Bitolar escrita por Morango do Nordeste


Capítulo 10
Capítulo 10 - Playboy Socialista


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é mais diálogo. Acabou ficando menor que os outros, mas era exatamente assim que estava no meu planejamento. Boa leitura e até as Notas finais =)



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O inquietante sinal tocou pela última vez. Ayla sentiu sua pele arrepiar. O que ela deveria fazer? Encontrar o maníaco Murilo ou dar um jeito de ir ao fisioterapeuta bem de fininho? Ela acabou por perder preciosos minutos em sua reflexão, quando receber uma olhadela de Murilo, bem explicita, provando-a de que não adiantaria fugir.

– Você quer ir comigo ao treino?

– Treino?

– Ainda faço vôlei.

Ayla sorriu sem graça e Pérola tocou-a no ombro numa muda aceitação de desculpas. Ayla tentou lembrar-se de algo relacionado ao esporte e teve uma leve sensação de que aquilo era cilada.

– Gostaria, mas tenho fisioterapia. Semana que vem eu vou, ok?

Entretanto, imediatamente após essas palavras, Ayla soube que mentia novamente para a garota loira a sua frente. Ela precisava descobrir se Murilo era violento mesmo. E que outra oportunidade ela teria se deixasse-o pensar que estava fugindo de sua presença?

– Ei, promete que não vai sumir de novo? Eu não sei se aguento.

Pérola tinha os olhos claros muito brilhantes, e aquilo doeu na alma de Ayla. A menina a amava daquele jeito intenso de melhores amigas, e ela já estava ali, mentindo e escondendo as coisas.

– Prometo que não vou sumir.

Ayla a puxou para um abraço forte e disse:

– Ter você comigo agora faz as coisas melhores. Acho que sem você eu também não suportaria muito mais.

Pérola era mais alta, mas isso não impedia que Ayla dominasse a situação com seu carisma. A loira limpou as leves lágrimas e sorrindo divertida disse:

– Eu sou uma bobona mesmo. Eu estou morrendo de medo de te perder de vista e você sumir de novo.

– Eu já te prometi que não vou. Mas agora preciso mesmo ir, ou perco minha sessão.

As duas começaram a caminhar pelos corredores vazios do colégio. Ayla digitava uma curta mensagem, e Pérola tentava observar:

– Já tá aprontando, não é?

Ayla riu divertidamente e disse:

–Quem dera. Estou tentando falar com o Conrado. Sabe como é, estou na casa dele até minha mãe voltar.

– Eita, devem estar saindo guerras troianas por lá.

– Até que nem tanto. Melhorou muito essa semana.

– Ei! Eu conheço esse sorrisinho aí! Você pegou ele?

Ayla tentou parecer chocada, mas em meio a sua falsa expressão de espanto os risos saíam descontrolados:

– O quê? Mas é claro que não!

– Sua safada! Não acredito! Como você conseguiu isso? Ele tinha, tipo, ódio mortal por você.

A morena, parou em frente a amiga e disse:

– Mantenha isso entre nós, ok? Tenho alguns malucos para lidar antes de saber se vai rolar alguma coisa.

Pérola perdeu o sorriso, e olhando por trás da amiga, disse muito séria:

– Tome cuidado. Muito cuidado mesmo.

Ayla assentiu energeticamente após vislumbrar o mesmo que sua amiga: um homem de meia idade, que esperava impaciente em um carro preto e popular.

– Pode deixar. Estou com os dois olhos abertos.

Pérola desceu os três degraus da frente da escola, e deu um tchau rápido para a amiga, mantendo até o fim de seu alcance visual olhadelas preocupadas. Quando finalmente a presença alta e loira não podia mais ser sentida, Ayla desceu os degraus e releu a mensagem que tinha enviado:

“Não vai dar para ir na fisioterapia hoje, consegui passar um tempo sozinha com o Murilo. Quero ver se ele se confirma como suspeito. Não se preocupe.”

– Finalmente. Achei que a Dumont não fosse te largar tão cedo.

Ayla encontrava-se em frente ao carro, e Murilo estava apoiado na porta do motorista. Ela sentia seu corpo formigando. Com uma delicadeza quase imperceptível, ela tirou a franja dos olhos e ligou a micro-câmera.

– Ela sentiu minha falta.

– Eu também. Senti muito. Por isso trouxe para você...

Murilo se curvou até o banco do passageiro e rapidamente levantou-se, assustando num átimo Ayla, que pensou ter visto uma arma. Mas por fim ela reparou bem no sorriso levemente conquistador e no pacote delicado que o mesmo segurava:

– Uma rosa vermelha. Apenas uma, como você gosta. Para que o brilho único de cada flor não possa competir unidos contra a sua beleza.

Ayla sorriu meio torto, entre o constrangimento pela fala lisonjeira e por ter pensado que era uma arma.

– Anh, muito obrigada. É linda.

A menina cheirou o botão de rosa que se abriria em um futuro próximo e sentiu-se numa metáfora. Ela era aquela flor. Quase em seu melhor momento de glória, mas tão delicada, que qualquer violência poderia destruir.

– Vamos? Quero te monopolizar o resto da tarde.

Ayla poderia negar o convite. Mas algo na expressão de Murilo parecia desesperado. E ela não perderia a chance de descobrir logo quem era o assassino e poder olhar nos olhos daquelas pessoas livremente.

Murilo abriu a porta do carro e ela entrou, segurando firmemente seu botão de rosa. Ele deu a volta no carro, e lentamente se acomodou no assento do motorista. Mais uma vez ela ficou retraída, quando ele puxou o cinto dela, e a prendeu firmemente ao banco.

– Segurança em primeiro lugar.

Ele poderia ter tentado beijá-la, mas com um leve toque no ombro do homem, Ayla disse:

– Vamos logo, sim?

Murilo pareceu desapontado, mas colocou o carro em movimento. Ayla poderia respirar profundamente de alívio por ter escapado, mas ela percebia, que ainda corria riscos. A velocidade do carro variava na pista estreita, mas nada que a fizesse temer mais o trânsito que o motorista.

– Sabe, Ayla... Pensei em te levar para almoçar em algum lugar bacana... Mas acho que algo mais discreto cai melhor para nós dois...

– E pra onde vai me levar?

– Ora, não está reconhecendo o caminho?

Ayla poderia ter sido enfiada debaixo da água fria, mas ainda assim ela sorriu gelidamente e disse firme:

– Só queria ter certeza.

O carro finalmente começou a diminuir a velocidade, e em poucos minutos eles estavam na porta de uma lanchonete antiga, mas bem limpa.

Conrado estava atrasado. Muito atrasado. Já passava do horário de saída a mais de vinte minutos, só que ele tinha ficado preso por tempo demais na papelaria enquanto buscava seus novos livros. Ele dirigia acima do limite. Não queria de jeito nenhum estragar a frágil relação que se estabelecia entre ele e Ayla.

– Droga. Ainda tem aquela fisioterapia!

Conrado teve que frear antes de um sinal e o carro guinchou em protesto. Ele poderia bufar, se irritar eternamente, mas nada mudaria o fato de que estava atrasado.

Quando finalmente chegou na porta da escola, e saiu do carro, batendo a porta, sentiu-se o maior idiota do mundo. Ninguém estava lá.

Pensando que talvez sua mãe tivesse buscado a garota, ele pegou o celular em busca de uma confirmação. Ele sentiu o coração falhar uma batida quando viu a mensagem.

– O que essa maluca tá pensando?

Ele imediatamente ligou para a mesma. Após duas chamadas ela atendeu e disse em tom meio entediado:

–Alô?

– Ficou maluca? Como você entra no carro desse doido e sai com ele? Esqueceu que ele é suspeito?

– Mãe, estou lanchando com um amigo, ok? Depois te ligo.

– Mãe? Ayla, o que está acontecendo?

– Nada, estou bem.

Conrado ouviu a voz do antigo professor ao fundo pedindo para que desligasse. Logo ele ouviu uma despedida seca e ela desligou.

Ele sentia-se tão irritado que poderia quebrar a cara do primeiro que passasse. Onde ela poderia estar? Era o primeiro dia dela e já estava escondendo, dando perdidos nele e se metendo com quem não devia.

Conrado chutou a roda do carro com força. Era infantil e idiota. Mas ele não tinha mais nada para fazer a não ser esperar.

– Sabe, você não deveria atender ligações enquanto estivesse comigo.

– Oi?

– Assim você atrapalha nossa conversa.

Ayla sentiu vontade de revirar os olhos. Nas últimas meia hora tudo que tinha ouvido era sobre a vida de Murilo no tempo em que sumiu. Ela nem estava prestando atenção mais. Era tanto egocentrismo que ela tinha passado a contar as bolhas no seu copo de refrigerante.

– Olha, Murilo, eu fui atender minha mãe, ok?

Ela sabia que estava mentindo, mas não achou prudente falar sobre Conrado. Mais cedo, quando ela tinha dito que estava na casa de Hamilton até Jamille voltar, tinha ouvido um longo discurso sobre como ele era jovem e tolo.

– Ok, mas tente não fazer mais isso, ou as coisas não vão funcionar. Eu estava te explicando porque Lênin é tão importante atualmente. Isso é importante pra mim. Tente dar atenção.

Ela olhou o Iphone dourado que repousava ao lado do homem e pensou que poderia dar um tiro em si própria só para não ter que ouvir tanta ladainha. Ela tomou um gole do refrigerante e esperou as próximas palavras do homem.

– Bom, vamos mudar de assunto, já finalizei mesmo. Esotu sabendo que você está na casa do tal Hamilton enquanto sua mãe não chega.

– Sim, e daí?

– Prefiro que você venha ficar comigo.

– Como?

– Vem passar esses dias comigo. Não gosto daquele investigador metido. E gosto menos ainda do filho dele te rondando.

– Peraí... Deixa eu ver se entendi... Você quer que eu vá morar com você porque você não gosta do meu padrinho?

– Sim, porque o espanto? Você agora vai ser minha.

Ayla respirou profundamente. Aquilo tudo tinha chego ao fim de sua paciência.

– Você não me perguntou se eu queria ou não ficar com você.

– Pra quê? Eu sei que agora você vai querer proteção e tranquilidade... Nada mais natural que ser minha mulher agora.

Ela se levantou da mesa em um supetão e disse:

– Vai se foder, cara. Você é um playboy metido a socialista. Além de arrogante! Acha mesmo que é só você estalar seus dedos que eu vou virar seu trofeúzinho?

– Você ficou louca? Acha mesmo que você vai conseguir se virar sem mim agora?

Murilo já tinha se levantado e segurava o braço dela fortemente.

– Não só acho, como tenho certeza! Acha que estou tão desprotegida que você vai me manipular, me controlar?

Ayla riu e tentou puxar o braço, que continuou sendo apertado. Murilo tinha os olhos brilhantes e uma expressão de fúria rondava sua face.

– Pense bem. Quem vai querer você agora que está envolvida em tanta merda? Seu último namorado está enfrentando acusações de homicídio. Eu sou a única opção pra sua vida agora.

– Considerando você como minha única opção é melhor ficar sozinha mesmo. Agora solte o meu braço.

Faíscas saltavam entre os dois. A única atendente do local parecia interessada demais para intervir. Ayla sentia que ele perderia o controle a qualquer momento. Ela sentiu medo, mas isso não foi o suficiente para fazê-la afastar. Em meio à confusão, sua mente estava clara: ela não recuaria. Ela não aceitaria aquilo.

Murilo não soltava o braço dela. Ambos se encaravam furiosamente. Lentamente ela foi deslizando os dedos da mão livre até a faca que estava na mesa.

– Ayla Dornelles. Eu tolerei tudo. Eu suportei cada brincadeira sua. Mas agora... Chega.

Ayla agarrou a faca firmemente na mão esquerda. Não era sua coordenação favorita, mas era melhor que nada. Ela sentia que poderia ranger os dentes e rosnar para Murilo, de tão animalesca que sua raiva se tornara.

Seu braço ainda era apertado e ela sentia um leve formigamento. Murilo tentou se aproximar mais. Ela levantou a faca. Entretanto, antes que qualquer coisa mais ocorresse uma voz masculina e grossa interrompeu:

– Ayla? O que está acontecendo aqui?


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Notas finais do capítulo

Eu confesso que estava bem deprimida. Minhas últimas semanas foram de correria intensa e muita raiva. Andei meio desanimada também, já que meus leitores desapareceram quase que por completo. Falta de comentários é como falta de gasolina pra um carro. Mas a linda da Midnight apareceu e me deu novo fôlego. Ela foi a grande responsável pela saída desse capítulo. Muito obrigada mesmo pela recomendação, é tudo que eu sempre sonhei quando resolvi postar essa história. =)
Acredito que o próximo capítulo vá sair mais rápido, já que essa semana as coisas vão estar mais tranquilas (eu espero).
Mas poxa, vocês que estão acompanhando, deem as caras por aqui. A opinião de vocês me faz muito feliz.
Beijos galera e até o próximo!



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