Bitolar escrita por Morango do Nordeste


Capítulo 9
Capítulo 9 - De volta a rotina.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a sumida. Lá em baixo me explico. Boa leitura.



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– Como você se sente, tendo que voltar pra escola?

Conrado parecia genuinamente preocupado. Já Ayla, nem tanto.

– Estou é ansiosa. A única coisa que me preocupa são as perguntas que vão fazer.

– Você ouviu meu pai, é só dizer que você está impedida legalmente de falar qualquer coisa sobre o assunto.

– Espero que seja o suficiente.

Ela finalmente terminou de amarrar o cadarço do tênis e olhou para Conrado.

– E você, como está se sentindo?

Ele pareceu meio desconcertado por um momento, mas disse:

– Ando meio, anh, envergonhado por aquela noite.

– Isso eu percebi.

– Não ficou chateada comigo?

– Não. Acho melhor deixarmos essas coisas de ficar discutindo de lado. Querendo ou não, você é uma das poucas pessoas que eu conheço agora.

Conrado se aproximou dela, e tocou no queixo pequeno.

– Mas não somos amigos. Isso nunca vai nos deixar sem amigos.

Ayla sabia que o isso referia-se a intensa atração, pois sua pele havia arrepiado instantaneamente. Mas depois de Isaac e sua intensidade, Conrado precisaria fazer muito para tocar-lhe emocionalmente.

– Acho que podemos tentar. De verdade.

Ele a olhou por exatos três segundos, e deu um leve aceno, afastando-se por fim. Algo estava diferente no estranho convívio dos dois, mas mesmo assim, era o melhor que tinham conseguido desde a primeira vez que se viram.

– Pronta?

– Sim. Vamos.

Ela pegou a bolsa de lado e deu um sorriso alegre. Conrado quase riu da felicidade que jamais seria vista anteriormente para encarar a escola. Mas ela não sabia, então ele deixou a ilusão de uma vida normal escolar durar mais um pouco na cabecinha sem memórias dela. Ayla desceu a escada com cuidado, mesmo sem utilizar a bota ortopédica. Hamilton os esperava:

– Bom, minha afilhada, agora vou te dar um dispositivo que custa só um fígado meu, portanto cuidado.

Ayla riu, mas pegou os óculos com cuidado.

– Se você apertar a haste direita levemente, ele começa a filmas. Aperte novamente e ele para. Tente usar em conversas mais intimas que você tiver. Mas mantenha-o no seu rosto todo o tempo.

Até que os óculos não é feio, foi o pensamento de Ayla. Eram quadrados e de armação levemente grossa. Mas apreciam com os vistos em fotos de stree style.

– Entendi. Mais alguma recomendação?

– Não diga a ninguém que você perdeu a memória. Faça mistério mesmo sobre o que aconteceu. Queremos que a especulação pública fique forte. Talvez tenha imprensa, dê a entrevista aparentando estar revoltada, mas não direcione. Se perguntarem sobre Ônix, diga estar chocada.

A garota assentiu com a cabeça, e colocou imediatamente os óculos. Era algo totalmente inédito em seu vestuário, mas na mente de Conrado, ele facilmente a imaginou no papel de secretária safada. Ninguém sabia, mas seu remexer incomodado vinha de tais pensamentos fortes.

– Esteja atenta a todos.

Hamilton abraçou a afilhada e finalmente os dois se foram. O caminho carro foi em um clima leve, com Ayla mexendo no rádio e Conrado reclamando das músicas atuais.

– Ah, essa nem é tão ruim.

– Mas continua sendo sobre nada. São barulhos! Ninguém canta!

Ayla deu de ombros e sacudiu o corpo ao ritmo da música eletrônica. Conrado se via observando-a pelos cantos dos olhos. Ela sabia e gostava. Aquele joguinho era estranhamente gostoso para a mesma. Rápido demais eles chegaram.

– Tchau. Fique atenta, ok? Não se distraia.

Ela assentiu e jogou um beijinho pelo lado de fora do carro.

Conrado sentiu um leve arrepio com uma memória semelhante que passou por seus olhos. Ele a viu andando rapidamente até o portão, com os cabelos ondulando loucamente. As pessoas a olhavam incrédulas. Ele decidiu que já era hora de ir.

Ayla percebia os intensos olhares. Alguns cochichavam. Ela foi direto para a Diretoria, que ficavam bem a entrada no prédio.

– Bom dia.

A secretária quarentona de cabelos cheios pareceu olhá-la entediada por um segundo. Mascou o chiclete e a olhou de novo em dúvida. Ayla viu o susto no rosto da mulher ser formado lentamente.

– Ayla Dornelles?

– Sim, sou eu.

A mulher colocou a mão no coração e Ayla deu uma risadinha fraca.

– Sentiu saudades de mim?

A mulher a encarou com a expressão assustada, mas a chegada de uma nova mulher, mais séria e elegante interrompeu qualquer comentário que a outra pudesse fazer:

– Ayla? Então é verdade mesmo?

– Eu voltei.

Ayla sorriu abertamente para a mulher. Que acabou por sorrir carinhosamente para ela.

– Venha comigo então. Precisamos conversar.

Ayla tinha passado os últimos três dias no computador procurando por rostos que seriam parte do seu dia a dia. Conrado tinha proporcionado algumas risadas descrevendo os professores e seus típicos comportamentos em classe. Mas eles ainda estavam com o clima estranho, então ela evitou perguntar muito. A menina sabia que aquela a diretora, e que não seria um problema muito grande. Entraram na sala, Ayla sentou-se imediatamente na cadeira mais próxima, e cruzou suas pernas na calça jeans justa.

– Bom, não vou te encher de perguntas porque, afinal, você não veio aqui para isso.

– Obrigada. Eu vim na verdade saber como está minha situação escolar. Se tem algum jeito de eu conseguir passar de ano.

– Hmmm, deixe-me ver...

A diretora digitou no computador e rapidamente disse:

– O grande problema são suas faltas. Mas como você estava em um programa de proteção fica fácil conseguir um documento legal que te permita justificar todas as faltas. Então dá pra você correr atrás do prejuízo.

Ayla aumentou seu sorriso. E continuou ouvindo:

– Mas você vai precisar se esforçar. As provas vêm logo e você perdeu muitas aulas. Mas no semestre passado suas notas foram boas, então não precisa se preocupar com pontos além do mínimo.

– Isso é ótimo. Será que você me dar um horário? Os policiais levaram a agenda que eu guardava...

– Claro, tome.

A garota agradeceu e saiu. Na secretaria deu tchau para a funcionária bem animada que a olhou incrédula. Aquilo poderia ser desanimadora para a realidade hostil que a esperava. Mas a sensação de liberdade que ela sentia era ofuscante.

Sua caminhada pelos corredores até a sua sala de terceiro ano foi solitária até a metade, com os outros alunos observando-a assustadoramente silenciosos. Mas ela foi agarrada por um intenso abraço de uma loira alta. Ela acabou por corresponder.

– Você voltar foi o melhor presente que Deus poderia me dar! Como eu senti sua falta, bitch!

Ayla riu e disse:

– Não esquenta. Estou de volta. E dessa vez para ficar.

Ela sorriu maliciosa e olhou para os que estavam a sua volta. Era um claro aviso.

– E onde você estava, maluca? Por que não entrou em contato com ninguém?

– Não podia. Estava num programa de proteção para testemunha e tal.

Pérola inesperadamente parou e se dirigiu a frente dela, curvando-se para ficar na mesma altura, então disse:

– Eu senti muito a sua falta. Sem você metade das coisas não tinha graça.

Ayla sorriu de leve e tirou a mão da menina de seu braço.

– Eu senti sua falta também. Mas não podia mesmo falar com ninguém e continuo sem poder falar sobre o que aconteceu. Sinto muito.

Ayla deu um sorriso triste e Pérola correspondeu.

– Tudo bem. Pensei que talvez você fosse me contar o que aconteceu com o Ônix, agora que voltou.

– Gostaria. Mas se eu fizer isso, os tiras posso ser presa. Mas te prometo que as coisas vão se resolver mais rápido que você imagina.

Pérola assentiu e disse:

– Vamos, então? Precisamos expulsar aquela sardenta da Angélica do seu lugar. E eu espero que esses óculos não tenham te transformado em nerd, porque estamos realmente necessitando de alguma emoção nesse buraco....

Ayla riu levemente, e já ia entrando na sala quando uma mão puxou seu braço esquerdo com força. Ela virou-se rapidamente e por um segundou seu corpo se arrepiou por completo.

– Oi. Será que posso falar com você, rapidinho? Antes da aula começar?

– Ahn... Mas faltam só cinco minutos e eu...

– Te prometo que será rápido. Afinal, eu tenho que dar aula, não tenho?

O homem de meia idade, tinha barba mal feita salpicada de grisalho. Os cabelos pretos também tinham alguns fios espalhados, decididamente, era muito charmoso. Ela discretamente mexeu no cabelo, quando ele a encurralou em um canto do corredor, onde aproveitou para apertar a haste dos óculos discretamente.

– E então? Como você está?

– Estou bem.

– Senti falta da sua beleza me inspirando nas aulas. É difícil falar de filosofia sem nada para me inspirar.

Ayla achou o elogio mais ofensivo que lisonjeador, então resolveu não jogar o jogo.

– Obrigada, professor. Agora, se puder me dizer o real motivo de me chamar aqui, antes que o sinal toque, seria muito bom.

– Queria saber se você falou a verdade pra polícia.

– Que verdade?

– Sobre o louco do Isaac. Que foi ele quem fez aquela desgraça toda com você.

– Olha, eu não posso discutir nada relativo ao caso com ninguém. Obrigada pela preocupação, mas a polícia já sabe de tudo que eu sei.

– Tudo bem. Desculpe, eu não deveria ter atrapalhado sua grande volta. Sei que deve estar louca com isso.

Ele soltou o braço dela, que até em tão segurava firmemente. E ela deu um sorriso leve.

– Será que você pode me encontrar no estacionamento na hora da saída? Queria conversar com você um pouco. Senti falta da sua presença.

– Vou pensar, Murilo.

Ele assentiu e Ayla tentou caminhar o mais rápido que pode, mas infelizmente ela só conseguiu chegar a sala algum tempo depois do sinal bater. Ela abriu a porta e respirou aliviada, o professor que daria aula não tinha chego ainda. Mas seu alívio durou pouco, já que o comentário maldoso foi dito em alto e bom som:

– Já estava dando uma rapidinha com o professor, né?

Ayla inspirou e lentamente se pronunciou encarando a todos na sala:

– Eu já sabia que ia chegar destruindo a felicidade de quem me queria morta. Obrigada pela confirmação de continuo no topo.

Ela deu um sorrisinho leve e debochado, o silêncio dominou o ambiente enquanto ela sentava ao lado de Pérola, que rapidamente disse em um cochicho:

– Foi aquela recalcada da Angélica, querendo chamar a atenção. Coitada, estava achando que tinha tomado seu lugar, já.

– Nem daqui a mil anos vai ter alguém que possa me substituir, bitch.

As duas gargalharam juntas.

O recreio já tinha passado, sem maiores problemas. E o atual professor dizia:

– Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem. Célebre frase de Sócrates, exemplifica, como ao longo de toda a história...

Ayla sustentava o intenso olhar direcionado a si. Sua pele estava estranhamente fria. Ela se perguntava quais eram as intenções. Será que o fato dela ter se envolvido com Ônix era o fator determinante para o que tinha ocorrido? Ela sabia, em seu interior que aquilo tinha mais haver com ela do que com o próprio assassinado.

Em suas reflexões ficava o amargo de como foi recebida. Ela mantinha-se confiante, mas tinha percebido os cochichos intensos e as ofensas gratuitas. Todos achavam que a culpa era dela, de algum jeito. E ela ouviu a palavra “piranha” tantas vezes que sentiu sufocada. Mas ela permaneceria firme. A antiga Ayla vivia assim, e ela teria que aprender a conviver com isso de um jeito ou outro. Mas agora, com aquele homem que mostrava claramente que a desejava em um ambiente totalmente inadequado, ela sentia-se incomodada. Talvez a antiga personalidade da mesma gostasse dessa atenção extra, mas ela achava mais ameaçador que qualquer coisa.

Um estrondo de porta sendo arremessada com força foi ouvido e imediatamente Ayla levantou-se da carteira, segurando pela segunda vez a haste de seus óculos.

– Ayla!

Ela se viu sendo abraçada e apertada no meio da sala de aula. Ela ouvia os gritos de Murilo ao fundo, mas a intensidade de Isaac consumia ao ponto dos berros se tornarem plano de fundo.

– O que é isso? Quem deixou você entrar?

Isaac a tocava em cada centímetro do rosto com uma delicadeza incomum. Em bom tom ele disse:

– É a primeira vez que eu realmente enxergo desde que ficou fora. Eu te amo.

Ele a beijou. De um jeito tão saudoso, e ansioso, com uma pressa desesperada de quem tinha sede no deserto. Ayla sentia as mãos firmes apertando-a contra o corpo do moreno e a sua vontade de sair jamais apareceu.

Mas de algum jeito Murilo conseguiu puxar Isaac com a ajuda de outro professor. Ayla sentiu um sorriso fraco escapar enquanto o mesmo era arrastado e gritava:

– Eu te amo!

Um silêncio constrangedor se instalou na sala, depois que o professor voltou irado chamando a atenção de quem comentava sobre o assunto. Ayla tocou seu próprio lábio com delicadeza, encantando-se novamente... Aquele tipo de magia ia além de qualquer coisa.

– Mas você voltou ouriçando esses homens, heim? Estão todos malucos por você.

Pérola sorria divertida e Ayla acompanhou, mas em seu interior o frenesi provocado por sua volta era mais preocupante que motivo de orgulho. Aquela obsessão vinda de diferentes homens não ajudaria a filtrar o verdadeiro assassino.

– Quem imaginaria, não é?

– Quem não? Você sempre foi bem... Apaixonante.

Ayla assentiu, mas sua mente estava rodopiando. Até que ponto da loucura ela conseguiria levar uma alma sem que a mesma se partisse? Não parecia certo tentar descobrir.

– Espero que essa confusão termine logo.

Ela apertou a haste delicadamente enquanto colocava a franja por trás da orelha.

– Oi? Você tá bem, Ayla? Você querendo o fim dessa confusão?

– Claro que quero.

Pérola arregalou os olhos levemente e disse:

– Você com certeza mudou pra caramba enquanto esteve fora.

– Tive que aprender na marra, não?


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Notas finais do capítulo

Bom gente, tive uma crise louca de garganta inflamada que em impossibilitou até de engolir minha saliva. Assim que ela me possibilitou sentar no computador, digitei loucamente até terminar.
Minha rotina ficou bem corrida agora, porque estou estudando de tarde e de manhã preciso fazer almoço e olhar minha irmã, então acabo tendo só o período da noite para escrever mesmo.
Felizmente já estou nas aulas praticas da auto-escola, então mais uma coisa vai acabar de estressaqr meu dia, aumentando minha disposição na parte da noite.
Mas, enfim, deixando meus dramas e desabafos de lado, ando meio triste com a falta de comentários. Nem meus leitores fiéis que são ameaçados constantemente para comentar tem me dado atenção! Poxa, gente, to fazendo draminha mesmo, mas o que custa comentar " Gostei" ou "Odiei" pra mim heim? Só preciso saber se vocês ainda estão lendo...
Espero a Ayla voltar para a vida "normal" dê algum gás agora. LEmbrem-se comentários me estimulam, me deixam mais alegre e contente. rsrsrs
obrigada para todos que estão acompanhando, em breve mais. Talvez não tão breve, mas não abandonarei a história.
beijinhos



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