosa, suas enormes orbes vermelhas fitaram amargamente a rosa branca e manchada em minhas mãos.

Ela era mais baixa que eu, cabelos loiros com pontas brancas, trajava um longo vestido branco, tinha mangas compridas e uma bela calda, os olhos vermelhos estavam semicerrados e seus lábios pequenos e rosados franzidos.

_Ken!_Fala meio surpresa, inclinando-se na minha direção.

_O que quer?_Indago, ajeitando minha postura.

A garota sorriu ironicamente, pegando a rosa branca manchada de sangue que estava ao meu lado, sentando-se e fitando a rosa com carinho.

_O que eu sempre quis? O que você sempre quis?_Indaga sorrindo docemente para o horizonte.

Inclinei-me para frente a tempo de ver o sol sumir no horizonte, o céu escurecia e aos poucos a claridade bela do dia se esvaía.

_Quero que ela seja feliz..._Concluiu ela ainda sorrindo docemente para o horizonte, abraçando a rosa como se fosse uma criança.

Franzi o cenho, e mordi o lábio inferior olhando para minhas próprias mãos.

_Ela vai ser feliz com eles... Pedi a minha irmã que fizesse como combinamos! Cordélia, Beatrix e Christa concordaram, só precisei de um pouco de tempo... Aos 18 ela vai fazer o que eu nunca tive coragem de fazer... Escolher!_Fala agora olhando para a rosa.

Tentei ver pelo seu ponto de vista, não conseguia enxergar Amy sendo feliz ao lado de seis vampiros, não conseguia imaginá-la cuidando de belas criancinhas para que quando crescessem apenas a olhassem com amor para matá-la mais tarde, eles sentiriam a dor da perda quando vissem seu corpo inerte no meio de um campo florido? Conseguiriam se lembrar de sua risada quando fica nervosa? Do seu rosto corado? Do gosto doce de seus lábios? Conseguiriam suportar ficar séculos sem vê-la novamente?

Acredito que viveriam bem sem ela... Eu não, Nathaniel não, Castiel não, Lysandre não, Lynn não... Muita gente não suportaria viver sem ela por tanto tempo! E vão logo entregá-la a quem não se importa? A quem vai matá-la aos poucos, sugando sua felicidade e vida?

_Não consigo entender seu ponto de vista!_Falo sincero.

A garota franziu o cenho.

_Oras... É tão difícil enxergar que eu apenas desejo o bem dela?_Indaga, piscando repetidas vezes.

_Não, caso não entenda... Muita gente não suportaria prosseguir a vida com ela morta! Por que acha que todos estão tão preocupados? Tem medo de que ela morra!_Falo, exaltado.

_Ela não vai morrer! Eles não vão deixar!_Fala, levantando-se.

_Sério? São vampiros... Você sabe bem o que seria um ato de amor verdadeiro para eles... Matar um imortal, depois de transformá-la num deles, ela vai ser imortal e os filhos dela com isso na cabeça vão resolver fazer o que acham ser um ato de amor! Eles não vão ligar, e Sweet Ville vai à ruína!_Falo exaltado, levantando-me.

Ela arregalou os olhos e recuou um passo.

_Você não os conhece como eu os conheço!_Fala entre dentes, erguendo a cabeça.

_E quem disse que eu quero conhecer?_Indago.

Ela sorriu ironicamente.

_Está desafiando-os muito para um mortal!_Fala.

_Você já foi mortal, fraca... Tinha medo deles e por isso sempre que eles conseguiam tiravam um pouco do seu sangue... Amy não é boba, vai fugir deles até não suportar, isso vai esgotá-la!_Revido.

Ela apenas suspirou o lábio inferior tremendo levemente.

_Eu quero apenas o bem para minha filha!_Fala, algumas poucas lágrimas escorrendo por seu rosto.

_Então a deixe viver! Deixe-a ser feliz! Ter uma família de verdade! Ter sumido por tanto tempo não foi castigo o suficiente?_Indago.

_Foi para o bem e segurança dela!_Afirma, a voz falhando.

_Quer o bem dela? Deixe-a viver!_Falo.

A garota suspirou e soluçou, entregando-me a rosa branca com uma delicadeza fora do comum, a mesma fechou minha mão direita em punho ao redor do caule espinhento da rosa.

_Até mais... Ken!_Fala a garota.

Logo sua imagem desbotou, sumindo, a luz da lua iluminava o jardim, deixando-o imerso em escuridão, se não fosse pelas poucas lanternas espalhadas pelo jardim, iluminando-o por meio de flores de plástico, e penduradas em árvores.

Fitei a rosa em minhas mãos, ainda manchada de vermelho vi uma pequena frase se formar em suas delicadas pétalas.

“Você a merece?”

_É o que eu gostaria de saber!_Falo sozinho.

Eu não te mereço querida Amy?