Bitolar escrita por Morango do Nordeste


Capítulo 8
Capítulo 8 - Arlequina


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Mas lá em baixo me justifico melhor rsrsrsrs. Esse capítulo é uma virada total na trama. Espero que gostem e boa leitura =)



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– Vai sair, filho?

– Vou sim, mãe. Não vou chegar cedo, não precisa me esperar.

Ayla não sabia se sentia mais raiva de Conrado, ou de sua liberdade. Mas ela até que estava se conformando. Faltava pouco, muito pouco para ela mesma poder sair.

Ela podia perceber o cheiro excitante de perfume malbec. Ela acabou percebendo que seu olhar escorregava da televisão até a pessoa constantemente. Preferiu ajeitar novamente a bota ortopédica. Era melhor do que o gesso, mas ainda assim era perturbador andar com aquilo.

A porta bateu e ela finalmente pode voltar-se para o novo filme. Ela já tinha perdido a conta de quantos assistiu. Quando acabou, Hamilton a ajudou a subir a escada, e Flora lhe deu um analgésico. O sono veio logo.

Entre a limiar da consciência a garota podia sentir mãos levemente calejadas passando entre seus tornozelos e subindo… A confusão a dominava… Seria um sonho? Seria verdade? O carinho era tão bom que ela não sentia vontade de levantar…

Entretanto, a mão começou a subir. De um jeito que passava do tranquilizante e ia direto para o excitante.

–O quê?

Ayla em um supetão sentou-se na cama e por um minuto sentiu-se confusa além do esperado. Mas sua demora para reagir acabou resultando em um homem forte prendendo seus pulsos com força e beijando seu pescoço.

–Você ficou louco?

Com uma violenta puxada ela conseguiu tirar Conrado de cima dela.

–Shiu… Fica quietinha fica…

Ele se aproximou, e Ayla via um brilho confuso nos olhos dele. Aquela situação estava longe de excitante para ela. Faziam quase três dias que eles tinham discutido e o clima pesado reinava. Ele tentou se aproximar dela, que se encontrava em pé, mas acabou dando passos meios tortos. Ayla constatou:

–Você está bêbado. Não acredito que você veio até o meu quarto de madrugada, bêbado e tá tentando me agarrar. Você se lembra que brigamos feio esses dias, né?

Ele finalmente conseguia alcançá-la e parecia um leão faminto em busca de carne. E a carne era ela.

–Você me deixa doido. Esse teu cheiro no meu quarto... Na minha cama que não sai… Não consigo pensar em mais nada…

Beijos molhados que desciam pelo pescoço até o colo. Ayla embriagava-se lentamente com o tesão que passava por sua pele, arrepiando-a. Ela estava ficando mole, e logo, logo ia esquecer de raciocinar.

As mãos grandes de Conrado passaram pela cintura dela e em um relance, ele a jogou de volta na cama. Lembrou-a vagamente de quando se conheceram. Só que as coisas estavam além do controle agora. Ela viu um copo cheio de água.

Ela nem pensou quando jogou o líquido todo bem no rosto de Conrado. O susto com a água pareceu ser o suficiente na missão de parar o espírito libidinoso do garoto. Ele piscou algumas vezes, meio que em posição de ataque sobre uma Ayla deitada e assustada que ainda segurava o copo com força. Ele finalemtne relaxou e passou a mão pelo rosto, tirando o excesso da água.

–Hmm, Conrado? Me desculpe, ok? Eu não sabia como parar você.

Ele acabou tirando a camisa encharcada e Ayla agradeceu por ele estar vestindo-a antes de entrar no quarto, ou as coisas poderia ter ido por outro caminho.

– Me desculpe, você. Eu tentei te agarrar.

Apesar da situação estranha, Ayla sentia que o clima entre eles era bem melhor agora, do que tinha sido nos últimos dias. Olhava para baixo, e parecia bem menos descontrolado do que a alguns momentos.

– Será que você, pode, hm, me dar licença?

– Claro.

Ambos se levantaram, e Ayla acompanhou o garoto até a porta. Ela abriu a porta, e o garoto passou. Mas ao tentar fechar a porta, a mão do mesmo impediu-a de fechar completamente, empurrando a porta, abrindo-a novamente, e jogando a garota na parede, por fim, fechando a porta a chave.

– Conrado?

Ele nem deu tempo pra menina pensar. Deu uma encoxada forte, prensando-a na parede, e apenas com a intensidade do momento, disse:

– Eu preciso saber… Isso acaba se eu tiver você?

– Isso… O quê?

Ambos se encaravam, e a excitação do garoto era latente e poderosa. O momento era ainda mais instigante que quando se agarraram na cama.

– Essa excitação louca. Esse desejo incontrolável... Acaba? Se eu ficar com você? Se eu ceder... Terei paz?

Foi como se um balde de água gelado houvesse caído em Ayla. Toda a excitação que antes pinicava em sua pele, reduziu-se ao tamanho de uma noz.

– Eu quero você. Mas não assim. Não desse jeito.

Ela respirou fundo e abaixou a cabeça. Seria ridículo chorar de novo. Era tão humilhante... E repetitivo.

– Acho melhor você ir.

Os dois se fitaram em meio a instabilidade do momento. Ayla perdida, Conrado excitado. Ele poderia prendê-la sucessivas vezes em meio aos trbilhões de sensações que um toque causaria, mas ela estava, pela primeira vez, claramente repudiando-o.

– Tudo bem. Eu vou. Boa noite.

Ele beijou de leve a fronte da garota, e pareceu ser o suficiente para reacender as cinzas do coração maltrapilho. Quando a porta fechou, ela trancou a chave. Sabia que não podia se controlar, mas seu orgulho doeria depois. E era um tipo de dor que não passaria. Mas pelo menos, algo tinha mudado. E dessa vez, os resultados poderiam ser bons.

– Ayla... Precisamos que você tente se lembrar. Que se esforce para recordar o que aconteceu aquela noite. E se Isaac estava lá. Não se preocupe, ninguém além de mim e Juarez sabe que você está aqui.

– Tudo bem.

Ayla sentia seu couro cabeludo coçando por baixo da peruca loira. Seria algo realmente distrativo...

–Será que eu posso tirar essa peruca?

– Claro. Só não saia dessa sala.

A menina concordou, e logo se viu sozinha na minúscula sala, onde os detetives observavam os interrogatórios. Dessa vez, porém, seria ela que observaria. Observaria seu antigo amor...

– Intrigante, não?

Foi um susto tão ardente que por um segundo ela se preparou para um ataque, retesando o corpo.

– Ah. É você, Henrique.

– Sim. Fiquei imaginando que você apareceria porque aqui hoje... Não podia deixar a oportunidade passar...

Ayla mordeu o lábio nervosamente. Ela estava ansiosa antes, mas ter Henrique ali tirava seu foco em relação à Isaac.

– E o que você quer, posso saber?

– Só te observar. Se não se importar.

Ela assentiu com uma leve sensação de que isso poderia ser estranho. Mas Henrique transmitia uma certa calma. De alguma forma a presença dele a lisonjeava e amaciava seu ego. Pouco tempo depois Juarez entrou na sala em frete, e ela pode ver pelo vidro Isaac.

Era magnético. Ela sentiu sua pele arrepiar, seu coração disparar e sua boca ficar seca antes mesmo de observar que os olhos dele eram castanhos bem escuros e que o cabelo dele parecia cair levemente por cima dos mesmos. Ele era forte, não ao ponto de um fisiculturista, mas era delicioso. As mãos dela estavam frias e as dele algemadas. Intimamente ele torceu para lembrar-se da verdade. Era doloroso observá-lo com o olhar meio perdido sentado ali.

– Bom dia, Isaac.

– Bom dia, Hamiton.

A voz dele era excitante mesmo com a falsa calma transmitida. Ayla percebia porque ele era seu namorado tão claramente agora. Tinha algo tão atrativo quanto gravidade entre os dois.

– Você está aqui para ser interrogado. Consente em fazer isso sem a presença do seu advogado?

– Sim. Não sou culpado!

Ayla percebia a grande burrice que aquilo era. Mas a intensidade do olhar que Isaac dirigia a Hamilton transpassava o grosso vido espelhado e a alcançava. A presença dele era tão forte para a mesma que Henrique parecia não existir mais.

– Assine aqui por favor.

Juarez retirou as algemas e Isaac rapidamente rabiscou o papel que foi entregue sem ler. Se Hamilton não fosse uma pessoa honesta, seria muito fácil culpá-lo.

– Fale sobre o seu relacionamento com Ayla. Como começou e como era perto da morte dela.

– Eu a conheci numa festa. Na época ela e Conrado estavam ficando.

Se Hamilton sabia disso, ou se foi uma surpresa, Ayla não conseguiu perceber. Aquilo esclarecia alguns pontos do raiva de Conrado, mas nem tudo.

– Foi instantâneo. Quando eu a vi... O mundo parou. Só tinha ela. Eu não lembrava nem meu nome... Tentamos evitar, mas era forte demais... Quando eu percebi, estava beijando a mulher do meu amigo.

Ayla sentia suas entranhas ardendo. Ela entendia essa atração toda... Mas ainda assim, tinha algo de injustificável na situação.

– Perdi meu amigo. Terminamos aos socos e ela me escolheu. Eu me senti o poderoso chefão. Eu tinha a mulher mais incrível do mundo. Eu nem me importava mais da minha mãe ser a amante daquele filho da puta que tenho que chamar de pai.

Henrique finalmente se pronunciou:

– Se não sabe, ele é filho de um importante empresário... Mas é bastardo. O cara não tem filhos com a esposa... Deve ser uma situação complicada.

Ayla assentiu, mas voltou a observar o interrogatório.

– Passamos um ano juntos muito bem. Eu vivia por ela. Não saia sem ela. Mas... Ela começou a ficar fria e distante... Queria ter seu tempo sozinha sempre... Quando percebi tinham boatos de que ela me traia com aquele filho da puta do professor. Eu a questionava e ela ficava irada. Perguntava se eu desconfiava dela... E eu ameacei aquele babaca. Então deixei pra lá. Parecia que estávamos bem... Até que um dia eu vi ela com aquele merda maconheiro tomando sorvete. Ele tocava nas mãos dela. E a olhava de um jeito íntimo demais. Segui os dois... Encontrei ela nua, e o pervertido pintando aquilo. Perdi a razão e quebrei tudo... Ela discutiu comigo de um jeito... Eu saí irado. Fui pra um bar, bebi todas. Tentei comer uma piranha...

Isaac suspirou forte e Ayla percebeu que seu incômodo cresceu até virar uma angústia. Henrique mantinha seus braços cruzados e continuava analisando-a. Ela poderia ter sentido constrangida pelo o último encontro que tiveram, e por sua fantasia de gorda, mas Isaac tinha toda a sua atenção.

– De algum jeito eu comecei a brigar lá de novo. Peguei serviço comunitário. O maconheiro não prestou queixa e Ayla ficou uma semana sem falar comigo. Fui atrás dela e começamos a discutir muito. Eu acabei segurando ela e a chacoalhei. Deixei os braços dela roxos... Ela ficou revoltada. Me deu um tapa na cara e foi embora... De noite, eu pulei a janela do quarto dela... E nós fizemos as pazes. Ela me pediu perdão... E estava tudo bem entre nós.

– E como foi a noite que ela morreu?

– Ela tinha me ligado cedo, combinando uma saída. Fiquei esperando ela no Rockabilly até dez e meia. Mas ela não chegou. Liguei várias vezes e ela não atendeu. Fui pra casa do João jogar e beber. Fiquei até uma hora. Fui pra casa e dormi. Quando acordei... Fiquei sabendo dessa merda.

Ayla sentiu lágrimas molhando seu rosto. Inesperadamente alguém bateu na porta e sem permissão, entrou segurando um papel:

– Meu cliente conseguiu um Habeas Corpus. Sinto muito, Hamilton, mas vai precisar de mais que uma pegada para prendê-lo. Vamos Isaac. Seu pai quer vê-lo.

O homem era obviamente muito bem pago, pois seu terno se ajustava perfeitamente ao corpo levemente rechonchudo. Era rápido e seus olhos passavam de um canto ao outro da sala rapidamente.

– Obrigado por me tirar daqui. Mas não quero ver aquele merda nem pintado de ouro. Tchau, Hamilton. Estarei na cidade.

Isaac se levantou e saiu, deixando todos estáticos. Logo o advogado recobrou-se e foi atrás.

Hamilton desabou sobre a cadeira e disse:

– Pelo menos, desse fardo estamos livres.

Henrique se aproximou da garota e colocou a mão sobre o ombro direito dela:

– E então, lembrou-se de algo?

– Sinto muito.

Henrique deu de ombros e disse:

– O perfil psicológico dele é impulsivo. Ele mataria alguém em meio a uma briga sem dúvidas... Mas perseguir alguém ferido? Acho pouco provável.

Ayla sorriu levemente e aliviada disse:

– Obrigada.

A fumaça de gelo seco subia em milhares de tons diferentes... E contorcia-se conforme o flash de luz da pista. Havia cheiro de suor, cigarro, bebida e excitação. Pessoas se tocavam incessantemente. E Ayla apenas caminhava entre as multidões, permanecendo sempre um momento a mais para intrigar quem deixava o olhar descansar em sua icônica figura.

Ayla Dornelles reintegrar-se-ia a sociedade. Mas o faria em grande estilo. A fantasia de Arlequina era chamativa em meio a tantas chapeuzinho-vermelho, minnie, piratas, coelhinhas e variações que buscavam atribuir sexualidade extra a imagem feminina. Mas ser uma Arlequina, era totalmente ousado. O macacão era praticamente embalado a vácuo no corpo moldado. Cada curva exposta e sensual. Mas o rosto, coberto pela pequena máscara preta e maquiagem branca, mantinham sua identidade escondida em plena vista. Ela poderia confundir quem a olhasse, mas ninguém poderia ter certeza. Ela mantinha um sorriso de lado, levemente maldoso, que encaixava-se com todas as imagens da vilã que tinha visto, e que também no momento certo, mostraria uma imagem de arrogância por ainda estar viva.

Cabeças viravam a sua passagem. Seu cabelo escondido por baixo do chapéu estava levemente suado. Mas ela se sentia poderosa. Sentia-se incrível e misteriosa. E mesmo com Juarez a poucos passos de distância acompanhando-a pela segunda ronda da boate, ela sentia-se livre. Livre pela primeira vez em sua nova vida. Que agora, era muito mais que Conrado e os dramas relacionados ao assunto. Embora estivessem razoavelmente bem na última semana, muita coisa era duvidosa. E cada passo que Ayla dava, era um passo a mais em busca de uma identidade própria.

O celular de Juarez tocou. Nesse momento, ele estava tão próximo, que a menina pode escutar perfeitamente: a hora chegou. A mão de Juarez chegou até a base de sua coluna, e ela encaminhou-se até a base do palanque.

O interlocutor usava uma camisa obviamente apertada. Ayla riu abertamente da crise de meia idade do mesmo. Mas ele parecia animado demais com a atenção que tinha para reparar:

– E agora, galerinha bonita, vamos escolher as melhores fantasias! Como melhor fantasia masculina... Cupido!

Um homem loiro subiu rindo muito apenas de fralda geriátrica no palco. Sua barriguinha caia por cima da mesma, e o arco e flechas eram ridiculamente pequenos. Muitos risos e gritos. Até assobios. Ayla sentiu o frio em sua barriga crescendo. Ela seria a próxima. Dinheiro compra qualquer coisa. Principalmente coisas pequenas assim.

– E como melhor fantasia feminina...

Ela teria ajeitado o cabelo se o mesmo estivesse solto. Mas nesse caso, torceu seus dedos e esperou com a coluna muito ereta e olhar fixo.

– Arlequina! Que ganhou por unanimidade!

O jovem aleatório deu a mão para ajudá-la a subir. Ela subiu sorrindo muito ao som dos aplausos.

– Uau! Mamãe passou açúcar, heim... Mas me diga, é a primeira vez que você vem a essa festa?

– Não.

Ela continuava sorrindo, mesmo depois de rodopiar e do confere que recebeu de todos.

– Na verdade... Eu ganhei esse prêmio antes. No ano passado.

As pessoas começavam a se cutucar e a cochichar. Estava percebendo. O sorriso de Ayla aumentou.

– E qual é o seu nome, bi-campeã?

– Ayla.

Ela tirou o chapéu, e os longos cabelos escuros caíram em ondas leves pelas costas, balançando. Desse jeito, com a pose imponente, ninguém mais tinha dúvidas. Mesmo com a pequena máscara. O barulho de vidro quebrando confirmou. Ninguém mais tinha dúvidas.

– Meu nome é Ayla Dornelles.


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Notas finais do capítulo

Bom, essa é a fantasia, caso queiram ter um estímulo visual http://files.chopadafantasy.webnode.com.br/system_preview_detail_200000115-577b75875b-public/arlequina.jpg

Esse capítulo foi escrito até que rápido, entretanto, minha vida tá uma correria louca, fiquei sem tempo e depois fiquei doente. Então, só consegui finalizar agora. Sei que algumas tramas pareceram meio esquecidas, como a investigação em si, e alguns suspeitos, mas os próximos terão muita coisa. Agora Ayla está ativa e participante, e muita coisa vai acontecer com a volta dela. Muitos personagens vão ganhar novo destaque.
Agora, meus pedidos de desculpa eternos porque atrasei na postagem. Vou tentar ao máximo não repetir isso, mas talvez aconteça, pelo menos enquanto eu não terminar a maldita auto-escola. Pretendo acabar a fase teórica essa semana. Acabando isso, já vou ter uma liberdade maior para escrever. Mas vou deixar claro que não abandonei a história e não farei isso. Tenho tudo planejado, e posso dizer que chegamos ao meio, mais ou menos.
beijinhos e muito, muito amor pros leitores e acompanhantes que já somam quase 20. Gostaria de receber mais comentários, mas fico feliz com cada acesso registrado. rsrsrs
Falei demais nessas notas, mas estou emotiva e doente kkkkk.
Beijos meus lindos.



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